O Papa Francisco iniciou um novo ciclo de catequeses sobre o tema do discernimento na Audiência Geral, desta nesta quarta-feira (31/08), realizada na Sala Paulo VI. "O que significa discernir", foi o tema deste encontro semanal com os fiéis.
Discernir é um ato importante que se refere a todos, porque as escolhas constituem uma parte essencial da vida. Discernir as escolhas. Escolhe-se uma comida, uma roupa, um curso de estudos, um emprego, uma relação. Em tudo isso se realiza um projeto de vida, e também se concretiza a nossa relação com Deus.
No Evangelho, Jesus fala do discernimento com imagens tiradas da vida comum; por exemplo, descreve os pescadores que selecionam os peixes bons e descarta os maus; ou o comerciante que sabe identificar, entre muitas pérolas, a de maior valor. Ou aquele que, lavrando um campo, se depara com algo que se revela um tesouro.
"À luz destes exemplos, o discernimento se apresenta como um exercício de inteligência, de perícia e inclusive de vontade, para reconhecer o momento favorável: são estas as condições para fazer uma boa escolha", disse o Papa, acrescentando:
As decisões são tomadas por cada um de nós. Não há quem a tome por nós. Adultos, livres. Podemos pedir um conselho, pensar, mas a decisão é própria. Não se pode dizer: "Eu perdi isso, porque meu marido decidiu, minha esposa decidiu, meu irmão decidiu": não! Você deve decidir, cada um de nós deve decidir. Por isso, é importante saber discernir: para decidir bem é necessário saber discernir.
"O Evangelho sugere outro aspecto importante do discernimento: ele envolve os afetos. Quem encontrou o tesouro não tem dificuldade de vender tudo, tão grande é a sua alegria. O termo usado pelo evangelista Mateus indica uma alegria totalmente especial, que nenhuma realidade humana pode dar; e com efeito, repete-se em pouquíssimas outras passagens do Evangelho, todas elas relativas ao encontro com Deus. É a alegria dos Magos quando, depois de uma viagem longa e árdua, veem de novo a estrela; é a alegria das mulheres que regressam do sepulcro vazio, depois de ouvir o anúncio da ressurreição, feito pelo anjo. É a alegria de quem encontrou o Senhor", disse ainda Francisco.
No juízo final Deus fará um discernimento, o grande discernimento, em relação a nós", frisou o Papa, reiterando que "é muito importante saber discernir: as grandes escolhas podem surgir de circunstâncias à primeira vista secundárias, mas que se revelam decisivas. Numa decisão boa, a vontade de Deus se encontra com nossa vontade; se encontra o caminho atual com o eterno. Tomar uma decisão justa, depois de um caminho de discernimento, é fazer esse encontro: o tempo com o eterno".
Conhecimento, experiência, afetos e vontade são alguns elementos indispensáveis para o discernimento, mas o discernimento exige também "esforço". "Segundo a Bíblia, não encontramos diante de nós, já embalada, a vida que devemos viver. Deus nos convida a avaliar e a escolher: Criou-nos livres e quer que exerçamos a nossa liberdade. Por isso, discernir é difícil", sublinhou o Pontífice.
O discernimento é aquela reflexão da mente, do coração que devemos fazer antes de tomar uma decisão. O discernimento é árduo, mas indispensável para viver. Requer que eu me conheça, que saiba o que é bom para mim aqui e agora. Exige sobretudo uma relação filial com Deus que nunca impõe a sua vontade, porque quer ser amado, não temido. E o amor só pode ser vivido na liberdade. Para aprender a viver é preciso aprender a amar, e por isso é necessário discernir.
Mariangela Jaguraba
- Papa: rezemos pelo fim da pena de morte no mundo
Andressa Collet - Vatican News
“Cada dia mais pessoas em todo o mundo dizem não à pena de morte. Para a Igreja, isso é um sinal de esperança.”
Assim o Pontífice inicia o Vídeo do Papa de setembro que pede pelo fim da pena de morte no mundo, uma intenção de oração que o Santo Padre confia à Igreja Católica através da Rede Mundial de Oração do Papa. Nesta edição, Francisco então indica que a rejeição a essa prática está aumentando no mundo, o que a Igreja vê como "um sinal de esperança". De fato, de acordo com dados das Nações Unidas, cerca de 170 Estados aboliram a pena de morte, impuseram uma moratória à sua utilização na lei ou na prática, ou suspenderam as execuções durante mais de 10 anos. No entanto, a pena de morte ainda é aplicada em 55 países, em vários continentes.
De João Paulo II a Bento XVI, os Pontífices pronunciaram-se fortemente contra o uso da pena de morte pelos governos nas últimas décadas. O Papa Francisco foi mais longe ao aprovar em 2018 um novo parágrafo do Catecismo condenando claramente a pena de morte e expressando o compromisso da Igreja na sua total abolição.
"Do ponto de vista jurídico, a pena de morte já não é necessária. A sociedade pode reprimir eficazmente o crime sem privar definitivamente o infrator da possibilidade de redimir-se. Sempre, em toda condenação, deve haver uma janela de esperança. A pena de morte não oferece justiça às vítimas, mas encoraja a vingança. E impede qualquer possibilidade de se desfazer um possível erro judicial. Por outro lado, moralmente a pena de morte é inadequada; ela destrói o dom mais importante que recebemos: a vida."
No vídeo deste mês, que chega num momento marcado por notícias de sentenças de morte e execuções em várias partes do mundo, o Papa faz o apelo não só aos cristãos, mas a todas as pessoas de boa vontade.
"Não esqueçamos que, até ao último momento, uma pessoa pode converter-se e pode mudar. E, à luz do Evangelho, a pena de morte é inadmissível. O mandamento 'não matarás' refere-se tanto ao inocente como ao culpado. Apelo, pois, a todas as pessoas de boa vontade para que se mobilizem pelo fim da pena de morte em todo o mundo."
“Rezemos para que a pena de morte, que atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa, seja abolida nas leis de todos os países do mundo.”
O padre Frédéric Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, comentou sobre esta intenção: "Este mês, o Papa Francisco convida-nos a rezar pelo fim da pena de morte, reiterando o que disse em Fratelli tutti e especificou no Catecismo da Igreja Católica: 'A Igreja está determinada a propor a sua abolição em todo o mundo. Por quê? Porque mesmo no último momento uma pessoa pode converter-se, reconhecer os seus crimes e mudar. A pena de morte, por outro lado, é como colocar-se no lugar de Deus. Com a condenação, determina-se que uma pessoa nunca será capaz de mudar, o que não sabemos'. Neste mês de setembro, o Papa convida-nos a rezar e a nos mobilizarmos para apoiar as associações e organizações que lutam pelo fim da pena de morte".
- Papa renova apelo pela conversão ecológica em nome das futuras gerações
"Amanhã celebraremos o Dia Mundial de Oração pela Criação e o início do Tempo da Criação, que terminará em 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. Que o tema deste ano, 'Ouça a voz da criação', possa fomentar em todos um compromisso concreto para cuidar de nossa casa comum. À mercê dos nossos excessos consumistas, a irmã mãe terra geme e nos implora que paremos com os nossos abusos e com a sua destruição."
Assim, na Audiência Geral desta quarta-feira (31), o Papa Francisco recordou a data comemorativa deste 1° de setembro. O Tempo da Criação é tradicionalmente um tempo ecumênico inspirado pelo Patriarcado de Constantinopla para unir os cristãos por uma conversão ecológica. Um apelo reforçado pelo próprio Pontífice na sua mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação divulgada em 21 de julho, ao exortar a consciência - primeiro - dos fiéis sobre o tema, já que estão expostos a "um antropocentrismo despótico que provocam, por sua vez, as mudanças climáticas".
Daí nasce "o grito amargo" da criação que se lamenta e clama para ser ouvida. O caminho, segundo Francisco na mensagem, é um só: arrependimento e mudança dos estilos de vida e dos modelos de consumo e produção. Por isso uma consciência que - em segundo lugar - deve partir da comunidade internacional através de uma responsabilidade conjunta dos países para se "agir, com decisão. Estamos chegando num ponto de ruptura", disse o Papa.
O Pontífice, assim, tanto na mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação como na Audiência Geral desta quarta-feira (31) fez um apelo extensivo à tomada de decisões prevista para dois eventos promovidos pelas Nações Unidas e programados para o segundo semestre deste ano: a COP 27 sobre o clima, que acontece em novembro no Egito, e a COP 15 sobre a biodiversidade, marcada para dezembro no Canadá:
“Durante este Tempo da Criação, rezemos para que as cúpulas COP27 e COP15 da ONU possam unir a família humana para enfrentar decisivamente a dupla crise do clima e da diminuição da biodiversidade.”
Andressa Collet
- Papa aos iraquianos: diálogo e fraternidade, caminho para alcançar a paz
De 5 a 8 de março de 2021, o Papa Francisco realizou uma visita histórica ao Iraque, onde foi "como peregrino penitente para implorar do Senhor perdão e reconciliação depois destes anos de guerra e terrorismo, para pedir a Deus a consolação dos corações e a cura das feridas". E lá chegou "como peregrino de paz, que repete: «Vós sois todos irmãos» (...), mendigando fraternidade", animado pelo desejo de rezar juntos e caminhar juntos, "incluindo os irmãos e irmãs doutras tradições religiosas, sob o signo do pai Abraão que reúne numa única família muçulmanos, judeus e cristãos." Uma peregrinação que deixou marcas não só na sociedade iraquiana, mas também em seu coração.
Mas a violência dos últimos dias registrada em algumas áreas de Bagdá, recebeu a atenção do Santo Padre na Audiência Geral desta quarta-feira, que reiterou que o diálogo e a fraternidade são o caminho para alcançar a convivência pacífica:
Acompanho com preocupação os acontecimentos violentos ocorridos em Bagdá nos últimos dias. Peçamos a Deus na oração para dar paz à população iraquiana. No ano passado tive a alegria de visitá-la e senti de perto o grande desejo de normalidade e convivência pacífica entre as várias comunidades religiosas que a compõem. O diálogo e a fraternidade são o principal caminho para enfrentar a atual dificuldade e alcançar esse objetivo.
Após os protestos, a calma parece voltar ao Iraque, mas o saldo dos confrontos de segunda-feira na 'Zona Verde' de Bagdá é pesado: pelo menos 30 mortos e mais de 700 feridos. A situação foi aparentemente contornada pelo líder xiita Moqtada al-Sadr que, após anunciar sua despedida da política - que muitos não acreditam que irá realmente acontecer -, condenou o uso de armas e violência e ordenou a seus partidários que atacaram a 'Zona Verde' de Bagdá - a área protegida no centro da capital iraquiana que abriga instituições governamentais e embaixadas - a se manifestarem de forma pacífica e imediatamente retirarem-se das ruas dentro e ao redor da zona verde. Apelos que levaram o exército iraquiano a suspender o toque de recolher.
"Isto não é uma revolução", afirmou al-Sadr, que também pediu desculpas públicas pelo ocorrido. Declarações que foram acolhidas com prazer por toda a comunidade internacional que, quase por unanimidade, fez pedidos para que se evitasse uma escalada.
"Um exemplo de patriotismo", é como o primeiro-ministro cessante Mustafa Kazimi definiu o pedido de al-Sadr para acabar com a violência, enquanto os seguidores começavam a retirar e desmontar as tendas do protesto erguidas nas últimas semanas em frente ao Parlamento iraquiano.
No entanto, a situação no país continua muito tensa, pois desde outubro de 2011, quando após as eleições, que viram o partido de al-Sadr conquistar a maioria das cadeiras, não foi possível formar um governo.
Especialistas em Iraque não acreditam que, pelo menos no momento, haja risco de guerra civil. Mas os distúrbios, seriam fruto de uma rivalidade no campo xiita entre os partidários de al-Sadr e as milícias pró-iranianas, uma luta interna pelo poder.
Em 31 de julho, o Patriarca da Bagdá dos Caldeus, cardeal Louis Raphaël I Sako, havia feito um renovado e sincero apelo aos líderes políticos e às autoridades religiosas do país para que não esperassem mais, mas agissem imediatamente para remediar a situação, antes que se desencadeasse um tsunami que devastasse a todos.
O purpurado recordou na ocasião que "o país encontra-se em uma fase de incandescência, devido ao impassedo quadro político e aos desempregados e pobres que descem às ruas para manifestar seu dissenso", fazendo um apelo a todos para que removessem "as causas profundas e estruturais que geram este caos", e reconhecessem o fracasso do sistema político, "baseado na distribuição de cargos políticos e institucionais com bases sectárias”. A abordagem sectária e o chamado “sistema de cotas", segundo o Patriarca, estão na origem das injustiças e da corrupção. Portanto, ele convida a encontrar “novas abordagens e novos caminhos” necessários para a criação de um sistema eficiente, que esteja realmente a serviço do povo e não dos interesses partidários.
Jackson Erpen
Fonte: Vatican News