Política

Rússia promete mais ataques contra Kiev em resposta às ofensivas ucranianas





Ministério de Defesa informou que atingiu um alvo militar na capital ucraniana e assumiu o controle de uma usina em Mariupol

O Ministério da Defesa da Rússia disse nesta sexta-feira (15) que atingiu um alvo militar nos arredores de Kiev com mísseis de cruzeiro e prometeu mais ataques contra a capital ucraniana em resposta aos ataques a alvos russos.

A pasta disse que suas forças também assumiram o controle total da Usina de Aço Ilyich na cidade portuária sitiada de Mariupol, que está cercada por tropas russas há semanas.

Explosões poderosas foram ouvidas em Kiev na sexta, as mais significativas desde que as tropas russas se retiraram da área no início deste mês em preparação para batalhas no sul e no leste da Ucrânia.

As explosões foram ouvidas depois que o Ministério da Defesa russo anunciou que o Moskva, o carro-chefe da Frota do Mar Negro da Rússia, havia afundado enquanto era rebocado após ter sido gravemente danificado.

A Ucrânia alegou que os danos do Moskva foram o resultado de um de seus ataques com mísseis, enquanto a Rússia falou apenas em um incêndio causado por munição explosiva.

O Ministério da Defesa disse em seu comunicado que seus ataques noturnos com mísseis em Kiev atingiram uma fábrica na fronteira da capital ucraniana e prometeu mais ataques à capital.

“O número e a escala de ataques com mísseis a alvos em Kiev aumentarão em resposta a quaisquer ataques terroristas ou atos de sabotagem em território russo cometidos pelo regime nacionalista de Kiev”, disse o ministério em comunicado.

 

- Rússia pede ajuda ao Brasil para evitar expulsão do FMI e Banco Mundial

Ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, escreveu carta ao ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes

A Rússia encaminhou um pedido de apoio do governo brasileiro no Fundo Monetário Internacional (FMI), no Banco Mundial e no G20 após sofrer sanções por nações ocidentais diante da invasão à Ucrânia, segundo carta obtida pela Reuters.

O ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, escreveu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, pedindo o “apoio do Brasil para evitar acusações políticas e tentativas de discriminação em instituições financeiras internacionais e fóruns multilaterais”.

“Nos bastidores, há um trabalho em andamento no FMI e no Banco Mundial para limitar ou até expulsar a Rússia do processo de tomada de decisão”, escreveu Siluanov.

A carta, que não faz menção à guerra na Ucrânia, é datada de 30 de março e foi transmitida a Guedes pelo embaixador da Rússia em Brasília na quarta-feira (14).

“Como você sabe, a Rússia está passando por um período desafiador de turbulência econômica e financeira causada por sanções impostas pelos Estados Unidos e seus aliados”, disse o ministro russo.

Questionado sobre a carta, Erivaldo Gomes, secretário de Assuntos Econômicos Internacionais do Ministério da Economia brasileiro, indicou que o governo brasileiro gostaria que a Rússia continuasse nas discussões em organismos multilaterais.

“Do ponto de vista do Brasil… manter o diálogo aberto é essencial”, disse. “Nossas pontes são os órgãos internacionais e nossa avaliação é que essas pontes precisam ser preservadas”.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse na semana passada, que os EUA não participariam de nenhuma reunião do G20 se a Rússia estivesse presente, citando a invasão.

Quase metade das reservas internacionais da Rússia foram congeladas e as transações de comércio exterior estão sendo bloqueadas, incluindo aquelas com parceiros econômicos de mercados emergentes, afirmou Siluanov.

“Os Estados Unidos e seus aliados estão promovendo uma política de isolamento da Rússia da comunidade internacional”, acrescentou.

Siluanov disse ainda que as sanções violam os princípios do acordo de Bretton-Woods, que criou o FMI e o Banco Mundial.

“Consideramos que a atual crise causada por sanções econômicas sem precedentes adotadas pelos países do G7 pode ter consequências duradouras, a menos que tomemos uma ação conjunta para resolvê-la”, escreveu ele a Guedes.

O presidente Jair Bolsonaro, que visitou Moscou poucos dias antes da invasão da Ucrânia, manteve o Brasil neutro na crise e não condenou a invasão, gerando críticas do governo dos Estados Unidos.

Bolsonaro expressou solidariedade à Rússia ao visitar o presidente Vladimir Putin no Kremlin em 16 de fevereiro, cerca de uma semana antes do início da invasão.

O chanceler brasileiro, Carlos França, disse em março que o Brasil se opõe à expulsão da Rússia do G20, conforme solicitado pelos Estados Unidos.

“O mais importante seria, neste momento, que todos esses fóruns –o G20, a OMC, a FAO– possam ter o funcionamento pleno. E para ter o funcionamento pleno, seria preciso que tivesse todos os países, inclusive a Rússia”, disse França em audiência no Senado em 25 de março.

 

- Putin está mudando sua estratégia, e o Ocidente deve fazer o mesmo

Na opinião do analista diplomático Michael Bociurkiw, é hora do Ocidente assumir uma posição mais agressiva contra a Rússia

O que já foi uma das capitais mais bonitas e prósperas da Europa foi transformada ao longo de semanas de agressão russa em uma cidade fantasma assustadora. Monumentos aos fundadores de Kiev e notáveis ​​líderes culturais ucranianos foram fechados com tábuas para protegê-los da destruição.

Em frente à Universidade Nacional Taras Shevchenko de Kiev, uma estátua de seu poeta ucraniano homônimo está completamente escondida atrás de andaimes de proteção. Enquanto isso, o prédio de tijolos vermelhos da universidade é protegido por sacos de areia e guardas armados, sem nenhum professor ou aluno à vista.

Normalmente sob o olhar de Shevchenko, especialmente nesta época do ano, os alunos podem ser vistos no parque socializando ou se aglomerando para as aulas.

Ainda que a vida esteja voltando lentamente para Kiev, provavelmente levará meses até que seja algo parecido com a normalidade. Seja a capital, que parece uma cidade em coma induzido – ou as cidades bombardeadas de Bucha e Borodyanka, que agora são cenas de crimes em massa – é claro que as chamadas sanções ocidentais mordazes não foram capazes de deter o ataque de Putin.

Até que a Ucrânia receba o armamento avançado que pediu, essa destruição deliberada do país – incluindo muitos de seus preciosos ícones culturais e religiosos – continuará.

A chave será orientar uma política ocidental fracassada de apaziguamento para enfrentar a agressão de Putin com uma resposta militar muito mais robusta. Isso inclui dar aos ucranianos a capacidade de proteger seus próprios céus com baterias antimísseis.

Mesmo aqui em Kiev, no centro-norte da Ucrânia, há lembretes diários do longo alcance da agressão russa, com frequentes sirenes de ataques aéreos enviando os poucos moradores que permanecem para abrigos antiaéreos.

Enquanto Moscou tiver a capacidade de enviar mísseis de cruzeiro mortais de longo alcance para qualquer lugar no território ucraniano, nenhuma cidade ou vila pode ser declarada segura.

Com pouco mais de um mês de guerra, os horrores cometidos pelas tropas russas em Kiev e em outros lugares chocaram o mundo e marcaram um novo capítulo sombrio na invasão de Vladimir Putin.

“Soldados russos me estupraram e mataram meu marido”, disse uma mulher a repórteres da BBC. Clarissa Ward, da CNN, relatou duas aldeias que foram ocupadas por russos por mais de um mês e encontrou “infindáveis ​​relatos de horror, execuções, detenções arbitrárias e muito mais”.

Há relatos mais horríveis de centenas de mulheres e crianças sendo levadas para a Rússia contra sua vontade. Essas pessoas são supostamente levadas para “campos de filtragem”, onde são identificadas, presumivelmente na tentativa de impedi-las de revelar a verdade sobre as atrocidades que testemunharam nas mãos de soldados russos.

Como se as atrocidades em Bucha e outras comunidades ao redor de Kiev não fossem suficientes, um ataque com mísseis em uma estação de trem lotada no leste da Ucrânia na semana passada matou pelo menos 50 pessoas, incluindo cinco crianças. Nos restos de um dos mísseis havia uma mensagem pintada com spray que dizia grotescamente: “Para crianças”.
Infelizmente, mais histórias de carnificina provavelmente virão. Putin nomeou no comando da nova fase da guerra um general com histórico de infligir ainda mais brutalidade (se é que isso é possível) – Aleksandr Dvornikov, que ficou conhecido como o “carniceiro da Síria”.

A cada dia que passa, parece que as descobertas da brutal ocupação russa atingem os limites absolutos da compreensão e tolerância humana. E, no entanto, mais atrocidades surgem – levando a narrativa previsível de indignação dos líderes ocidentais que não chega a fornecer à Ucrânia o que ela precisa para acabar com a selvageria de Putin.

Vale a pena repetir que os ucranianos convivem com a guerra híbrida desde 2014, quando a Rússia anexou ilegalmente a Crimeia e invadiu Donbas com separatistas fortemente armados. Alguns ucranianos me dizem que não estão surpresos com o que os russos são capazes de fazer.

Ao longo de 2014 e 2015, vi com meus próprios olhos a evidência da brutalidade russa – aldeias completamente saqueadas, escolas e complexos culturais e religiosos destruídos. Os cadáveres de famílias inteiras nos campos de Donetskdepois que o avião MH17 foi atingido por um míssil russo BUK em 17 de julho de 2014 foi uma cena doentia eternamente gravada em minha mente.

Mas cada uma das escaladas de Putin que não são enfrentadas pela força ocidental direta serve apenas para encorajá-lo ainda mais. As sanções claramente não são eficazes. Será necessária a aniquilação completa da Ucrânia antes que os líderes ocidentais finalmente digam que basta e tomem uma ação direta?

Enquanto isso, ficamos com meias medidas, com o governo Biden parando de dar à Ucrânia o armamento de que precisa. (A Casa Branca diz que os EUA e a OTAN estão fornecendo armas a Kiev em um ritmo histórico). Pode ser “histórico”, mas não conseguiu tirar Putin do curso.

Enquanto o Ocidente hesita sobre onde traçar suas próprias linhas vermelhas quando se trata de atrocidades russas na Ucrânia, um balé geopolítico nos bastidores está se desenrolando entre a Ucrânia e vizinhos de mentalidade semelhante, elaborando suas próprias microalianças e acordos militares.

Espera-se Kiev forjar acordos com membros vizinhos da Otan e membros em potencial que legitimamente se veem na mira dos lançadores de mísseis de Putin. A Eslováquia, por exemplo, está se preparando para transferir os principais sistemas de defesa antimísseis da era soviética para a Ucrânia, com a expectativa de que seu estoque seja preenchido por parceiros ocidentais. Por que isso não foi feito antes pelos EUA e seus aliados é difícil de compreender.

Por enquanto, parece que a Rússia está reorientando seus esforços para expandir sua presença no Donbas, assumindo as áreas orientais de Donetsk e Luhansk controladas pelo governo.

Esforços maciços serão despendidos para proteger ainda mais o cobiçado corredor terrestre que liga a Rússia continental à Crimeia ocupada. Parte desse último esforço será expulsar o desprezado Batalhão Azov de extrema-direita da cidade sitiada de Mariupol, principalmente achatando-a com bombardeios implacáveis.

Alguns especialistas sugeriram que Putin pretende alcançar ganhos mensuráveis ​​na Ucrânia a tempo do desfile do Dia da Vitória de 9 de maio, em Moscou. O pensamento de inúmeras vidas sendo massacradas para que Putin possa cumprir seu prazo é quase grotesco demais para ser contemplado.

Enquanto isso, os ucranianos provavelmente se cansarão de esperar para ver onde estão as linhas vermelhas do Ocidente quando se trata de brutalidade nesta guerra. Enquanto o Reino Unido disse que o uso de armas químicas pelo lado russo significará que “todas as opções estão na mesa”, esse tipo de linguagem está começando a ser tomado aqui como pouco mais do que uma sinalização de virtude.

É hora de os líderes mundiais que estão para selfies com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Kiev apoiarem com ação real contra a máquina assassina de Putin.

Michael Bociurkiw é um analista de relações diplomáticas. Ele é membro sênior do Conselho Atlântico e ex-porta-voz da Organização para Segurança e Cooperação na Europa. As opiniões expressadas nesse comentário são de Bociurkiw.

 
Fonte: CNN Brasil