Reflexão para o 14° Domingo do Tempo Comum | 26 JUNHO 2022 – Ano “C”
Por Dom Pedro José Conti
Um jovem, muito simples, vivia com seu avô numa aldeia, longe das cidades. Alimentava o sonho de trabalhar, estudar, formar-se, viajar pelo mundo e, assim, conquistar a felicidade. Foi o que fez, mas isso não foi suficiente para fazê-lo feliz. Resolveu então voltar para a sua aldeia e consultar o seu avô. Ele disse:
– Vovô, passei a minha vida buscando a felicidade e não consegui encontrá-la. Achei que a felicidade estivesse nas coisas materiais. Quando já estava com a vida feita, senti um vazio muito grande dentro de mim. Então passei a buscar a felicidade nos ensinamentos: li muitos livros, busquei a experiência de pessoas mais sábias do que eu e, ainda assim, não encontrei a felicidade. Fui em busca dela em lugares longínquos: viajei o mundo, conheci lugares e pessoas diferentes, aprendi muito, mas não encontrei a felicidade. Agora não sei mais onde procurá-la. Calmamente o avô falou:
– Filho, a felicidade sempre está onde a colocamos…, porém você nunca a colocou onde você estava.
O evangelho de Lucas deste 13º Domingo do Tempo Comum nos apresenta reações e atitudes diferentes a respeito de Jesus. Um povoado de samaritanos não o deixou entrar. Outras pessoas se dispuseram a segui-lo, mas cada uma colocou alguma condição. De fato, Jesus tinha tomado a firme decisão de ir para Jerusalém, ou seja, ir ao encontro do final de sua vida: o sofrimento e a morte na cruz. Nenhuma conquista. Nenhuma marcha triunfal. Só incompreensão e abandono.
O evangelista Lucas é muito bondoso com os samaritanos. O exemplo de amor ao próximo é de um samaritano e o único leproso dos dez curados, que volta para agradecer, é também um samaritano. Desta vez, porém, Lucas não pode silenciar a recusa daquele povoado em receber Jesus. A motivação é evidente: estava indo para Jerusalém, portanto, ia adorar Deus em outro Templo. Hoje diríamos: era de outra crença. Em todas as religiões têm pessoas boas, de vida honesta e de fé sincera, mas sempre tem também os fanáticos, os rigorosos, os que recusam qualquer diálogo ou aproximação. Nem nós católicos escapamos disso. Quantas guerras de religião já foram feitas, ainda acontecem, e se não mudarmos, ainda acontecerão. Jesus não pede fogo do céu para a destruição. Sabe muito bem que os únicos remédios para a paz são a misericórdia e o perdão.
Vamos olhar agora as três pessoas que querem seguir a Jesus; “para onde quer que fores” como declara um deles (Lc 9,57). Sem dúvida são pessoas generosas e disponíveis, mas pelas palavras de Jesus entendemos que isso não é suficiente, precisa algo mais. Pode ser que o primeiro procurasse alguma vantagem ou uma vida cômoda. Logo recebe em resposta que “o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. Pobreza de meios e simplicidade de vida são qualidades que os discípulos de Jesus devem escolher e abraçar. A preocupação com os bens materiais desvirtua a prioridade do anúncio do Evangelho. A segunda pessoa, que Jesus chama a segui-lo, quer antes sepultar o próprio pai. Nada de errado em si, mas a ordem que recebe, difícil de ser entendida por nós hoje, talvez seja uma simples exortação a entrar com mais decisão no caminho da Vida plena oferecido pelo Mestre. O terceiro, enfim, quer se despedir dos familiares. Outro desejo mais do que legítimo e louvável, mas Jesus aponta por uma maior liberdade para todos aqueles que querem trablhar na seara do Reino de Deus. Nada de olhar para trás.
Sempre rezamos e cantamos para que o Senhor mande operários para a messe. Por que tantas dificuldades a acolher os que se dispõem a segui-lo? Entre tantas outras motivações, precisamos entender que a disponibilidade para o serviço ao Reino não pode ser simplesmente um projeto de realização e felicidade pessoais. A alegria de doar a própria vida para o Reino deve ser algo mais “radical”, que carregamos dentro de nós, em qualquer lugar e em qualquer circunstância. Sempre prontos para amar e servir a todos e a todas. Se colocarmos condições, se este amor-alegria depender de pessoas, tempos e lugares, fora do nosso coração, ficaremos procurando a vida toda e nunca seremos felizes
Fonte: Diocese de Macapá