O seu Joaquim era um pai de família. Muito mal conseguia sustentar a família: a esposa e seis filhos. No domingo foi à missa e ouviu do padre que tudo aquilo que precisamos devemos pedir a Deus e, se for para o nosso bem, ele atenderá. Joaquim voltou para casa e escreveu uma carta pedindo ajuda a Deus. Colocou a carta nos Correios com o endereço: “Deus Pai – Céu”. Os funcionários acharam muito esquisita aquela carta e a abriram para ver do que se tratava. Joaquim pedia a Deus mil reais para pagar a dívida no supermercado. O pessoal dos Correios ficou comovido, fizeram uma vaquinha e juntaram oitocentos reais. Colocaram o dinheiro num envelope e o enviaram para o Sr. Joaquim. Quando ele recebeu a carta e a abriu, pulou de alegria, mas constatou que dentro tinha oitocentos reais e não os mil que havia pedido. Então escreveu outra carta para Deus, sempre com o mesmo endereço. Os funcionários dos Correios viram a carta e a abriram pensando que fosse um agradecimento. Porém na carta do seu Joaquim estava escrito: “Senhor Deus, recebi os oitocentos reais. Muito obrigado! Mas cuidado Senhor Deus. Numa próxima vez, mande um cheque nominal, porque, mandando em dinheiro, os funcionários dos Correios roubam uma parte!”
No evangelho de Lucas deste 17º Domingo do Tempo Comum, Jesus, a pedido dos seus discípulos, ensina a oração do Pai-Nosso e convida a confiar sempre na bondade providente do Pai. Chamar Deus de “pai” é a grande novidade de Jesus. No Antigo Testamento, Deus é chamado por vários nomes e muitos são os atributos referidos a ele. Se exalta a sua grandeza, o poder, a soberania, mas raramente a paternidade. Talvez por achar íntima e demais familiar essa forma de tratá-lo. No entanto o povo rezava, esperava e pedia que Deus caminhasse junto, “rasgasse os céus e descesse” (Is 63,19). O profeta Isaías tinha anunciado a vinda do Emanuel, o Deus conosco (Is 7,14; Mt 1,23). Nós acreditamos que essa promessa se realizou em Jesus, o Filho de Deus, que se fez “carne” humana e “veio morar entre nós” (Jo 1,14). Ele, com a sua vida, o seu modo de falar e agir, mostrou-nos o rosto bondoso e misericordioso do Pai. Não um Deus que amedronta, do qual temos medo e preferimos ficar longe, mas um Deus Pai amoroso e acolhedor, sempre pronto a atender aos seus filhos. Se Jesus nos deixou o mandamento do amor fraterno e até aos inimigos é porque devemos aprender a nos amar como o próprio Deus nos ama. Somos convidados a sermos perfeitos e santos “como o Pai” (Mt 5,48; Lc 6,36) porque fomos criados à imagem e à semelhança dele. Na pessoa do Filho, somos reconciliados com Deus Pai e reconduzidos na sua intimidade.
Se podemos chamar Deus de “Pai nosso” é porque somos “filhos” em relação a ele e “irmãos” entre nós. A familiaridade com Deus se estende à “familiaridade” com os nossos semelhantes e, de certa forma, com todas as criaturas que Deus também ampara e protege. Na sua imensa generosidade, Deus nos entregou tudo o que existe neste planeta e nos deu a capacidade de multiplicar os recursos, de cultivar e transformar tantas riquezas. Ele não precisa de milagres para exercer a sua paternidade, bastaria que nós vivêssemos e praticássemos mais a nossa fraternidade. Ou seja, Deus se serve das pessoas de bom coração para alcançar os necessitados, os sofredores e desamparados. Serve-se também de leis justas, de uma economia mais solidária e capaz de repartir os ganhos. Serve-se de uma “política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro bem comum” (Fratelli Tutti 154). Não é Deus Pai que falha na sua paternidade, somos nós que esquecemos a nossa fraternidade. Usamos nossas capacidades muito mais para os nossos interesses e vantagens individuais do que para o bem e a vida de tudo e de todos. Culpamos Deus pelo nosso egoísmo e indiferença. Fazemos as guerras e depois pedimos dele a paz. Em lugar de agradecermos e aprendermos com a bondade do Pai duvidamos do seu amor. Queremos dele um cheque nominal, só para nós, porque desconfiamos da solidariedade dos irmãos. Deveríamos suspeitar da generosidade de nós mesmos.
Fonte: Diocese de Macapá