Muitos anos atrás, na China, um camponês trabalhava na sua roça. De repente, avistou uma quadriga que se aproximava. Eram quatro cavalos da raça que o camponês nunca tinha visto. A quadriga era conduzida por um forte guerreiro, que, em pé sobre o carro de guerra, controlava os animais. Chegando perto do camponês, ele perguntou:
– Qual é o caminho que leva ao reino de Chou? O camponês, ainda encantado com o carro e os cavalos, ia começar a dizer que precisava dar meia volta, pois o reino de Chou ficava justamente na direção oposta, mas o guerreiro nem deixou o homem falar. Começou a elogiar os seus próprios animais. Depois, vendo o agricultor interessado, começou a detalhar as qualidades da quadriga e, ainda, explicou como, com aqueles cavalos, o carro, a sua força e inteligência, não tinha medo de nada e teria enfrentado qualquer inimigo. Todo empolgado, tocou os seus cavalos e saiu em disparada. E o camponês gritou em vão:
– Mas Chou fica na direção contrária!
Neste domingo, celebramos a Solenidade de São Pedro e São Paulo. No Símbolo Niceno-Costantinopolitano afirmamos todos juntos: “Creio na Igreja, uma, santa, católica e apostólica”. Continuamos a acreditar na Boa Notícia que aquelas primeiras testemunhas espalharam obedecendo à ordem de Jesus de não ter medo e de ir até os confins da terra.
No dia de hoje, damos um destaque especial à missão do Papa, que nestes tempos, tem o nome de Francisco. Por ser um só, o Santo Padre representa e simboliza a unidade da Igreja. Essa se realiza não tanto ao redor da sua pessoa simplesmente, quanto nos rumos pelos quais cada Papa se esforça para conduzir o Povo de Deus do qual ele também faz parte, mas que, ao mesmo tempo, deve orientar. Ser Papa é uma verdadeira missão, talvez um lento martírio vivido, muitas vezes, no silêncio da própria consciência. Não é por acaso que em todas as missas, em qualquer lugar do mundo, rezamos pelo Papa Francisco. Para ele, pedimos a Deus saúde, força, coragem, muita luz para apascentar o rebanho de Jesus nestes tempos conturbados. Quando foi fácil ser Papa? Nunca, com certeza.
Papa Francisco é hoje considerado um dos maiores – se não o maior – líderes mundial, não pelo poder estratégico, econômico ou das armas, mas pela força moral de colocar questões que dizem respeito a toda a humanidade. Sobretudo os temas da ecologia, da paz, da fome e da justiça com os pobres. Na Igreja, também, o Papa Francisco deu passos importantes. Lembramos o Ano da Misericórdia, os Sínodos sobre a Juventude e a Amazônia, documentos como “A alegria do Evangelho”, “Laudato Sí”, “Fratelli tutti”, “A alegria do amor na Família”. Ultimamente, promoveu uma nova reforma na Cúria Romana, que é o conjunto de organismos que assessoram o Papa na direção da Igreja toda. No entanto, não é segredo para ninguém, que o Papa Francisco recebe também muitas críticas e até acusações, mais de pessoas da Igreja do que de outros de fora. Obviamente um consenso absoluto seria até duvidoso e nem sempre positivo.
Um honesto debate e sinceros questionamentos ajudam qualquer comunidade a caminhar. Ninguém pode achar ter o monopólio absoluto da verdade. Muito raramente os próprios Papas recorreram a afirmações pronunciadas com todo o peso da sua autoridade. Contudo, o magistério deles deve ser acolhido com o “obséquio da fé”, ou seja, com a confiança de quem vê a Igreja não como uma grande organização humana, mas como “o germe e o início do Reino” anunciado por Jesus (LG 5). Se tem uma palavra cara ao Papa Francisco é “escutar”. Antes dos últimos Sínodos houve uma grande movimentação de escuta e isso está acontecendo com a preparação do próximo, programado para outubro de 2023, sobre o tema da “Sinodalidade”. Se queremos caminhar juntos, precisamos nos esforçar de nos escutar mais uns aos outros. Eu tenho a impressão de que alguns dos críticos do Papa Francisco nunca leram os documentos e os discursos dele, porque o acusam de dizer ou fazer coisas que nunca disse ou fez. Vale também para o Papa: antes vamos escutá-lo, vamos conhecer o seu pensamento. Se não o fizermos, podemos ir na direção contrária.
Fonte: Diocese de Macapá