Na manhã desta segunda-feira (30) o Papa Francisco recebeu os participantes no Capítulo Geral dos Pobres Servos e das Pobres Servas da Divina Providência, membros da Família Calabriana, que vivem o carisma suscitado por Deus a São João Calábria.
O Papa iniciou seu discurso comentando o tema escolhido para o Capítulo: “A profecia da comunhão” afirmando em seguida: “Nossa comunhão nasce e se alimenta antes de tudo na relação com Deus Trindade; se manifesta concretamente na fraternidade, no espírito de família, que é também típico de seu carisma, e no estilo sinodal que vocês abraçaram em plena harmonia com o caminho de toda a Igreja”.
“Segundo o seu carisma – disse o Papa - vocês são chamados a fazer renascer no mundo a fé em Deus Pai e o abandono filial à sua providência”. Depois de recordar a vida pública de Jesus em suas pregações o Papa acrescentou:
“Foi assim que Jesus viveu, totalmente imerso na vontade do Pai, e toda sua missão teve como objetivo nos trazer para esta relação filial, que tem como traço essencial a confiança na Providência: que o Pai nos conhece melhor do que nós mesmos e sabe melhor do que nós, o que precisamos”
Em seguida Francisco recordou aos presentes que eles foram "fascinados" por esta dimensão essencial do mistério de Cristo. Seguindo os passos de São João Calabria, “vocês a seguem e a testemunham e querem fazê-lo na companhia dos mais pobres, dos últimos, dos descartados da sociedade, que são suas "pérolas", como os chamava, seu fundador São João Calábria.
“Don Calabria, como todos os santos, foi um profeta. Deixou-lhes um grande legado e vocês devem preservá-lo. O caminho que vocês tomaram e estão seguindo hoje nada mais é do que reler o caminho que Deus lhe indicou: um homem inserido na Igreja de seu tempo, que soube responder às necessidades indo às periferias, para manifestar o rosto paterno e materno de Deus”.
Francisco continuou afirmando:
“Cultivar, junto com os pobres, a confiança na providência divina faz de vocês artesãos de uma ‘cultura da providência’, que eu vejo como um antídoto para a cultura da indiferença, infelizmente difundida nas sociedades do chamado bem-estar”
Com efeito, “a espiritualidade cristã da providência não é fatalismo, não significa esperar por soluções para os problemas e os bens de que precisamos caiam do céu. Não. Pelo contrário, significa tentar assemelhar-se, no Espírito Santo, ao nosso Pai celestial ao cuidar de suas criaturas, especialmente as mais frágeis, as menores”.
“A atitude do cuidado, é mais do que nunca necessária para contrastar a da indiferença”
Continuando seu discurso Francisco abordou a temática da partilha como parte essencial da “profecia da comunhão” sobre a qual caminham os carismas. Sugerindo que para isso deve-se antes de tudo recuperar certos valores explicando que é necessário “a mentalidade de quem parte o pão enquanto abençoa a Deus Pai, confiante de que esse pão será suficiente para nós e para nosso próximo necessitado. Foi assim que Jesus Cristo nos ensinou no milagre de compartilhar - não de multiplicar - os pães e os peixes. Hoje precisamos de cristãos que sirvam a Providência praticando o compartilhamento”.
Por fim o Santo Padre recomenda aos presentes:
“Tentem abrir-se cada vez mais para acolher a novidade e o estilo que Deus inspirou em todos vocês e sonhou para vocês. Que a mentalidade sinodal e fraterna esteja sempre presente no serviço das autoridades de suas Congregações e de toda a família Calabriana. Recordando:
“Amem os pobres tornando-se pobres”
Concluindo o Papa animou a atodos afirmando: “Que isto lhes traga alegria: deem seu testemunho com simplicidade, com humildade, mas com coragem, sem mediocridade; e acima de tudo eu diria com um grande sentido de humanidade. Quanta necessidade temos de humanidade! Entre vocês e nas suas comunidades".
Jane Nogara - Vatican News
- O Papa: judeus e cristãos, trabalhar juntos para o bem comum
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (30/05), no Vaticano, uma delegação da B’nai B’rith International, organização judaica que trabalha para melhorar a qualidade de vida das pessoas em todo o mundo, dedicada aos direitos humanos.
Essa instituição judaica "tem uma longa história de contatos com a Santa Sé, desde os tempos da publicação da Declaração Conciliar Nostra Aetate", disse o Pontífice no início de seu discurso, enfatizando que "as pessoas necessitadas têm o direito à ajuda e solidariedade da comunidade ao seu redor, têm sobretudo direito à esperança. Se o dever de cuidar delas diz respeito a todos, é ainda mais válido para nós, judeus e cristãos: para nós ajudar os necessitados também significa colocar em prática a vontade do Altíssimo, que, segundo o Salmo, «protege os estrangeiros, sustenta o órfão e a viúva», ou seja, cuida das categorias sociais mais frágeis, das pessoas marginalizadas".
De acordo com o Papa, "socorrer os últimos, os pobres e os doentes é a maneira mais concreta de promover uma maior fraternidade. Pensando em tantos conflitos e extremismos perigosos, que colocam em risco a segurança de todos, deve-se observar que muitas vezes o maior fator de risco é representado pela pobreza material, educacional e espiritual, que se torna terreno fértil para alimentar o ódio, a raiva, a frustração e o radicalismo".
Queridos amigos, vivemos numa época em que a paz é ameaçada em muitas partes do mundo: perspectivas particularistas e nacionalistas, movidas por interesses egoístas e ganância pelo lucro, parecem cada vez mais querer assumir o controle. Mas isso aumenta o risco de que, no final, a perder e ser pisoteada seja apenas a dignidade humana. Para evitar a escalada do mal, é importante recordar o passado, recordar as guerras, recordar a Shoah, e muitas outras atrocidades.
Segundo o Papa, "diante da violência, diante da indiferença", as Sagradas Escrituras "nos trazem de volta o rosto do irmão". "A fidelidade ao que somos, à nossa humanidade, é medida pela fraternidade, é medida no rosto do outro", sublinhou.
A este propósito, impressionam na Bíblia as perguntas que o Todo-Poderoso faz ao homem desde as suas origens. Se a Caim Ele perguntou: Onde está seu irmão? a Adão perguntou: "Onde você está?". "Não se encontra a si mesmo sem procurar o irmão e não encontra o Eterno sem abraçar o próximo", disse o Papa, acrescentando:
Nisso é bom que nos ajudemos uns aos outros, pois em cada um de nós, em toda tradição religiosa, bem como em toda sociedade humana, há sempre o risco de incubar rancores e alimentar contendas contra os outros, e fazê-lo em nome de princípios absolutos e até sagrados. É a falsa tentação da violência, é o mal aninhado na porta do coração. É o engano segundo o qual com a violência e com a guerra se resolvem as contendas. Em vez disso, a violência sempre gera mais violência, armas produzem morte e a guerra nunca é a solução, mas um problema, uma derrota.
O Papa encorajou os membros da organização judaica a prosseguirem na intenção de continuar protegendo "as irmãs e os irmãos, especialmente os mais frágeis e esquecidos. Podemos fazer isso juntos: podemos trabalhar em prol dos últimos, da paz, da justiça e da proteção da criação".
Francisco disse ainda que sempre fez questão de promover e aprofundar o diálogo judaico-católico, desde criança, pois na escola tinha colegas judeus. "Um diálogo feito de rostos que se encontram, de gestos concretos de fraternidade. Avancemos juntos, baseados nos valores espirituais compartilhados, a fim de defender a dignidade humana contra toda violência, para buscar a paz. Que o Todo-Poderoso nos abençoe, para que nossa amizade cresça e possamos trabalhar juntos para o bem comum", concluiu.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
Fonte: Vatican News