Enquanto a Rússia segue com os bombardeios na Ucrânia, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, disse nesta terça-feira (15) que a aliança continuará a enviar armas e mantimentos para os ucranianos. Ele também afirmou que existem 40 mil militares na fronteira com a Ucrânia. No domingo, a Rússia bombardeou Yavoriv, a 25 quilômetros da Polônia, país membro da Otan. Acompanhe ao vivo acima a cobertura especial da CNN.
Stoltenberg também disse que está preocupado que a Rússia utilize armas químicas na Ucrânia em uma operação de “bandeira falsa” (um ataque seguido de desinformação sobre os autores). Ele ainda declarou que a China “deveria se unir ao mundo e condenar a Rússia”. Segundo o secretário-geral, a guerra foi causada por Vladimir Putin e ele poderia “encerrá-la agora”.
Sobre os ataques, um prédio de apartamentos de 16 andares no distrito de Sviatoshynskyi, em Kiev, foi significativamente danificado. Pelo menos quatro pessoas foram encontradas mortas. Mais três edifícios sofreram danos em Kiev. As áreas residenciais no leste, norte e oeste do centro da cidade foram atingidas por bombardeios com uma hora de intervalo. Um toque de recolher será imposto na capital ucraniana a partir das 20 horas desta terça-feira até as 7 horas desta quinta-feira (no horário local).
Também nesta terça, delegações de Rússia e Ucrânia retomaram as negociações por videoconferência, após uma “pausa técnica”. Sobre as conversas, um dos principais negociadores ucranianos, Mykhailo Podoliak, afirmou que o encontro aborda “assuntos de regulamentação geral, cessar-fogo e retirada de tropas do território”. As conversas foram classificadas como “difíceis” pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Os russos querem que a Ucrânia mude sua Constituição para resguardar neutralidade (fora da Otan), além de considerar Crimeia como território russo e reconhecer as repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk como territórios independentes.
No início da tarde desta terça, no horário de Brasília, Zelensky fez um pronunciamento ao Parlamento canadense. O ucraniano agradeceu o apoio da população e políticos do país, mas pediu novamente a criação de uma zona de exclusão aérea na Ucrânia: “Quantos misseis de cruzeiro mais vão ter que entrar no nosso país pra que isso aconteça?”.
- União Europeia aprova nova rodada de sanções à Rússia
A União Europeia (UE) aprovou formalmente nesta terça-feira (15) novo pacote de sanções contra a Rússia pela invasão da Ucrânia, que inclui vetos de investimentos no setor de energia, exportações de bens de luxo e importações de produtos siderúrgicos.
As sanções, que entram em vigor após a publicação no Diário Oficial da UEainda hoje, também congelam os ativos de mais líderes empresariais que apoiam o Estado russo, incluindo o proprietário do clube de futebol Chelsea, Roman Abramovich.
A Comissão Europeia informou, em comunicado, que as sanções incluem "proibição abrangente de novos investimentos no setor de energia russo".
A medida atingirá as importantes petrolíferas Rosneft, Transneft e Gazprom Neft, mas os membros da UE ainda poderão comprar petróleo e gás delas.
Também haverá proibição total de transações com algumas empresas estatais russas ligadas ao complexo militar-industrial do Kremlin, disse o Executivo da UE.
O bloco chegou a acordo preliminar sobre as novas sanções nessa segunda-feira, e nenhuma objeção foi levantada antes do prazo acordado.
Estima-se que o veto das importações de aço da Rússia afete 3,3 bilhões de euros (US$ 3,6 bilhões) em produtos, segundo a comissão.
As empresas da UE também não poderão exportar bens de luxo com valor superior a 300 euros, incluindo joias. As exportações de carros que custem mais de 50 mil euros também serão proibidas.
O pacote proíbe as agências de classificação de crédito da UE de emitir classificações para a Rússia e para empresas do país.
As últimas sanções seguem três rodadas de medidas punitivas que incluíram o congelamento de ativos do Banco Central russo e a exclusão do sistema bancário SWIFT de alguns bancos russos e bielorrussos.
- Zelensky volta a pedir zona de exclusão aérea em discurso ao Parlamento canadense
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky realizou, nesta terça-feira (15), um discurso perante o parlamento canadense no qual pediu, mais uma vez, para que os países aliados determinem uma zona de exclusão aérea na Ucrânia.
O apelo foi composto de paralelos entre as cidades ucranianas atacadas e as principais províncias canadenses, e encerrou com Zelensky sendo ovacionado pelos parlamentares — similar ao ocorrido na transmissão feita ao parlamento britânico, para o qual o líder ucraniano também já falou.
“Sei que somos amigos, mas gostaria que compreendessem e sentissem o que sentimos. Queremos viver e ser vitoriosos, queremos prevalecer pelo bem da nossa vida”, disse Zelensky após traçar um paralelo sobre a cidade canadense de Vancouver ser bombardeada como Mariupol está sendo, bem como prédios residenciais e demais instalações da Ucrânia, também alvo dos russos.
“Vocês podem imaginar chamar aos seus amigos, sua nação amiga, e perguntar: ‘Por favor, feche o céu, feche o espaço aéreo, por favor, pare o bombardeio’. Quantos mais mísseis terão de cair sobre nossas cidades até que vocês façam isso acontecer? E eles expressam suas profundas preocupações com a situação. Quando conversamos com nossos parceiros, eles dizem: ‘Por favor, espere, espere um pouco mais'”, declarou Zelensky.
O pedido do presidente ucraniano não é novo, e seu discurso ao parlamento também fez referência a uma fala recente do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, junto a Olaf Scholz, premiê da Alemanha.
Isso porque Trudeau afirmou, na semana passada, que os países aliados tinham que ter “cuidado” ao fornecer armamentos à Ucrânia, considerando especialmente o que isso significaria em relação à posição da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na guerra.
“Há desafios na fronteira em termos de segurança, mas estamos trabalhando com todos os aliados. Temos que ter cuidado para não expandir ou escalar, queremos diminuir ou encerrar esse conflito. Precisamos ter cuidado com a melhor maneira que temos pra apoiá-los”, disse Trudeau na ocasião.
Nesta terça, Zelensky recuperou a mesma fala, sem citar diretamente o primeiro-ministro: “Algumas pessoas falam na tentativa de impedir uma escalada. Ao mesmo tempo, como resposta a nossa aspiração de nos tornarmos membros da Otan, não ouvimos resposta”, declarou. “Muitas vezes, é difícil enxergar o que é óbvio”, disse.
“Sei que são amigos da verdade, então compreendam quanto é importante fechar nosso espaço aéreo, aumentar esforços, aumentar sanções para que eles não tenham 1 dólar pra investir nesses esforços contra nós”, complementou o ucraniano.
Além dos pedidos e dos agradecimentos feitos aos canadenses pelo envio de armas e suprimento humanitário, Zelensky deu informações sobre os números da guerra: segundo ele, 97 crianças ucranianas tinham sido mortas em decorrência dos ataques russos até o momento.
“Os senhores sabem melhor que outros que esse ataque a Ucrânia é uma tentativa de alienar o povo ucraniano. Essa é uma guerra contra o povo ucraniano. É uma tentativa de destruir tudo o que fizemos — a nossa nação, nosso caráter. Os senhores sabem disso muito bem”, continuou.
“Não interrompam seus esforços, mas os expandam para trazer paz ao nosso pais que já foi pacífico”, concluiu.
- Sanções terão impacto maior que a guerra, diz Banco Mundial
O presidente do Banco Mundial, David Malpass, afirmou que as sanções impostas contra a Rússia devem ter um impacto maior na economia global do que a própria guerra. Segundo ele, haverá um “impacto imediato de curto prazo” no PIB (Produto Interno Bruto) mundial, tanto pela economia ucraniana quanto russa.
“A Ucrânia, por exemplo, pode ver ao longo do ano um PIB que cai cerca de 30%, ou um grande número, e isso é importante dentro do PIB global”, afirmou Malpass, em um evento virtual do jornal Washington Post na 3ª feira (15.mar.2022). “Acho que o impacto ainda maior para o PIB global são as próprias sanções da Rússia.”
Segundo ele, ainda que a economia russa seja menor que a da China, ainda é “grande o suficiente” para impactar a economia global. Segundo ele, a Rússia deve “desacelerar massivamente” por causa das sanções.
Malpass afirmou que essa é a 1ª vez que sanções são aplicadas a um integrante do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo. “E assim as consequências são de longo alcance, são severas para a Rússia como nação, e estão se estendendo ao povo da Rússia como resultado direto da desvalorização do rublo.”
A Rússia é hoje o país que mais recebe sanções no mundo. É alvo de mais de 6.300 sanções e, destas, 3.577 foram a partir de 22 de fevereiro, depois do reconhecimento das regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk como independentes. Depois disso, a guerra começou, em 24 de fevereiro.
Atualmente, a Rússia é considerada como uma nação em risco iminente de calote. A agência de risco de crédito Fitch rebaixou o indicador de inadimplência da Rússia para “C”, citando bloqueios diretos contra os fundos russos, que seriam uma “imposição de barreiras técnicas ao serviço da dívida” do país.
“Eles têm uma dívida externa enorme e terão que decidir o que fazer com isso. Eles têm o dinheiro bloqueado nos bancos centrais. Como eles vão usar isso, eu não sei.”
Apesar do impacto das sanções, Malpass afirma que outras partes do mundo devem compensar parte do suprimento que é da Rússia. “Haverá uma grande reação em termos de aumento do fornecimento de energia fora da Rússia e fornecimento de alimentos fora da Rússia e da Ucrânia. E essas respostas historicamente têm sido rápidas.”
Ao mesmo tempo, o presidente do Banco Mundial afirmou que não pode ser otimista demais e que o setor agrícola deve levar um ano para “se ajustar” às novas demandas. “Mas acho que pode haver aumento da oferta em outros lugares, e isso suaviza o golpe no PIB global.”
Malpass alertou ainda que fazer estoques de alimento e combustíveis por medo da inflação “por si só eleva os preços, e isso tem o maior impacto sobre os pobres”. O presidente do Banco afirmou que o impacto para as pessoas mais pobres no mundo é imediato e precisa ser evitado.
Ele criticou ainda a redução de exportações anunciadas por alguns países, incluindo a Rússia. Segundo ele, esse foi um dos problemas na crise alimentar de 2008. O Brasil enfrenta dificuldades para importar adubos e fertilizantesporque Belarus suspendeu exportações.
Belarus é um dos principais fornecedores de potássio do Brasil, mas está sob embargo dos Estados Unidos e da União Europeia, em retaliação às práticas antidemocráticas do presidente Alexander Lukashenko. Por isso, não vinha exportando pelos portos da Lituânia, como de costume. Com a guerra, o canal de escoamento que vinha sendo adotado, pelo território ucraniano, também foi bloqueado.
Esta 3ª feira (15.mar) marca o 20º dia de guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Na madrugada, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou ter tomado o controle “total” da região de Kherson. Os ataques a Kiev, capital da Ucrânia, continuam. Segundo o governo ucraniano, mísseis russos atingiram 4 locais residências na capital. Até a manhã desta 3ª feira (15.mar), ao menos duas mortes foram confirmadas.
Corredores humanitários foram abertos em 9 áreas para a saída de civis. Mas, novamente, há relatos de dificuldades para o comboio de ajuda humanitária alcançar a cidade de Mariupol, que está sob ataque nos últimos dias.
A 4ª rodada de negociações, que teve uma pausa “técnica” na 2ª feira (14.mar), deve ser retomada nesta 3ª feira (15.mar). Para esta rodada, há maiores expectativas de que os 2 países cheguem a um consenso depois de o conselheiro ucraniano afirmar que a conversa seria concentrada em um acordo político e militar.
- Análise: Pode ser o começo do fim de Putin
Batizado de primeiro conflito armado da era das redes sociais, a guerra da Ucrânia pode começar a acabar de acordo com esse figurino: rápido, se houver mesmo um acordo de cessar fogo na reunião desta segunda-feira. O encontro entre as delegações russas e ucranianas, em Gomel, na fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia, começa no fim da madrugada (horário de Brasília). Na segunda guerra mundial, "a hora antes do amanhecer" era um momento icônico para os pilotos britânicos da RAF: eles sabiam que muitos poderiam não voltar, o que só aumentava a tensão.
Não é o que se espera dessa reunião, afinal, a guerra já causou grandes estragos e uma escalada de sanções contra a Rússia em primeiro lugar e para a União Europeia em segundo, pois são esses países os principais parceiros de negócios com os russos. Os problemas de pagamentos, via sistema financeiro Swift, vão trazer prejuízos a ambos os lados. Acima de tudo isso, há as perdas de vidas, ainda não contabilizadas e fora de qualquer sistema de compensação.
O comissário europeu para Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, Janez Lenarcic, afirmou que a Europa está diante da maior crise humanitária em muitos anos. "As necessidades crescem enquanto falamos", lamentou. A preocupação se junta as de organizações humanitárias e ONGs de todo o calibre, para as quais, o importante agora, é não deixar passar a oportunidade de tocar nos empedernidos (e mesquinhos) corações europeus em relação a refugiados.
Quase 400 mil ucranianos passaram as fronteiras até o domingo. A metade pela Polônia, e outros pela República Tcheca, Hungria, Romênia e Moldávia. Especialistas e correspondentes falam em 5 milhões de refugiados ao fim de tudo isso. Outros aumentam a cifra para 7 milhões, que, somados aos existentes, árabes e africanos, transformaria a essa na questão mais explosiva para a Europa depois da própria guerra. Nesse momento, no entanto, o conflito em si é o verdadeiro X do problema e a resolução dele é a prioridade maior. Até a reunião os dois lados vão continuar a apontar as armas e dar tiros uns nos outros. Com inúmeras dúvidas. O assessor de Putin Vladimir Medinski disse que a Rússia está tão a fim que convocou a reunião. O ministro ucraniano de Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, afirmou que vai para ouvir e saber das propostas russas. O presidente Zelensky, que sente-se poderoso com apoio mundial de mídia, dinheiro e armas europeias que começam a chegar, diz que não acredita em acordo, mas não quer passar para a história como aquele que não quer negociar. Esse apoio faz o mundo esquecer que ele é simpático ao neonazismo, o que não o impede de surfar na onda contra um antidemocrático famoso de nome Putin.
Assim, o quadro pode não ser perfeito, mas há gestos e sinais positivos. E há, também, um conjunto de quebra de paradigmas. "É a primeira vez que isso acontece na Europa depois da Segunda Guerra", passou a ser uma expressão corriqueira. É a primeira vez que Putin admite que seu exército perde soldados, jovens filhos dos novos russos pós-soviéticos que, depois do Afeganistão, não querem ver seus meninos morrendo de novo. Na Rússia, as avós criam os netos, o que só endurece o jogo contra o presidente. Deter manifestantes não resulta, não vira apoio. Ajuda a criar músculos para o próximo verão.
A União Europeia, que abandonou a Ucrânia no início, criou coragem, finalmente, e garante que ainda existe e tem força. Vai suprir as necessidades de armamento da Ucrânia. E cresce a lista de "primeiras vezes". A presidente da UE, Ursula von der Leyen, garante que todos os 27 países-membros do bloco e mais alguns achegados fecharão seus espaços aéreos, isolando a Rússia pelos ares. O alemão Olaf Scholz inaugura seu mandato quebrando um paradigma sempre preocupante, aquele do que pode fazer um alemão armado. Avisou que vai fornecer misseis sting e lança-misseis aos ucranianos. Mil de um e quinhentos de outro, para começar. A Alemanha tem quase 70% do gás que consome fornecido pela Rússia. Ainda não houve cortes, mas não se sabe como isso será pago, depois das sanções Swift e a suspensão de sete grandes bancos russos.
Menos um ponto para Putin no front interno. Quem opera o sistema financeiro de lá são jovens empresários pitinistas e com ética especial, muitas vezes duvidosa. A ponto de terem mais de um terço dessa grana estocada em offshores mundo afora. Se começar a faltar dinheiro, a turma vai gritar e, talvez, reclamar das consequências das ações do líder. O exército russo é comandado por oficiais jovens. Com carreiras pela frente e ambições por todos os lados. Aí moram perigos.
Na linha da primeira vez, uma fora da Europa: o velho aliado Cazaquistão, de maioria étnica russa, não declarou apoio nem mandou um cartucho. Sobrou a vizinha Bielorrússia e seu dinossauro presidente Lukashenko. Está tão fechado com Putin que corre o risco de ver anexado o país dele. É tudo o que gostaria, mas muito pouco para Putin, um líder que dormiu sonhando ser Napoleão e está acordando na condição de maior pária russo dos tempos modernos. Essa pode ser outra "primeira vez". Nem os czares opressores, nem Lenin, nem o duro Stálin. Só Putin. Outro ponto a menos.
Fonte: CNN Brasil - Agência Brasil - Correio Braziliense