Política

Rússia defende Brasil no Conselho de Segurança e cita influência dos EUA





O chanceler russo, Sergei Lavrov, indicou nesta terça-feira que defende a ampliação do Conselho de Segurança da ONU para incluir Brasil e Índia, além de um representante africano. Para o chefe da diplomacia russa, a ampliação do principal órgão da entidade seria uma maneira para frear o que ele chamou de "unilateralismo" das potências ocidentais, principalmente dos EUA.

Os comentários de Lavrov foram feitos durante uma coletiva de imprensa ao lado do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Essa é a primeira vez que o chefe das Nações Unidas visita Moscou desde o início da guerra e seu objetivo é o de construir uma base para uma negociação que permita um cessar-fogo na guerra na Ucrânia.

Questionado sobre uma proposta que começa a ser tratada na Assembleia Geral da ONU para acabar com o poder de veto dos membros permanentes da entidade, Lavrov rejeitou apoiar a ideia do fim desse mecanismo.

Criado em 1945, o Conselho de Segurança conta com 15 membros. Mas apenas cinco deles têm um lugar permanente e com o poder de vetar decisões e resoluções. Além da Rússia, contam com esse privilégio países como EUA, China, França e Reino Unido.

Para Lavrov, porém, o que deve ocorrer é uma reforma da ONU, com novos membros permanentes no Conselho de Segurança. "Queremos representante da Ásia, África e América Latina", disse. "Índia, Brasil e um candidato africano", esclareceu.

Lavrov explicou que o governo americano "quer um mundo unipolar" e insistiu que "algo deve ser feito para impedir a pressão" que países pelo mundo sofrem de potências ocidentais e que uma dessas medidas deveria ser a ampliação do Conselho de Segurança.

Desde o início da guerra, os russos têm usado discursos na ONU para denunciar americanos e europeus por conta da pressão que impõe sobre outros países menores para que votem a favor de suas resoluções. Nesta terça-feira, Lavrov chegou a insinuar chantagem por parte de Washington, contra líderes de outros governos. Segundo ele, os americanos detém dados de contas bancárias desses políticos e sabem onde seus filhos estudam.

Se nos primeiros momentos da guerra o Brasil deu seu voto às resoluções propostas pelos ocidentais, o Itamaraty mudou de postura e passou a se abster em praticamente todas as votações de textos na ONU e em outras agências. O gesto brasileiro chegou a ser elogiado pelo Kremlin, que indicou que o Brasil "sabe" o motivo das ações russas.

Em fevereiro, durante a visita de Jair Bolsonaro ao Kremlin, Moscou reforçou seu apoio à candidatura brasileira ao Conselho de Segurança. Mas essa não tinha sido a primeira vez que o presidente Vladimir Putin adotou essa postura. Com outros governos brasileiros, o Kremlin adotou a mesma postura.

 

- Ocidente eleva aposta contra Putin com mais ajuda militar à Ucrânia

Auxílio até da Alemanha já supera orçamento de defesa de Kiev e faz Moscou falar em Terceira Guerra

Passados mais de dois meses da invasão russa da Ucrânia, o Ocidente abandona crescentemente o temor de provocar uma Terceira Guerra Mundialcom Moscou e dobra a aposta no fornecimento de armas ofensivas para Kiev combater as forças de Vladimir Putin.

Sob ataque duro desde 24 de fevereiro, os ucranianos já viram a ajuda militar internacional superar, em valores nominais, todo o seu orçamento de defesa. São cerca de US$ 7 bilhões já anunciados, US$ 3,7 bilhões só dos Estados Unidos, ante um gasto total por Kiev em 2021 de US$ 4,3 bilhões.

Nesta terça (26), 40 países da Otan e aliados se reuniram na maior base americana na Europa, em Ramstein, na Alemanha. Ali, o secretário de Defesa Lloyd Austin, recém-chegado de Kiev, comandou um esforço para aumentar o influxo de blindados, peças de artilharia e sistemas de mísseis sofisticados.

Conseguiu, além de promessas já feitas anteriormente por potências como França e Reino Unido, uma importante vitória política: a Alemanha anunciou que fornecerá blindados com canhões antiaéreos Gepard usados para Kiev. O número não foi especificado, mas marca uma mudança fundamental.

País mais associado à dependência europeia de gás e petróleo da Rússia, a Alemanha vinha resistindo à entrega de material mais pesado para a defesa contra os russos. Já havia rompido uma barreira ao anunciar um plano de seu próprio rearmamento, triplicando o orçamento militar deste ano.

Segundo o governo do premiê Olaf Scholz, há quase US$ 2 bilhões reservados para ajuda a Kiev, e o número pode ter um acréscimo de US$ 1,5 bilhão se for aprovada a venda de cem obuseiros PzH-2000.

O Gepard, usado em países como o Brasil, é usado para proteger colunas de blindados de ataques aéreos com canhões. Algo obsoleto, pode ser bastante eficaz contra aviões de ataque de baixa altitude russos, como os Su-25 amplamente usados na Ucrânia.

Na segunda-feira, após a visita de Austin e do secretário de Estado, Antony Blinken, ao presidente Volodimir Zelenski, os EUA já haviam anunciado mais um pacote de ajuda militar, de US$ 713 milhões em 90 obuseiros, munição, radares e drones suicidas de ataque.

Com isso, Washington se fixou como o maior provedor daquilo que o chanceler russo, Serguei Lavrov, chamou de "guerra por procuração" do Ocidente contra a Rússia na Ucrânia. São US$ 3,7 bilhões anunciados desde o começo da guerra, quase todo o orçamento militar de Kiev em 2021, aferido pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres).

Os valores chegam e podem superar os US$ 7 bilhões, embora as contas sejam obscuras, porque não há dados centralizados e existe o risco de sobreposição. A ajuda do fundo especial da União Europeia, de US$ 1,6 bilhão, pode incluir algo da contribuição alemã.

Até aqui, segundo o Instituto da Economia Mundial de Kiel (Alemanha), 31 países deram ajuda à Ucrânia, a maioria militar. O temor é maior nos países da franja leste da Otan, que se veem como próxima etapa caso Putin vença na Ucrânia: a Polônia não dá valores, mas se comprometeu a repassar cem tanques T-72 de origem soviética para Kiev, enquanto a Estônia forneceu o equivalente a 0,8% de seu PIB em ajuda militar.

Sistemas antitanque e antiaéreos portáteis ocidentais foram vitais para que a Ucrânia resistisse à fase inicial da guerra russa, com várias frentes de ataque e pouca concentração de forças. Os britânicos, por exemplo, deram 5.400 mísseis NLAW para ataque a blindados. Isso mudou agora, com a ação focada no leste e no sul do país na chamada batalha do Donbass, e por isso há uma corrida por material adequado para guerra de movimento em larga escala, como artilharia, blindados e drones de ataque.

A questão aeronáutica segue, contudo, um tabu. A Otan nunca aceitou o pedido de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, e os EUA vetaram a transferência de 28 caças MiG-29 da Polônia para Kiev.

Por outro lado, na semana passada o porta-voz do Pentágono, John Kirby, sugeriu que o Ocidente havia fornecido aviões a Kiev, para depois dizer que eram só peças de reposição. Nas contas de Moscou, o dano à Força Aérea ucraniana é grande, mas não total, como era esperado após dois meses de ação.

O Ministério da Defesa russo disse nesta terça ter derrubado até aqui 141 aeronaves tripuladas do rival, que tinha antes da guerra 124 aviões de combate e cerca de 120 helicópteros. Moscou diz ter destruído 269 sistemas antiaéreos, mas não especifica quantos são de longo alcance, como os S-300 soviéticos usados pelos ucranianos.

A Eslováquia, membro da Otan, chegou a transferir sistemas do tipo para Kiev, mas os russos dizem tê-los destruído. Moscou já afirmou que essas armas são alvos legítimos, mas não arriscaram atacar comboios até o momento, preferindo bombardear depósitos em que elas são colocadas antes de ir a campo.

Desde o início, Putin ameaçou quem apoiasse a Ucrânia com nada menos que o uso de armas nucleares. Reiteradamente saca essa carta, como no teste de um novo míssil intercontinental na semana passada.

Deu certo no começo, com o próprio presidente Joe Biden dizendo que não se envolveria diretamente, sob pena de iniciar a Terceira Guerra Mundial citada na segunda-feira outra vez pelo chanceler Lavrov como "um risco muito sério". O tema chegou à China, maior aliada de Putin. "Ninguém quer uma Terceira Guerra Mundial. É necessário apoiar conversas de paz", disse o porta-voz da chancelaria, Wang Wenbin.

Progressivamente, contudo, a ideia da guerra por procuração se consolida, e a retórica ocidental se acirra. O fato de Austin e Blinken terem desafiado o risco de um ataque russo ao visitar Kiev entra nessa conta: o secretário de Defesasaiu do país falando que os EUA trabalham para enfraquecer a Rússia, e nesta terça seu porta-voz falou que Putin já comanda "um Estado mais fraco militarmente".

Poucas coisas são mais deletérias ao ouvido da elite russa do que sugestões de humilhação por parte dos americanos, e a perda do cruzador Moskva no mar Negro abalou o prestígio militar russo tanto quanto o fracasso em tomar Kiev em três dias. Isso pode levar, dizem alguns analistas em Moscou, a uma intensificação do conflito no leste e no sul ucranianos para que algum tipo de vitória possa ser anunciado antes que os reforços ocidentais prolonguem a guerra de forma indefinida.

Até aqui, Putin tem sobrevivido em termos de popularidade, e a economia russa, bastante afetada por sanções, também flutua. O quanto isso vai durar é incógnita.

Para os mais pessimistas, um eventual vislumbre de derrota russa poderá fazer com que a carta nuclear, na mesa, seja usada, talvez uma explosão de advertência sobre o mar Negro ou mesmo o uso de uma arma tática de baixa potência na Ucrânia. Mas o cenário é visto como apocalíptico para os russos também, pois poderia dar uma justificativa formal para a Otan entrar de vez na guerra.

Para o analista militar Michael Kofman, do centro americano CNA, os russos estão sofrendo de falta de forças mesmo na nova ofensiva, mais concentrada. Nesse cenário, como sugerem as falas americanas, o Ocidente vê Putin como um cão nuclear que ladra, mas não morde.

Por outro lado, há pressão coordenada para fechar um círculo em torno de tropas ucranianas lutando junto às regiões separatistas do Donbass, o que seria um golpe duro para Kiev se for bem-sucedido.

Como lembra o blog militar russo BMDP, um dos mais influentes nas redes, por outro lado a ofensiva por ora ainda está nas mãos de Putin, o que lhe permite em tese buscar saídas alternativas para poder cantar vitória, ainda que a presumida capitulação de Kiev em poucos dias não tenha se materializado.

 

- Rússia demonstra preocupação após explosões em região separatista na Moldávia

Duas explosões danificaram mastros de rádio da era soviética na região separatista da Transnístria; autoridades dizem que unidade militar também foi alvo

A Moldávia realizou uma reunião de segurança urgente, nesta terça-feira (26), e o Kremlin expressou sérias preocupações depois que duas explosões danificaram mastros de rádio da era soviética na região separatista da Transnístria, onde autoridades disseram que uma unidade militar também foi alvo.

As autoridades moldavas estão sensíveis a qualquer sinal de crescente tensão na Transnístria, uma faixa de terra não reconhecida independente, apoiada por Moscou, na fronteira com o sudoeste da Ucrânia, especialmente desde que a Rússia invadiu a Ucrânia.

A Rússia tem tropas com base permanente na Transnístria desde o colapso da União Soviética. Kiev teme que a região possa ser usada como plataforma de lançamento para novos ataques à Ucrânia.

“Na madrugada de 26 de abril, duas explosões ocorreram na vila de Maiac, distrito de Grigoriopol: a primeira às 6h40 e a segunda às 7h05”, disse o Ministério do Interior da Transnístria.

Nenhum morador ficou ferido, mas duas antenas de rádio que transmitiam rádio russo foram derrubadas, disse.

Separadamente, o Conselho de Segurança da Transnístria relatou um “ataque terrorista” a uma unidade militar perto da cidade de Tiraspol, informou a agência de notícias russa TASS.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres que a notícia é motivo de séria preocupação e que Moscou está acompanhando os acontecimentos de perto.

O gabinete do presidente não reconhecido da Transnístria ordenou que o nível de ameaça terrorista fosse elevado para vermelho e disse que postos de controle seriam montados nas entradas das cidades da região.

Todos os veículos que entrassem à noite seriam verificados, disse.

Os incidentes se seguiram a uma série de explosões que a televisão local informou na segunda-feira que atingiram o Ministério da Segurança do Estado da Transnístria na capital regional, Tiraspol.

Autoridades locais disseram que o prédio foi alvejado por assaltantes não reconhecidos com lança-granadas.

O presidente da Moldávia, Maia Sandu, convocou na terça-feira uma reunião do Conselho Supremo de Segurança do país em resposta aos incidentes.

“O Conselho Supremo de Segurança vai se reunir a partir das 13h00 [horário local] na Presidência. Após a reunião, às 15h, o Presidente Maia Sandu fará uma conferência de imprensa”, disse a assessoria de imprensa do presidente em comunicado.

Na segunda-feira, o governo da Moldávia disse que as explosões em Tiraspol visavam criar tensões em uma região que não tinha controle.

Na semana passada, um alto oficial militar russo disse que a segunda fase do que a Rússia chama de “operação militar especial” inclui um plano para assumir o controle total do sul da Ucrânia e melhorar seu acesso à Transnístria.

 

- Ocupação russa de Chernobyl foi "muito perigosa", diz agência

 

Afirmação é de Rafael Grossi, chefe da Aiea, durante visita à central

 

A ocupação da Central Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, pelo Exército russo, entre 24 de fevereiro e o fim de março, foi "muito, muito perigosa", disse hoje (26) o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), Rafael Grossi, em visita ao local.

 

"A situação era absolutamente anormal e muito perigosa", afirmou Grossi, em entrevista durante visita a Chernobyl, no dia em que se completam 36 anos do pior desastre nuclear da história, ocorrido em 1986.

 

O diretor-geral da Aiea é acompanhado na visita ao local por uma equipe de especialistas, "para entregar equipamentos vitais", incluindo dosímetros e fatores de proteção, e realizar "controles radiológicos e outros", informou a agência da ONU.

 

Os peritos devem "reparar sistemas de monitoramento remoto, que deixaram de transmitir dados para a sede" da agência, em Viena (Áustria), logo após o início da guerra.

 

O local onde se situa Chernobyl, 150 quilômetros a norte de Kiev, foi ocupado pelos militares russos em 24 de fevereiro, o primeiro dia da invasão da Ucrânia, e teve então uma parada na rede de energia e comunicações.

 

Os soldados russos retiraram-se em 31 de março e, desde então, a situação volta gradualmente à normalidade, de acordo com relatórios diários da agência, com base em informações do regulador ucraniano.

 

Rafael Grossi já tinha visitado a Ucrânia no fim de março para lançar as bases de um acordo de assistência técnica. Ele esteve na Central Elétrica do Sul de Yuzhno-Ukrainsk, antes de se encontrar com altos funcionários russos em Kaliningrado, nas margens do Báltico.

 

A Ucrânia tem 15 reatores nucleares em quatro centrais elétricas em funcionamento, além de depósitos de resíduos, como é o caso da Central de Chernobyl, que foi desativada depois do desastre de 1986.

 

Um reator de Chernobyl explodiu nesse ano, contaminando grande parte da Europa, mas especialmente a Ucrânia, a Rússia e a Bielorrússia, que integravam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Denominada zona de exclusão, o território, em raio de 30 quilômetros em volta da central, ainda está fortemente contaminado e é proibido viver lá permanentemente.

 

A Rússia lançou, em 24 de fevereiro, ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de 2 mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

 

A guerra causou a fuga de mais de 12 milhões de pessoas, das quais mais de 5,16 milhões para fora do país, de acordo com dados recentes da organização.

 

 

Fonte: UOL - CNN Brasil - Agência Brasil