Cultura

Papa: onde reinam o amor e a fraternidade, o mal já não tem poder





"O mal nunca pode vir de Deus porque Ele "não nos trata segundo os nossos pecados", mas segundo a sua misericórdia. "É o pecado que produz a morte; são os nossos egoísmos que despedaçam os relacionamentos; são nossas escolhas erradas e violentas que desencadeiam o mal." A verdadeira solução, portanto, é a conversão, com o convite para acolhê-la com o coração aberto

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Um Deus castigador, que envia desgraças para punir nossos pecados? Não, “Deus é Pai e olha para nós como um pai, o melhor dos pais. Não vê os resultados que você ainda não alcançou, mas os frutos que você ainda poderá dar". Um belo nome para ele seria "o Deus de outra possibilidade".

Inspirado no Evangelho de Lucas (Lc 13,1-9), Francisco procura desfazer a ideia que muitas vezes temos de um Deus responsável pelas nossas desgraças, muitas das quais, meras consequências de nossos pecados, de escolhas equivocadas que desencadeiam o mal. Assim, especialmente neste tempo da Quaresma, o convite urgente à conversão.

Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro, o Papa começa explicando a passagem do Evangelho que fala das notícias que chegavam a Jesus de mortes devido à violência de Pilatos e da queda da torre de Siloé. Diante destas tragédias, as pessoas queriam saber quem era o culpado. “Talvez essas pessoas fossem mais culpadas do que outras e Deus as puniu?”, perguntavam. Questionamentos, observou Francisco, “sempre atuais”:

Quando as más notícias nos oprimem e nos sentimos impotentes diante do mal, muitas vezes nos perguntamos: trata-se, quem sabe, de um castigo de Deus? É Ele quem envia uma guerra ou uma pandemia para nos punir por nossos pecados? E por que o Senhor não intervém?

No contexto destes questionamentos, um alerta:

Devemos estar atentos: quando o mal nos oprime, corremos o risco de perder a lucidez e, para encontrar uma resposta fácil para o que não podemos explicar, acabamos culpando a Deus.  E tantas vezes o mal hábito das blasfêmias vem disto. Quantas vezes atribuímos a Ele as nossas desgraças, atribuimos as desventuras no mundo a Ele que, pelo contrário, sempre nos deixa livres e, portanto, nunca intervém impondo-se, apenas propondo-se; a Ele que nunca usa a violência e, de fato, sofre por nós e conosco!

O Papa explica que Jesus “rejeita e contesta fortemente a ideia de atribuir nossos males a Deus: aquelas pessoas que foram mortas por Pilatos e aqueles que morreram debaixo da torre não eram mais culpados do que os outros e não são vítimas de um Deus impiedoso e vingativo, que não existe!”.

“O mal nunca pode vir de Deus porque Ele "não nos trata segundo os nossos pecados", mas segundo a sua misericórdia. É o estilo de Deus. Não pode tratar-nos de outra forma. Sempre nos trata com misericórdia.”

Ao contrário, ao invés de culparmos Deus, devemos olhar para dentro de nós mesmos:

É o pecado que produz a morte; são os nossos egoísmos que despedaçam os relacionamentos; são nossas escolhas erradas e violentas que desencadeiam o mal.

A verdadeira solução, portanto, é a conversão: "Se não vos converterdes - diz ele – ireis morrer todos do mesmo modo":

É um convite urgente, sobretudo neste tempo de Quaresma. Acolhamo-lo com o coração aberto. Convertamos-nos do mal, renunciando àquele pecado que nos seduz, abramo-nos à lógica do Evangelho: porque, onde reinam o amor e a fraternidade, o mal já não tem poder!

Francisco recorda que Jesus sabe que “não é fácil converter-se, e que nos ajudar nisto. Sabe que tantas vezes recaímos nos mesmos erros e nos mesmos pecados; que nos desencorajamos e, talvez, nos pareça que nosso esforço no bem é inútil em um mundo onde o mal parece reinar.”

Assim, depois do apelo à conversão – acrescentou o Papa – Jesus nos encoraja com uma parábola que fala da paciência de Deus, com a “imagem consoladora de uma figueira que não dá frutos no período estabelecido, mas que não é cortada: lhe é dada mais tempo, outra possibilidade”:

“Gosto de pensar que um belo nome de Deus seria "o Deus de outra possibilidade": ele sempre nos dá outra oportunidade, sempre, sempre. Assim é a sua misericórdia.”

E observa que “assim faz o Senhor conosco: não nos separa de seu amor, não desanima, não se cansa de nos devolver a confiança com ternura”:

Irmãos e irmãs, Deus acredita em nós! Deus confia em nós e nos acompanha com paciência, a paciência de Deus conosco. Ele não desanima, mas sempre coloca esperança em nós. Deus é Pai e olha para você como um pai: como o melhor dos pais, não vê os resultados que você ainda não alcançou, mas os frutos que você ainda poderá dar; não leva em conta suas faltas, mas encoraja suas possibilidades; não se concentra no seu passado, mas aposta com confiança no seu futuro. Porque Deus está perto de nós, Ele está perto de nós. O estilo de Deus - não esqueçamos -: proximidade, ele está próximo, com misericórdia e ternura. E assim nos acompanha Deus: próximo, misericordioso e terno.

Peçamos, portanto, à Virgem Maria - foi o convite do Santo Padre ao concluir - que nos dê esperança e coragem, e acenda em nós o desejo de conversão.

 

- Papa: agressão contra a Ucrânia é desumana e sacrílega

Agressão violenta e guerra repugnante, massacre insensato, guerra desumana e sacrílega, crueldade. O Papa Francisco não mediu palavras no Angelus deste domingo para condenar a agressão russa contra a Ucrânia.

Neste domingo, o Papa Francisco renovou o apelo às autoridades para encontrar uma solução para a guerra na Ucrânia. Ele recordou sua visita na tarde deste sábado, 19, às crianças ucranianas internadas no Hospital Bambino Gesù e reiterou seu convite a todos para se unirem à oração de consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria na próxima sexta-feira:

Queridos irmãos e irmãs, infelizmente a agressão violenta contra a Ucrânia não para, um massacre insensato onde a cada dia se repetem destruição e atrocidades. Não há justificativa para isso. Suplico a todos os atores da comunidade internacional, para que se empenhem realmente para pôr fim a esta guerra repugnante.

Também esta semana mísseis e bombas atingiram civis, idosos, crianças e mães grávidas. Fui encontrar as crianças feridas que estão aqui em Roma, uma está sem um braço, outra está ferida na cabeça, crianças inocentes.

Penso nos milhões de refugiados ucranianos que têm que fugir deixando tudo para trás, e sinto uma grande dor por aqueles que nem sequer têm a possibilidade de escapar. Tantos avós, doentes e pobres separados dos familiares, tantas crianças e pessoas frágeis continuam a morrer sob as bombas sem poder receber ajuda e encontrar segurança.

Tudo isso é desumano, na verdade é também um sacrilégio porque vai contra a sacralidade da vida humana. Sobretudo contra a vida humana indefesa, que deve ser respeitada e protegida, não eliminada. O que vem antes de qualquer estratégia. Não esqueçamos que é uma crueldade desumana e sacrílega. Rezemos em silêncio por aqueles que sofrem.........

Consola-me saber que à população deixada sob as bombas não falta a proximidade dos pastores, que nestes dias trágicos vivem o Evangelho da caridade e da fraternidade. Eu ouvi alguns deles ao telefone esses dias, eles estão próximos do povo de Deus. Obrigado por este testemunho, pelo apoio que vocês estão oferecendo a tantas pessoas desesperadas.

Penso também no núncio apostólico, que acaba de ser nomeado núncio, Dom Visvaldas Kulbokas, que permaneceu em Kiev junto com seus colaboradores desde o início da guerra, que com sua presença me torna próximo todos todos os dias do martirizado povo ucraniano. Sejamos próximos a este povo atormentado e abracemo-lo com afeto, com empenho concreto e oração.

E por favor, não nos acostumemos à guerra e à violência, não nos cansemos de acolher generosamente como se está fazendo, não somente agora, na emergência, mas também nas próximas semanas e meses. Porque vocês sabem que no primeiro momento fazemos o possível para acolher, mas depois o hábito esfria um pouco o coração e nos esquecemos. Pensemos nessas mulheres e nessas crianças que com o tempo, sem trabalho, separadas dos maridos, serão procuradas pelos abutres da sociedade. Vamos protegê-los, por favor!

O Santo Padre então, renovou o apelo para todos se unirem a ele no ato de consagração na próxima sexta-feira:

Convido todas as comunidades e todos os fiéis a unirem-se a mim na sexta-feira, 25 de março, Solenidade da Anunciação, na realização solene de consagração da humanidade, especialmente da Rússia e da Ucrânia, ao Imaculado Coração de Maria, para que Ela, a Rainha da paz, obtenha a paz para o mundo.

Fonte: Vatican News

Vatican News