Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: Muda de nome





Reflexão para o 22 Domingo do Tempo Comum | 28 Agosto 2022 – Ano “C” 

Contam que certo dia Alexandre Magno, o grande general grego, viu um dos seus soldados fugir da batalha. Deu ordem que o procurassem e o trouxessem imediatamente. Quando o soldado chegou à sua frente, perguntou-lhe:

 – Qual é o seu nome?

– Alexandre, senhor, respondeu o homem. O general olhou para ele e lhe disse: 

– Ou você muda de nome ou muda de atitude! Para o comandante, não era possível ter um nome glorioso e agir de maneira tão mesquinha.

No evangelho de Lucas, deste 22º Domingo do Tempo Comum, encontramos Jesus participando de uma refeição na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes ficam observando a Jesus, talvez para poder apanhá-lo em alguma infração à Lei ou simplesmente por curiosidade e desconfiança. Afinal, aquele “mestre” vinha da Galileia, região de pagãos e nunca havia estudado em Jerusalém. Jesus também ficava atento àquilo que acontecia: as pessoas escolhiam os lugares de destaque nas mesas, provavelmente mais perto que podiam daquele que os tinha convidado. Queriam aparecer. A parábola da festa de casamento e dos lugares a serem ocupados vai muito além de uma simples questão de ordem ou de organização. Jesus quer nos ensinar que todos somos convidados à festa do amor de Deus, ninguém ficará excluído. No entanto, não cabe a nós escolher o lugar. A decisão será do próprio Senhor que tem os seus critérios de prioridade, com certeza, bem diferentes dos nossos. O mais sensato seria ficar nos últimos lugares porque, se o merecermos, talvez o Senhor nos chame mais na frente. Vergonhoso seria ser convidado a deixar espaço para outro e assim acabar no fim da fila. Pela parábola, os orgulhosos serão rebaixados e os humildes elevados. É o Senhor que exalta os que merecem; ninguém deve se promover por sua própria conta. Pode estar muito, muito enganado.

Depois da parábola, Jesus fala diretamente a quem o tinha convidado, mas é evidente que está falando a todos nós. Aqui aparece a novidade do Evangelho. Com efeito, todos nós temos as nossas amizades, preferências de pessoas e interesses. Os laços podem ser familiares, de convivência com vizinhos ou colegas de trabalho, sócios de negócios reais ou na esperança de conseguir algum apoio ou favor. Se no nosso aniversário – ou casamento – comparecer alguém desconhecido, logo queremos saber quem é o cara e, sobretudo, quem o chamou. Convidar “os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos” (Lc 14, 13) não faz parte dos nossos planos. Mais claramente: isso nem passa pela nossa cabeça! Ainda, talvez, as sobras do banquete podem ser para os pobres, mas a festa não. Ou seja, estamos muito longe da proposta de Jesus. Provavelmente pensamos que seja mais um dos exemplos exagerados de Jesus, uma forma de se expressar para chamar atenção. Pode até ser, mas as palavras do Evangelho explicam a verdadeira motivação para convidar os pobres e os excluídos em geral: é porque eles não terão como devolver o convite. Isso  significa colocar em nosso agir a gratuidade em lugar dos interesses ou da troca de favores. 

Na prática,  não acreditamos que esta generosidade possa nos proporcionar alegria e felicidade, por serem elas, sem dúvida, muito diferentes daquela euforia que o sucesso, a fama e o dinheiro parecem nos oferecer. No entanto Jesus insiste: “Então tu serás feliz”. É palavra dele, e a recompensa que virá “na ressurreição dos justos” será simplesmente a plenitude daquela alegria que teremos experimentado fazendo o bem a quem nada podia nos pagar ou devolver. Seremos felizes, porque teremos descoberto um pouco mais de como é o nosso Deus, quão grande é a bondade e a misericórdia deste Pai que Jesus nos fez conhecer e que não deixa faltar o seu amor aos seus filhos, também aos ingratos, aos desobedientes e rebeldes. A “batalha” da gratuidade generosa contra uma visão “retributiva” e interesseira de um Deus que deveria premiar os bons e castigar os maus é difícil de se ganhar. Dá vontade de desistir, de agir somente se recebermos algo, logo e bem concreto, sem esperar o depois. “Cristão” é o nome de quem quer ser discípulo de Jesus. Felizes? Ou arriscamos a confiar na sua palavra ou mudamos de nome.  

Por Dom Pedro José Conti

Fonte: Diocese de Macapá