Economia

Brasil e EUA devem elevar juros na super quarta enquanto tentam conter inflação





Mercado espera que Copom suba 1 ponto percentual na taxa Selic, para 12,75%, com o Fed continuando seu ciclo de alta

Os Estados Unidos e o Brasil definem nesta quarta-feira (4) as suas taxas de juros em meio às reuniões, respectivamente, do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) e do Comitê de Política Monetária (Copom). Devido à importância para os investidores, e quando a data das duas decisões coincidem, é chamada “super quarta”.

Entretanto, os números das taxas após as decisões já são praticamente consensuais. É esperado que o Copom, ligado ao Banco Central, suba a taxa básica de juros, a taxa Selic, em um ponto percentual (p.p.), para 12,75% ao ano.

Já nos Estados Unidos, a expectativa é que o Fomc, ligado ao Federal Reserve, eleva os juros em 0,5 ponto percentual, para o intervalo entre 0,75% e 1% ao ano.

Para especialistas consultados pelo CNN Brasil Business, o interesse dos investidores está muito mais nas informações divulgadas após as duas reuniões, e quais sinais as duas autarquias darão sobre seus próximos passos enquanto tentam combater níveis historicamente elevados de inflação.

Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, afirma que entre as últimas reuniões das autarquias, em março, e as de agora, a principal novidade foi a inflação acima do esperado, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

“A do Brasil veio acima do esperado, mas não no mesmo nível, então impactou menos. A guerra na Ucrânia ainda não acabou, tem todo um efeito cascata nos preços, e isso influencia, em especial nos Estados Unidos”, diz.

Ciclo brasileiro

consenso no mercado e entre economistas é que a Selic deverá ter a sua décima alta consecutiva, chegando aos 12,75%, nesta quarta-feira. O principal fator por trás disso seria a persistência do processo inflacionário, piorado pelos efeitos da guerra na Ucrânia.

André Perfeito, economista-chefe da Necton, considera que a alta já está precificada pelo mercado e dificilmente não será realizada. Ele também espera que ela seja seguida por outra alta em junho, de 0,5 p.p., deixando a Selic a 13,25% até o final do ano.

“A inflação em 12 meses vai começar a cair mesmo em maio, e vai ter essa sinalização só em junho, acho que seria prudente subir em junho e parar”, diz.

Para ele, “amanhã o BC vai querer encaminhar a discussão para o fim do ciclo. Ele tem falado que entende que a taxa está suficientemente elevada, acima da taxa neutra, e está desacelerando a economia, então vão bater mais nessa hipótese”.

Izac avalia que o Brasil foi um dos primeiros países a começar uma trajetória de alta de juros para conter uma inflação com causas comuns em diversos países, apesar das individualidades de cada nação. Nesse sentido, o movimento “traz um pouco de conforto, respaldo, em relação até onde vai a taxa de juros”.

Se a alta em si não deve surpreender, ele afirma que a ansiedade do mercado, menor que em relação aos Estados Unidos, está nas sinalizações do Copom sobre os próximos passos, e o quão claras elas serão, em meio a críticas sobre comunicações anteriores.

“O Copom pode indicar ser mais duro, o chamado hawkish, devido à inflação, mas isso surpreenderia. A questão é indicar uma alta de 0,5 p.p. ou 1 p.p. em junho, qualquer orientação além disso surpreenderia”.

Ele diz, ainda, que o BC já havia deixado em aberto a possibilidade de não encerrar o ciclo de alta em maio dependendo do cenário, como sugerido pelo presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, em março.

Com uma inflação ainda superando as expectativas – a de março teve a maior variação para o mês desde 1994 – a expectativa é que isso seja reforçado, e a porta fique aberta para uma próxima, e provavelmente última, alta no mês que vem.

Próximos passos nos EUA

Para o sócio da Nexgen, o grande ponto sobre a reunião do Fed de maio que tem gerado ansiedade e cautela no mercado é o tom da comunicação que será feita após a decisão, com os sinais sobre os próximos passos do ciclo de alta de juros no país, iniciado em março deste ano.

“A inflação está em níveis historicamente altos, de certa forma descontrolada, e os dirigentes do Fed começaram a assumir que estão atrás da curva e a situação está mais complicada que o esperado”, afirma.

A expectativa do mercado, diz, é que o Fed adote um tom mais duro no combate à inflação, a maior em 40 anos, sinalizando altas maiores para os próximos encontros.

É preciso ficar atento, segundo ele, a como a autarquia informará essa condução. “Será que vão só falar que vão aumentar mais e parar em um ponto? Vão deixar em aberto a possibilidade de subir juros acima da taxa neutra? O mercado está ansioso em relação a isso, e não há consenso”.

Perfeito afirma que a dinâmica inflacionária norte-americana está muito pior do que pensado inicialmente, e o mercado já está precificando uma taxa de juros ao fim do ciclo maior, de 4%.

“Uma taxa de 4% não é necessariamente grande, mas pensando da onde sai para onde vai, vira uma alta relevante, e tem a apreensão de como isso vai bater nos balanços bancários, se vai gerar ruídos adicionais”, diz.

Um ponto de atenção, avalia, é o processo de redução do balanço do banco central do país, que representaria uma redução na injeção de dinheiro na economia via compra de ativos. Na ata da reunião de março, o Fed deu os primeiros detalhes sobre esse processo, mas espera-se agora que ele seja intensificado.

Nesse sentido, o economista afirma que é importante ficar atento às informações sobre o ritmo de alta de juros e sobre o tamanho da redução do balanço.

Ao mesmo tempo, André Perfeito avalia que a dinâmica de interação entre o fim do ciclo de alta de juros no Brasil e início do dos Estados Unidos pode impactar nas decisões do Banco Central, e até afetar a inflação devido à valorização do dólar.

“A interação vai ser um jogo de comunicações também entre os bancos e a percepção do mercado. As reações vão depender se o mercado ver que o Banco Central está leniente ou que o dos Estados Unidos está mais rígido, e como isso vai ser precificado”, afirma.

Fonte: CNN Brasil