Raimundo de Lima - Vatican News
O Santo Padre recebeu em audiência na manhã deste sábado, 23 de abril, na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Simpósio promovido pela Associação “Fiat”: “Nas pegadas do cardeal Suenens-O Espírito Santo, Maria e a Igreja”, um grupo de 120 pessoas.
Dirigindo-se aos membros da Associação, Francisco expressou sua proximidade espiritual a todos e, com eles, agradeceu ao Senhor pela obra do cardeal Suenens e de Veronica O'Brien, um trabalho que continua hoje no seu apostolado.
Em fidelidade às intuições evangélicas de seus fundadores, ressaltou Francisco, vocês estão comprometidos em compartilhar o Evangelho com cada pessoa que a Providência coloca em seu caminho. Dito isso, o Papa acrescentou:
Hoje, a questão da evangelização está no coração da missão da Igreja. Mas hoje é mais explícito; essas duas frases de ouro do Papa Paulo VI: a vocação da Igreja é evangelizar; a alegria da Igreja é evangelizar. Sempre! Mais do que nunca somos todos desafiados a ser protagonistas de uma Igreja em saída, sob o impulso do Espírito Santo. De fato, "uma evangelização com o espírito é uma evangelização com o Espírito Santo, já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora".
O Papa destacou que o mundo está se tornando cada vez mais secularizado. Precisamos de discípulos convencidos em sua profissão de fé e capazes de transmitir a chama da esperança aos homens e mulheres deste tempo.
As tragédias que estamos vivendo neste momento, particularmente a guerra no território da Ucrânia tão próxima a nós, nos lembram a necessidade urgente de uma civilização do amor. No olhar de nossos irmãos e irmãs vítimas dos horrores da guerra, lemos a necessidade profunda e premente de uma vida marcada pela dignidade, paz e amor.
Como a Virgem Maria, prosseguiu o Pontífice, devemos cultivar continuamente o espírito missionário para nos aproximar daqueles que sofrem, abrindo nossos corações para eles. Devemos caminhar com eles, lutar com eles por sua dignidade humana e espalhar o perfume do amor de Deus por toda parte.
Nossa casa comum é abalada por múltiplas crises. Não devemos ter medo das crises; as crises nos purificam, elas nos fazem sair melhor. Sem medo! É por isso que precisamos construir uma humanidade, uma sociedade de relações fraternais e cheia de vida.
Caros amigos, a Igreja tem confiança em vocês, disse o Papa, exortando-os a dar, por suas palavras, ações e testemunhos, uma mensagem forte ao nosso mundo, tão pobre em humanidade.
Que vocês possam haurir, através da oração e da própria missão, à fonte do bem e da verdade e encontrar na comunhão com Cristo que morreu e ressuscitou a força para ver o mundo com um olhar positivo, um olhar de amor, um olhar de esperança, um olhar de compaixão e ternura, com atenção especial para as pessoas menos favorecidas e marginalizadas, concluiu o Santo Padre.
- O Papa: Deus chora pelas vítimas da guerra na Ucrânia
Alessandro Di Bussolo – Vatican News
Maria nos ensina a não ter vergonha de nossas lágrimas, porque chorar significa "abrir-se ao Pai e aos irmãos", deixar-se comover, "comover pelas feridas daqueles que encontramos pelo caminho; saber compartilhar, saber acolher, saber alegrar-se". E as lágrimas de Maria "são também um sinal do pranto de Deus pelas vítimas da guerra que está destruindo não só a Ucrânia", mas todos os povos envolvidos, "o povo vitorioso", assim como "o povo derrotado" e também "aqueles que a observam". Assim o Papa Francisco saudou os quase três mil representantes da comunidade pastoral do Santuário de Nossa Senhora das Lágrimas de Treviglio, no norte da Itália, reunidos este sábado (23/04) na Sala Paulo VI, e lhes confiou a certeza de que a Mãe aceitou a súplica confiada ao seu Imaculado Coração "e intercede pela paz, Ela que é a Rainha da Paz".
A comunidade pediu para se encontrar com o Papa como parte das celebrações dos 500 anos do milagre da lacrimação de uma imagem da Virgem com o Menino, conservada no convento das agostinianas em Treviglio, dia 28 de fevereiro de 1522, enquanto as tropas francesas do General Lautrec estavam prestes a atacar o vilarejo. O general, devoto de Nossa Senhora, depôs seu capacete e sua espada, seguido por seus soldados, e levantou o cerco à cidade, que foi salva da destruição.
Aos fiéis presentes na Sala Paulo VI, acompanhados pelo pároco padre Norberto Donghi e pelo arcebispo de Milão dom Mario Delpini, Francisco recordou os outros santuários dedicados à Virgem Maria que chora, de Siracusa, sul da Itália, a La Salette, na França. "Mas o de vocês - enfatizou - é muito mais antigo". E explicou, oferecendo a todos uma intensa meditação sobre as lágrimas de Maria, que as lágrimas da Mãe "são um reflexo das lágrimas de Jesus". Ele chorou, como nos diz o Evangelho, no túmulo de seu amigo Lázaro e diante de Jerusalém. Em ambos os casos, lembrou o Pontífice, "eram lágrimas de dor. Mas podemos imaginar que Jesus também chorou de alegria, por exemplo, quando viu os pequenos, as pessoas humildes aceitando entusiasticamente o Evangelho".
E Maria, "a primeira discípula", seguiu seu Filho "também na santidade de seus sentimentos, de suas emoções, até mesmo em suas risadas e no pranto". Assim, continuou o Papa Francisco, "certamente lágrimas de alegria brotaram de seus olhos quando ela deu à luz a Jesus" e "viu os pastores e os Magos prostrarem-se diante d’Ele". E ela chorou lágrimas amargas, no final, seguindo-o no caminho doloroso "e enquanto aos pés da cruz". As lágrimas de Maria, esclareceu o Papa, "foram transformadas pela graça de Cristo, como toda a sua vida". Portanto, "quando Maria chora, suas lágrimas são um sinal da compaixão de Deus".
Deus tem compaixão por nós, sempre; e Deus quer nos perdoar. E lembro-lhes de uma coisa: Deus sempre perdoa! Sempre! Somos nós que nos cansamos de pedir perdão. E é por isso que as lágrimas de Nossa Senhora são um sinal da compaixão de Deus, e esta compaixão sempre nos perdoa; são um sinal da dor de Cristo por nossos pecados, pelo mal que aflige a humanidade, especialmente os pequenos, e os inocentes, que são os que sofrem.
Francisco recordou em seguida a referência à guerra na Ucrânia feita em sua saudação pelo pároco padre Norberto:
As lágrimas de Maria são também um sinal do pranto de Deus pelas vítimas da guerra que está destruindo não apenas a Ucrânia; sejamos corajosos e digamos a verdade: ela está destruindo todos os povos envolvidos na guerra. Todos eles. Porque a guerra não destrói apenas o povo derrotado. Não. Também destrói o vencedor; também destrói aqueles que a assistem com notícias superficiais para ver quem é o vencedor, quem é o derrotado. A guerra destrói a todos. Estejamos atentos com isso.
Ao seu Imaculado Coração, recordou o Pontífice, "confiamos nossa súplica e estamos certos de que a Mãe a aceitou e intercede pela paz, porque ela é a Rainha da Paz". E amanhã, frisou Francisco, "será o Domingo da Misericórdia". E ela é a Mãe da Misericórdia. Ela sabe o que significa misericórdia, porque a 'hauriu' de Deus".
Para o povo de Treviso, o Papa Francisco lembrou que "durante cinco séculos sua terra foi regada pelas lágrimas de Maria; de geração em geração seu povo tem sido acompanhado por sua ternura materna". Ela "os ensina a não ter vergonha das lágrimas": "não devemos ter vergonha de chorar" porque os santos "nos ensinam que as lágrimas são um dom, às vezes uma graça, um arrependimento, uma libertação do coração".
Chorar significa abrir-se, romper a carapaça de um eu fechado em si mesmo e abrir-se para o Amor que nos abraça, que está sempre esperando para nos perdoar. Tal é o coração de Deus. Deus está esperando; esperando pelo quê? Pelo perdão, para nos perdoar. Ele está inquieto, é incorrigível: quer perdoar, perdoar... Ele só pede que nós lhe peçamos perdão. Abrir-se ao bom Pai e também abrir-se aos nossos irmãos.
Chorar, continuou o Papa, é "deixar-se comover pelas feridas daqueles que encontramos pelo caminho; saber compartilhar, saber acolher, saber alegrar-se com aqueles que se alegram e chorar com aqueles que choram". E confesso que acredita que em nosso tempo "perdemos o hábito de chorar 'bem'". Perdemos "o choro que vem do coração, o verdadeiro choro como o de Pedro quando ele se arrependeu, como o de Nossa Senhora".
Nossa civilização, nosso tempo, perdeu o sentido do choro. E devemos pedir a graça de chorar diante das coisas que vemos, diante do uso que se faz da humanidade, não só guerras - falei delas - mas o descarte, anciãos descartados, crianças descartadas mesmo antes de nascerem... Tantos dramas de descarte; aquele que é um homem pobre ali e não tem do que viver é descartado, descartado. As praças, as ruas cheias de sem-teto, as misérias de nosso tempo deveriam nos fazer chorar e precisamos chorar.
Há uma missa, recordou Francisco, na Liturgia católica para pedir o dom das lágrimas. "Mas vocês, que têm Nossa Senhora 'tão próxima'", peçam este presente.
E a oração daquela missa diz assim: "Ó Senhor, Tu que tiraste água da rocha, deixa que as lágrimas fluam da rocha do meu coração". O coração da rocha que esqueceu como chorar. Por favor, peçamos a graça de chorar. Todos.
Em conclusão, o Pontífice sublinhou que em nome da comunidade "Nossa Senhora das Lágrimas", existe toda uma pastoral: uma pastoral de ternura, compaixão, proximidade.
Ternura, compaixão e proximidade. Este é o estilo de Deus. O estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Este é o estilo de Deus. Há um estilo pastoral que diz respeito a todos: sacerdotes, diáconos, fiéis leigos, consagrados... Todos próximos, compassivos e ternos. E todas as idades, todas as estações da vida.
Todos "devemos sempre aprender de Maria a seguir Jesus, a deixar seu Espírito moldar nossos sentimentos, nossos desejos, nossos planos e nossas ações de acordo com o coração de Deus", exortou por fim o Pontífice.
- Francisco aos jovens: sejam missionários da alegria e do amor
Benedetta Capelli – Vatican News
Alegres, abertos à nova vida que Jesus dá, prontos para viver uma "caridade discreta e eficaz", "imaginativa e inteligente". Francisco oferece "conselhos úteis" aos jovens que encontrou na manhã deste sábado, 23 de abril, por ocasião do Simpósio Missionário Juvenil, sobre o tema "De volta ao COMIGI: A missão parte novamente do futuro" e 50 anos após o nascimento do Movimento Juvenil Missionário das Pontifícias Obras Missionárias, hoje "Missio jovens".
São três verbos que o Papa indica, três pedras angulares para a missão que, diz Francisco, "deve ser vivida todos os dias". Eles são: "levantar-se, cuidar e testemunhar", "três movimentos muito precisos" para sustentar o caminho. Levantar-se novamente como o jovem filho da viúva de Naim que havia morrido e que Jesus ressuscita, movido pela dor de sua mãe, "a dor daqueles que sofrem muitas vezes de forma composta e digna, daqueles que perderam a esperança, daqueles que já não veem mais um futuro". Reanimar para recomeçar uma ação, "para relançar-se rumo a um futuro de vida, cheio de esperança e de caridade para com nossos irmãos e irmãs".
Jesus nos dá a força para nos levantarmos e nos pede para subtrair-nos da morte do fechamento em nós mesmos, da paralisia do egoísmo, da preguiça, da superficialidade. Estas paralisias estão por toda parte. E são elas que nos bloqueiam e nos fazem viver uma fé de museu, não uma fé forte, uma fé que está mais morta que viva.
Francisco se deteve, em seguida, na figura do Bom Samaritano que cuida do homem que é espancado e atirado na beira da estrada. "Cuidar" é o segundo verbo que indica para "organizar a caridade com projetos de amplo alcance". "Hoje precisamos de pessoas, especialmente jovens, que tenham olhos para ver as necessidades dos mais fracos e - acrescentou o Papa - um grande coração que os torne capazes de se gastar totalmente". O convite é também para olhar para os missionários do passado.
Seguindo seus passos, com o estilo e os métodos adequados aos nossos tempos, cabe agora a vocês realizar uma caridade discreta e eficaz, uma caridade imaginativa e inteligente, não episódica mas contínua ao longo do tempo, capaz de acompanhar as pessoas em seu caminho de cura e crescimento.
Olhando para o testemunho dos apóstolos, Francisco pede aos jovens para "compartilhar a felicidade" com os outros, depois de ter recebido o dom de uma nova vida de Jesus. Testemunhar com a vida, "colocar sua assinatura" no que se quer compartilhar, expor-se, colocar o coração nisso.
Não se esqueçam destes três verbos: levantar-se de sua natureza sedentária, cuidar de seus irmãos e irmãs e dar testemunho do Evangelho da alegria (...) Saúdo vocês com uma frase de São Oscar Romero: "Quanto mais feliz é um homem, mais a glória de Cristo se manifesta nele". Desejo que vocês sejam missionários da alegria, missionários do amor. O anúncio deve ser feito com o sorriso, não com a tristeza.
Fonte: Vatican News