Política

Golpe de 64 é um marco da evolução política, diz Ministério da Defesa





O Ministério da Defesa publicou uma Ordem do Dia em referência ao golpe militar de 31 de março de 1964. No texto, o fato é classificado como “marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época”.

No texto da Defesa, o golpe é chamado de “Movimento de 31 de março de 1964”. Não foi adotada a expressão “Revolução de 1964”, usada por décadas pelas Forças Armadas para definir o golpe militar e o consequente regime autoritário que vigorou no país até 1985.

Há 58 anos, a maioria dos meios de comunicação e uma parcela da população deram apoio à iniciativa dos militares que derrubaram o então presidente da República, João Goulart (1919-1976).

“Analisar e compreender um fato ocorrido há mais de meio século, com isenção e honestidade de propósito, requer o aprofundamento sobre o que a sociedade vivenciava naquele momento. A história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização”, diz a Ordem do Dia, a última expedida pelo general Braga Netto.

Ele deve deixar o cargo de ministro da Defesa na 5ª feira (31.mar.2022) para eventualmente se candidatar a algum cargo público nas eleições de outubro. Braga Netto é considerado como possível candidato a vice-presidente, na chapa encabeçada por Jair Bolsonaro (PL).

O texto diz que em 2022, quando a independência do Brasil completa 200 anos, há um convite para “recordar feitos e eventos importantes do processo de formação e de emancipação política do Brasil”.

A Defesa cita eventos históricos do século 20: “A população brasileira rechaçou os ideais antidemocráticos da intentona comunista, em 1935, e as forças nazifascistas foram vencidas na Segunda Guerra Mundial, em 1945, com a relevante participação e o sacrifício de vidas de marinheiros, de soldados e de aviadores brasileiros nos campos de batalha do Atlântico e na Europa”.

Para as Forças Armadas, o período pós-2ª Guerra Mundial criou um cenário no qual a bipolarização global “trouxe ao Brasil um cenário de incertezas com grave instabilidade política, econômica e social, comprometendo a paz nacional”.

Em março de 1964, “as famílias, as igrejas, os empresários, os políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a sociedade em geral aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas”, diz o texto. O golpe de 31 de março de 1964, diz a Ordem do Dia da Defesa, foi para “restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo”.

O texto é assinado por Braga Netto e pelos 3 comandantes militares: Almir Garnier Santos (almirante de Esquadra e comandante da Marinha), general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (comandante do Exército) e tenente Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior (comandante da Aeronáutica).

Liberado por Braga Netto, o texto diz que no pós-1964 “a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político”.

A ditadura militar durou 21 anos. Terminou apenas em março de 1985, quando um civil assumiu a Presidência da República –José Sarney tomou posse na condição de vice de Tancredo Neves (1910-1985), que teve de ser hospitalizado na véspera e depois morreu sem nunca ter assumido.

No final, a Ordem do Dia fala em “reconhecer o papel desempenhado por civis e por militares” que, ao longo dos anos, “deixaram um legado de paz, de liberdade e de democracia, valores estes inegociáveis”.

LEIA A ÍNTEGRA

A seguir, a íntegra da “Ordem do Dia” publicada pelo Ministério da Defesa e 30 de março de 2022, às 20h43, em alusão ao golpe militar de 31 de março de 1964:

“ORDEM DO DIA alusiva ao dia 31 de março

“Publicado em 30/03/2022 20h23

“Brasília (DF), 30/03/2022 – O Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época.

“Analisar e compreender um fato ocorrido há mais de meio século, com isenção e honestidade de propósito, requer o aprofundamento sobre o que a sociedade vivenciava naquele momento. A história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização.

“Neste ano, em que celebramos o Bicentenário da Independência, com o lema “Soberania é liberdade!”, somos convidados a recordar feitos e eventos importantes do processo de formação e de emancipação política do Brasil, que levou à afirmação da nossa soberania e à conformação das nossas fronteiras, assim como à posterior adoção do modelo republicano, que consolidou a nacionalidade brasileira.

“O século XX foi marcado pelo avanço de ideologias totalitárias que passaram a constituir ameaças à democracia e à liberdade. A população brasileira rechaçou os ideais antidemocráticos da intentona comunista, em 1935, e as forças nazifascistas foram vencidas na Segunda Guerra Mundial, em 1945, com a relevante participação e o sacrifício de vidas de marinheiros, de soldados e de aviadores brasileiros nos campos de batalha do Atlântico e na Europa.

“Ao final da guerra, a bipolarização global, que fez emergir a Guerra Fria, afetou todas as regiões do globo, o que trouxe ao Brasil um cenário de incertezas com grave instabilidade política, econômica e social, comprometendo a paz nacional.

“Em março de 1964, as famílias, as igrejas, os empresários, os políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a sociedade em geral aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo. Tudo isso pode ser comprovado pelos registros dos principais veículos de comunicação do período.

“Nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político, que resultou no restabelecimento da paz no País, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional.

“As instituições também se fortaleceram e as Forças Armadas acompanharam essa evolução, mantendo-se à altura da estatura geopolítica do País e observando, estritamente, o regramento constitucional, na defesa da Nação e no serviço ao seu verdadeiro soberano – o Povo brasileiro.

“Cinquenta e oito anos passados, cabe-nos reconhecer o papel desempenhado por civis e por militares, que nos deixaram um legado de paz, de liberdade e de democracia, valores estes inegociáveis, cuja preservação demanda de todos os brasileiros o eterno compromisso com a lei, com a estabilidade institucional e com a vontade popular.

“Walter Souza Braga NettoMinistro de Estado da Defesa

“Almirante de Esquadra Almir Garnier SantosComandante da Marinha

“General Paulo Sérgio Nogueira de OliveiraComandante do Exército

“Tenente Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista JuniorComandante da Aeronáutica”

Fonte: Poder360