Cultura

Papa: a fé verdadeira é um fogo aceso para nos manter despertos e laboriosos





"Nas nossas comunidades arde o fogo do Espírito, a paixão pela oração e pela caridade, a alegria da fé, ou arrastamo-nos no cansaço e no hábito?", questionou o Papa, recordando que a fé não é uma "canção de ninar" que nos embala para nos fazer adormecer. Antes pelo contrário, devemos ser inflamados pelo fogo do amor de Deus com o desejo de lançá-lo no mundo, para que cada um possa descobrir a ternura do Pai e experimentar a alegria de Jesus, que dilata o coração e torna a vida mais bela!

"O Evangelho não deixa as coisas como estão; quando passa e é ouvido e recebido, as coisas não permanecem como estão. O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão."

A passagem de Lucas do Evangelho deste XX Domingo do Tempo Comum: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!", inspiraram a reflexão do Papa no Angelus dominical. E logo no início de sua locução, dirigindo-se aos peregrinos reunidos na Praça São Pedro, perguntou "de que fogo" Jesus está falando e qual o significado dessas palavras para nós hoje.

Jesus - explicou Francisco - veio trazer o Evangelho ao mundo, a boa nova do amor de Deus. Neste sentido, o Evangelho "é como um fogo, porque se trata de uma mensagem que, quando irrompe na história, queima os velhos equilíbrios de viver, desafia a sair do individualismo, a vencer o egoísmo, a passar da escravidão do pecado e da morte para a nova vida do Ressuscitado."

Ou seja, o Evangelho não deixa as coisas como estão, "quando passa, é ouvido e recebido, as coisas não permanecem como estão. O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão:

Não oferece uma falsa paz intimista, mas acende uma inquietude que nos coloca em caminho, nos impele a abrir-nos a Deus e aos irmãos. É precisamente como o fogo: enquanto nos aquece com o amor de Deus, quer queimar os nossos egoísmos, iluminar os lados obscuros da vida - todos os temos - , consumir os falsos ídolos que nos escravizam.

E como Jesus é inflamado por esse fogo do amor de Deus, se entrega em primeira pessoa, até a morte de cruz, para fazê-lo arder no mundo:

Ele está cheio do Espírito Santo, que é comparado ao fogo, e com a sua luz e a sua força revela o rosto misericordioso de Deus e dá plenitude aos que são considerados perdidos, derruba as barreiras das marginalizações, cura as feridas do corpo e da alma, renova uma religiosidade reduzida a práticas externas. Por isso é fogo: transforma, purifica.

Mas, "o que significa para nós então essa palavra de Jesus, do fogo?", perguntou o Santo Padre:

Ela nos convida a reacender a chama da fé, para que ela não se torne uma realidade secundária, ou um meio de bem-estar individual, que nos faz fugir dos desafios da vida e do compromisso na Igreja e na sociedade.

Francisco então cita um teólogo, que dizia que "a fé em Deus não nos conforta como gostaríamos", ou seja, dando-nos uma "ilusão paralisante ou uma satisfação serena, mas para nos permitir agir":

A fé, em suma, não é uma "canção de ninar" que nos embala para nos fazer adormecer. A fé verdadeira é um fogo, um fogo aceso para nos manter despertos e laboriosos mesmo durante a noite!

Baseado nisso, o Papa propõe alguns questionamentos:

Sou apaixonado pelo Evangelho? Leio o Evangelho com frequência? Levo-o comigo? A fé que professo e celebro me coloca em uma tranquilidade bem-aventurada ou acende em mim o fogo do testemunho? Podemos perguntar-nos isto também como Igreja: nas nossas comunidades arde o fogo do Espírito, a paixão pela oração e pela caridade, a alegria da fé, ou arrastamo-nos no cansaço e no hábito, com o rosto embotado e a lamentação nos lábios e as fofocas a cada dia?

E então, o convite para examinarmos em nossa vida, se "somos inflamados pelo fogo do amor de Deus e queremos "lançá-lo" no mundo, levá-lo a todos, para que cada um possa descobrir a ternura do Pai e experimentar a alegria de Jesus, que dilata o coração e torna a vida bela.

Ao concluir,  o pedido a rezar à Virgem Santa nesta intemção: "ela, que acolheu o fogo do Espírito Santo, interceda por nós."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

 

Papa: misericórdia e piedade para o martirizado povo ucraniano

Após a oração do Angelus, o Papa recordou que há vinte anos, em Cracóvia, São João Paulo II pronunciou o ato de entrega do mundo à Divina Misericórdia, e pediu ao Senhor uma "misericórdia especial" para a população ucraniana, vítima de um conflito que começou há quase seis meses.

O mundo está em grande necessidade de misericórdia. Uma necessidade especial é a da Ucrânia, que está em guerra há quase seis meses. O Papa Francisco, na véspera da Solenidade da Assunção, após a oração do Angelus, pede ao Senhor misericórdia e piedade pelo martirizado povo ucraniano. E o faz, recordando que há 20 anos, São João Paulo II confiou o mundo à Divina Misericórdia, na cidade de Cracóvia:

E um pensamento especial vai aos numerosos peregrinos que hoje se reuniram no Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia, onde há vinte anos São João Paulo II fez o ato de entrega do mundo à Divina Misericórdia. Hoje, mais do que nunca, vemos o sentido desse gesto, que queremos renovar na oração e no testemunho de vida. A misericórdia é o caminho da salvação para cada um de nós e para o mundo inteiro.

Então, o pedido para a população ucraniana:

E peçamos ao Senhor uma misericórdia especial, misericórdia e piedade pelo martirizado povo ucraniano.

A situação na Ucrânia

Com quase seis meses de conflito, a violência na Ucrânia não dá trégua. Nas últimas horas, um ataque russo ao assentamento de Krasnohorivka, na região de Donetsk, matou dois civis e feriu outros dez. A situação também permanece tensa perto de Zaporizhzhia, capital da região ucraniana onde está localizada a maior usina nuclear da Europa, controlada pelas forças armadas russas desde as primeiras semanas da guerra. De acordo com a AIEA, houve algumas ações armadas, mas os danos não seriam tais que envolvessem riscos de segurança imediatos. O contexto, no entanto, suscita "grande preocupação" e o risco de liberações significativas de radioatividade no meio ambiente teria sérias consequências. O número de pessoas obrigadas a deixar o país em busca de refúgio está aumentando cada vez mais e, de acordo com os últimos números divulgados, ultrapassou 7 milhões. A Polônia recebe o maior fluxo de pessoas deslocadas.

Esses tamancos de madeira

A recordação de Francisco neste domingo, portanto, é para os acontecimentos de vinte anos atrás. Nos arredores da cidade polonesa de Cracóvia, no distrito de Łagiewniki, João Paulo II, durante sua Viagem Apostólica, presidiu a solene liturgia de dedicação do Santuário da Divina Misericórdia. O Papa polonês, antes da bênção, recordou que quando era jovem trabalhador, chegou a pé àquele distrito de Cracóvia:

No final desta solene liturgia desejo dizer que muitas das minhas recordações pessoais se relacionam com este lugar. Eu vinha aqui sobretudo durante a ocupação nazista, quando trabalhava no estabelecimento Solvay, situado perto daqui. Ainda hoje me recordo do caminho que leva de Borek Falecki a Debniki, que eu todos os dias percorria para ir trabalhar nos diversos horários, com os sapatos de madeira nos pés. Eram assim os sapatos naquela época. Como era possível imaginar que aquele homem com os socos, um dia teria consagrado a basílica da Misericórdia Divina, em Lagiewniki de Cracóvia. Alegro-me com a construção deste bonito templo dedicado à Misericórdia Divina.

Andrea De Angelis - Cidade do Vaticano

 

 

- População da Somália em perigo mortal devido à seca, alerta o Papa

Nos apelos após rezar o Angelus, o pensamento do Papa dirigiu-se à população do país africano, que se debate com uma grave crise humanitária também ligada a uma seca sem precedentes.

Um "perigo mortal". Assim o Papa definiu a situação em que se encontram as populações da Somália e de algumas áreas de países vizinhos devido à crise humanitária agravada, nos últimos dias, por uma seca sem precedentes neste século. De Francisco o convite, ao final do Angelus, para se responder eficazmente a esta emergência:

Gostaria de chamar a atenção para a grave crise humanitária que afeta a Somália e algumas áreas dos países vizinhos. As populações desta região, que já vivem em condições muito precárias, encontram-se agora em perigo mortal devido à seca. Faço votos que a solidariedade internacional possa responder eficazmente a esta emergência.

Em seguida, o Santo Padre sublinhou a importância de não desviar o olhar do drama que estas pessoas vivem:

Infelizmente, a guerra desvia a atenção e os recursos, mas estes são os objetivos que exigem o máximo empenho: o combate à fome, a saúde, a educação.

De fato, uma seca sem precedentes está atingindo a Somália. As temperaturas recordes deste período agravam um problema que sempre existiu na região do Corno de África e noutras zonas do continente africano, mas que agora se apresenta com uma gravidade nunca antes registada.

O alarme foi dado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e pelo Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC). Cerca de um milhão de pessoas deixaram suas casas desde o início do ano. Nos últimos 40 anos, nunca houve um fenômeno dessa magnitude, que também afeta a Etiópia e o Quênia.

A gravidade da situação somali foi confirmada, em entrevista à Rádio Vaticano - Vatican News, por Dom Giorgio Bertin, administrador apostólico de Mogadíscio e bispo de Djibuti. O prelado destacou que a situação política na Somália também contribui para dificultar as intervenções: um governo fraco e diferentes partes do país nas mãos de grupos armados, como Al-Shabaab.

Andrea De Angelis - Cidade do Vaticano

 

Fonte: Vatican News