Cotidiano

Renda média do brasileiro é a menor em 10 anos





A renda média do brasileiro é a menor em 10 anos e bateu R$ 2.548. Em 2012, o salário médio era de R$ 2.581. Há perspectivas de mais perda de poder de compra, com inflação a 12% no acumulado de 12 meses e taxa de juros a 12,75% (que deve subir ainda mais).

Há algumas explicações para a queda de renda. Uma delas é a inflação alta num momento de perdas econômicas motivadas pela pandemia. Enquanto os preços sobem, não há paralelo de alta nos salários.

Outro motivo é a deterioração do mercado de trabalho desde 2012, que legou um país com mais informais e mais desocupados. Em 10 anos, o país passou por duas crises acentuadas: no fim do governo Dilma (2015-2016), e depois, com a pandemia.

“São dois conjuntos: um é o efeito estatístico, da piora da qualidade do emprego. E o outro é a inflação perversa, e a inflação com a desocupação”, explica o professor Hélio Zylberstajn, professor sênior da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo) e coordenador do projeto Salariômetro da Fipe.

Para o economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e da FGV, a inflação alta e mudanças no perfil dos profissionais no mercado alteraram os valores da renda média. Houve aumento do número de pessoas que trabalham por conta própria e dos informais.

“Mudanças de composição na força de trabalho da população ocupada acabaram fazendo a renda caminhar para baixo. Ou seja, foram mudanças que aumentaram a proporção de pessoas em empregos que pagam menos”, afirma.

Pico em 2020

O maior valor da renda média foi registrado no trimestre móvel de maio a julho de 2020, período de fortes restrições impostas pela pandemia da covid-19. Há uma explicação para esse crescimento. Economistas ouvidos pelo Poder360 explicam que a alta de demissões e a pausas dos informais durante os lockdowns fizeram com a renda dos empregos formais elevassem a média.

Pouco mais de um ano depois, no trimestre móvel de outubro a dezembro de 2021, a renda média chegou no menor valor desde 2012: R$ 2.510. 

No contexto atual, não há perspectiva de melhora. “Uma recuperação dos rendimentos só é factível em um contexto de crescimento e estabilidade de preços”, afirma o professor de economia da UnB (Universidade de Brasília) Carlos Alberto Ramos. Em abril, o país registrou com inflação a 12% no acumulado de 12 meses. A taxa de juros está em 12,75%.

E essa renda menor já se reflete nos planos de médio e longo prazo das famílias. O pesquisador da área de Mercado de Trabalho da FGV Daniel Duque afirma que o número de endividados está crescendo.

“Há uma alta do crédito, do endividamento das famílias, provavelmente porque estamos com uma maior oferta de emprego, mas com menos salários. As famílias recorrem a financiamento e empréstimos para manter seu poder de consumo”,diz Duque.

O desafio a curto e médio prazo será controlar a inflação e criar um ambiente de retomada do crescimento econômico. A avaliação dos economistas ouvidos pelo Poder360 é que apenas com inflação controlada e crescimento haverá espaço para avanços na renda média.

Fonte: Poder360