Duas vizinhas se encontraram na porta do elevador. Uma disse para a outra:
– Estou indo rezar para Nossa Senhora. A outra, sorrindo, perguntou:
– Qual delas? Vocês inventaram tantas… Nem por isso a colega desanimou e respondeu:
– Minha amiga, você tem seu nome, mas, como é que sua filha chama você? Chama de mamãe. E a sua neta chama você de vovó. Seu marido chama você de meu bem ou, quem sabe, algum apelido carinhoso. Para mim, você é minha vizinha. Para o zelador do prédio, a moradora do 506. Sua mãe chamava você de filha querida… Chegou o elevador. Elas desceram juntas, mas a conversa continuou:
– O médico chama você de paciente, o feirante de freguesa… Se você, vizinha, tem tantos títulos, imagine aquela que é a Mãe de Jesus, nosso Senhor -. A porta do elevador se abriu. Aquela senhora devolveu um sorriso alegre para a outra e cada uma continuou o seu caminho.
No próximo domingo, celebraremos a solenidade da Assunção de Nossa Senhora. A Igreja nos convida a festejar a glória de Maria. Nesse caso, não é questão de dar mais um nome ou um título a Nossa Senhora, mas de sermos, todos nós, confirmados na nossa fé na ressurreição. Com efeito, é isto que a Igreja nos pede para acreditar: o corpo de Maria, agraciada pela maternidade divina, já está na glória do céu. Assim “ela é consolo e esperança” para nós, que ainda estamos a caminho. Vamos refletir um pouco.
Ainda hoje, muitas vezes, falamos de “salvação das almas”, no entanto quando o Filho de Deus veio no meio de nós, assumiu a carne humana (Jo 1,14), ou seja, um corpo real e material com todas as limitações de tempo e de espaço como nós experimentamos todos os dias. Igualmente passou pela morte e o seu corpo foi colocado num túmulo (Jo 19,40-41). Jesus participou em tudo da nossa vida, menos no pecado. Ele passou “fazendo o bem” e o fez com o seu corpo, com palavras e gestos, como toda pessoa verdadeiramente humana. Teve amigos, chorou, sentiu compaixão, exultou de alegria e louvou ao Pai. Encontramos todos esses momentos vividos por Jesus narrados nos Evangelhos, assim como foram contados e recontados e, por fim, escritos. Hoje, ninguém mais questiona a existência histórica daquele homem chamado Jesus. A vida dele não foi fruto da imaginação de alguém muito experto, capaz de inventar aqueles acontecimentos e, sobretudo, a morte e a ressurreição de uma pessoa tão diferente e extraordinária. Foi aquele corpo Crucificado que ressurgiu e foi pelas chagas da paixão que os apóstolos o reconheceram (Jo 20,27-28).
Nas “profissões de fé”, que rezamos nas missas, afirmamos que esperamos “a ressurreição dos mortos” e que acreditamos “na ressurreição da carne”. A “ressurreição” continua sendo algo além da nossa experiência humana. É uma questão de fé, ou seja, não está alicerçada em provas materiais, mas na nossa confiança no Deus da Vida, que, com Jesus, acreditamos, venceu, uma vez por todas, o mal e a morte. Por tudo isso, nós cristãos somos chamados a promover sempre a vida “de todo homem e do homem todo” (S. Paulo VI), desde a concepção até a morte natural, mas também de tantos outros seres vivos, sinais da mesma vida divina.
Cuidar dos “corpos” é cuidar das pessoas. O zelo com a saúde física, psíquica e espiritual de todos, significa curar a praga da fome, oferecer condições de vida digna a milhões de seres humanos, proporcionando-lhes casa, escola, segurança, lazer, acesso à informação. Por saúde “espiritual” podemos entender não somente a livre e respeitosa expressão da própria fé religiosa, mas também a pacífica convivência entre as pessoas, as famílias, o incentivo às artes, à música, a tudo aquilo que manifesta a alegria e o desejo de felicidade que o coração humano sente e almeja. Hoje, muitas pessoas gozam de saúde física e gastam fortunas para manter jovens os seus corpos. Estão carentes, porém, de saúde espiritual. Se esqueceram de Deus, dos irmãos, dos pobres e dos pequenos. Para manter essa saúde só tem um remédio, chama-se: amor!
Maria, deu tudo de si mesma, “corpo e alma”, e agora está na glória do céu.