"Viverá feliz aquele quem ama seu irmão quando está longe dele como quando está ao seu lado, escreveu São Francisco de Assis. Neste espírito, convido-os a entrar em diálogo com estes Diálogos Fraternos e a não ter medo de caminhar juntos aprendendo e valorizando, inclusive, nossas diferenças." São palavras do Papa Francisco no prefácio escrito para o livro "Diálogos Fraternos", realizado pela Secretaria do Culto do Ministério das Relações Exteriores e do Culto da Argentina.
Ao prefaciar a obra, o Santo Padre descreve suas páginas como um chamado a caminhar juntos - para refletir, sentir, trabalhar, tomar a palavra, encontrar nosso sentimento de pertença e a possibilidade de transformação - capaz de reunir e dar voz à experiência dos interlocutores e de seus povos. "Valorizar o exemplo e a experiência daqueles que dedicam seu tempo ao serviço dos outros nos incentiva a repensar nosso modo de vida, nossas relações, a organização de nossas sociedades e, acima de tudo, o sentido de nossa existência. Mas, sobretudo, permite-nos redescobrir a importância de nos sentirmos convidados a fazer parte desses diálogos de amizade social", afirma o Pontífice ressaltando que a pandemia também nos lembrou que precisamos uns dos outros, que ninguém se salva sozinho.
"Em diálogo com o outro, qualquer que seja sua origem, podemos abrir janelas, recuperar horizontes e encontrar criativamente a melhor maneira de viver juntos”, frisa Francisco.
O Papa conclui o prefácio - publicado no jornal vaticano L'Osservatore Romano- fazendo votos de que este encontro nos permita "sonhar juntos com a amizade social, com a dignidade de nossos povos, e com um mundo sem descarte, no qual não falte nem terra, nem teto, nem pão, nem trabalho; e no qual a esperança nos impulsione a trabalhar rumo a um horizonte melhor. Trabalhar por um mundo no qual a fraternidade não se expressa apenas em palavras cheias de significado e valor, mas também e sobretudo de uma forma que tece e forja a história."
Por fim, convida os leitores a deixar que estes Diálogos Fraternos ecoem tão fortemente em nossa imaginação que nos impulsionem a querer transformá-los em ação.
Raimundo de Lima – Vatican News
- Abusos: Papa reitera "tolerância zero" e encoraja religiosos a denunciar
O Papa Francisco quebrou o “jejum” das audiências deste mês de julho recebendo esta quinta-feira os capitulares de três Congregações religiosas: Ordem Basiliana de São Josafat, Ordem da Mãe de Deus e Congregação da Missão.
Não se trata de uma "salada de frutas" de institutos, brincou o Papa no início de sua saudação, afirmando que esta foi a modalidade encontrada neste período em que estão suspensas as audiências no Vaticano. Mas que faz questão de receber os Capítulos.
E foi justamente a experiência capitular o tema do discurso do Santo Padre, que convidou os presentes a “saborearem” este momento que a pandemia impossibilitou durante tanto tempo. De fato, disse o Papa, isso deveria ajudar a não dar como certo o fato de poder se encontrar, confrontar-se olhando nos olhos e, sobretudo, rezar e ouvir juntos a Palavra e compartilhar a Eucaristia.
O Capítulo, prosseguiu Francisco, é o momento do discernimento comunitário, uma das mais belas e fortes experiências eclesiais. Com a ajuda do Espírito Santo, busca-se ver em que medida foram fiéis ao carisma e que direção seguir. "Se não tem o Espírito num Capítulo, fechem as portas e voltem para casa! O Espírito deve ser quase o protagonista de um Capítulo", disse o Papa. Para isso, indicou o critério essencial: a evangelização. Isto é, se as escolhas feitas, os métodos, os instrumentos e os estilos de vida são orientados a testemunhar e anunciar o Evangelho. Não obstante os carismas sejam diferentes, todos podem e devem cooperar para a evangelização. Citando a Evangelii Nutiandi de Paulo VI, o Pontífice recordou que a "vocação da Igreja é evangelizar, a alegria da Igreja é evangelizar".
Este chamado não diz respeito somente ao plano pessoal, como todo batizado, mas também de forma comunitária, com a vida fraterna. “Esta é a via mestra para mostrar a pertença a Cristo”, disse Francisco, reconhecendo, porém, quanto seja difícil. Inconcebível para a mentalidade do mundo, a vida em comunidade requer uma atitude cotidiana de conversão, de colocar-se em discussão e de vigilância sobre as rigidezes.
Mas sobretudo, indicou Francisco, requer humildade e simplicidade de coração. Por não ser “dons naturais”, devem ser pedidos incessantemente a Deus. Não se trata de manter relações de fachada e sorrisos artificiais, mas de viver uma fraternidade livre. Só assim, pode transparecer a verdadeira alegria: “A alegria de ser de Cristo e de sê-lo juntos, com os nossos limites e os nossos pecados. Alegria de ser perdoados por Deus e compartilhar este perdão com os irmãos. Esta alegria não se pode esconder, transparece! E é contagiosa”.
É a alegria dos santos outro elemento importante de uma Congregação. No caso dos capitulares presentes São João Leonardi, São Josafat e São Vicente de Paulo. Estes santos mostram a importância de rezar e trabalhar. Foram evangelizadores, não proselitistas. Do ponto de vista da evangelização, não servem propostas místicas sem compromisso social e missionário, nem práxis sociais e pastorais sem espiritualidade. “Não se nasce fundadores!”, afirmou o Papa. Mas se torna por atração: o santo não atrai para si, mas para o Senhor.
Eis então as palavras-chave: humildade, simplicidade de coração e alegria. “Este é o caminho de uma fraternidade evangelizante. Impossível aos homens, mas não a Deus!” O Papa mais uma vez alertou para as insídias das fofocas, que destroem a alegria comunitária.
Antes de concluir, Francisco dirigiu seu pensamento à Ucrânia, lugar de origem de São Josafat, membro da Ordem de São Basílio. Neste momento de "dor e martírio" da pátria ucraniana, o Pontífice manifestou a sua solidariedade e a de toda a Igreja. Pediu mais uma vez que não nos habituemos à guerra, afirmando que outro dia viu que a notícia sobre o conflito estava somente na página 9 de um jornal. "Faço votos de que o Senhor tenha compaixão e esteja próximo com o dom da paz."
Por fim, uma mensagem importante, desta vez às três congregações.
"Por favor, lembrem-se bem disto: tolerância zero com os abusos contra menores ou pessoas vulneráveis. Tolerância zero." Este problema não se resolve com a transferência do abusador. Por isso encorajou: "Não tenham vergonha de denunciar".
Bianca Fraccalvieri - Vatican News
- O pesar do Papa pela morte de Eugenio Scalfari, um dos grandes nomes do jornalismo italiano
Uma figura central no jornalismo italiano, durante e mesmo após a sua saída da direção do jornal "La Repubblica", o segundo diário da Itália por tiragem, ao qual seu nome está indissoluvelmente ligado. Nascido na cidade de Civitavecchia, a cerca de 80 Km de Roma, no ano de 1924, Eugenio Scalfari faleceu nesta quinta-feira (14) em Roma com a idade de 98 anos.
O Papa Francisco, segundo comunicado do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, recebeu com pesar a notícia "da morte do seu amigo". O Pontífice "guarda com carinho a memória dos encontros - e das conversas densas sobre as últimas questões do homem - que teve com ele ao longo dos anos e confia a sua alma ao Senhor em oração, para que o receba e console aqueles que estavam próximos a ele".
O mundo da informação o viu como um protagonista desde os primeiros passos, um mundo que ele contribuiu profundamente a inovar com as duas publicações que dirigiu: a revista semanal "L'Espresso", focada em reportagens investigativas, e sobretudo o jornal "La Repubblica", fundado em 1976 e levado ao topo do interesse dos leitores em poucos anos. Scalfari não era apenas um jornalista, mas um homem de cultura: publicou vários livros, começando com o seu primeiro, em 1998, intitulado "Il labirinto" (O labirinto).
O mundo do jornalismo, da cultura e da política já expressaram suas condolências pela morte do homem que foi um líder no seu trabalho como comunicador. Entre as primeiras mensagens, a do presidente da Itália, Sergio Mattarella, que em declaração disse estar "particularmente triste com a morte de Eugenio Scalfari, jornalista, diretor, ensaísta, homem político, testemunha lúcida e apaixonado pela nossa história republicana". Scalfari, continuou Mattarella, "sempre foi um ponto de referência envolvente para gerações de jornalistas, intelectuais, políticos e um número muito grande de leitores. Sempre um convicto defensor da ética na sociedade e da renovação na vida pública, se dedicou magistralmente, nos últimos tempos, aos grandes temas existenciais da humanidade", concluiu o Chefe de Estado, "com a sua habitual eficácia e profundidade de reflexão.
Já o cardeal Gianfranco Ravasi em um tuíte escreveu lembrar "com estima e amizade" do fundador de "Repubblica", "um protagonista da cultura leiga. Guardo em minha memória o nosso diálogo apaixonante de 2013, no verdadeiro espírito do 'Pátio dos Gentios', sobre os desafios e o futuro da informação".
Após à eleição à Cátedra de São Pedro, o Papa Francisco trocou cartas com Eugenio Scalfari e teve uma conversa sobre a relação entre fé e secularismo, publicada em um livro da editora Einaudi-La Repubblica. Um diálogo, embora a partir de duas posições diferentes, que atraiu a atenção do público em geral. Precisamente em resposta a Eugenio Scalfari, o Papa Francisco escreveu em 4 de setembro de 2013 em La Repubblica ao criador do jornal: "a Igreja, acredite em mim, apesar de toda a lentidão, infidelidade, erros e pecados que possa ter cometido e ainda pode cometer naqueles que a compõem, não tem outro sentido e propósito senão aquele de viver e testemunhar Jesus". O diretor da revista jesuíta "La Civiltà Cattolica", Padre Antonio Spadaro, enfatizou: "sempre me impressionou o estilo da sua interlocução com o Pontífice".
Giancarlo La Vella - Vatican News
Fonte: Vatican News