O Brasil teve 1,76 milhão de mortes no ano de 2021, mostra prévia dos dados do SIM (Sistema de Informação Sobre Mortalidade). O número é 13,5% maior que o de 2020 e 30,6% superior à mortalidade de 2019, último ano antes da pandemia.
Os números divulgados pelo Poder360 são a 1ª prévia da principal base de dados de mortalidade do Brasil, o SIM (Sistema e Informações sobre Mortalidade). As informações passam por investigação e consolidação durante meses antes de entrar no sistema. Os dados devem sofrer atualizações, assim que mais casos forem elucidados. O nº de mortes, portanto, irá crescer
O sistema, atualizado recentemente com dados até dezembro do ano passado, mostra 629 mil mortos por covid somando os dois últimos anos. São 9.633 óbitos a mais do que os notificados pelo Ministério da Saúde durante o período.
Pesquisadores apontam subnotificação para explicar a diferença. “Algumas mortes não tem confirmação de covid na hora e às vezes nem se deixa como suspeita. Mas, depois de sair o resultado de um exame, verifica-se que foram covid e o dado entra no SIM”, diz a médica epidemiologista Fátima Marinho, especialista sênior da Vital Strategies, organização global composta por especialistas e pesquisadores com atuação junto a governos.
Além disso, parte das notificações de 2022 se refere a mortes que ocorreram em 2021.
É possível verificar que durante a pandemia houve redução de mortes, especialmente em 3 grupos de doenças:
São duas as causas principais, de acordo com a pesquisadora de mortalidade Fátima Marinho. A 1ª é que a covid competiu e se sobressaiu em relação a outros vírus respiratórios, como o influenza, durante esse tempo. Como eles circularam menos, há menos mortes relacionadas a eles reportadas.
Outra razão é que pessoas com doenças terminais ou pessoas idosas que morreriam naquele ano de outros males acabaram contraindo a covid e tendo o óbito relacionado a ela. “Tem essa parte que é risco competitivo. A pessoa ia morrer de câncer, mas foi no hospital tratar e pegou covid”, diz Fátima Marinho.
Há também outras pequenas reduções de mortalidade relacionadas à pandemia, como a de acidentes de trânsito. Foram de 64.744 mortes em 2019 para 60.835 em 202o e 59.666 em 2021. Não é que as estradas ficaram mais seguras ou os motoristas mais cautelosos. Como as pessoas fizeram menos trajetos, o número de mortes por essa causa caiu.
Fátima afirma que há grande quantidade de mortes que deixaram de ser identificadas como covid no atestado de óbito. E que esse número deve superar o de pessoas que morreriam de outras causas naquele ano, mas acabaram contraindo covid.
A pesquisadora participou de estudo que estima que pelo menos 37.163 mortes de covid deixaram de ser identificadas como tal em 2020. A pesquisa faz investigação por amostragem e conclui que várias mortes classificadas apenas como “síndrome respiratória” ou pneumonia eram, na verdade, covid.
O registro de mortes com causas mal definidas ou inespecíficas dobrou de 2019 para 2021. Esse tipo de classificação recebe o nome de “garbage code” (código lixo) por especialistas por se tratar de uma classificação falha, que não consegue chegar à causa específica da doença que levou à morte.
Haviam sido registradas 434 mil mortes com garbage code em 2019. Passaram a 682 mil em 2020 e a 904 mil em 2021.
“A gente sabe que uma parte disso é covid. Nossos estudos, com investigação por amostragem, demonstram isso”, afirma Fátima Marinho.
Fonte: Poder360