Política

Depois da Ucrânia, surgem alertas sobre o risco da Rússia atacar a Moldávia





Os temores de que a Moldávia possa ser arrastada para a Guerra da Ucrânia se intensificaram nos últimos dias, depois de uma série de explosões que ocorreram na Transnístria, uma região separatista desse país. As explosões atingiram o ministério da Segurança de Estado, uma torre de rádio e uma unidade militar. Os autores dos ataques ainda são desconhecidos.

Essa região, que faz fronteira com a Ucrânia à oeste, é controlada por grupos pró-Rússia e abriga, de forma permanente, cerca de 1500 soldados russos, além de um depósito de armas. Nela, há circulação de moeda própria e o russo é a língua predominante (na Moldávia, em contrapartida, a língua falada pela maioria da população é o romeno). Além disso, a economia da Transnístria é altamente dependente do gás enviado gratuitamente por Moscou.

Um artigo de Amanda Coakley e Amy Mackinnon publicado pela revista Foreign Policy nessa semana afirma que a Rússia poderia avançar em direção à fronteira da Moldávia "como parte de seu plano de redesenhar o mapa da região do Mar Negro". Nesse contexto, não se pode esquecer que Odesa, a principal cidade portuária da Ucrânia, fica à leste da Transnístria, e que, uma incursão por essa direção poderia funcionar como alternativa para dominar a região, já que, pelo outro lado, há resistência das forças armadas ucranianas.

Não se pode olvidar também que "defender pessoas identificadas com a etnia russa" foi o principal argumento utilizado pela Rússia para invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022. Essa mesma narrativa tem aparecido de forma recorrente para tratar da Transnístria. Foi evocada, por exemplo, por Rustam Minnekayev, general russo, em entrevistas recentes. A ênfase na Transnístria também igualmente apareceu nas falas do porta-voz do presidente russo Vladimir Putin, Dmitry Peskov e do líder da autoproclamada república em Donetsk, Denis Pushilin. Durante um talk-show, este último propôs abertamente que a Rússia lançasse uma nova fase de campanha na guerra contra a Ucrânia que envolvesse a Transnístria.

A preocupação com o futuro da região, de mesmo modo, levou o Conselho de Segurança Nacional da Moldávia e se reunir nos últimos dias, bem como o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a se manifestar. Ele acusou a Rússia de estar por trás das explosões como forma de desestabilizar a situação na região e criar pretextos para novos passos no conflito.

Para os observadores mais atentos, já há algum tempo também a movimentação das autoridades norte-americanas chama a atenção pelo foco dado à Moldávia. Desde o início da guerra da Ucrânia, o país foi visitado pelo Secretário de Estado Antony Blinken, em março, e pela responsável pela USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento) Samantha Power, em abril. Ambos se reuniram com a presidente moldava Maia Sandu.

Nos encontros até aqui, o objetivo sempre foi deixar claro que os Estados Unidos apoiam "a democracia, a soberania e a integridade territorial da Moldávia". Para aliviar os efeitos da guerra na região, os norte-americanos direcionaram ao país recursos que já somam mais de US$ 130 milhões. O intuito, segundo eles, é contribuir para a gestão da crise humanitária/de refugiados e para mitigar os custos econômicos do conflito. Também têm havido esforços expressivos por parte dos Estados Unidos em auxiliar na redução de dependência da Moldávia de fontes energéticas da Rússia.

Ao falar com a imprensa, durante sua recente passagem pelo país, Blinken celebrou os 30 anos de amizade entre Estados Unidos e Moldávia. Na ocasião ele disse que "os países têm o direito de escolher seus próprios futuros", que "a Moldávia escolheu o caminho da democracia, uma economia mais inclusiva, uma relação mais próxima com os países e instituições da Europa" e que "os Estados Unidos apoiam a Moldávia nesses esforços".

Para além do que é publicamente declarado, e de toda assistência dada ao desenvolvimento, certamente há riscos de segurança que envolvem a Moldávia e que estão sendo monitorados pelo Ocidente. A pergunta que segue sem resposta, porém, é: qual o limite das ambições russas no leste europeu?

 

- Secretário-geral da ONU reúne-se com Zelensky

Ele quer criar corredor humanitário para retirar civis de Mariupol

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, quer estabelecer um corredor humanitário para a retirada de civis da fábrica de Azovstal, em Mariupol. Antes de reunir com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, Guterres passa por Borodyanka, cidade a cerca de 40 quilómetros de Kiev.

Antes do encontro o secretário disse que fica imaginando suas "netas a fugir em pânico, com parte da família talvez morta".

"A guerra é um absurdo no século 21", afirmou Guterres. "Vejo essas situações e o coração está com as vítimas", completou.

Numa das cidades mais devastadas pela ofensiva russa - Bucha -, António Guterres destacou a necessidade de avançar com "investigação exaustiva e responsabilização".

"Vejo que o Tribunal Criminal Internacional (TCI) analisa a situação. Apoio totalmente o TCI e apelo à Federação Russa para que aceite cooperar com o tribunaI", observou Guterres durante visita a Bucha, próximo a Kiev.

O secretário-geral da ONU defendeu a necessidade de investigação de crimes de guerra, destacando que o maior crime é mesmo "a guerra em si".

António Guterres está desde quarta-feira em Kiev, na primeira visita à Ucrânia desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.

No 64º  dia da guerra no território ucraniano, e após passagem por Moscou na terça-feira (26), ele passa por Borodianka, Irpin e Bucha, localidades da região de Kiev, onde têm sido descobertos cenários de abusos e devastação após a retirada das forças russas e onde estão sendo investigados potenciais crimes de guerra.

 

- Polícia encontrou 1.150 corpos em Kiev desde início de invasão

Os corpos de 1.150 civis foram recuperados na região de Kiev, na Ucrânia, desde a invasão da Rússia, e 50% a 70% deles têm ferimentos de balas de armas pequenas, informou a polícia local nesta quinta-feira (28).

O chefe da polícia regional de Kiev, Andriy Nebytov, afirmou, em vídeo postado no Twitter, que a maioria dos corpos foi encontrada na cidade de Bucha, onde centenas de cadáveres foram descobertos desde a retirada das forças russas.

A Ucrânia afirma que os civis encontrados em Bucha foram mortos pelas forças russas durante ocupação da área. A Reuters não conseguiu verificar o número de corpos em Bucha ou as circunstâncias dessas mortes. 

A Rússia nega atacar civis desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro. Diz que alegações de que as forças russas executaram civis em Bucha, enquanto ocupavam a cidade, são "falsificação monstruosa" destinada a difamar o Exército.

A Reuters pediu ao Ministério da Defesa russo comentários sobre a mais recente declaração da polícia de Kiev.

"Até o momento, encontramos, examinamos e entregamos a instituições forenses 1.150 corpos de civis mortos", disse Nebytov no vídeo, em que mostrou também escombros de prédios destruídos durante intensos combates na região de Kiev.

"Quero enfatizar que são civis, não militares", declarou.

O vídeo foi postado no dia em que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, mantém conversas em Kiev com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy.

A televisão ucraniana mostrou Guterres visitando a cidade de Borodyanka, onde Zelenskiy disse que a situação é "significativamente mais terrível" do que na vizinha Bucha.

 

-  Moscou não pode interferir na adesão da Finlândia e Suécia à Otan

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, disse hoje (28) que se a Suécia e a Finlândia formalizarem o pedido de adesão à aliança atlântica, o processo será rápido.

Ele afirmou que essa é uma decisão dos dois países, que Moscou não pode condicionar.

O secretário defendeu que a situação na Ucrânia mostrou a importância de a aliança atlântica trabalhar de perto com países parceiros do Leste da Europa.

Stoltenberg reiterou que serão bem-vindos eventuais pedidos de adesão por parte da Finlândia e da Suécia.

Ele lembrou que os dois países nórdicos pertencem à União Europeia, acrescentando que já são parceiros próximos da aliança atlântica, com participação em exercícios conjuntos.

O secretário-geral da Otan falou em entrevista conjunta, em Bruxelas, com a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.

 

- Rússia intensifica ataque no Leste da Ucrânia

Presidente Vladimir Putin ameaça retaliação contra países ocidentais

 A Rússia intensificou os ataques ao Leste e Sul da Ucrânia, informou Kiev nesta quinta-feira (28). O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou retaliação rápida contra quaisquer países ocidentais que se envolverem em nome da Ucrânia.

Mais de dois meses depois da invasão que destruiu cidades, mas não conseguiu capturar a capital Kiev, a Rússia montou esforço para tomar duas províncias do Leste, em batalha que o Ocidente vê como ponto de virada decisivo na guerra.

"O inimigo está aumentando o ritmo da operação ofensiva. Os ocupantes russos estão exercendo fogo intenso em quase todas as direções", disse o comando militar da Ucrânia sobre a situação no front no Leste.

O comando afirmou que o principal ataque da Rússia foi perto das cidades de Slobozhanske e Donets, ao longo de uma rodovia estratégica, na linha de frente que liga a segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, à Izyum, ocupada pelos russos. O governador regional de Kharkiv disse que as forças russas estão intensificando os ataques a partir de Izyum, mas as tropas ucranianas se mantêm firmes.

Embora as forças russas tenham sido expulsas do Norte da Ucrânia no mês passado, elas estão fortemente entrincheiradas no Leste e ainda mantêm uma faixa do Sul que tomaram em março.

A Ucrânia informou que houve fortes explosões durante a noite na cidade de Kherson, no Sul, a única capital regional que a Rússia capturou desde a invasão. Tropas russas usaram gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral na quarta-feira, para reprimir manifestações pró-ucranianas. Agora estão bombardeando toda a região ao redor e atacando Mykolaiv e Kryvyi Rih, cidade natal do presidente Volodymyr Zelenskiy.

Kiev acusa Moscou de planejar falso referendo de independência no Sul ocupado. Segundo a mídia estatal russa, autoridade de uma autodenominada "comissão militar-civil" pró-Rússia em Kherson disse que a área começaria a usar o rublo, moeda da Rússia, a partir de 1º de maio.

Os países ocidentais aumentaram as entregas de armas para a Ucrânia nos últimos dias, à medida que os combates no Leste se intensificaram. Representantes de mais de 40 países se reuniram esta semana, em uma base aérea dos Estados Unidos na Alemanha, e se comprometeram a enviar armas pesadas, como artilharia, para o que se espera ser uma vasta batalha de exércitos inimigos ao longo de uma linha de frente fortificada.

Washington agora espera que as forças ucranianas possam não apenas repelir o ataque da Rússia no Leste, mas enfraquecer suas Forças Armadas, para que não possam mais ameaçar os vizinhos. A Rússia afirma que isso equivale a uma "guerra por procuração" da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra ela.

"Se alguém pretende intervir de fora nos eventos em andamento e criar ameaças estratégicas para a Rússia, que são inaceitáveis, devem saber que nossos ataques de retaliação serão rápidos como um raio", disse Putin a parlamentares em São Petersburgo.

"Temos todas as ferramentas para isso, coisas que ninguém mais pode se gabar de ter agora. E não vamos nos gabar, vamos usá-las se necessário. E quero que todos saibam disso", acrescentou.

 

- Alemanha pede ajuda ao Brasil para doar blindados à Ucrânia

 

Entrega do Gepard empaca com falta de munição em Berlim; Exército diz não ter sido avisado

 

A Alemanha quer a ajuda do Brasil de Jair Bolsonaro, presidente que prestou solidariedade à Rússia de Vladimir Putin uma semana antes da invasão de fevereiro da Ucrânia, para viabilizar a entrega de blindados de defesa antiaérea para Kiev se defender de Moscou.

 

Mais vistosa vitória política dos Estados Unidos em seu esforço para envolver os membros mais reticentes da Otan na Guerra da Ucrânia, o envio dos Flakpanzer Gepard foi anunciado na terça (26), mas empaca na falta de munição para o modelo dos anos 1970, que Berlim deixou de operar em 2010.

 

Em 2013, o Exército brasileiro comprou 34 Gepard versão 1A2 da Alemanha, visando a segurança de grandes eventos: a Jornada Mundial da Juventude com o então novo papa Francisco, a Copa das Confederações e a Copa de 2014.

 

Segundo disseram pessoas com conhecimento do assunto à Folha, o Exército havia procurado a Alemanha para revender os blindados, sem sucesso, e chegou a oferecê-los ao Qatar —que acabou por comprar 15 unidades de Berlim para usar na proteção aos estádios da Copa, em novembro.

 

Agora, os alemães voltaram a sondar o governo brasileiro, mas não há definição. Oficialmente, a intenção não chegou ao Exército, que opera os blindados.

 

"O Centro de Comunicação Social do Exército informa que, até o presente momento, o Exército brasileiro não recebeu nenhum pedido para fornecimento de munição do sistema antiaéreo Gepard para a Alemanha, a fim de ser encaminhada à Ucrânia", disse a Força. Procurado, o Itamaraty não respondeu até aqui acerca do assunto. De todo modo, como disse um diplomata em Brasília, é altamente improvável que o governo Bolsonaro fizesse tal negócio dada sua posição de neutralidade crítica à guerra.

 

Além da visita do presidente a Putin às vésperas do conflito, que gerou mal-estar com os EUA e internamente, o Brasil condenou tanto a invasão quanto as sanções impostas à Rússia ao votar sobre o tema na ONU. Mais importante, de olho sobretudo na manutenção do fluxo de fertilizantes russos para o país, não aderiu às punições ocidentais, ficando assim fora da lista de países adversários de Moscou.

 

Além do Brasil, só Jordânia (60 blindados) e Romênia (36), esta um membro da Otan, operam o veículo. O caso havia sido revelado pelos jornais Frankfurter Allgemeine Zeitung e Bild, e a situação parece vexatória para a Alemanha, que vinha resistindo a enviar material mais pesado a Kiev devido à sua decantada dependência de gás e petróleo russos, que apesar das sanções seguem fluindo para o país.

 

Quando a Rússia anunciou o corte do gás natural para Polônia e Bulgária, nesta semana, a Alemanha apareceu em relatos como um dos países que toparam pagar pelo produto em rublos, numa conta do banco da Gazprom, estatal russa do gás, na Suíça, como exigiu Putin para valorizar sua divisa nacional.

 

O problema é que a KMW, fabricante do Gepard que tem cerca de 50 guardados em estoque, só tem, segundo os periódicos, 23 mil cartuchos de 35 mm usados pelos canhões do modelo contra alvos aéreos em baixa altitude. Com uma cadência de 1.100 tiros por minuto, isso dá pouco mais de 20 minutos de operação em apenas um blindado.

 

Para complicar a situação, o governo suíço afirmou que não permitiria a exportação da munição em poder da Alemanha. Os canhões do Gepard são feitos no país alpino pela Oerlikon, e a autorização é estipulada em contrato com os alemães. A Suíça permanece neutra na guerra, apesar de ter adotado sanções econômicas contra Moscou.

 

Os jornais, assim como a agência americana Bloomberg, citaram apenas conversas com o Brasil e com os países árabes, supondo que a Suíça não protestaria, deixando de forma curiosa a Romênia de lado. As reportagens falam em aquisição de 300 mil cartuchos, o que também obrigaria economia nos tiros.

 

"Se a Defesa alemão fracassar em adquirir munição nos próximos dias, a Ucrânia provavelmente vai ter de recusar a oferta", disse o embaixador de Kiev na Alemanha, Andjij Melnik, à N-TV alemã na quarta (27).

 

Os Gepard são o chassi de um antigo tanque Leopard-1 com uma torre com dois canhões. Ele é usado para defesa de ponto, como no caso dos estádios da Copa, ou para cobrir colunas de blindados em movimento —um provável emprego na Ucrânia, onde aviões de ataque russos Su-25 voam bastante baixo.

 

A intenção do Brasil de se livrar dos Gepard decorre da obsolescência dos modelos e do fato de que o país não tem uma defesa aérea coesa, algo que está em estudo agora. Hoje, opera mísseis russos portáteis e esses canhões, insuficientes para deter ameaças mais sérias.

 

Fonte: Agência Brasil - CNN Brasil - UOL