Cultura

Artigo de Dom Pedro José Conti: Início e conclusão





Reflexão para o 6º Domingo de Páscoa | 21 MAIO 2022 – Ano “C” 

Por Dom Pedro José Conti

Certo dia, um jovem padre foi visitar o seu antigo diretor espiritual e lhe perguntou:

– Como devem ser as homilias?

– Uma boa homilia – respondeu o velho padre – deve ter um bom início e uma boa conclusão. Depois você terá que dar um jeito para que o início e a conclusão estejam o mais perto possível!

A página do evangelho de João, deste Sexto Domingo da Páscoa, é tirada da longa conversa que Jesus teve com os seus discípulos durante a última ceia. Ao evangelista interessa partilhar com os cristãos que virão um pouco depois daquela singular experiência de vida dos primeiros seguidores que caminharam com Jesus pelas estradas da Palestina. É possível para nós participar e continuar essa “experiência”? Acompanhando a página do evangelho, entendemos que a primeira condição para que isso aconteça é amar a Jesus e, portanto, guardar a sua palavra como algo muito precioso para nós. “Guardar”, aqui, não significa conservar a palavra em algum museu ou cofre inviolável, mas, ao contrário, fazer que continue sendo fonte e proposta de vida para quem se dispõe a acolhê-la. A palavra de Jesus é bem guardada, quando é praticada com perseverança e fidelidade. Mais ainda, quem “guarda” essa palavra se torna “morada” do Pai e do Filho, ou seja, familiar de Deus e, assim, participa da vida dele. Quem garante a possibilidade de guardar a palavra de Jesus é o Divino Espírito Santo, o Defensor, que o Pai enviará. Ele “ensinará” tudo e “recordará” tudo o que o Mestre falou.

Podemos dizer que tudo é “dom” de Deus. Por amor à humanidade, o Pai enviou o Filho não para condenar, mas para salvar (Jo 3,16-17). O Filho, Palavra que se fez carne conforme o evangelho de João, realizou o seu ensinamento “com ações e palavras” como acreditamos que Deus sempre se fez conhecer. Para nós cristãos, a “Palavra de Deus” é viva e eficaz (Hb 4,12), ela é muito mais do que um conjunto de livros escritos num período de mais de mil anos. É a partilha de um encontro entre Deus e o povo por ele escolhido. O humano e o divino estão entrelaçados. Encontramos fidelidades e traições, promessas e realizações, sofrimentos, esperanças, alianças, perdão e misericórdia. Como o Divino Espírito Santo “inspirou” os autores que colocaram por escrito a experiência da fé do Povo de Israel, assim o mesmo Espírito acompanha e ilumina o entendimento das Sagradas Escrituras para nós hoje. Esse é o sentido da promessa de Jesus a respeito do “Defensor” que o Pai enviará em nome do Filho. Com efeito, com a vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus e com as suas palavras chegou à plenitude a revelação de Deus e, portanto, todas as Escrituras podem ser entendidas somente à luz daquilo que o próprio Jesus fez e ensinou. Ele é a Palavra definitiva de Deus, mas para que essa palavra continuasse viva e capaz de transformar a vida dos crentes enviou o Divino Espírito Santo. Esse “dom” é dado a cada batizado, mas sobretudo a toda a Comunidade Igreja no seu conjunto. Por isso, as Sagradas Escrituras podem ser lidas individualmente e, sem dúvidas, produzem bons frutos, mas a compreensão mais segura e atual que podemos ter delas é aquelas leitura e explicação que Igreja faz em seu conjunto, de maneira especial quando celebramos a fé comum a todos na Sagrada Liturgia. Nesses momentos, quando a Palavra é proclamada deveríamos dizer o mesmo que, naquele tempo, o povo falava de Jesus: “Nunca alguém falou assim” (Jo 7,46).

Cada vez mais, compreendemos como um bom entendimento da Palavra de Deus seja decisivo para a nossa vida de cristãos, sobretudo se nos dispomos a deixar que a Palavra transforme a nossa vida para que sejamos verdadeiros seguidores de Jesus. No trabalho de comunicação, têm uma grande responsabilidade os pais com os seus filhos, os padres, pastores das nossas comunidades, as e os catequistas, todos os animadores de grupos, pastorais e movimentos. Não será a duração das nossas homilias ou as nossas muitas palavras a explicar melhor a Palavra de Deus, mas a busca da fidelidade à mensagem do Evangelho. Isso porque, afinal, a recepção alegre e renovadora da Boa Notícia será sempre obra do Divino Espírito Santo.

Fonte: Diocese de Macapá