Política

FMI vê guerra na Ucrânia cortar crescimento mundial e favorecer o Brasil





A guerra na Ucrânia, amplificada pelas sanções econômicas aplicadas à Rússia pelos Estados Unidos e aliados na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), levou o FMI (Fundo Monetário Internacional) a promover um corte pesado nas suas projeções para o crescimento da economia mundial em 2022 e anos seguintes. No mais recente relatório "Perspectivas da Economia Mundial", a publicação quadrimestral divulgada nesta terça-feira (19), o FMI projeta expansão econômica global de 3,6%, recuo de 0,8 ponto percentual em relação à previsão de janeiro, de crescimento de 4,4% para o conjunto das economias.

No quadro traçado pelo FMI para sustentar as novas projeções, dois fatores se combinam. O primeiro é o das altas em cotações internacionais de commodities energéticas e alimentícias. Essa elevação nos preços impacta negativamente a demanda e a atividade econômica nos países importadores.

O outro fator são os problemas de logística, com origem nos desarranjos causados pela pandemia, que acarretam falta de suprimentos nas cadeias de produção, contraindo a oferta de bens manufaturados, o que é potencializado pela política chinesa de covid-19 zero, que torna mais frequente e rígida a adoção de lockdowns.

Ambos contribuem tanto para a retração do crescimento nas economias ao redor do mundo quanto para intensificar pressões inflacionárias na maioria dos países.

Esses mesmos elementos produziriam efeito em direções opostas na economia brasileira. A alta das commodities teria, na avaliação do FMI, efeitos líquidos positivos na atividade econômica, e, ao mesmo tempo, ampliará as pressões inflacionárias vigentes.

Nas novas projeções do FMI, a economia brasileira avançará 0,8%, em 2022, bem acima da projeção de crescimento de 0,3%, divulgada em janeiro, mas quase metade do previsto no relatório de outubro de 2021. Ainda assim seria uma expansão modesta, abaixo da prevista para o resto do mundo e mesmo para a América Latina.

A aceleração do ritmo previsto de crescimento seria insuficiente, por exemplo, para absorver volume animador de mão de obra desocupada e preencher capacidade de produção ociosa. O ligeiro crescimento maior viria acompanhado de alta na inflação, que iria a 8,2% em 2022, acima dos 7,5% ainda esperado pelos analistas brasileiros, ao mesmo tempo em que o desemprego resistiria na faixa de 13% da força de trabalho.

O Brasil ocupa posição de destaque no topo da lista dos maiores exportadores de commodities alimentícias (e também de petróleo e metais), e, nessa direção, tem sido beneficiado pela alta nas cotações. As vendas brasileiras do agronegócio ao exterior, em março, por exemplo, foram recordes — subiram 30% em relação a março de 2021.

No outro lado da moeda da alta nas cotações de commodities estão as pressões inflacionárias, derivadas diretamente dos aumentos internacionais nos preços dos grãos e do petróleo, mas também de causas internas, como a política de preços da Petrobras, atrelada aos preços externos e ao dólar. Além disso, a inexistência de políticas de estoques e regulação de mercado de alimentos e a desarticulação da estrutura de apoio à agricultura familiar também impactam negativamente os índices de inflação. Estimativas de que o Banco Central eleve a taxa básica nominal de juros acima de 13%, em 2022 — mantendo-a em cerca de 7% em termos reais — contribuem para limitar o efeito positivo das altas das commodities.

O FMI cortou suas projeções para o crescimento, em 2022, da maior parte dos países, em relação às previsões de janeiro. Para os Estados Unidos, os economistas do Fundo reduziram a estimativa de crescimento econômico em 0,3 ponto percentual, para 3,7%. No caso da China, o corte foi de 0,4 ponto, o que trouxe a expectativa de expansão da atividade para 4,4.

O maior impacto negativo, compreensivelmente, ficou com a Rússia. Na visão do FMI, a economia russa deve mergulhar 8,5% este ano, amargando inflação acima de 20% este ano e ainda cair mais 2,3% em 2023.

Poucos países, além do Brasil, tiveram projeções melhoradas, no relatório de abril, em comparação com os números de janeiro. Foi o caso das previsões do FMI para a América Latina e Caribe, que agora são de crescimento médio regional de 2,5%, em 2022, 0,1 ponto acima do previsto em janeiro. Também países da pobre África Subsaariana cresceriam 0,1 ponto acima do antes estimado, com avanço de 3,8%, neste ano.

Não por coincidência, e mostrando o peso emprestado à questão do fornecimento de petróleo e gás, o maior crescimento em 2002 previsto para um país pelo FMI, na comparação com as previsões do começo do ano, seria alcançado pela Arábia Saudita. Nas projeções do FMI, a economia saudita, um dos maiores produtores e exportadores de petróleo, crescerá 7,6% em 2022, 2,8 pontos acima do estimado em janeiro.

 

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- Putin declara vitória em Mariupol, mas desiste de invadir siderúrgica

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reivindicou nesta quinta-feira vitória na maior batalha da guerra na Ucrânia, declarando o porto de Mariupol "libertado" após quase dois meses de cerco, apesar de centenas de combatentes ucranianos seguirem concentrados em uma siderúrgica na cidade.

A Ucrânia disse que a tentativa de Putin de evitar um confronto final com suas forças na cidade foi um reconhecimento de que ele não tinha condições de derrotá-los.

"Você completou com sucesso o esforço de combate para libertar Mariupol. Deixe-me parabenizá-lo nesta ocasião e, por favor, transmita meus parabéns às tropas", disse Putin ao seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, em uma reunião televisionada no Kremlin.

"Considero desnecessária a proposta de invasão da zona industrial. Ordeno que a cancele", disse ele. "Não há necessidade de escalar essas catacumbas e rastejar no subsolo dessas instalações industriais... Bloqueie essa área industrial para que nem mesmo uma mosca possa passar."

A decisão de não invadir a siderúrgica Azovstal – após dias ordenando que seus defensores se rendessem ou morressem – permitiu a Putin reivindicar sua primeira grande conquista desde que suas forças foram expulsas do norte da Ucrânia no mês passado. Mas fica aquém da vitória inequívoca que Moscou buscava após meses de combates brutais em uma cidade reduzida a escombros.

"Eles fisicamente não podem tomar Azovstal, eles entenderam isso, sofreram enormes perdas lá", disse o assessor presidencial ucraniano, Oleksiy Arestovych, em um briefing. "Nossos defensores continuam resistindo."

Solicitado a comentar a decisão de Putin, o porta-voz do Ministério da Defesa da Ucrânia disse que ela mostra suas "tendências esquizofrênicas".

Mariupol, que já abrigou 400 mil pessoas, foi cenário não apenas da batalha mais intensa da guerra, mas também de sua pior catástrofe humanitária, com centenas de milhares de civis isolados por quase dois meses sob cerco e bombardeio russos.

Fonte: UOL - Agência Brasil