O pequeno André, impressionado pelos noticiários da TV, pergunta:
– Pai, como é que começa uma guerra?
– Querido, as coisas andam mais ou menos assim: por exemplo, entre a Inglaterra e os Estados Unidos surge um forte dissídio sobre alguma questão grave… A mãe intervém:
– Não fale bobagem, Inglaterra e Estados Unidos nunca vão brigar!
– Sei – responde o pai – era só um exemplo.
– Assim você enche a cabeça do menino de besteiras – insiste a mãe.
– Mas, ao menos, eu lhe coloco algo na cabeça, você é o vazio absoluto!
– Você está ficando ridículo! – continua a mãe.
– Tudo bem, obrigado, já entendi – conclui o pequeno André.
Uma pequena história no dia em que as nossas famílias festejam os pais e encontramos um evangelho, de certa forma, surpreendente. Jesus nos diz que não veio trazer a paz, mas a divisão entre familiares. Ele vai lançar um fogo sobre a terra e gostaria que já estivesse aceso. Deve receber um batismo e está “ansioso até que isso se cumpra”. Vamos tentar esclarecer de qual fogo, de qual batismo e de qual paz Jesus está falando. Para a Bíblia, em geral, a “paz” é algo muito valioso. Podemos chegar a dizer que a paz é o conjunto de todos os bens, materiais e espirituais, prometidos por Deus. Na linguagem dos evangelhos “paz” e Reino de Deus coincidem. Nós cantamos na liturgia: “Onde reina o amor, Deus ali está”, ou seja, a presença do Senhor na caminhada do seu povo e na vida das pessoas que se amam é a maior alegria, é a plenitude da comunhão e da fraternidade. No entanto, essa “paz” é um bem que ainda deve ser alcançado, construído, esperado. Com a Ressurreição de Jesus, a sua vitória sobre o mal e a morte, o Reino da Vida e da Paz já começou, mas temos um longo caminho de conversão à nossa frente.
Por “fogo” podemos entender o próprio dom do Espírito Santo com sua luz e sua força, mas também a luz da verdade, a fogueira que queima toda violência, ódio e mentira. Por “batismo”, enfim, podemos entender – como o próprio Jesus fala em Mc 10,38-39 – o sofrimento e a morte de cruz. Podemos dizer que a paz, entendida no sentido grande da palavra e não como uma simples concordância ou uniformidade, é um bem que, para ser alcançado, precisa de muita luta contra os nossos interesses, orgulhos e ambições de poder individuais ou de grupos. A “paz”, como tudo o que é bom, duradouro, profundo e sério de verdade, exige renúncias, colaboração, partilha, solidariedade, gestos de perdão e reconciliação, fidelidade à palavra dada. De um lado, precisa-se do “fogo” de quem tem a coragem e o entusiasmo para mudar as coisas erradas e, do outro, a disposição para perseverar na busca e suportar os sofrimentos que vêm das traições e dos fracassos. Contudo a paz verdadeira é um bem tão grande que vale a pena qualquer esforço e sacrifício para alcançá-la.
Penso agora nas nossas famílias e no desejo que todos os pais têm de ver os seus filhos unidos, respeitando-se e ajudando-se. Toda família é diferente e é formada por pessoas diferentes, por isso, uma família unida é uma pequena oficina onde é possível ensaiar como poderia ser uma sociedade “fraterna” sem inimigos, divisões, ciúmes e invejas. Se Jesus fala de “divisão” é porque conhece o coração humano e sabe quanto é difícil acertar a convivência entre as pessoas, incluindo as nossas famílias. Jesus nos diz que não adianta fingirmos ou nos iludirmos que somos unidos quando, no fundo, descuidamo-nos dos laços que constroem a comunhão. Às vezes, é necessário reconhecer as divisões, para sentirmos saudade dos irmãos, das brincadeiras, das diversidades que nos enriquecem a todos. Feliz aquela família que nunca desiste de se reunir, superando as distâncias e as desavenças. Felizes aqueles pais que, vez por outra, podem ver os seus filhos e netos conversando sem agressões, confiando uns nos outros. Quem sabe que este dia seja hoje mesmo, Dia dos Pais – e das Mães – dia das famílias que sabem cuidar também das suas feridas, porque acreditam no Senhor, Rei da Paz. Já sabemos como começam as guerras. Vamos aprender a fazer florescer a paz!