O Cardeal Dom Cláudio Hummes foi sepultado na manhã desta quarta-feira, 6, após missa de corpo presente, presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro na Catedral da Sé em São Paulo. Os seus restos mortais agora repousam na cripta da Catedral da Sé, precisamente 7 metros abaixo do altar central.
A homilia foi proferida por Dom Odilo Pedro Scherer, cardeal arcebispo Metropolitano de São Paulo que iniciou reforçando que a morte não é o fim para aqueles que creem nas promessas do Evangelho e, para quem teve uma vida exemplar como Dom Cláudio, a Palavra de Jesus se torna ainda mais confortável. “‘Quem vê o Filho e N’ele crê, tem a vida eterna’. Poderia haver palavra mais confortadora para nós que celebramos a despedida do estimado Cardeal Cláudio Hummes? Ele creu nisso. Dedicou sua vida inteira para proclamar que Jesus é Filho de Deus Salvador e ajudar as outras pessoas a se encontrarem com Ele e, também, crerem nele”, afirmou.
Como Paulo, à espera da pena capital, conforme narra a Segunda Carta a Timóteo e a exemplo de Dom Cláudio Hummes, que combateram o bom combate, acabaram a carreira e guardaram a fé, Dom Scherer lança um questionamento. “Poderia haver maior conforto na hora morte e constatar sem falsa consciência de que ‘combati o bom combate, cheguei ao fim da minha missão, guardei a fé? Oxalá possamos dizer isto a nós mesmos e diante de Deus”, afirmou enfatizando que “a morte nem sempre tem explicação racionalmente aceitável, mas a fé e a confiança em Deus nos dão motivo de serenidade. É Ele quem vive e é capaz de nos dar mais vida e vida em plenitude. Podemos dizer como o salmista. Sei que a bondade eu hei de ver na terra dos viventes (…)”
Dom Odilo fez memória dos feitos grandiosos de Dom Cláudio que geraram novos ares na Igreja, principalmente em relação à missionariedade e a questões referentes à ‘querida Amazônia’. Em 2011 voltou a São Paulo, na terceira idade, cheio de energia, guardava um sonho de juventude: “Queria ser missionário na Amazônia”. E a CNBB, sem sabê-lo, o convidou a presidir a Comissão Episcopal Especial para a Amazônia. Tratava-se de viajar muito, não por turismo, mas de maneira desconfortável, visitar os bispos, ouvir o povo, avaliar a situação dos indígenas e ribeirinhos e pensar em meios para dar novo dinamismo missionário à ação missionaria da Igreja na região. E ele o fez com dedicação.
Dom Odilo disse, também, ter conhecido Dom Claúdio em São Paulo, onde foi seu bispo auxiliar junto a outros seis colegas no episcopado e sempre lhe impressionou a liberdade e a confiança com que lhes tratava. “Os seis bispos auxiliares eram encarregados de tarefas imensas nesta Arquidiocese e ele nos reunia com regularidade e dava as coordenadas pastorais e administrativas”.
Em sintonia com a resoluções do Jubileu do ano 2000, suas preocupações eram a evangelização renovada, a caridade organizada. “Estava em curso na Arquidiocese o Seminário da Caridade. Dom Cláudio queria ver o empenho social de todas as comunidades, estava também preocupado com o desemprego crescente e com a necessidade ampliar a evangelização como um todo”.
Ainda, segundo o Cardeal Scherer, quando de Roma o Papa reforçava o ‘Duc in alto’, ou seja, avancem para as águas mais profundas, Dom Claudio repetia em São Paulo que “a missão precisa ser retomada, pois a Igreja é missionária por sua própria natureza”. E os bispos do Regional Sul 1, em base a essa urgência missionária, elaboraram diretrizes num plano de ação missionaria permanente que antecipou em muitas coisas as orientações da Conferência de Aparecida que seria realizada em 2007.
Em 2006, o Papa Bento XVI lhe foi confiou a missão de acompanhar os assuntos do clero de toda a Igreja. Dom Cláudio imprimiu a seu novo encargo a marca missionária, dando instruções para renovar a formação do cero de acordo com as necessidades e desafios do novo milênio apenas iniciado. A dimensão missionária deveria integrar a formação de todos os sacerdotes.
O Cardeal Scherer recordou que as reflexões surgiu a Rede Eclesial para a Amazônia (REPAM), em 2014. Foi Relator do Sínodo para a Amazônia a partir do qual nasceu a Conferência Eclesial para a Amazônia (CEAMA)”.
Foi neste período, nos quase dez anos como missionário, afirma o cardeal, que a Amazônia ganhou a atenção do mundo inteiro e a ação da Igreja recebeu ali novo e importante impulso.
Sua idade avançava e sua saúde cobrava um preço cada vez maior. Renunciou aos encargos em março deste ano e renunciou para o bem da sua missão. Por duas vezes pediu e recebeu a unção dos enfermos. Todas as manhãs rezava e encontrava força para continuar. Dizia: “Estamos nas mãos de Deus”. Tinha sempre nas mãos, o rosário, até que conseguiu. Lançou as sementes do Evangelho e da vida nova. Que elas brotem e frutifiquem ao longo do tempo”.
(com Rosa M. Martins - REPAM-Brasil)
Fonte: Vatican News