| MACAPÁ (AP) | Por Dom Pedro José Conti
Num zoológico, uma girafa se preparava para dar à luz. Muitas pessoas queriam presenciar o evento. A girafa permaneceu em pé e, para surpresa de todos, o filhote nasceu caindo de uma altura de quase dois metros. No chão, a girafinha, debatia-se toda. Depois de alguns minutos de tentativa para erguer-se, a filhota conseguiu ficar em pé. O povo começou a aplaudir, mas a mãe deu-lhe um coice que a levou de volta para o chão. A filhota, com muito esforço, conseguiu se levantar mais uma vez. De novo, mamãe girafa colocou a girafinha no chão dando-lhe mais um coice. Os espectadores ficaram sem saber o que estava acontecendo e alguns chamaram a girafa de “mãe desnaturada”. Antes que acontecesse um tumulto, o diretor do zoológico apareceu para dar explicação. Ele disse: “O que a mãe girafa faz, parece um ato agressivo e de desamor, mas esta é a maneira que ela tem de fortalecer as pernas da sua cria. Somente assim ela poderá acompanhá-la e mesmo fugir se algum predador avançar. Normalmente ela dá três coices e quando a cria levanta pela terceira vez lambe-a com carinho. Os presentes olharam e era isso mesmo que a girafa mãe estava fazendo com a sua filhota”.
Uma historinha de mãe, para lembrar o dia dedicado a elas. Todas as mães são merecedoras da nossa gratidão e carinho. Ser mãe, gerar e doar vida, é um grande e sublime chamado. É muito mais que algo meramente natural ou para a simples continuidade da espécie. As mães são as primeiras educadoras dos seus filhos.
Falamos agora do evangelho deste Quarto Domingo de Páscoa. Todo ano, lemos um trecho do capítulo 10 do Evangelho de João. Jesus se apresenta como o “bom” pastor, sempre pronto a proteger e defender as ovelhas que o Pai lhe entregou. Também, neste dia, rezamos pelas vocações, para que não faltem ao Povo de Deus padres pastores, irmãos e irmãs consagrados e consagradas ao serviço da evangelização, da missão e da caridade.
Duas afirmações do evangelho chamam a nossa atenção. A primeira diz respeito à “voz” do pastor que as ovelhas escutam. Elas o seguem porque são “conhecidas” por ele. Para a Bíblia em geral, mas de maneira particular para o evangelista João, “conhecer” significa mais do que uma simples informação, indica familiaridade, intimidade. Neste caso é o próprio pastor que conhece as suas ovelhas. O encontro entre o ser humano e Deus, antes de ser uma atitude nossa, é iniciativa dele. Ou seja: é ele que nos procura, é ele que se interessa por nós, é ele que nos ama por primeiro. Nós não conseguiríamos conhecê-lo se antes não fôssemos já conhecidos e nem o amar se já não fôssemos amados por ele.
A segunda afirmação é uma defesa: ninguém vai arrancar as ovelhas da mão do Bom Pastor ou arrebatá-las da mão do Divino Pai. Em outros versículos do mesmo capítulo, fala-se de lobos e de mercenários que fogem em lugar de defender as ovelhas. Proponho que cada um de nós procure dar um rosto e, talvez, até um nome a esses lobos ferozes que querem nos afastar do amor de Deus. Não é tão difícil consegui-lo. Basta ensinar que Deus é coisa velha, assunto de outros tempos, um conjunto de normas e obrigações das quais é melhor nos livrar. Desse jeito, Deus não protege, oprime. Os piores lobos são os que nem parecem sê-los. Eles vêm travestidos de ovelhas, usam palavras mansas, cativantes, prometem pastagens mais fartas. Aos poucos, porém, dividem as ovelhas. Dizem que precisamos ser diferentes, autônomos, independentes, que devemos construir uma imagem de Deus mais vantajosa, que faça mais a nossa vontade e os nossos gostos, que possamos escolher aqueles que nós queremos amar, os que pensam como nós, somente os amigos. Quantas ovelhas descobrem, depois, que estão ficando sozinhas, perdidas, cheias de coisas materiais e vazias de alegria, que não sabem mais doar, socorrer, que desprezaram os laços mais simples da vida. O Bom Pastor nunca desiste das suas ovelhas. Vai sempre atrás delas até encontrá-las. Se permitiu que caíssem foi para que reconhecessem a falta dele e dos irmãos e levantassem com as pernas mais fortes para poder segui-lo com mais coragem e firmeza.
Fonte: Diocese de Macapá