Cultura

O Papa: a política é a arte do encontro, reflexão e ação





Francisco encontra os membros da Fraternidade Chemin Neuf e os encoraja no compromisso com os migrantes e a ecologia. Convida os jovens "viverem o encontro político como um encontro fraterno".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (16/05), na Sala Clementina, no Vaticano, os membros da Fraternidade Política Chemin Neuf, uma comunidade que nasceu em Lyon, em 1972, por iniciativa do seminarista jesuíta Laurent Fabre, que após uma experiência de oração num grupo da Renovação Carismática Católica decidiu trabalhar para construir uma Fraternidade que evangelizasse e trabalhasse para o bem comum.

"Quando nos conhecemos no ano passado, vocês confiaram à minha oração a sua participação no evento Changemakers em Budapeste. Lá vocês tiveram momentos de encontro, de formação, mas também de ação, com associações locais. A maneira como vocês viveram este evento me parece ser uma boa implementação do verdadeiro significado do que é a política, especialmente para os cristãos. Política é encontro, reflexão e ação", disse o Papa no início de seu discurso.

A política é acima de tudo a arte do encontro. Certamente, este encontro é vivido acolhendo o outro e aceitando sua diferença, num diálogo respeitoso. Como cristãos, no entanto, há algo mais: uma vez que o Evangelho nos pede para amar os nossos inimigos, não posso me contentar com um diálogo superficial e formal, como aquelas negociações muitas vezes hostis entre partidos políticos. Somos chamados a viver o encontro político como um encontro fraterno, especialmente com aqueles que menos concordam conosco; e isso significa ver naquele com quem dialogamos um verdadeiro irmão, um filho amado de Deus. Essa arte do encontro começa com uma mudança de olhar sobre o outro, com um acolhimento e respeito de sua pessoa sem condições. Se essa mudança de coração não ocorrer, a política corre o risco de se transformar num confronto muitas vezes violento, a fim de fazer triunfar as próprias ideias, numa busca de interesses particulares e não do bem comum, contra o princípio de que "a unidade prevalece sobre o conflito".

Francisco disse ainda que "do ponto de vista cristão, a política também é reflexão, ou seja, a formulação de um projeto comum". "Como cristãos, entendemos que a política se leva adiante com uma reflexão comum, em busca desse bem geral, e não simplesmente com o confronto de interesses conflitantes e muitas vezes opostos. Em síntese, "o todo é maior que a parte" e nossa bússola para elaborar este projeto comum é o Evangelho, que traz ao mundo uma visão profundamente positiva do ser humano amado por Deus."

"Por fim, a política também é ação", disse ainda o Papa, acrescentando:

Como cristãos, precisamos sempre confrontar nossas ideias com a profundidade da realidade, se não quisermos construir na areia que mais cedo ou mais tarde acaba cedendo. Não nos esqueçamos de que "a realidade é mais importante do que a ideia". Portanto, encorajo seu compromisso com os migrantes e a ecologia. Soube que alguns de vocês escolheram viver juntos num bairro popular de Paris, para ouvir os pobres: esta é uma maneira cristã de fazer política!  Não se esqueçam que a realidade é mais importante do que a ideia: não se pode fazer política com ideologia. O todo é maior que a parte, e a unidade é maior que o conflito. Buscar sempre a unidade e não se perder no conflito.

"Encontro, reflexão e ação: aqui há um programa de política no sentido cristão", disse ainda Francisco, ressaltando que a política é «a mais alta forma de caridade», como o Papa Pio XI a definiu.

Mais uma vez, destacando-se do discurso escrito, o Papa se deteve nos conceitos de "memória, esperança e maravilha", no centro do discurso inicial de saudação de um jovem brasileiro.

"Maravilha: A vida cristã não é possível sem esta maravilha, sem admiração. A maravilha é o que me faz sentir que estou em Jesus, com Jesus. A maravilha de ver a grandeza do Senhor, a grandeza de sua Pessoa, a grandeza de seu programa, de sentir a grandeza das Bem-aventuranças como um programa de vida. E depois outra palavra, memória. Memória, esperança e maravilha. O passado, o futuro e o presente: não há futuro sem o presente, e não há esperança sem maravilha. Cultivem a oração com o Evangelho para sentir a maravilha do encontro com Jesus Cristo", concluiu.

 

- O Papa, Camilianos: uma profecia encarnada que olha a realidade da doença com os olhos de Jesus

"O nosso tempo é marcado por um individualismo e uma indiferença que geram solidão e causam o descarte de muitas vidas. A resposta cristã não está na constatação resignada do presente ou no arrependimento nostálgico do passado, mas na caridade que, animada pela confiança na Providência, sabe amar o seu tempo e, com humildade, testemunha o Evangelho", disse Francisco aos Camilianos.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (16/05), na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes do Capítulo Geral da Ordem dos Ministros dos Enfermos, conhecidos como Camilianos, que recentemente elegeu o seu novo Superior Geral, pe. Pedro Celso Tramontin.

"Qual é a profecia camiliana hoje?" perguntou o Papa, dizendo, a seguir que os camilianos procuram "encontrar novos caminhos de evangelização e proximidade, a fim de realizar com fidelidade dinâmica o seu carisma, que os coloca a serviço dos doentes".

Transformado pelo amor de Deus, São Camilo de Lellis "sentiu o chamado para dar vida a uma nova família religiosa que, imitando a compaixão e a ternura de Jesus em relação ao sofrimento no corpo e no espírito, vivesse o mandamento do amor, difundindo com alegria o anúncio do Evangelho e cuidando dos mais frágeis".

São Camilo encarnou bem o estilo do Bom Samaritano

O nosso tempo é marcado por um individualismo e uma indiferença que geram solidão e causam o descarte de muitas vidas. Essa é a nossa cultura hoje, não é? Individualismo, indiferença que, o que fazem? Geram solidão e causam o descarte: a cultura do descarte. A resposta cristã não está na constatação resignada do presente ou no arrependimento nostálgico do passado, mas na caridade que, animada pela confiança na Providência, sabe amar o seu tempo e, com humildade, testemunha o Evangelho.

Foi o que fez São Camilo de Lellis, "uma das figuras de santos que melhor encarnou o estilo do Bom Samaritano, de se aproximar do irmão ferido ao longo do caminho. Nesta escolha de vida está o ponto de virada para sair das sombras de um mundo fechado e gerar um mundo aberto".

A vocês, irmãos, o dom e a tarefa de se inspirarem nele para olhar a realidade do sofrimento, da doença e da morte com os olhos de Jesus. Desta forma, vocês farão da profecia camiliana, uma profecia encarnada, que impele a carregar os fardos dos outros, as feridas e as inquietações dos irmãos e irmãs mais vulneráveis. Isso requer abertura dócil ao Espírito Santo, que é a alma de todo dinamismo apostólico, e requer uma certa dose de audácia, para descobrir e percorrer juntos caminhos inexplorados ou expressar em novas formas o potencial do carisma e do ministério camiliano.

"Esse seu estilo de vida e apostolado, dedicado especialmente ao serviço dos doentes e das pessoas frágeis e idosas, combina bem duas dimensões essenciais da vida cristã: o desejo de um testemunho extrovertido e concreto aos outros, e a necessidade de se compreender segundo os cânones da pequenez evangélica", disse ainda o Papa.

Preservar a memória do primeiro amor

Francisco recordou que "o bem feito a uma irmã ou um irmão sofredor é um presente dado a Jesus, e quando vivido e oferecido todos os dias com alegria, mesmo que invisível aos olhos do mundo, nunca se perde, mas, como uma semente que cai na terra, brota e dá fruto. Preservem a memória do primeiro amor com o qual Jesus conquistou seu coração, a fim de sempre renovar das raízes sua escolha de vida consagrada. Voltar sempre às raízes do primeiro amor, porque ali está a nossa identidade religiosa: o primeiro diálogo com Jesus, o chamado".

O Papa os encorajou a "colaborar com o Espírito Santo na busca de todo caminho para viver seu carisma de misericórdia, valorizando também a colaboração com os leigos, especialmente com os agentes de saúde. Cultivar entre vocês e com todos a espiritualidade da comunhão os ajudará a discernir melhor o que o Senhor quer de vocês".

Se queremos oferecer às pessoas um bom "hospital de campo", onde quem está ferido possa encontrar e sentir a proximidade e ternura de Cristo, se queremos isso, não podemos renunciar ao carisma de São Camilo de Lellis. Cabe a vocês dar mãos, pés, mentes e corações a este presente de Deus, para que continue suscitando as obras de Deus em nosso tempo.

 

- O Papa: a educação integral é o horizonte da paz

O Papa Francisco recebeu em audiência nesta segunda-feira (16) os reitores de treze Universidades públicas e privadas da região do Lácio. Na ocasião recordou a importância do desenvolvimento verdadeiro e integral que é em termos concretos o horizonte da paz que só pode ser construído “através do sentido crítico, da liberdade, do confronto saudável e do diálogo”

Jane Nogara - Vatican News

Na manhã desta segunda-feira (16) o Papa Francisco recebeu os reitores de treze Universidades públicas e privadas presentes na Região do Lácio que compreende Roma. O Papa iniciou recordando as grandes tarefas das Universidades nestes tempos modernos de “terceira guerra mundial em pedaços”, da questão ambiental global e do crescimento das desigualdades, que nos desafiam de modo inédito e acelerado. O Santo Padre afirmou que estas situações podem levar as gerações mais jovens a “um clima de desânimo e desorientação, perda de confiança, pior ainda de indiferença”. Porém, advertiu Francisco, “os jovens não aceitam isso, e nos chamam para nossas responsabilidades”.

Pacto Global de Educação

Em seguida o Papa recordou do Pacto Educativo Global, “que é um projeto – explicou - de trabalho conjunto em escala global, envolvendo muitas partes interessadas, desde as principais religiões às instituições internacionais e instituições educacionais privadas”. E explicou ainda que “assinando neste espírito o Documento sobre a Fraternidade Humana em Abu Dhabi, em 4 de fevereiro de 2019, concordamos que ‘nos preocupamos com uma educação integral que se resume em conhecer a si mesmo, ao irmão, à criação e ao Transcendente’”

Verdadeiro desenvolvimento integral

“Este é, em termos concretos, - continuou o Papa - o horizonte da paz, que hoje reivindicamos com razão e pelo qual rezamos intensamente, e portanto de desenvolvimento verdadeiro e integral, que só pode ser construído através do sentido crítico, da liberdade, do confronto saudável e do diálogo”. Acrescentando em seguida, “aqui estamos na própria base da ideia da Universidade e do papel que esta instituição não pode deixar de ter, além de barreiras e fronteiras”.  

Concluindo este ponto afirmou ainda:

“O próprio termo 'universidade' designa uma comunidade, mas também uma ideia de convergência de conhecimento, em busca de dar verdade e significado ao diálogo entre todos os homens e mulheres do mundo”

Em seguida Francisco continuou destacando a importância da escuta entre docentes e alunos nas Universidades: “Que nunca lhes falte vontade de escutar as estudantes e os estudantes, os colegas e as colegas; para escutar as realidades sociais e institucionais, as próximas e as globais, porque a universidade não tem fronteiras: o saber, a pesquisa, o diálogo e o confronto não podem deixar de superar todas as barreiras e em todos os setores".

Complementando este ponto disse ainda:

“Que haja também a coragem da imaginação e do investimento, para um desenvolvimento humano da pesquisa, para formar jovens capazes de trazer algo novo ao mundo do trabalho e da sociedade; treiná-los também no respeito: respeito a si mesmo, respeito ao próximo, respeito à criação e respeito ao Criador”

Serviço às comunidades

Não esquecendo das pessoas com necessidades o Papa recordou aos presentes:

“Peço-lhes que estejam vigilantes para que todos aqueles que o merecem e não têm os meios para exercer plenamente seu direito ao estudo e à formação”. Desejando “que vocês possam estimular as muitas formas de 'aprendizado e serviço' às comunidades, para que, confrontando-se com a pobreza e as periferias existenciais e sociais, possam dar mais sentido e valor à sua formação universitária, que nunca deve ser desconectada da vida, das pessoas e da sociedade".

Cuidado com as ideologias

"E sobre isto eu recomendaria - disse o Papa - que tivéssemos cuidado com as ideologias. As ideologias destroem porque nos fazem ver de uma só maneira e fecham a visão universal. As ideologias destroem a humanidade de uma pessoa, tiram-lhe o coração, tiram-lhe sua capacidade poética, sua criatividade. Hoje há tantos assim: cuidado para não cair nessas atitudes ideológicas que destroem, fazem tanto mal. Na Igreja também as temos, tantas ideologias, às vezes, que não fazem bem".

Por fim o Papa falou sobre a proximidade do Jubileu de 2025:

“Recordemos que precisamente três anos após a celebração do primeiro jubileu em 1300, foi instituído o Studium Urbis, como que para mostrar na prática e reafirmar a relação nativa entre a Igreja e a Instituição universitária, uma das mais antigas e paradigmáticas expressões da civilização europeia, a partir da qual se desenvolveu em todo o mundo”.

“Somos chamados a desenvolver e prosseguir na construção responsável e sustentável de caminhos desta relação antiga e bem estabelecida, na distinção e na cooperação”

O lema do próximo Jubileu de 2025, Peregrinos da Esperança, pode então expressar este compromisso convergente, a tensão na direção de objetivos comuns de vida, de bem e de fraternidade.

Fonte: Vatican News