Quando o leitor chegar ao final deste texto, pelo menos duas dezenas de crianças terão sido transformadas em refugiadas na Ucrânia. Dados divulgados nesta terça-feira pela ONU revelam que, a cada segundo, um menor é obrigado a deixar o país para sobreviver. No total, o número de refugiados atingiu a marca de 3 milhões de pessoas, em apenas 20 dias de guerra.
Para a entidade, trata-se do êxodo mais intenso de pessoas desde o final da Segunda Guerra Mundial, com uma velocidade sem precedentes na fuga de famílias.
De acordo com a Unicef, 1,4 milhão de menores deixaram a Ucrânia. A cada dia, são sete mil crianças ganhando o status de refugiados, uma a cada segundo. "Esse é um fluxo sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial", disse o porta-voz da Unicef, James Elder.
"Enquanto guerra continuar, situação para a crianças ucranianas apenas vai piorar", alertou. De acordo com ele, o desabastecimento é de tal dimensão que crianças que estão feridas gravemente apenas recebem uma pulseira negra, indicando que elas não teriam chances elevadas de sobreviver.
Dos 3 milhões de refugiados, 1,8 milhão estão na Polônia. 300 mil já deixaram os países do Leste Europeu e estão neste momento em regiões da Europa Ocidental. 90% do fluxo é composto por mulheres e crianças.
Outra preocupação se refere à escassez de alimentos. De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, já existem relatos de disputas por comida. "É uma situação extrema de vida e morte", destacou a entidade.
De acordo com a agência, locais como Mariupol atravessam uma situação "desesperadora" e algum tipo de solução precisa ser atingida para socorrer civis. Já se preparando para o pior dos cenários, o Comitê Internacional admite que levou para a Ucrânia 5 mil bolsas para embalar vítimas.
A ONU, nesta terça-feira, voltou ainda a criticar a repressão russa contra a imprensa. De acordo com a entidade, 15 mil russos já foram detidos em diferentes cidades do país por protestar contra a guerra. A agência admite que não sabe quantas pessoas foram soltas e não há acesso aos detidos.
- Nasa diz que astronauta americano vai retornar de estação espacial em foguete russo
A Nasa informou que o astronauta Mark Vande Hei retornará da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) no fim deste mês a bordo de uma espaçonave russa Soyuz, conforme planejado anteriormente.
A agência espacial procurou reafirmar que ainda está trabalhando em estreita colaboração com a agência espacial russa Rocosmos na ISS, apesar das crescentes tensões geopolíticas.
Vande Hei, que partiu para a Estação em abril de 2021, está programado para fazer sua viagem de volta em 30 de março. O astronauta pousará a bordo da espaçonave russa Soyuz no Cazaquistão, como de costume.
Funcionários da Nasa não informaram de nenhuma mudança significativa nos planos para levar Vande Hei de volta aos Estados Unidos depois do pouso. Ele viajará para casa em um jato Gulfstream, como outros astronautas americanos antes dele.
Por quase uma década, os foguetes russo Soyuz foram o único meio de levar astronautas de e para a estação espacial. Mas essa dependência terminou depois que a SpaceX estreou sua cápsula Crew Dragon em 2020, e os Estados Unidos recuperaram as capacidades de voos espaciais tripulados.
Os EUA ainda compram assentos em veículos russos para astronautas da Nasa, no entanto, e há acordos provisórios para astronautas americanos viajarem em veículos russos Soyuz e para cosmonautas russos voarem com a SpaceX no futuro.
As operações conjuntas entre a Nasa e a Roscosmos nas instalações russas em Baikonur, no Cazaquistão, “continuam indo bem”, disse Joel Montalbano, gerente do programa da Estação Espacial Internacional da agência americana. “Posso dizer com certeza que Mark [Vande Hei] está voltando para casa” na espaçonave russa Soyuz.
Os comentários de Montalbano ocorrem após o chefe da Roscosmos, Dmitry Rogozin, fazer várias postagens nas redes sociais direcionadas aos Estados Unidos, incluindo um vídeo editado que parecia ameaçar que os astronautas russos abandonassem Vande Hei no espaço. Rogozin é conhecido há muito tempo por compartilhar declarações estranhas nas redes.
Em meio à invasão da Ucrânia pela Rússia e as subsequentes sanções dos Estados Unidos e seus aliados, Rogozin também impediu o lançamento de satélites de telecomunicações da startup britânica OneWeb. O chefe da agência russa também se comprometeu a não vender mais motores de foguete de fabricação russa para empresas americanas.
Apesar das crescentes tensões, a Nasa tenta demonstrar que, nos bastidores, EUA e Rússia continuam trabalhando juntos nas operações da ISS. E esse trabalho é crucial para manter a estação funcionando. Montalbano disse que a “estação espacial foi projetada para ser interdependente”.
“Cada um dos parceiros tem capacidades diferentes que trazem, e juntos trabalhamos”, disse ele. “Não é um processo em que um grupo pode se separar do outro. Precisamos de tudo junto para ter sucesso”.
Quando Kristin Fisher, da CNN, perguntou se a Nasa tem planos de contingência para o caso de a relação com a Roscosmos se deteriorar, Montalbano disse: “Neste momento, não há indicação de que nossos parceiros russos queiram fazer algo diferente”, disse ele. “Então, estamos planejando continuar as operações como hoje”.
- China diz que G20 não é um “lugar adequado” para discutir Ucrânia
O fórum do Grupo dos Vinte (G20) “não é um lugar adequado para discutir questões políticas e de segurança como a Ucrânia”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, a repórteres nesta terça-feira (15).
“O G20 é o principal fórum para a cooperação econômica internacional, e não é um lugar adequado para discutir questões políticas e de segurança como a Ucrânia“, disse Zhao, respondendo a uma pergunta sobre os supostos planos do governo indonésio de deixar a crise na Ucrânia fora da pauta da Agenda da Cúpula do G20.
O G20 é um fórum intergovernamental composto pelas maiores economias do mundo – incluindo Rússia, China e Estados Unidos. O grupo deve realizar sua próxima cúpula de líderes em outubro na ilha indonésia de Bali.
Além da cúpula de líderes, eventos especiais são organizados ao longo do ano, incluindo grupos de trabalho, reuniões e reuniões ministeriais.
Em fevereiro, a iminente invasão russa da Ucrânia dominou as conversas entre os ministros das Finanças do G20 na capital indonésia de Jacarta, com líderes alertando sobre as consequências econômicas que resultariam de qualquer conflito.
- EUA apresentam sanções à China em caso de apoio às forças russas
Os EUA apresentaram diretamente à China os possíveis resultados negativos de ajudar a Rússia em sua guerra com a Ucrânia, disse um alto funcionário do governo de Joe Biden, depois que o conselheiro de segurança nacional dos EUA se encontrou com seu colega chinês em Roma, nesta segunda-feira (14).
“Temos preocupações sobre o alinhamento da China com a Rússia neste momento, e o conselheiro de segurança nacional foi direto sobre essas preocupações e as potenciais implicações e consequências de certas ações”, disse o funcionário, descrevendo uma conversa “muito franca”, “intensa” entre o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, e o principal diplomata chinês, Yang Jiechi.
Em sua conversa sobre a Ucrânia, Sullivan expôs “onde estamos, como chegamos aqui e quais os riscos pela frente”, disse o funcionário. Em particular, ele descreveu a unidade entre os Estados Unidos e seus aliados, incluindo os da Europa e da Ásia, em punir a Rússia por suas ações.
“Estamos nos comunicando direta e privadamente com a China sobre nossas preocupações sobre os tipos de apoio que outros países podem estar fornecendo à Rússia”, disse o funcionário.
Sullivan e Yang também discutiram sobre o gerenciamento de crises e a Coreia do Norte em sua reunião, disse a autoridade.
- Otan faz exercício com 30 mil militares na Noruega em tensão de invasão russa à Ucrânia
Cerca de 30 mil militares de países parceiros e aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) iniciaram, na segunda-feira (14), uma série de exercícios militares na Noruega, no âmbito da chamada Cold Response 2022 (Resposta Fria 2022, em inglês). A atividade é regular e acontece todos os anos na Noruega, mas, de acordo com especialistas, pode ser vista agora como “um sinal de alerta” por parte da Otan, em um momento de grande tensão na Europa, com a invasão da Ucrânia como pano de fundo.
Afinal, o que é esta operação militar e por que ocorre agora na Noruega? Como a Rússia poderá interpretar este exercício?
O ex-embaixador de Portugal na Otan, Martins da Cruz, e o coronel José Henriques explicam à CNN Portugal qual o motivo este exercício?
É uma série de exercícios militares que leva para a Noruega milhares de soldados – cerca de 30 mil, neste caso– provenientes dos países aliados e parceiros da Otan com o objetivo de testar a sua capacidade de trabalhar em conjunto em condições atmosféricas adversas, com temperaturas negativas, gelo e neve. Estes exercícios, que tiveram início na segunda, e que se prolongam até ao dia 1º de abril, somam os três ramos das Forças Armadas – aérea, terrestre e naval – e envolvem 200 aeronaves e cerca de 50 navios.
Em sua página oficial na Internet, a Otan explica que a prática destes exercícios conjuntos permite identificar o que funciona e o que precisa de ser melhorado para garantir uma resposta eficaz a qualquer ameaça ou crise. Não se trata de uma operação militar com propósitos ofensivos, mas sim de um treinamento.
De acordo com o ex-embaixador de Portugal na Otan, Martins da Cruz, não é por acaso que estes exercícios acontecem na Noruega. “o país tem muita importância pelos seus centros de observação no círculo polar ártico, que permitem observar a circulação da frota russa e dos submarinos russos que saem pelo norte da Noruega em direção ao Atlântico Norte.”
Além disso, acrescentou, “dos três países nórdicos que passam pelo círculo polar ártico [Noruega, Suécia e Finlândia], a Noruega é o único que é membro da Otan”, então é natural que a aliança utilize esse território para “treinar as suas forças em clima frio e hostil”.
Na verdade, a Noruega recebe exercícios militares da Otan desde o início da década de 1950. Como se pode ler na página oficial da Otan, ao longo das últimas décadas, “a Noruega ajudou os aliados e parceiros [da Otan] a aprenderem a trabalhar em conjunto no seu terreno acidentado do norte”, sendo que a Cold Response ocorreu pela primeira vez em 2006.
Apesar de se tratar de um exercício regular, que, de acordo com a Otan, acontece duas vezes por ano na Noruega, nesta ocasião ele pode ser interpretado como “um sinal de alerta” dirigido à Rússia por parte dos países do tratado. É assim que o coronel José Henriques interpreta este exercício, rejeitando a ideia de uma “provocação” por parte da Otan.
“Pode ser um aviso, de que [a Otan] está em estado de alerta, mas não mais do que isso”, argumenta. O especialista rejeita a ideia de que possa sair desse movimento uma escalada da tensão militar. “Se quisessem provocar [o presidente russo Vladimir Putin], iam fazer isso na Dinamarca, na Polónia ou na Lituânia”, e não na Noruega, um país que fica muito longe das linhas de conflito com a Ucrânia.
Martins da Cruz também rejeita a ideia de que este exercício possa ser visto como uma provocação da Otan: “É um exercício regular, que já estava previsto e que se realiza todos os anos, de maneira que não pode ser visto como uma provocação.”
Para o antigo embaixador de Portugal na Otan, “é um sinal que os países da Otan enviam à Rússia dizendo que, apesar do que está acontecendo e das forças suplementares que estamos enviando para os países que fazem fronteira com a Ucrânia e com a Rússia, nós continuamos com os exercícios que já estavam planejados, sobretudo este, que é para preparar eventuais agressões russas em um clima hostil”.
Foco de Putin é a Ucrânia, mas ele tem de pensar no dia seguinte
Henriques diz acreditar que a “grande preocupação” da Rússia, neste momento, é a Ucrânia, rejeitando assim o foco de tensão em outro país, algo que tem sido motivo de preocupação, sobretudo tendo em conta o avanço das tropas russas para a fronteira com a União Europeia.
Mas, “mesmo que Putin resolva o problema na Ucrânia, terá sempre o dia seguinte”, acrescentou, o especialista sobre a resistência ucraniana. Para Henriques, não facilitará a vida da Rússia no país. E é neste cenário que o especialista fala na eventual “queda de Putin”.
“Imaginemos o seguinte cenário: a Ucrânia é obrigada a capitular, porque o presidente [Volodymyr Zelensky] não quer que ocorra um massacre, e vai para o exílio, juntamente com o seu governo. Em sua substituição, vai para a Ucrânia um governo fantoche, sob as ordens de Moscou. Esse governo não é aceito pelo povo ucraniano, que, apoiado por nós, vai continuar a fazer uma guerra contra os russos”, diz.
Henriques completa que, para o governo não caia no dia seguinte, Putin tem de manter milhares de homens na Ucrânia para o proteger. “E essa é que é uma situação, que, com o desgaste, pode conduzir à queda de Putin”.
A Rússia avança pela Ucrânia desde o dia 24 de fevereiro. Atualmente, conseguiu avanço pelas regiões Sul – subindo pela Crimeia e pelo Mar de Azov – e Leste, a partir das regiões separatistas de Luhansk e Donetsk. Os russos, porém, não tiveram êxito na tentativa de capturar a cidade portuária de Mariupol, onde o cerco de dias causa falta de água e combustível.
Outros dois pontos de resistência ucraniana são Mikolaiv e Odessa, também ao Sul. Odessa é uma cidade portuária muito importante, dando acesso ao Mar Negro. Sem conquistar Mikolaiv, ainda não foi possível avançar para essa região por terra.
O exército invasor também avançou pela parte Norte da Ucrânia, por mais que também não tenha conseguido nenhuma conquista de cidades mais expressivas na região. Kharkiv, a segunda maior cidade do país, por exemplo, sofre com bombardeios intensos, mas continua sob controle ucraniano.
Fotos tiradas na segunda mostram danos em Mariupol. As imagens de satélite oferecem a única visão da mais recente destruição na cidade.
O Hospital Regional de Terapia Intensiva de Mariupol, no bairro Zhovteneyvi, tem um buraco na fachada sul do prédio, enquanto os detritos também estão espalhados do lado de fora.
Não está claro qual lado é responsável pelos danos no hospital. Perto do prédio do hospital, vários complexos de apartamentos parecem ter sido significativamente prejudicados, com um aparentemente sofrido danos visíveis por incêndio.
Cerca de um quilômetro e meio ao sul, no bairro de Primorskyi, várias casas são vistas em chamas após um aparente ataque militar. Complexos de apartamentos próximos também sofreram danos, enquanto outras casas em uma área residencial no centro da cidade também estão enfrentando preocupações.
Não é impossível que mísseis russos possam atingir território Otan, mas é muito improvável, disse o ministro da Saúde britânico Sajid Javid na segunda, acrescentando que a aliança responderia se isso acontecesse.
Questionado sobre a possibilidade de mísseis russos atingirem um território da Otan após um ataque a uma base de treinamento militar ucraniana perto da Polônia, Javid disse à rádio BBC: “Não é impossível, mas ainda acho que, neste estágio, é muito improvável”.
“Deixamos muito claro para os russos, mesmo antes do início deste conflito, mesmo que uma única biqueira russa entre em território da Otan, então será considerado um ato de guerra”.
Os russos querem que a Ucrânia mude sua Constituição para resguardar neutralidade (fora da Otan), além de considerar Crimeia como território russo e reconhecer as repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk como territórios independentes.
- 'Rendam-se ou todos morrerão': o relato das 3 explosões que abalaram Kiev
As explosões do início desta manhã em Kiev, capital da Ucrânia, aleatórias em seus alvos, mas precisas no tempo e na mensagem, destruindo ainda mais as vidas daqueles que vivem aqui, provam que é sim o medo que está mantendo aqueles que ficaram na cidade escondidos dentro de suas casas.
Exatamente às 5h de hoje, três grandes explosões consecutivas sacudiram a cidade. A sequência de estrondos chegou a disparar os alarmes de carros nos estacionamentos e nas ruas a pelo menos 13 km de distância de onde aconteceram.
Em seguida, o prefeito da cidade, Vitali Klitschko, por meio de suas mídias sociais, pediu que a população se esconda em abrigos antibombas todas as vezes que as sirenes da cidade tocarem: "Amigos! Caros Kyivans! O inimigo continua a atacar Kiev. No início da manhã, projéteis atingiram vários prédios residenciais, dois arranha-céus no distrito de Sviatoshynskyi, um em Podilskyi. E em uma casa particular. A entrada de uma das estações de metrô foi danificada pela onda de choque. Há vítimas em prédios residenciais, a informação está sendo esclarecida. Equipes de resgate e médicos estão trabalhando no terreno. Siga para os abrigos durante cada alarme".
Desde então, tanto as sirenes da cidade como o aplicativo de celulares que emite um alerta copiando o som das sirenes já soaram 23 vezes até o início da tarde, horário ucraniano.
Uma enorme cratera de pelo menos 5 metros de diâmetro e 3 de profundidade, produzindo vapor que saia do solo encharcado, foi aberta pelo impacto que atingiu o jardim em frente de um prédio dentro de um conjunto residencial na região oeste de Kiev que fica localizada entre a área central da capital e as cidades de Bucha e Irpin, onde os exércitos russo e ucraniano intensificaram suas batalhas, principalmente com o uso de artilharia pesada e poderosos mísseis terra-terra.
A fachada de frente para onde o míssil caiu ficou completamente destruída e bombeiros usavam caminhões com escadas mecânicas para chegar aos andares superiores, todos em chamas.
Do outro lado, muitos civis, principalmente idosos e idosas, eram resgatados pelos bombeiros que acessavam as janelas dos apartamentos com os cestos de resgate em seus caminhões. O corpo carbonizado de uma pessoa não identificada foi encontrado ao lado de um parque para crianças a poucos metros de distância do prédio e levado pelos paramédicos para o mortuário da cidade.
Durante o resgate, o comandante do corpo de bombeiros e da operação, Andrey Kovalenko, afirmou que a possibilidade de encontrar mais vítimas assim que os bombeiros pudessem ter acesso ao prédio e aos apartamentos completamente destruídos pela explosão era quase certa.
Do lado de fora, uma senhora baixa, nervosa, chorando alto, lutava para se desvencilhar dos braços de um homem que sem sucesso procurava impedi-la de se aproximar das equipes que trabalhavam. Aos prantos, ora dialogando, ora agredindo os jornalistas que a seguiam, a senhora tentava convencer os membros do corpo de bombeiros ainda ocupados com as chamas a salvarem membros de sua família levantando seus braços curtos em direção o alto do prédio, apontando o canto direito da face mais destruída onde praticamente todas as janelas estavam tomadas por fogo e fumaça preta.
Uma menina, em pé sobre pedaços dos vidros que se quebraram das janelas do prédio ao lado daquele atingido, também não conseguia conter o choro. Sem ninguém que a consolasse, cobria sua boca com a mão, e olhava ininterruptamente para as chamas que consumiam o prédio acompanhando os grandes pedaços de metal que perigosamente se soltavam dos escombros e caiam do alto quase atingindo as equipes que trabalhavam no chão.
Contrastando com o calor emitido pelo fogo, perceptível mesmo para quem assistia a tudo em pé do lado fora do cordão de impedimento erguido pela polícia, gotas e a umidade da água usada para apagar o incêndio se congelavam nos ramos das tantas árvores desfolhadas ao redor do prédio. Os galhos dificultavam o movimento dos guindastes usados para socorrer as pessoas presas dentro de seus apartamentos nos andares mais altos e uma equipe do corpo de bombeiros precisou cortar as árvores para que os guindastes pudessem chegar até o chão com os moradores evidentemente aterrorizados.
Uma senhora, sem conseguir caminhar, ainda vestida com seu roupão laranja e chinelos de veludo, foi carregada como uma boneca por um homem que a levou até uma ambulância onde foi socorrida e consolada pelos paramédicos que estavam presentes no local.
Com os ataques de hoje, nos últimos dois dias, a região central de Kiev sofreu pelo menos cinco grandes ataques que tiraram a vida de pelo menos 15 pessoas, feriu e desabrigou outras dezenas e destruiu dois grandes prédios residenciais. Estes ataques seguem o mesmo padrão; aparentam ser aleatórios e com alto poder de destruição e atingindo apenas áreas civis sem importância militar ou estratégica para o avanço das tropas russas em direção ao centro da cidade.
Não foi um feriado prolongado que tirou a população da cidade, e tampouco é por causa do frio que aqueles que estão aqui escondem-se em suas casas.
A guerra está cada vez mais dentro da capital ucraniana. Além da precisão do horário dos ataques, parece que a mensagem que Putin tenta passar ao governo ucraniano também é bastante clara e precisa: "Rendam-se, ou todos vocês morrerão".
Fonte: UOL - CNN Brasil