Política

Bolsonaro cita 'covardia' e diz que 'bota cara no fogo' por Milton Ribeiro





O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse não ter desconfianças do ministro da Educação, Milton Ribeiro. O posicionamento ocorre em meio a suspeitas levantadas com a divulgação de um áudio, no qual Ribeiro afirma que o governo federal prioriza prefeituras ligadas a dois pastores.

O áudio foi revelado pela Folha de S. Paulo. Essa é a primeira vez que Bolsonaro fala publicamente do assunto.

O presidente garantiu que o ministro tomou as providências necessárias. "O Milton, coisa rara eu falar aqui, eu boto a minha cara no fogo pelo Milton. Minha cara toda no fogo pelo Milton", disse em sua transmissão ao vivo semanal.

Bolsonaro reforçou que a situação já foi encaminhada. "A CGU (Controladoria-Geral da União) por seis meses investigou o caso. Chegou à conclusão que não tinha a participação de nenhum servidor público, zero, nenhum servidor público. E resolveu então encaminhar essas peças para a PF (Polícia Federal)", falou.

Para o chefe do Executivo, "estão fazendo uma covardia com o ministro Milton" e ele tem sido pressionado a indicar outra pessoa para o cargo. "Não vou botar palavra na boca dele, para não atrapalhar a investigação", completou.

O presidente usou a situação como exemplo do combate a irregularidades em seu governo. "Por que não tem corrupção no meu governo? Porque a gente age dessa maneira. A gente sempre está um passo a frente. Ninguém pode pegar alguém e dizer 'ó, você está desviando'. Tem que ter prova, poxa, se não é uma ação contra a gente", afirmou.

Investigações abertas

O MPF (Ministério Público Federal) vai investigar se os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos tiveram interferência nas verbas do Ministério da Educação e para quais municípios elas iam. A investigação terá caráter civil, para fiscalização da política pública.

A investigação foi autorizada pela procuradora da República Luciana Loureiro Oliveira após o caso ser enviado pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP). Com relação à investigação sobre improbidade administrativa e possível crime, ainda cabe redistribuição.

Já no STF (Supremo Tribunal Federal), a ministra Carmén Lúcia determinou hoje a abertura de um inquérito para investigar Milton Ribeiro.

A decisão da ministra atende a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República). A PGR vai apurar as suspeitas dos crimes de corrupção passiva, advocacia administrativa e tráfico de influência.

O conteúdo do áudio

Na gravação, Ribeiro fala dos pastores evangélicos Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura Correia. "Foi um pedido especial que o Presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", diz o ministro no áudio obtido pela Folha de S. Paulo. Sem cargos, eles atuam em um esquema informal de obtenção de verbas do MEC (Ministério da Educação).

Na conversa, participaram prefeitos, os dois religiosos e lideranças do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Na reunião, que aconteceu dentro do MEC, o ministro falou sobre o orçamento da pasta, cortes na educação, e ainda sobre a liberação de recursos para essas obras

"Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar", diz o ministro.

Para isso, porém, Milton Ribeiro fala em uma contrapartida: "então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas". Na gravação obtida pela Folha, porém, o ministro não detalha como isso seria feito.

De acordo com relatos feitos sob anonimato à Folha por gestores e assessores, os pastores negociam a liberação de recursos às prefeituras em restaurantes e hotéis de Brasília, e depois entram em contato com o ministro. O chefe do MEC, então, determina ao FNDE a oficialização do empenho, reservando o recurso.

Ainda conforme informações do jornal, políticos foram recebidos na casa de Milton Ribeiro fora da agenda oficial. O prefeito de Rosário (MA), Calvet Filho (PSC), gravou um vídeo com o ministro no apartamento dele em Brasília. À reportagem da Folha, ele disse que o encontro foi informal. Ele também negou ter negociado obras com os pastores, tendo conversado com eles apenas "para organizar pregações" na cidade.

No ano passado, em evento no MEC com os dois pastores, prefeitos conseguiram a liberação de recursos para novas obras. Um deles, da cidade de Anajatuba (MA), que tem 27 mil habitantes, conseguiu seis obras empenhadas. De acordo com a reportagem, a prefeitura sequer comprou os terrenos.

Segundo o prefeito do município Helder Aragão (MDB), ele se encontrou com o pastor Arilton em um hotel da capital federal, mas disse não ter amizade com ele: "Fui até um hotel em Brasília onde tinha vários prefeitos e ele falava que conseguia obra para o FNDE". Aragão garantiu, porém, que não negociou obras com os pastores nem com pessoas do MEC, e que os empenhos foram garantidos pelos meios corretos.

 

- “Nunca esteve em Brasília”, diz Bolsonaro sobre Wal do Açaí

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que sua ex-assessora Walderice Santos da Conceição, conhecida como “Wal do Açaí”, nunca esteve em Brasília no período em que trabalhou no gabinete do chefe do Executivo enquanto ele ainda era deputado.

Na 3ª feira (22.mar), o MPF (Ministério Público Federal) entrou com uma ação de improbidade administrativa contra Bolsonaro e sua ex-assessora. Ela era investigada por ter supostamente sido “funcionária fantasma” no gabinete de Bolsonaro entre 2003 e 2018.

Ela ficava na Vila Histórica de Mambucaba. E nunca esteve em Brasília. Estou confessando aqui. Nunca esteve”, disse em live nas redes sociais.

Bolsonaro declarou que cada congressista tem direito a ter 25 servidores em seu gabinete e que “em média” metade dos profissionais fica no Estado de origem do deputado ou senador. Em tom de crítica, ele afirmou que a decisão do MPF “pega mal” e dá “vergonha”.

Dá até vergonha o MP investigar isso aí. Wal nunca esteve em Brasília. Não precisa interrogar a Wal, não. Nem a mim. Eu estou confessando. Ela nunca esteve em Brasília, é verdade”, declarou. 

Em comunicado, o MPF afirmou que Bolsonaro “tinha ciência” de que tanto Walderice quanto o companheiro dela, Edenilson Nogueira Garcia, prestavam serviços de natureza particular ao então deputado. Mesmo assim, “atestou falsamente a frequência dela ao trabalho em seu gabinete para comprovar a jornada laboral exigida pela Câmara dos Deputados, de 40 horas semanais, e, assim, possibilitar o pagamento dos salários”.

Além de responder por improbidade administrativa, a ação pede o ressarcimento dos recursos públicos indevidamente desviados durante o período em que Wal do Açaí era lotada como funcionária do gabinete.

Ao defender a ex-assessora, Bolsonaro disse que Wal é uma pessoa “humilde” e fatura menos de um salário-mínimo por mês. “Por que essa perseguição, escândalo? Fica humilhando uma senhora, casada, que tem respeito pelo pessoal que está lá, como se fosse uma bandida”, afirmou.

Folha de S.Paulo revelou em janeiro 2018 o caso envolvendo a contratação de Wal do Açaí. Na transmissão ao vivo, Bolsonaro afirmou que na época em que a reportagem foi divulgada Walderice estava de férias por isso, estava em sua loja de açaí quando foi procurada.

Fonte: UOL - Poder360