Com o Domingo de Pentecostes encerramos o Tempo Pascal e encontramos, novamente, a primeira parte da página do evangelho de João, que proclamamos no Segundo Domingo de Páscoa. Naquele momento, refletimos mais sobre os encontros dos apóstolos com Jesus ressuscitado. Agora, olhamos para o que virá depois. Jesus cumpriu a missão dele, obediente ao Pai até o fim, por amor a esta pobre humanidade necessitada de rumo e reconciliação. A vida dele foi limitada no tempo e no espaço. Foram poucos os anos de sinais e pregações gastados para anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus que chegou. As andanças de Jesus não passaram dos 70 Km no comprimento e os 40 de largura da Palestina. Como não pensar que a sua mensagem fosse destinada a ficar esquecida e confinada naqueles lugares para sempre? Igualmente, o número dos discípulos reunidos após os dias da Paixão nos espanta. Eram poucos, medrosos e trancados em casa. O que se podia esperar deles? Algo novo e surpreendente, porém, aconteceu.
Jesus ressuscitado doou a eles o Divino Espírito Santo e confiou àqueles homens a mesma missão que havia recebido do Pai. O pequeno grupo tomou coragem, saiu e não teve mais medo de falar do profeta da Galileia condenado à vergonhosa morte de cruz pelas autoridades religiosas, econômicas e políticas de Jerusalém. Os seus discípulos sustentaram que Deus Pai o tinha ressuscitado, que ele estava vivo e queria que esta vida nova fosse oferecida a todos aqueles que acreditassem nele. Ou seja: a missão de Jesus continuou, os seus seguidores foram enviados a todas as gentes e até os confins da terra. Um detalhe significativo: nos 21 capítulos do evangelho de João o “envio” de Jesus é lembrado 40 vezes! O evangelista João insiste, portanto, que foi Deus Pai que enviou o seu Filho. O próprio Jesus diz que foi “enviado” do alto e que deve comunicar o que ouviu do Pai. Tudo isso para nos confirmar que a novidade manifestada com a vida de Jesus foi mesmo querida por Deus. Foi a Palavra feita vida humana nele, que realizou a definitiva explicação daquilo que Deus é e quer de nós. Essa comunicação é mais que uma “doutrina”, um ensinamento; é a possibilidade de ver e experimentar em Jesus e com Jesus a própria realidade de Deus. Aqui está a radical diferença entre a fé-religião cristã e outras religiões.
Jesus não é o fundador de um novo culto, mas o anunciador da presença de Deus na história humana, fato que aconteceu e iniciou na sua pessoa e com a sua vida doada para a salvação de todos. É o que lemos no evangelho de João 3, 16-17: “De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna, pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele”. Com o dom do Divino Espírito Santo, Jesus ressuscitado confirma a missão recebida do Pai e envia os discípulos para que continuem a mesma missão. A partir daqueles dias, somos nós, seguidores do Senhor, que devemos anunciar e testemunhar a presença salvadora de Deus em nossas vidas pessoais e na conturbada história humana. É uma missão entusiasmante, mas também extremamente exigente. Os que olham, também hoje, para os cristãos têm todo o direito de cobrar o cumprimento dessa missão. Quero dizer com isso que a novidade do Reino-presença de Deus, iniciado com Jesus deve ser visível e reconhecível não somente entre nós – o que nem sempre acontece – mas deve ser possível, vivível e experimentável nas diferentes situações da vida, para que, como disse Jesus, “o mundo creia” que Deus Pai o enviou” (Jo 17,23) e aqueles que o seguirem vivam na alegria plena que somente a presença de Deus em suas vidas pode garantir (Jo 15,11). Tudo isso significa que todas as vezes que nós cristãos brigamos, dividimo-nos, calamos ou nos apresentamos tristes e vazios por medo, covardia ou falta de compromisso, nós estamos negando o que deveríamos testemunhar com perseverança e entusiasmo.
Rezamos para que o Divino Espírito Santo nos dê luz e coragem para cumprirmos a missão que Jesus nos entregou.
Por Dom Pedro José Conti
Fonte: Diocese de Macapá