Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (13/06), na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Capítulo Geral da Sociedade dos Missionários da África.
O Pontífice iniciou o seu discurso, dizendo que, "com grande pesar", teve que "adiar a viagem à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul".
Na verdade, com a minha idade não é tão fácil ir em missão! Mas, suas orações e seu exemplo me dão coragem, e estou confiante em poder visitar esses povos, que carrego no coração. No próximo domingo, tentarei celebrar a missa com a comunidade congolesa em Roma. Não o próximo, mas em 3 de julho, dia em que eu deveria celebrar em Kinshasa. Traremos Kinshasa a São Pedro, e ali celebraremos com todos os congoleses romanos, que são muitos!
A seguir, o Papa recordou os 150 anos de fundação dos Missionários da África, celebrados de 8 de dezembro de 2018 a 8 de dezembro de 2019, vividos com as Missionárias da África. "Por favor, levem também a elas minha saudação", sublinhou o Santo Padre.
"Para este Capítulo Geral vocês escolheram trabalhar na missão como testemunha profética", disse o Papa, ressaltando que gostou muito de ouvir que os Missionários da África viveram esses dias "com gratidão" e "com esperança". "Isso é muito bonito. Olhar para o passado com gratidão é um sinal de boa saúde espiritual. É o comportamento "deuteronômico" que Deus ensinou ao seu povo. Cultivar a memória agradecida do caminho que o Senhor nos fez percorrer. Essa gratidão alimenta a chama da esperança", disse Francisco, acrescentando:
Quem não sabe agradecer a Deus pelos dons que Ele semeou ao longo do caminho, mesmo que cansativo e às vezes doloroso, não tem uma alma esperançosa, aberta às surpresas de Deus e confiante em sua providência. Essa atitude espiritual é decisiva para que amadureçam as sementes da vocação que o Senhor desperta com seu Espírito e sua Palavra. Uma comunidade que sabe dizer "obrigado" a Deus e aos irmãos, e que se ajuda a esperar no Senhor Ressuscitado é uma comunidade que atrai e apoia aqueles que são chamados. Então, continuem assim: gratidão e esperança.
A propósito do "tema da missão como testemunha profética", o Papa sublinhou que ali está em jogo a fidelidade às raízes, "ao carisma que o Espírito confiou ao Cardeal Lavigerie", fundador dos Missionários da África. "O mundo muda, a África também muda e aquele dom conserva sua carga de significado e força na medida em que é reconduzido a Cristo e ao Evangelho", disse ainda o Pontífice.
"Sejam apóstolos, nada além de apóstolos!", disse Francisco, recordando as palavras do fundador dos Missionários da África, sublinhando que "o apóstolo de Jesus Cristo não faz proselitismo, não é um gerente, não é um conferencista erudito, não é um "mago" da informática, o apóstolo é uma testemunha. Isso vale sempre e em toda parte na Igreja, mas vale especialmente para quem, como vocês, são muitas vezes chamados a viver a missão em contextos de primeira evangelização ou de religião islâmica predominante. Testemunho significa essencialmente duas coisas: oração e fraternidade. Um coração aberto a Deus e aos irmãos e irmãs".
O Papa recordou o testemunho de Charles de Foucauld: "É outro carisma, certamente, mas tem muito a dizer também a vocês, como a todos os cristãos do nosso tempo", sublinhou.
A partir de sua intensa experiência de Deus, ele realizou um caminho de transformação até se sentir irmão de todos. Oração e fraternidade: a Igreja deve retornar a esse núcleo essencial, a essa simplicidade radiante, naturalmente não de maneira uniforme, mas na variedade de seus carismas, de seus ministérios e instituições. Porém, tudo deve transparecer esse núcleo original, que remonta ao Pentecostes e à primeira comunidade, descrita nos Atos dos Apóstolos.
Segundo Francisco, "muitas vezes somos levados a pensar na profecia como uma realidade individual, no modelo dos profetas de Israel, mas a profecia é acima de tudo comunitária: é a comunidade que dá testemunho profético, um desafio que só pode ser aceito, contando com a ajuda do Espírito Santo".
De acordo com o Papa, a comunidade dos Missionários da África "que vive de oração e fraternidade, é chamada ao diálogo com o ambiente em que vive, com as pessoas, com a cultura local". "Nesses contextos, onde muitas vezes, além da pobreza, se vivem a insegurança e a precariedade, vocês são enviados a viver a doce alegria de evangelizar", disse Francisco, usando as palavras de São Paulo VI na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi. "Que Nossa Senhora, Nossa Senhora da África os acompanhe e os proteja", concluiu.
- Papa recebe em audiência a nova embaixadora do Chile junto à Santa Sé
Andressa Collet - Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã desta segunda-feira (13), a nova embaixadora do Chile junto à Santa Sé, Patricia Araya Gutierrez. Com a apresentação das cartas credenciais ao Pontífice, ela começa a sua missão no Vaticano.
A nova embaixadora nasceu em Santiago do Chile em 5 de novembro de 1968, é casada e tem três filhos. Formada em História e Geografia pela Universidade Metropolitana de Ciências da Educação, na mesma cidade natal, em 1992, também estudou na Academia Diplomática do Chile "Andrés Bello" (1996) e é pós-graduada em Política Externa pelo Instituto de Estudos Avançados IDEA-USACH (2010).
Patricia Araya Gutierrez ingressou no Ministério das Relações Exteriores em 1998. Já foi embaixadora na Coreia do Sul (2000 – 2002), na Malásia (2005 - 2010) e em El Salvador (2013 - 2018). Já foi responsável pelas Relações com a República Popular da China junto à Direção da Ásia-Pacífico do Ministério das Relações Exteriores (2002 - 2004), bem como atuou junto à Direção de Negócios Europeus (2010 - 2013) e à Direção da América do Norte, América Central e Caribe (março a junho de 2018). Além disso, foi chefe de gabinete da Secretaria Geral de Política Externa (2018 - 2020) e, desde março de 2020, conselheira na Embaixada na Itália e junto à FAO, PMA e IFAD.
- Corpus Christi: a Missa e a Procissão não serão celebradas
A dor no joelho que vem condicionando os compromissos do Papa há dias, mais recentemente o adiamento da viagem apostólica à África prevista para a primeira semana de julho, mais uma vez muda a agenda das celebrações papais. A Solenidade de Corpus Christi, com a procissão com a Hóstia consagrada, uma das festas mais importantes e entre os momentos mais intensos de oração que tem sua origem no século XIII, não será celebrada. De fato, na manhã desta segunda-feira, 13 de junho, a Sala de Imprensa vaticana, numa comunicação aos jornalistas, informou que "devido às limitações impostas ao Papa pela gonialgia" (dor no joelho) e "pelas necessidades litúrgicas específicas da celebração, a Santa Missa e a Procissão com a Bênção Eucarística não serão celebradas por ocasião da Festa de Corpus Christi".
Portanto, não apenas a intenção de proteger os resultados que o tratamento médico está trazendo, mas também pelo fato de se tratar de uma celebração muito exigente, que ocorrerá na quinta-feira, 16 de junho. Já nos últimos dois anos, devido à ameaça da pandemia da Covid 19, a Missa na Solenidade que recorda a presença real de Jesus na Eucaristia havia sido celebrada com um limitado número de fiéis no Altar da Cátedra da Basílica de São Pedro e não no cenário tradicional da Basílica de São João de Latrão, com a procissão até Santa Maria Maior, ou mesmo em locais de periferia como aconteceu em 2018, com a celebração em Ostia, e em 2019, no bairro romano de Casal Bertone.
Ao longo dos anos, o Papa Francisco tem enfatizado vários aspectos desta Solenidade. Em primeiro lugar, a força de se gastar pelos outros que vem precisamente da Eucaristia:
"Quantas mães, quantos pais, juntamente com o pão quotidiano cortado sobre a mesa de casa, repartiram o seu coração para fazer crescer os filhos, e fazê-los crescer bem! Quantos cristãos, como cidadãos responsáveis, repartiram a própria vida para defender a dignidade de todos, especialmente dos mais pobres, marginalizados e discriminados!" (Homilia de Corpus Christi, 26 de maio de 2016)
No ano anterior, Francisco havia destacado que o que nos permite não desagregar-nos é precisamente a Eucaristia:
"Cristo presente no meio de nós, no sinal do pão e do vinho, exige que a força do amor ultrapasse todas as dilacerações e, ao mesmo tempo, que se torne comunhão inclusive com o mais pobre, sustentáculo para quem é frágil, atenção fraterna a quantos têm dificuldade de carregar o peso da vida quotidiana, e correm o perigo de perder a própria fé." (Homilia de Corpus Christi, 4 de junho de 2015)
A Eucaristia não é um memorial abstrato, mas um memorial vivo do amor de Deus, um sacramento inscrito no DNA espiritual, lembrou o Santo Padre no Corpus Christi de 2017:
"A Eucaristia é o sacramento da unidade. Quem a recebe não pode deixar de ser artífice de unidade, porque nasce nele, no seu «DNA espiritual», a construção da unidade. Que este Pão de unidade nos cure da ambição de prevalecer sobre os outros, da ganância de entesourar para nós mesmos, de fomentar discórdias e disseminar críticas; que desperte a alegria de nos amarmos sem rivalidades, nem invejas, nem murmurações maldizentes." (Homilia de Corpus Christi, 18 de junho de 2017).
E também em 2013 o aspecto da comunhão havia sido central, enquanto em 2014 o Papa havia advertido contra os vários tipos de alimentos que são oferecidos:
"Mas o único alimento que nos nutre verdadeiramente e que nos sacia é aquele que o Senhor nos concede! O alimento que o Senhor nos oferece é diferente dos demais, e talvez não nos pareça tão saboroso como determinadas comidas que o mundo nos oferece. Então, sonhamos outras refeições, como os hebreus no deserto, que tinham saudades da carne e das cebolas que comiam quando estavam no Egito, esquecendo-se, contudo, que comiam aqueles pratos na mesa da escravidão." (Homilia de Corpus Christi, 19 de junho de 2014)
- Vaticano, Supervisão Financeira: "Não devemos baixar a guarda"
Foi publicado o relatório da ASIF 2021, a Autoridade de Supervisão e Informação Financeira, a instituição da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano responsável pela supervisão no campo da prevenção e combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo e para a informação financeira. Falamos sobre isso com o presidente, Sr. Carmelo Barbagallo.
Na introdução do relatório o senhor explica que 2021 foi "um ano de consolidação". Poderia nos explicar por que e nos dar alguns exemplos?
Os últimos anos têm sido caracterizados por várias mudanças importantes para a Autoridade que tenho o privilégio de presidir desde novembro de 2019. Mudanças relacionadas à organização interna da ASIF, através da aprovação do Santo Padre de um novo Estatuto que prevê uma articulação interna mais funcional, em três Escritórios (o Escritório de Supervisão, o Escritório de Informação Financeira e o Escritório de Regulamentação e Assuntos Jurídicos), bem como uma maior adesão aos princípios organizativos da Cúria Romana. Também mudanças que afetaram a composição do Conselho, a nomeação de uma nova importante Direção e o fortalecimento do quadro de funcionários. De extrema importância foi a assinatura de significativos acordos de colaboração com outras autoridades. A coroação de todas essas mudanças foi a avaliação da jurisdição do Vaticano pela Moneyval, com um resultado amplamente positivo. Foi necessário consolidar todas essas mudanças e foi isso que aconteceu em 2021 e continua a acontecer. Exemplos disso são o ajuste dos procedimentos de trabalho, a plena integração de novos recursos, com a intenção de maior valorização de todos os colegas, e a contribuição cada vez mais profissional dos Escritórios.
Qual é a importância da avaliação da Moneyval e em que ponto nos encontramos no processo de combate à lavagem de dinheiro e do financiamento do terrorismo?
A avaliação da Moneyval faz parte do circuito mundial de prevenção e combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo e é de importância fundamental para a idoneidade e a reputação financeira das jurisdições que aderem a ela. Uma eventual avaliação negativa teria tido repercussões no caminho de transparência empreendido há muito tempo pela Santa Sé, correndo também o risco de complicar as relações financeiras de entidades como o IOR e a APSA com suas contrapartes estrangeiras. Por outro lado, o grande trabalho realizado nos anos anteriores e, sobretudo, nos mais recentes, impediu que isso acontecesse. Porém, não é permitido "baixar a guarda" em termos de eficácia das ações de prevenção e de combate, pois é essencial uma ação contínua de aperfeiçoamento, que - também de acordo com os padrões internacionais - prevê momentos frequentes de verificação. Vai nessa direção a atividade de coordenação da jurisdição na implementação das recomendações recebidas da Moneyval que a ASIF está conduzindo, em conjunto com o Comitê de Segurança Financeira.
Como o senhor definiria a relação entre a ASIF e as diversas autoridades e dicastérios da Santa Sé?
A colaboração entre a ASIF e as autoridades e dicastérios da Santa Sé é essencial para a plena eficácia da ação de prevenção e combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Consciente disso, a ASIF está constantemente empenhada em manter um diálogo ativo com todos os sujeitos envolvidos nesta ação, respeitando as prerrogativas e papéis atribuídos pelos regulamentos internos e de acordo com as normas internacionais. Nos últimos anos foram intensificadas as ocasiões de diálogo e de trabalho conjunto. Menciono, mas apenas a título de exemplo, as reuniões sistemáticas com o Gabinete do Promotor de Justiça, a Gendarmaria e o Gabinete do Auditor Geral.
Que medidas foram tomadas para melhorar o trabalho da intelligence financeira, em particular através das relações internacionais com outros órgãos semelhantes?
O desenvolvimento da rede de cooperação internacional e seu fortalecimento são objetivos constantes e prioritários da ASIF. Isto é particularmente importante para uma jurisdição como o Vaticano dada a presença generalizada da Igreja em todo o mundo. Um dos instrumentos utilizados pela ASIF a este respeito é a assinatura de protocolos de acordo. Em 2021, assinamos mais três. Neste contexto, a ASIF atribui particular importância à sua participação no Grupo Egmont, um instrumento essencial para intensificar as relações com similares autoridades estrangeiras.
O único intermediário financeiro supervisionado pela ASIF é o Instituto para as Obras de Religião, o Banco do Vaticano: como o senhor avalia o trabalho realizado pelo IOR e que medidas devem ser tomadas agora?
O IOR há muito tempo segue por um caminho virtuoso que o distingue significativamente de certos eventos tristes do passado. Para isso foi ajudado por uma ação positiva de reorganização, ainda em andamento, que visa tornar a gestão do Instituto cada vez mais eficaz, eficiente e confiável. Além disso, em termos de prevenção e combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, o melhor atestado da ação positiva realizada até agora é dado pelo julgamento expresso pela Moneyval durante sua recente avaliação, que foi totalmente favorável tanto no que diz respeito aos controles colocados em prática pelo Instituto quanto no que diz respeito à supervisão pela ASIF. Portanto o caminho está delimitado. Agora é uma questão de continuar a trilhá-lo com convicção, tendo consciência da importância para a jurisdição de uma instituição financeira como o IOR e na certeza de que a ASIF continuará a seguir a instituição supervisionada com a máxima atenção e incisividade.
Em 2021, a ASIF recebeu 104 notificações de atividades suspeitas: o que o senhor pode nos dizer sobre isso?
A análise e avaliação das notificações de atividades suspeitas estão entre as tarefas mais significativas e delicadas atribuídas à ASIF. Uma parte importante das análises efetuadas é encaminhada para as autoridades responsáveis por inquéritos para uma investigação mais aprofundada de possíveis relevâncias penais. Considerando a composição das notificações, observamos que a maioria delas vem tradicionalmente do IOR. Também observamos no relatório uma constante tendência ao melhoramento da qualidade, que vem sendo observado desde 2017. Isso ocorre por causa da intensificação das medidas preventivas empreendidas pelo IOR e uma implementação cada vez mais consciente de uma abordagem baseada no risco.
Fonte: Vatican News