Política

China acusa EUA de corrida armamentista com míssil hipersônico





Washington fez teste e anunciou projeto com Reino Unido e Austrália dentro de pacto anti-China

A China acusou os Estados Unidos nesta quarta (6) de fomentar uma corrida armamentista na Ásia. A crítica veio após o anúncio americano de que o país e seus parceiros militares Reino Unido e Austrália irão desenvolver um míssil hipersônico.

Segundo o porta-voz da chancelaria chinesa Zhao Lijian, os planos de cooperação bélica dos países dentro do pacto conhecido com Aukus (acrônimo a partir de suas iniciais em inglês) "não apenas aumentam o risco de proliferação nuclear, mas também intensificam ainda mais a corrida armamentista na Ásia-Pacífico". "Os países da região precisam estar altamente vigilantes", disse.

A citação à questão da proliferação se deve ao fato de que o primeiro objetivo declarado do Aukus, fundado em setembro passado, era o de fornecer à Austrália submarinos de propulsão nuclear —mas não para lançar armas atômicas, e sim convencionais.

Na terça (5), os líderes do Aukus, Joe Biden à frente, haviam divulgado a intenção de aprofundar sua cooperação militar, incluindo aí mísseis hipersônicos. A medida é direcionada à China, razão da existência do pacto, mas também à Rússia.

Na guerra da Ucrânia, Moscou testou pela primeira vez em combate um modelo de míssil hipersônico, o Kinjal (punhal, em russo). Do ponto de vista militar, eles não fariam diferença, dado que as defesas antiaéreas ucranianas não têm sofisticação suficiente contra a arma, que voa a até 10 vezes a velocidade do som e pode manobrar, segundo os russos.

Assim, foi tanto um teste prático quanto uma demonstração de força. A China, segundo os EUA, testou um modelo mais sofisticado de míssil hipersônico no fim do ano passado, embora negue o ensaio e diga que se tratava apenas de um experimento espacial.

Até a Coreia do Norte, outra rival americana e apoiada por Moscou e Pequim, entrou na onda e anunciou em janeiro ter lançado um míssil do tipo. Não há confirmação independente disso, mas é evidente que o tema virou prioridade no campo contrário a Washington.

Os americanos vinham patinando no tema, apesar de o pesquiar há décadas. Na terça, contudo, a Darpa (Agência de Pesquisa Avançada de Projetos de Defesa, na sigla inglesa), completou o anúncio de Biden, Boris Johnson (Reino Unido) e Scott Morrison (Austrália) dizendo que havia feito um teste há duas semanas de um novo modelos hipersônico.

Desta vez, ao contrário do que ocorreu no ano passado, o míssil voou 555 km a 19,8 km de altitude com velocidades pouco acima de Mach 5, ou cinco vezes a do som. O teste não foi divulgado antes porque havia o temor de elevar a tensão explosiva com a Rússia devido à guerra.

Dias antes do conflito, Vladimir Putin fez testes de armas hipersônicas e intercontinentais de seu arsenal nuclear. No anúncio da guerra, ameaçou sem muita sutileza usar ogivas atômicas contra quem se intrometesse no assunto e, logo depois, colocou suas forças estratégicas em alerta máximo. De repente, o risco de uma Terceira Guerra Mundial entrou com naturalidade nos discursos de políticos.

O míssil americano utiliza o chamado scramjet, que faz a combustão interna com fluxo de ar supersônico. É o mesmo princípio do russo Tsirkon (zircão), que está em fase avançada de teste, mas não operacional. Já o Kinjal é basicamente um míssil balístico com combustível sólido disparado de aviões, uma tecnologia mais antiga, com a alegada capacidade de manobra.

Os EUA separaram US$ 4,7 bilhões em seu orçamento enviado ao Congresso para o ano fiscal de 2023 (outubro deste ano até setembro do que vem) para hipersônicos, dentro de um orçamento de desenvolvimento de armas que chega a US$ 130 bilhões.

O Aukus é um dos instrumentos da política agressiva de Biden ante a China, que até a guerra havia aproximado Putin e Xi Jinping a ponto de formar uma aliança retórica na Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington. Outro é o Quad, um pacto de segurança com a mesma Austrália e outros dos rivais dos chineses na região, Japão e Índia.

 

- Otan: guerra na Ucrânia pode durar meses ou até anos

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) disse que acredita que a guerra na Ucrânia pode durar muito tempo - meses ou até anos.

Para Jens Stoltenberg, não há sinais de que a Rússia tenha desistido do objetivo de controlar o território ucraniano.

À entrada para a reunião de hoje, em Bruxelas, com os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países aliados, o secretário destacou a necessidade de reforçar o apoio militar à Ucrânia.

Stoltenberg acredita que a retirada das tropas russas de Kiev, a capital ucraniana, serve apenas para que os militares se reagrupem e lancem forte ofensiva na regiões Leste e Sul do país.

 

-  Rússia pagará eurobônus em rublos enquanto reservas ficarem bloqueadas

A Rússia ficou ainda mais perto de um calote da sua dívida internacional nesta quarta-feira (6), uma vez que pagou em rublos detentores de seus eurobônus denominados em dólar e disse que continuará a fazer isso enquanto suas reservas cambiais estiverem bloqueadas por sanções.

Na segunda-feira (4), os Estados Unidos (EUA) impediram a Rússia de pagar aos detentores de sua dívida soberana mais de 600 milhões de dólares em reservas mantidas em bancos norte-americanos, dizendo que Moscou deveria escolher entre drenar suas reservas em dólares ou dar calote.

A Rússia não dá default em sua dívida externa desde que deixou de fazer pagamentos após a Revolução Bolchevique de 1917.

O Kremlin disse que continuará a pagar suas dívidas.

"A Rússia tem todos os recursos necessários para pagar suas dívidas se esse bloqueio continuar e os pagamentos para o serviço da dívida forem bloqueados, (pagamentos futuros) poderão ser feitos em rublos", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Com um total de 15 títulos internacionais com valor de face de cerca de 40 bilhões de dólares pendentes, Moscou conseguiu fazer uma série de pagamentos de cupons de seus eurobônus antes de os EUA interromperem essas transações.

O Ministério das Finanças russo disse hoje que pagou em rublos os detentores dos eurobônus denominados em dólares com vencimento em 2022 e 2042, já que um banco estrangeiro recusou-se a processar uma ordem de pagar 649 milhões de dólares a detentores da dívida soberana.

Segundo o ministério, o banco, cujo nome não divulgou, também não processou o pagamento referente ao vencimento de um título neste ano.

A capacidade da Rússia de cumprir suas obrigações da dívida está em foco, depois que sanções ocidentais em resposta ao que a Rússia chama de "operação militar especial" na Ucrânia congelaram quase metade das reservas estatais do país e limitaram o acesso de Moscou aos sistemas globais de pagamento.

Fonte: Folha - Agência Brasil