Cultura

Papa a legisladores católicos: curar o mundo da violência com amor político aos vulneráveis





Francisco recebe parlamentares católicos de uma rede internacional e pede um compromisso, em nível nacional e internacional, pela "justiça, fraternidade e paz" sobretudo voltadas aos mais vulneráveis. Um empenho que, afirma o Papa, "não é apenas a ausência de guerra", mas o resultado da cooperação, do diálogo e de projetos políticos voltados para o futuro.

O Papa Francisco recebeu na manhã desta quinta-feira (25), na Sala Clementina, no Vaticano, um grupo de 200 pessoas da Rede Internacional de Legisladores Católicos (ICLN - International Catholic Legislators Network), uma associação privada apartidária que nasceu em Trumau, na Áustria, em 2010. Eles participam de uma conferência anual realizada em Roma, que inclui uma audiência com o Pontífice no Vaticano.

Em discurso, Francisco começou saudando as presenças do arcebispo de Viena, o cardeal Christoph Schönborn; do Patriarca da Igreja Sírio-ortodoxa, Ignatius Aphrem II; e do professor Alting von Geusau; e fez justamente referência ao encontro. Neste ano, a reflexão é baseada na promoção da justiça e da paz na atual situação geopolítica, marcada por conflitos e divisões em diferentes partes do mundo.

Aos representantes dos legisladores cristãos em todo o mundo, o Papa os encorajou a se tornarem, então, "fermento para a renovação da vida civil e política, testemunhas do 'amor político' (cf. Fratelli tutti, 180) para os mais necessitados". Assim, o Pontífice propôs a análise de três palavras-chave, apostando no "compromisso com a justiça e a paz, alimentado por um espírito de solidariedade fraterna" que irá orientá-los diariamente "no nobre trabalho de contribuir para a vinda do Reino de Deus no mundo".

A justiça

Sobre a primeira palavra, justiça, definida classicamente como a vontade de dar a cada pessoa o que é direito implica, de acordo com a tradição bíblica, ações concretas destinadas a promover relações justas com Deus e com os outros. Sobretudo, lembrou o Papa, quando se trata dos mais vulneráveis "que muitas vezes não têm voz e que esperam que os líderes civis e políticos" protejam a dignidade deles, "através de políticas e leis públicas eficazes":

“Penso, por exemplo, nos pobres, migrantes e refugiados, nas vítimas do tráfico de pessoas, nos doentes e idosos, e em tantos outros indivíduos que correm o risco de serem explorados ou descartados pela cultura de hoje do 'usa e joga fora': a cultura do 'usa e joga fora', a cultura do descarte. O desafio de vocês é trabalhar para salvaguardar e valorizar na esfera pública aquelas relações justas que permitam que cada pessoa seja tratada com o respeito e o amor que lhe são devidos.”

A fraternidade

Ao tratar da segunda palavra, a fraternidade, ou seja, "um senso de responsabilidade compartilhada e de preocupação pelo desenvolvimento e o bem-estar integral" de todos, o Papa falou da sua importância para "curar o mundo tão duramente provado por rivalidades e formas de violência que surgem do desejo de dominar e não de servir". Aos legisladores católicos, motivou para a necessidade de se criar líderes inspirados no amor fraterno e voltado aos mais vulneráveis:

"Encorajo os esforços contínuos de vocês, em nível nacional e internacional, para adotar políticas e leis que procurem abordar, num espírito de solidariedade, as muitas situações de desigualdade e injustiça que ameaçam o tecido social e a dignidade inerente de todas as pessoas."

A paz

Finalmente, o esforço para a busca constante da paz, salientou Francisco. Uma paz que "não é simplesmente a ausência de guerra", mas a cooperação na busca de objetivos que beneficiem a todos.

“A paz vem de um compromisso duradouro pelo diálogo mútuo, de uma busca paciente da verdade e da vontade de colocar o bem genuíno da comunidade acima do ganho pessoal. Nesta perspectiva, o trabalho como legisladores e líderes políticos é mais importante do que nunca. Pois a verdadeira paz só pode ser alcançada quando nos esforçamos, através de processos políticos e legislativos voltados para o futuro, para construir uma ordem social fundada na fraternidade universal e na justiça para todos.”

Andressa Collet

 

Papa aos Institutos Seculares: estejam onde os direitos são violados e a guerra divide os povos

Francisco disse aos membros dos Institutos Seculares que a missão que eles "desempenham é peculiar e os leva a estar no meio das pessoas, a conhecer e entender o que acontece nos corações dos homens e mulheres de hoje, a se alegrar com eles e sofrer com eles, com o estilo de proximidade, que é o estilo de Deus".

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (25/08), na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes da Assembleia Geral da Conferência Mundial dos Institutos Seculares (CMIS).

Em seu discurso, o Papa ofereceu algumas reflexões para ajudá-los "a considerar a peculiaridade da vocação que lhes foi dada, para que seu carisma se torne mais incisivo no tempo em que vivemos".

Viver a precariedade do provisório

Segundo Francisco, "o termo secularidade, que não equivale plenamente ao de laicidade, é o centro de sua vocação, que manifesta a natureza secular da Igreja, do Povo de Deus, no caminho entre os povos e com os povos. É a Igreja em saída, não distante ou separada do mundo, mas imersa no mundo e na história para ser ali sal e luz, germe de unidade, esperança e salvação. A missão que vocês desempenham é peculiar e os leva a estar no meio das pessoas, a conhecer e entender o que acontece nos corações dos homens e mulheres de hoje, a se alegrar com eles e sofrer com eles, com o estilo de proximidade, que é o estilo de Deus".

“Vocês são chamados a viver toda a precariedade do provisório e toda beleza do absoluto na vida comum, nas ruas onde as pessoas caminham, onde o cansaço e a dor são mais fortes, onde os direitos são violados, onde a guerra divide os povos, onde se nega a dignidade. É lá, como Jesus nos mostrou, que Deus continua nos dando a salvação e vocês estão lá, vocês são chamados a estarem lá a fim de testemunhar a bondade e ternura de Deus com gestos cotidianos de amor.”

O Papa frisou que a força e a coragem para se colocar a serviço dos outros com generosidade e tomar decisões que testemunham, "são encontradas na oração e na contemplação silenciosa de Cristo. O encontro orante com Jesus enche o coração de sua paz e seu amor que vocês poderão doar aos outros. A busca assídua por Deus, a familiaridade com as Escrituras Sagradas e a participação nos sacramentos são a chave para a fecundidade de suas obras".

Não há um destino solitário

De acordo com o Pontífice, a vocação dos Institutos Seculares "é uma vocação de fronteira", e em várias ocasiões, os membros de Institutos Seculares "afirmaram que nem sempre são conhecidos ou reconhecidos pelos pastores e essa falta de estima talvez os levou a se retirar, a evitar o diálogo, e isso não é bom. No entanto, sua vocação abre caminhos".

Penso nos contextos eclesiais bloqueados pelo clericalismo, que é uma perversão, onde sua vocação fala da beleza de uma secularidade abençoada, abrindo e aproximando a Igreja de cada homem e mulher. Penso nas sociedades onde os direitos das mulheres são negados e onde vocês, como aconteceu também na Itália com a beata Armida Barelli, tem a força para mudar as coisas promovendo sua dignidade. Penso nessas realidades, que são muitas, como a política, a sociedade, a cultura, em se renuncia a pensar, em que se padroniza de acordo com a corrente dominante ou a própria conveniência, enquanto vocês são chamados a recordar que o destino de cada ser humano está unido ao dos outros. Não há um destino solitário.

Banir costumes que não dizem mais nada a ninguém

O Papa convidou os participantes da Assembleia Geral da Conferência Mundial dos Institutos Seculares, a não se cansarem de "mostrar o rosto de uma Igreja que precisa se redescobrir a caminho com todos, e acolher o mundo com suas fadigas e com a beleza que há nele".

A Igreja não é um laboratório para se tranquilizar e descansar. A Igreja é uma missão. Somente juntos podemos caminhar como povo de Deus, como pessoas que buscam o sentido junto com os homens e mulheres do nosso tempo, guardiões da alegria de uma misericórdia feita carne em nossa vida. Esse percurso exige banir costumes que não dizem mais nada a ninguém, romper esquemas que impedem o anúncio, sugerindo palavras encarnadas, capazes de alcançar a vida das pessoas porque são nutridas da vida delas e não de ideias abstratas. Ninguém dá testemunho com ideias abstratas. Ou você evangeliza com sua vida, e este é o testemunho, ou você é incapaz de evangelizar.

O Papa os encorajou "a fazer a secularidade presente na Igreja com afabilidade, sem reivindicações, mas com a determinação e a autoridade que vem do serviço". "Ouçam o Espírito Santo com docilidade para entender como tornar suas obras cada vez mais eficazes, inclusive trilhando novos caminhos que tornam visível a riqueza que vocês têm", concluiu Francisco.

Mariangela Jaguraba 

 

O Papa recebe a presidente da Hungria, Katalin Novák

Dentre as audiências da manhã desta quinta-feira, Francisco recebeu a presidente da Hungria e sua comitiva. Durante as conversas, no Vaticano, foram abordados os temas da guerra na Ucrânia e do compromisso com a paz.

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (24/08), no Vaticano, Katalin Éva Novák, presidente da Hungria desde 10 de março de 2022 e primeira mulher eleita chefe de Estado em seu país.

O encontro com o Pontífice durou cerca de uma hora. Em seguida, houve o encontro com o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, acompanhado pelo secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais, dom Paul Richard Gallagher.

Segundo uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé, durante as conversas na Residência Apostólica foi lembrada a Viagem Apostólica do Papa Francisco a Budapeste, em setembro passado, por ocasião do 52° Congresso Eucarístico Internacional, e manifestada satisfação pelas boas relações bilaterais. Falou-se também sobre a guerra na Ucrânia, sobre o compromisso com a paz, e questões de interesse comum, como a família, a promoção da cultura da vida, os jovens e a situação dos cristãos no Oriente Médio.

A troca de presentes

Na habitual troca de presentes, o Papa presenteou a presidente húngara com uma obra de bronze que representa uma criança que ajuda outra a se levantar, com as palavras "Amar e ajudar", e alguns documentos pontifícios, como a Mensagem pela Paz deste ano, o Documento sobre a Fraternidade Humana e o livro sobre a Statio Orbis de 27 de março de 2020, produzido pela Livraria Editora Vaticana.

Por sua vez, a presidente húngara doou ao Pontífice uma estola bordada à mão, dois discos da música de Franz Liszt e um volume dedicado à sua música, e por fim, um volume sobre uma coleção de arte contemporânea inspirada nos temas da Bíblia.

Fonte: Vatican News