Política

Zelensky diz que Ucrânia está pronta para aceitar status neutro; negociações ocorrerão na Turquia





A próxima rodada de negociações entre a Rússia e a Ucrânia será realizada em Istambul nesta terça-feira (29), informou a presidência da Turquia. O encontro entre representantes dos países acontecerá após o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarar no domingo (27) que a Ucrânia está pronta para aceitar um status neutro como parte de um acordo de paz. 

Garantias de segurança e o status neutro e não nuclear de nosso estado. Estamos prontos para aceitar isso. Este é o ponto mais importante

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia

As negociações em Istambul, segundo o Kremlin, buscam um acordo de paz entre as delegações para interromper a guerra, que teve início em 24 de fevereiro. Os negociadores devem chegar à Turquia ainda nesta segunda-feira (28), mas é improvável que as negociações ocorram ainda hoje.

O presidente russo, Vladimir Putin, e seu colega turco, Tayyip Erdogan, concordaram em uma ligação telefônica no domingo para Istambul sediar o encontro. Até agora, Ucrânia e Rússia se sentaram à mesa para algumas rodadas de negociações. Houve a tentativa de abertura de corredores para retirada da população e chegada de ajuda humanitária.

Destaques das últimas 24 horas

  • Secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, diz que guerra nuclear deve e será evitada
  • Guerra já causou prejuízo de mais de US$ 560 bilhões à Ucrânia, diz ministra da Economia local, Yulia Svyrydenko
  • Governos da Rússia e Ucrânia devem se encontrar nesta terça (29) em Istambul
  • Putin quer dividir a Ucrânia como as Coreias, diz chefe militar do país
  • Ucrânia está pronta para aceitar status neutro e não nuclear, diz Zelensky
  • Maior avanço militar da Rússia é ao sul de Mariupol, diz Reino Unido
  • Brasil recebe mais de 200 refugiados ucranianos a partir dessa semana

 

- Zelensky diz que Moscou está “assustada” com sua entrevista a jornalistas russos

Órgão russo alertou os meios de comunicaçaõ do país sobre a distribuição da conversa do presidente ucraniano com veículos independentes

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky reagiu à tentativa da Rússia de censurar sua entrevista com jornalistas russos independentes, dizendo que Moscou está “assustada” por jornalistas “que podem dizer a verdade”.

“Pessoas fortes de nosso país forte, hoje é o dia em que estou convencido repetidamente de quão longe estamos da Federação Russa”, disse Zelensky em um vídeo compartilhado neste domingo (27).

“Imaginem, eles ficaram assustados em Moscou por causa da minha entrevista com jornalistas russos. Aqueles que podem dizer a verdade”.

O órgão de vigilância da mídia de Moscou, Roskomnadzor, emitiu um comunicado no domingo alertando os meios de comunicação russos contra a retransmissão ou distribuição da entrevista.

“(Eles) destruíram a liberdade de expressão em seu Estado, (e estão) tentando destruir o Estado vizinho. Eles se retratam como atores globais, e têm medo de uma conversa relativamente curta com vários jornalistas”, disse Zelensky. “Se ocorreu tal reação, então estamos fazendo tudo certo. Significa que estão nervosos”.

A longa entrevista em vídeo, postada na íntegra no canal do Telegram de Zelensky, apresentou perguntas de alguns dos jornalistas independentes mais proeminentes da Rússia, incluindo os autores Mikhail Zygar e Tikhon Dzyadko, editor-chefe do canal recentemente fechado TV Rain.

 

- Ucrânia não abre mão de integridade territorial em negociações

Ucrânia e Rússia devem manter, nesta segunda-feira (28), as primeiras negociações de paz presencialmente, em mais de duas semanas., Kiev insiste que não fará concessões sobre a integridade territorial da Ucrânia, conforme o clima no campo de batalha muda a seu favor.

Autoridades ucranianas minimizaram chances de grande avanço nas negociações, que serão realizadas em Istambul depois que o presidente turco, Tayyip Erdogan, falou com o líder russo, Vladimir Putin, nesse domingo.

O fato de a conversa ocorrer pessoalmente, pela primeira vez desde uma reunião amarga entre ministros das Relações Exteriores em 10 de março, é um sinal de mudanças nos bastidores, à medida que a invasão russa enfrenta dificuldades.

No terreno, não havia sinal de alívio para civis em cidades sitiadas, especialmente no devastado município portuário de Mariupol, cujo prefeito disse que 160 mil pessoas estavam retidas. Ele acusou a Rússia de impossibilitar a retirada.

Uma autoridade turca de alto escalão afirmou que as negociações de Istambul começam nesta segunda-feira, mas o Kremlin disse mais tarde que não devem começar até terça-feira, acrescentando que é importante que elas ocorram pessoalmente, apesar do escasso progresso até agora.

Mykhailo Podolyak, chefe da delegação ucraniana, informou à Reuters que o horário de início depende da chegada das delegações. 

Autoridades ucranianas têm sugerido repetidamente, nas últimas semanas, que acreditam que a Rússia poderia estar mais disposta a se comprometer,. Para as lideranças, qualquer esperança que Moscou possa ter de impor novo governo a Kiev desapareceu diante da forte resistência ucraniana e das pesadas perdas russas.

As Forças Armadas da Rússia sinalizaram, na semana passada, que estavam mudando o foco para se concentrar na expansão do território controlado pelos separatistas no Leste da Ucrânia, um mês depois de terem comprometido a maior parte de sua enorme força de invasão em um ataque fracassado a Kiev.

Quando os lados se encontraram pessoalmente pela última vez, a Ucrânia acusou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, de ignorar os apelos para discutir um cessar-fogo. Lavrov disse que a interrupção dos combates nem estava na agenda.

Desde então, eles têm feito reuniões por videoconferência, em vez de presencialmente. Os dois lados discutiram publicamente o progresso em uma fórmula diplomática, sob a qual a Ucrânia pode aceitar algum tipo de statusformal neutro. Mas nenhum deles cedeu às demandas territoriais da Rússia, incluindo a Crimeia, que Moscou apreendeu e anexou em 2014, e territórios orientais conhecidos como Donbass, que Moscou exige que Kiev ceda aos separatistas.

"Não acredito que haverá qualquer avanço nas principais questões", disse o assessor do Ministério do Interior ucraniano, Vadym Denysenko.

 

- Kiev suspende corredores humanitários para evitar provocações

Kiev anunciou que nenhum corredor humanitário para retirada de civis será usado hoje (28) para evitar "eventuais provocações" russas, antes de uma nova sessão presencial de negociações entre as delegações russa e ucraniana na Turquia.

"Os nossos serviços de informações avisaram sobre possíveis provocações nas rotas dos corredores humanitários, portanto, por razões de segurança para os civis, nenhum corredor humanitário estará aberto hoje", disse a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, em mensagem no Telegram.

Os corredores humanitários são geralmente organizados a cada dia, a partir das cidades mais afetadas pelos combates, para permitir a retirada de civis.

A Ucrânia tem denunciado repetidamente ataques russos a esses corredores, especialmente ao redor da cidade cercada e devastada de Mariupol, no Sul do país.

Dois corredores para retirada de cidadãos da região de Dombass foram criados nesse domingo, segundo a agência de notícias ucraniana Unian, já tendo sido transferidas para território seguro cerca de mil pessoas.

Inicialmente, estava prevista continuidade do trabalho hoje na rota de evacuação de Mariupol e a abertura de um corredor na região de Sumy.

"Continuamos a trabalhar em acordos para abrir outras rotas de corredores humanitários", garantiu Vereshchuk em mensagem de vídeo divulgada ontem.

A Rússia lançou, em 24 de fevereiro, ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.119 civis, incluindo 139 crianças, e feriu 1.790, entre os quais 200 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra provocou a fuga de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,8 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.

A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento à Ucrânia e o reforço de sanções econômicas e políticas a Moscou.

 

- Kremlin diz que fala de Biden sobre Putin é alarmante

Para o governo americano, Putin não poderia permanecer no poder

O Kremlin disse nesta segunda-feira (28) que a afirmação do presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, de que Vladimir Putin não poderia permanecer no poder é motivo de alarme, em resposta ponderada a um apelo público dos EUA pelo fim do regime de 22 anos de Putin.

"Pelo amor de Deus, este homem não pode permanecer no poder", disse Biden no sábado (26), ao final de discurso para uma multidão em Varsóvia. Ele descreveu a invasão russa da Ucrânia como batalha em um conflito muito mais amplo entre democracia e autocracia.

A Casa Branca tentou esclarecer as observações de Biden, e o próprio presidente disse nesse domingo que não estava pedindo uma mudança de regime.

Perguntado sobre o comentário de Biden, que teve pouca cobertura na televisão estatal russa, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: "Esta é uma declaração que certamente é alarmante".

"Continuaremos acompanhando as declarações do presidente dos EUA da maneira mais atenta possível", disse Peskov a repórteres.

Putin tem servido como líder supremo da Rússia desde que Boris Yeltsin renunciou em 1999. O Kremlin diz que Putin é um presidente eleito democraticamente e que o povo russo - em vez dos Estados Unidos - é quem decide quem lidera o país.

A fala de Biden pode alimentar as acusações de autoridades russas de que os Estados Unidos estão interessados em derrubar Putin.

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev afirmou que Washington quer destruir a Rússia, e o chefe do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, afirmou que os EUA procuram provocar uma "revolução colorida" como as da Geórgia, Ucrânia e outros Estados pós-soviéticos.

Para Putin,  a "operação militar especial" da Rússia na Ucrânia foi necessária porque os Estados Unidos estavam usando o país para ameaçar a Rússia e que Moscou teve que se defender contra a perseguição.

A Ucrânia rejeita as alegações de perseguição como pretexto infundado para a invasão.

 

- Biden diz que comentário sobre Putin sair do poder foi “indignação moral”

 

Durante pronunciamento na Polônia, presidente dos EUA afirmou que o líder russo não deveria continuar na presidência do país

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta segunda-feira (28) que não está voltando atrás em suas declarações de que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não pode permanecer no poder. O líder americano ainda considerou que suas declarações expressaram a sua “indignação moral”, e não uma vontade de mudança de regime.

No último sábado (26), durante uma visita à Polônia, Biden disse que Putin não deveria mais permanecer no poder. O presidente americano ainda chamou Putin de “ditador” e atacou o presidente russo pela operação do Kremlin que levou à Guerra na Ucrânia.

“Não estou voltando atrás em nada”, disse Biden durante pronunciamento na Casa Branca, enfatizando que seu comentário não estava expressando uma vontade de mudança de política, mas sim uma opinião com base em suas emoções do dia. “Eu estava expressando a indignação moral que senti em relação à maneira como Putin está lidando e as ações desse homem”.

“Eu não peço desculpas por isso”, disse ele. O presidente continuou: “Eu estava expressando exatamente o que disse — a indignação moral que sentia por esse homem. Eu não estava articulando uma mudança de política. E eu acho que se ele continuar neste curso, ele vai se tornar um pária em todo o mundo”.

Possível escalada de tensão

Biden descartou a possibilidade de seus comentários elevarem as tensões do conflito na Ucrânia, e disse que sua fala durante o discurso na Polônia não enfraqueceu a Otan. “A Otan nunca, nunca foi tão forte quanto hoje”, pontuou.

O presidente dos EUA também considerou que não se importa com o que Vladimir Putin pensa de seu comentário de que ele não deveria estar no poder na Rússia.

“Eu não me importo com o que ele pensa. Ele vai fazer o que ele vai fazer”, disse Biden quando perguntado por um repórter se ele estava preocupado que Putin veria o comentário como uma escalada.

Biden disse estar cético de que Putin possa ser influenciado por qualquer evento externo, incluindo sua observação.

“Dado seu comportamento recente, as pessoas devem entender que ele fará o que acha que deve fazer, ponto final”, disse. “Ele não é afetado por mais ninguém, incluindo, infelizmente, seus próprios assessores. Esse é um cara que vai ao ritmo de seu próprio baterista. E a ideia de que ele vai fazer algo ultrajante porque eu o chamei pelo que ele era e o que ele está fazendo eu acho que não é racional”, concluiu o presidente americano.

De acordo com Biden, sua fala foi direcionada ao povo russo. “A última parte do discurso foi falar com o povo russo.Eu estava comunicando isso não apenas ao povo russo, mas ao mundo inteiro. Ou seja, isso é apenas afirmar um simples fato de que esse tipo de comportamento é totalmente inaceitável. E a maneira de lidar com isso é fortalecer e manter a Otan completamente unida e ajudar a Ucrânia onde pudermos”, afirmou.

Reação do Kremlin

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou nesta segunda-feira que a fala de Biden na Polônia causa preocupação ao governo russo.

“Essas declarações certamente estão causando preocupação”, disse Peskov nesta segunda em uma teleconferência com jornalistas quando questionado sobre os comentários de Biden.

“Não cabe a Biden decidir. O presidente da Rússia é eleito pelos russos”, completou Peskov.

 

Fonte: CNN Brasil - Agência Brasil