Muito além dos números oficiais das mortes pela covid-19, a pior pandemia em um século deixou um rastro de destruição de vidas e de famílias muito mais amplo que inicialmente estimado e quase três vezes superior aos dados registrados pelos governos.
Novos dados publicados nesta quinta-feira pela OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que a de mortalidade associada direta ou indiretamente à pandemia foi de aproximadamente 14,9 milhões, numa faixa entre 13,3 milhões a 16,6 milhões.
Os dados se referem aos anos de 2020 e 2021. Até o final do ano passado, governos estimavam que 5,4 milhões de pessoas morreram pela covid-19. Os novos números, portanto, são 2,7 vezes superiores aos registros oficiais e são 9,5 milhões a mais do que se conhecia.
68% dos casos extras estão em apenas dez países: Brasil, Egito, Índia, Indonésia, México, Peru, Rússia, África do Sul, Turquia e EUA
No Brasil, foram oficialmente 663 mil mortes até hoje, o segundo maior número do mundo. Entre o início de 2020 e dezembro de 2021, foram 619 mil óbitos.
Mas, segundo os novos números da OMS, a crise sanitária resultou em mortes em excesso no Brasil de 681 mil mortes, incluindo tanto as vítimas do vírus como aqueles que perderam a vida de forma indireta por conta da pandemia.
Os meses de março e abril de 2021 foram os mais dramáticos no país, com 95 mil e 81 mil mortes em excesso, respectivamente.
Para a OMS, a diferença no Brasil é considerada como "extremamente elevada". Mas não se descarta que outras causas de morte podem ter caído durante a pandemia, entre eles acidentes de trânsito.
"Estes dados sóbrios apontam não apenas para o impacto da pandemia, mas também para a necessidade de todos os países investirem em sistemas de saúde mais resilientes que possam sustentar serviços de saúde essenciais durante crises, incluindo sistemas de informação sanitária mais fortes", disse Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
O excesso de mortalidade é calculado como a diferença entre o número de mortes que ocorreram e o número que seria esperado na ausência da pandemia, com base em dados de anos anteriores.
O número inclui tanto as mortes associadas ao vírus diretamente como os óbitos indiretos, causados por conta do impacto da pandemia nos sistemas de saúde e na sociedade. Ou seja, a incapacidade de pacientes de conseguir atendimento para outras doenças diante do colapso dos sistemas de saúde.
De acordo com a OMS, a maioria das mortes em excesso (84%) concentra-se no sudeste asiático, Europa e Américas.
Países de renda média representam 81% dos 14,9 milhões de mortes em excesso. Já os países de renda alta representaram 15%, contra 4% nos países mais pobres.
Os dados também confirmam que o número global de mortes foi maior para os homens do que para as mulheres (57% homens, 43% mulheres) e maior entre os adultos mais velhos.
"A medição do excesso de mortalidade é um componente essencial para compreender o impacto da pandemia", explicou Samira Asma, diretora-geral assistente para dados e análises na OMS.
"As mudanças nas tendências de mortalidade fornecem informações aos tomadores de decisão para orientar as políticas de redução da mortalidade e prevenir efetivamente crises futuras. Devido aos investimentos limitados em sistemas de dados em muitos países, a verdadeira extensão do excesso de mortalidade muitas vezes permanece escondida", disse Samira Asma.
- 75% das crianças e jovens tiveram covid nos EUA, diz CDC
Os Estados Unidos divulgaram que 75% das pessoas de até 17 anos têm anticorpos específicos para o coronavírus presentes em seus organismos, indicando que contraíram covid-19. Destes, 1/3 adquiriu os anticorpos a partir de dezembro, quando o país registrou o 1º caso da variante ômicron.
Os dados constam em relatório do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) com dados coletados de setembro de 2021 a fevereiro de 2022. Eis a íntegra, em inglês (102 KB).
O órgão analisou amostras de sangue para verificar a existência de anticorpos específicos contra o nucleocapsídeo (proteína do núcleo) do Sars-CoV-2, desenvolvidos quando há infecção, mas não através da vacinação. A partir dos resultados, o CDC determinou a chamada taxa de soroprevalência –a percentagem de pessoas com anticorpos específicos para o vírus.
A taxa subiu de 0,9 a 1,9 ponto percentual de setembro a dezembro do ano passado. No período de dezembro a fevereiro, o crescimento foi 24,2 pontos percentuais, de 33,5% para 57,7%.
Em crianças de 0 a 11 anos, a taxa passou de 44,2% no período de setembro a dezembro para 75,2%, de dezembro a fevereiro. Em jovens de 12 a 17 anos, a taxa foi de 45,6% para 74,2% nos mesmos períodos.
Em adultos, a taxa passou de 36,5% para 63,7% na faixa etária de 18 a 49 anos; de 28,8% para 49,8% para quem tem de 50 a 64 anos; e de 19,1% para 33,2% em pessoas com 65 anos ou mais.
Segundo o CDC, a elevada taxa de soroprevalência em crianças e adolescentes se deve a menor cobertura vacinal nessa parcela da população.
Fonte: UOL - Poder360