Cultura

Ucrânia, Santa Sé: O Papa defende a vida, não toma posições políticas





Um comunicado responde às polêmicas que surgiram nos últimos dias sobre as palavras de Francisco, cita as "várias" intervenções na guerra do Pontífice e lembra que ele sempre condenou a agressão russa como "moralmente injusta, inaceitável, bárbara, insensata, repugnante e sacrílega".

O Papa fala como um pastor que defende a vida humana, não como político. Esta é a leitura correta a ser feita de suas várias intervenções sobre a guerra na Ucrânia. É o que afirma um comunicado da Santa Sé divulgado, nesta terça-feira (30/08), após as palavras de Francisco na Audiência Geral da quarta-feira, 24 de agosto, e seu aceno ao atentado no qual perdeu a vida na Rússia a filha de Dughin. Palavras que despertaram reações polêmicas também no âmbito político e institucional na Ucrânia.

"No contexto da guerra na Ucrânia", lê-se na declaração da Santa Sé, "são várias as intervenções do Santo Padre Francisco e seus colaboradores a este respeito. Elas têm como finalidade convidar pastores e fiéis à oração, e todas as pessoas de boa vontade à solidariedade e aos esforços para reconstruir a paz".

Segundo o texto, "em mais de uma ocasião, assim como nos últimos dias, surgiram discussões públicas sobre o significado político a ser atribuído a essas intervenções. Nesse sentido, reitera-se que as palavras do Santo Padre sobre esta questão dramática devem ser lidas como uma voz levantada em defesa da vida humana e dos valores ligados a ela, e não como posição política", ressalta o comunicado divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

"Quanto à guerra em larga escala na Ucrânia, iniciada pela Federação Russa, as intervenções do Santo Padre Francisco são claras e unívocas em condená-la como moralmente injusta, inaceitável, bárbara, insensata, repugnante e sacriléga", conclui o comunicado da Santa Sé.

 

- O Papa e os Cardeais, segundo dia de reuniões. O tema dos leigos

Nesta terça-feira (30) se inicia a terceira sessão da reunião dos Cardeais do mundo com Francisco para refletir sobre a "Praedicate Evangelium". Ontem, o trabalho em grupos divididos por idioma: foram apresentadas ideias, propostas e perguntas sobre o papel dos leigos no governo dos Dicastérios. À tarde, Missa com o Papa na Basílica de São Pedro

A formação, a espiritualidade da Cúria e, sobretudo, a questão dos leigos e seu possível papel na direção de alguns Dicastérios foram os temas sobre os quais as reflexões e discussões dos Cardeais se concentraram durante a reunião a portas fechadas com o Papa sobre a Praedicate Evangelium. Uma reunião que está chegando na sua conclusão com a última sessão desta manhã e, à tarde, às 17h30, com a Missa celebrada por Francisco na Basílica de São Pedro.

Reuniões em grupos

Ontem (29), após a saudação do Papa no início dos trabalhos, seguida de um breve discurso do decano do Colégio Cardinalício, o Cardeal Giovanni Battista Re, os cerca de 200 cardeais, patriarcas e superiores da Secretaria de Estado reunidos na Nova Sala do Sínodo, reuniram-se em grupos linguísticos, durante os quais foram feitas propostas, apresentadas ideias e pedidos de esclarecimentos. Em seguida foi realizada uma sessão plenária.

O tema dos leigos

O tema principal, como mencionado, é o dos leigos em funções de liderança. Como recordamos, o ponto 10 da Praedicate Evangelium - documento publicado em 19 de março e em vigor desde 5 de junho - afirma: "Todo cristão, em virtude do Batismo, é um discípulo-missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus. Não se pode deixar de ter isso em conta na atualização da Cúria, pelo que a sua reforma deve prever o envolvimento de leigas e leigos, mesmo em funções de governo e de responsabilidade". 

Sobre o assunto, que surgiu durante os trabalhos, foram solicitados estudos aprofundados em um clima de confronto sereno.

O Cardeal Paolo Lojudice, Arcebispo de Siena, explicou ao Vatican News. "Quando se trabalha em pequenos grupos, é mais fácil confrontar uns aos outros e dialogar. O tema que conhecemos é o confronto aberto e sereno sobre a nova Constituição e, em particular, sobre sua aplicação, sobre como colocá-la em prática. Nos grupos, mais do que novos elementos, tivemos a contribuição de algumas ideias... É possível que existam algumas passagens que ajudem a compreender alguns elementos que são menos claros, menos evidentes, em particular o que diz respeito à presença de leigos nas funções de governo nos Dicastérios. Esta é uma porta aberta que esperamos que possa percorrer da melhor maneira possível".

Missão e missionariedade

O cardeal Lojudice também falou de um "excelente clima" dentro da Sala Sinodal e descreve a reunião como um ponto de partida: "Os tempos são necessariamente longos para fazer uma reforma. O Papa se preocupa com isso e tem se preocupado com isso desde o início, é um dos pontos centrais do pontificado... Creio que mais cedo ou mais tarde chegaremos a uma consciência diferente, onde tudo é missão e missionariedade e poderá parecer paradoxal, os próprios escritórios da Cúria".

Cardeal Timothy Dolan: "Encontro edificante"

O Cardeal Timothy Dolan de Arcebispo de Nova York fala de uma "bela experiência" e de uma reunião "extraordinariamente edificante". "Falamos como amigos, como irmãos, com imensa caridade e profundo amor pela Igreja, sobre questões muito práticas", disse o cardeal. "Estou feliz por isso ter acontecido. Era aguardado com ansiedade".

Salvatore Cernuzio 

 

O Papa aos bispos das "Áreas internas": ao lado de todos, em defesa da vida

Em carta endereçada aos bispos italianos que vivem nas áreas "internas", Francisco recorda que na Igreja há espaço para todos, que é importante sempre prestar atenção à vida, ao trabalho, às famílias. Em Benevento, o início da conferência da CEI.

"Ser fermento na massa do mundo" diante das dificuldades dos territórios em que se vive. Esta é a missão que o Papa confia aos bispos das áreas internas italianas, aquelas em risco de despovoamento, que se reúnem hoje e amanhã em Benevento, no centro "La Pace", onde se realiza a conferência organizada pela Conferência Episcopal Italiana (CEI). Um encontro que conta com a participação de mais de 30 prelados chamados a partilhar experiências comuns, pensando numa pastoral adequada.  Os dois dias se concluirão, na quarta-feira (31/08), com as palavras do presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), cardeal Matteo Zuppi.

O convite de Francisco é caminhar em unidade, "sem paroquialismo":

Não se cansem de prestar atenção à vida humana, à proteção da criação, à dignidade do trabalho, aos problemas das famílias, à situação dos idosos e daqueles que estão à margem da sociedade. Desta forma vocês serão uma imagem dinâmica e bonita de uma Igreja que vive ao lado das pessoas, com predileção pelos mais frágeis, que está a serviço do povo santo de Deus para que se edifique na unidade da fé, esperança e caridade.

Ninguém excluído

O Papa manifesta apreço pelo "caminho de confronto e de amizade" que exige "ser percorrido com a mente e o coração abertos, para testemunhar uma Igreja inclusiva e sem barreiras na qual cada um possa se sentir acolhido". Daí a necessidade de "alcançar a todos".

As ideias missionárias e planos pastorais não podem ignorar esse ponto fixo: na Igreja há espaço para todos! Trata-se de fixar o olhar nos vastos horizontes existenciais, de ir além dos próprios esquemas restritos, numa atitude de humilde docilidade ao Espírito Santo.

Por fim, a esperança de que o encontro possa "ser uma experiência fraterna frutuosa e em benefício dos fiéis confiados aos seus cuidados", testemunhando "o Evangelho com o estilo de doçura e misericórdia".

Arcebispo de Benevento: planejamento para as áreas internas

Ao abrir a conferência, dom Felice Accrocca, arcebispo de Benevento, ressaltou que as chamadas áreas internas do país não são marginais "nem querem se resignar a serem consideradas como tal". Ele também lembrou que a conferência tem caráter pastoral, mas é importante recordar que o das áreas internas é um problema político "porque - explica o prelado - a maioria dos municípios italianos é composta de realidades com população abaixo de 5 mil habitantes, geograficamente localizados em todo o território nacional, não apenas no centro-sul". Um problema que deve ser enfrentado "não através de slogans com sabor eleitoral, mas com planejamento e inteligência política, uma mercadoria – infelizmente – cada vez mais rara". É necessário, "mesmo antes do apoio econômico, um planejamento sério a médio e longo prazo, ou seja, é necessária, antes de tudo, inteligência política".

Benedetta Capelli 

 

Cúpula sobre as artes no Vaticano: Papa e Andrea Bocelli novamente juntos

O Primeiro Vitae Summit vai reunir ainda o premiado ator Denzel Washington durante os dois dias de evento na Casina Pio IV a partir desta quarta-feira (31).

Já não é mais mistério o nome das personalidades de renome internacional que irão participar do Primeiro Vitae Summit, a cúpula sobre as artes que será realizada nesta quarta (30) e quinta-feira (01) na Casina Pio IV, no Vaticano. O evento visa discutir estratégias e propostas criativas para o desenvolvimento de iniciativas culturais em nível global para um mundo melhor em que a unidade, a esperança e o encontro das pessoas sejam promovidos. 

Junto ao Papa Francisco, um grande incentivador do trabalho desenvolvido pelo organizador do evento - a Fundação Vitae Global, estarão figuras como Andrea Bocelli, o tenor italiano que já encontrou o Pontífice por várias vezes; e o ator e produtor norte-americano, Denzel Washington, já ganhador de Oscar por duas vezes: como Melhor Ator pelo filme "Dia de Treinamento" (2002) e como Melhor Ator Coadjuvante por "Tempo de Glória" (1990). O elenco das personalidades provenientes de todo o mundo no campo das artes e do entretenimento que irão participar da cúpula foi divulgado no final da tarde desta segunda-feira (29).

O elenco dos artistas

Numa lista de 25 artistas ainda está Jonathan Roumie, ator americano conhecido por interpretar o papel de Jesus na série de TV sobre o nascimento do cristianismo, "Os Escolhidos"; a atriz e modelo inglesa de nacionalidade estadunidense, Hayley Atwell; o cineasta Pete Docter, que dirigiu filmes de animação como "Monstros S.A." e "Inside Out"; o produtor de cinema Dan Lin, de trabalhos como "Sherlock Holmes" e "Alladin"; o cantor inglês Marcus Mumford; o cantor colombiano J Balvin; a cantora, compositora e instrumentista canadense Alessia Cara, com várias indicações ao Grammy Award, ganhando em 2018 como artista revelação; a estilista austrícia Eva Cavalli; o cantor e compositor mexicano Alexander Acha, vencedor do Grammy Latino.

A cúpula ainda ganha o apoio de diferentes líderes globais, como a própria Rainha Sofia, da Espanha, que estão ajudando a promover esse encontro de trabalho colaborativo no Vaticano para iniciar as conversas sobre vários temas. Luis Quinelli, presidente e fundador da organização internacional sem fins lucrativos Vitae Global, disse que estão "otimistas e animados com a grande resposta dos artistas e líderes. Somos muito gratos pelo apoio e participação do Papa Francisco. Temos agora o grande desafio de iniciar juntos uma conversa sobre como trazer esperança, unidade e o bem comum de volta à moda através das artes, a fim de impactar positivamente o coração e o espírito das pessoas".

Andressa Collet 

Fonte: Vatican News