Política

Rússia x Ucrânia: área militar é atacada perto da Polônia





Um ataque aéreo atingiu uma área militar na região de Lviv, a cerca de 25 quilômetros da fronteira da Ucrânia com a Polônia, segundo a administração regional militar de Lviv. Ao menos 35 pessoas morreram e 134 ficaram feridas.

O ponto exato do ataque é uma base de teste militar em Starychi, perto de Lviv. Conhecida como Campo Militar de Yavoriv, foi atingida por mísseis russos, de acordo com o Centro de Comunicações Estratégicas e Segurança da Informação do governo ucraniano.

Para o chefe da administração militar regional de LvivMaksym Kozytsky, o ataque de hoje é uma confirmação de que não só a Ucrânia, mas toda a Europa estaria sob ataque.

A Polônia é membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Além disso, a fronteira da Ucrânia com a Polônia tem sido um ponto de passagem de material bélico para auxiliar a resistência ucraniana.

Instrutores militares estrangeiros já trabalharam no Campo Militar de Yavoriv, segundo a Ucrânia, mas um representante da Otan informou à agência de notícias Reuters que não havia ninguém da aliança militar no local no momento do ataque russo. 

Kozytsky repetiu o apelo ucraniano para a criação de uma zona de exclusão aérea no país, como forma de tentar impedir ataques aéreos russos.

Hoje, 18º dia da invasão russa ao território ucraniano, também foi divulgado que mais um prefeito foi capturado: o administrador de Dniprorudne, Yevhen Matveyev. O anúncio foi feito pelo chefe da administração militar regional de Zaporozhzhia, Oleksander Starukh. Na sexta-feira, as forças russas já haviam prendido o prefeito de Melitopol, gerando protestos.

A Ucrânia também continua atenta à movimentação russa na área próxima à capital, Kiev. Em Chernihiv, no norte do país, um ataque a um prédio deixou ao menos uma pessoa morta, segundo informações iniciais.

Ataque em área militar

Os militares dizem que o ataque aéreo foi realizado a partir dos mares Negro e Azov. Os aviões decolaram no aeroporto de Saratov. No total, os ocupantes dispararam mais de 30 mísseis. O sistema de defesa aérea ucraniano conseguiu derrubar alguns deles no ar, segundo a administração militar de Lviv.

Equipes atuaram ao longo da manhã para apagar focos de incêndio no Centro Internacional de Manutenção da Paz e Segurança, conhecido como o Campo Militar de Yavoriv —eles foram extintos por volta das 12h, horário local (7h, em Brasília).

O chefe da administração militar regional de LvivMaksym Kozytsky, pediu que as pessoas "não publiquem fotos, vídeos ou outros materiais dos locais das explosões". "Esta informação pode ser usada pelo inimigo", disse. Para ele, as imagens podem ser usadas pelos russos para saber o que foi destruído.

Também no oeste do país, assim como Lviv, a cidade de Ivano-Frankivsk foi atingida mais uma vez por um ataque hoje, segundo o governo ucraniano. Foi registrado um ataque de mísseis na região do aeródromo, que já foi alvo das forças russas na última semana.

Cerco a Kiev

As forças russas continam a tentar cercar Kiev. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky prometeu uma "defesa implacável" da capital.

Na região, o governo ucraniano relata "movimento constante do inimigo" em cidades perto da capital, como Gostomel, Borodyanka e Bucha. A Ucrânia fala em batalhas em Irpin e em Brovary.

Prefeitos capturados

O prefeito de Dniprorudne foi capturado por volta das 8h30, horário local (3h30 em Brasília), de hoje. A cidade fica próxima a Melitopol, que teve seu administrador preso na sexta-feira (11), motivando protestos ontem.

Sobre o prefeito de Dniprorudne, o ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse que as forças russas "se voltam para o terror". "Apelo a todos os estados e organizações internacionais para que parem o terror russo contra a Ucrânia e a democracia."

No sábado (12), Zelensky disse que uma ação como essa contra prefeitos "é um crime contra a democracia como tal". "Garanto que 100% das pessoas em todas as democracias sabem disso". O presidente ucraniano tem solicitado auxílio de lideranças estrangeiras para interceder a respeito dos prefeitos capturados.

Outros ataques

Segundo o serviço de emergências da Ucrânia, nesta manhã, um ataque aéreo destruiu do segundo ao nono andar de um edifício em Chernihiv, norte do país. Na sequência, houve incêndio em um dormitório. Até o momento, há relatos de uma pessoa morta e outra ferida; sete foram resgatadas.

No sul da Ucrânia, em Bashtanka, o serviço de emergências diz que uma área residencial foi atingida. Um homem foi retirado dos escombros e levado para uma unidade de saúde.

Corredores de evacuação

Neste domingo, a Ucrânia terá ao menos 10 corredores de evacuação. Um deles será para o comboio com carga humanitária e de ônibus para evacuação entre Mariupol, uma cidade que está sitiada, e Berdyansk.

A vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, pediu que os cidadãos utilizem apenas os corredores para se locomover em "apelo aos ucranianos que estão no epicentro das hostilidades ou são residentes de territórios onde as tropas inimigas estão presentes com equipamentos". "Mover-se de outra maneira é muito fatal", disse.

 

- Guerra: Sanções a empresas aéreas russas afetam segurança

A guerra na Ucrânia tem imposto diversas sanções econômicas à Rússia por países contrários ao conflito. Nessa mesma linha, várias empresas têm fechado suas operações e anunciado a saída daquele país.

Mais recentemente, as maiores fabricantes de aviões do mundo (Airbus, Boeing e Embraer) anunciaram alguma maneira de interrupção dos serviços para empresas aéreas russas. Os termos do boicote não são muito transparentes, e ainda não fica claro se as empresas conseguirão voar sem o suporte formal dos fabricantes e quais os termos para o fim das sanções.

Em comum, há o encerramento do fornecimento de peças, manutenção e suporte técnico para as empresas aéreas russas, além do fechamento de alguns escritórios naquele país e na Ucrânia.

A Airbus, em nota, informa que as companhias aéreas podem realizar as manutenções desejadas de acordo com os manuais do fabricante que já estão em sua posse, sejam elas próprias ou oficinas terceirizadas que foram homologadas pelas autoridades daquele país. Ainda assim, ainda não é possível definir como as empresas podem fazer isso sem afetar a segurança dos voos.

Importante mercado

Como a Rússia e a região afetada no leste europeu são um mercado importante, com centenas de aeronaves dessas indústrias voando por lá, tanto fabricantes quanto empresas de leasing (espécie de aluguel, também chamado de arrendamento mercantil) estão agindo com cautela.

Atualmente, são cerca de 500 aviões da Boeing e da Airbus voando na região, cujo valor estimado chega a US$ 10,3 bilhões (R$ 52 bilhões), segundo a empresa de consultoria Ishka. Já pela Embraer, são 60 aviões, um pouco menos da metade destes pertencente a operadores privados da aviação executiva e o restante de propriedade de empresas de leasing e que operam em companhias aéreas.

Devido às incertezas da guerra, ainda é cedo para definir se esse discurso do boicote é prático ou apenas político. As empresas precisam pesar como proceder com as sanções, tendo de analisar se vale a pena perder a fatia de mercado na região para manter no restante do mundo ou se terão de levar outros fatores em consideração.

Junto a isso, também é preciso entender como o boicote pode agir em uma cadeia muito interligada. No Brasil, por exemplo, a Embraer depende de produtos à base de titânio vindos da Rússia. Nesse caso, a empresa diz que tem reservas de peças do tipo para em torno de um ano e meio a dois anos.

Já a China, tradicional aliada da Rússia, anunciou recentemente que acolherá o boicote e não fornecerá peças aeronáuticas para o país. Segundo a imprensa russa, com a decisão chinesa, as empresas deverão buscar peças para a manutenção dos seus aviões na Índia e na Turquia.

Segurança pode ser afetada

Para Sillas de Souza Cezar, professor do curso de economia da Faap (Faculdade Armando Álvares Penteado), o boicote pode causar fortes impactos na aviação russa e tornar esse segmento inseguro no país. Segundo ele, "na melhor das hipóteses, na mais otimista, voar fica mais perigoso".

"As empresas aéreas seguem os protocolos dos fabricantes. Quando Airbus, Boeing e Embraer anunciam que vão cortar o serviço de suporte e venda de peças, as companhias aéreas passam a ter de fazer a manutenção dos aviões por conta própria, o que aumenta a insegurança", diz o economista.

Uma alternativa, por um curto espaço de tempo, segundo Cezar, é canibalizar uma aeronave em bom estado, ou seja, fazê-la parar de voar para pegar suas peças para abastecer os outros aviões que continuarão em operação.

Isso, entretanto, aumentará seriamente os custos, diminuindo a receita das empresas. "Quem for voar vai ficar com medo, pois sabe o que está acontecendo. Por isso, esse tipo de sanção afeta, objetivamente, o transporte aéreo", diz o professor.

Cezar ainda destaca que, nesse segmento, o efeito do boicote na aviação será grave, não apenas simbólico. "A saída do McDonald's da Rússia, por exemplo, não gera um impacto muito grande, uma vez que isso é mais simbólico. Em termos práticos, os cidadãos daquele país vão comer outra coisa que não o Big Mac. Falando de aviação, isso muda muito, já que o país depende da aviação para se conectar, além do fato de que os custos da operação aumentam e sair do país se torna algo impensável", diz.

Com o tempo, os passageiros também podem passar a evitar voar nessas empresas, já que há a dúvida se aqueles aviões estarão equipados com peças originais ou do mercado paralelo, ou, ainda que não tenham as mesmas especificações dos fabricantes, afirma Cezar. Com essas dificuldades, o preço da passagem deve aumentar e o valor das ações das companhias despenca.

Imagem e contratos em jogo

Sillas Cezar ainda diz que as fabricantes não estão, necessariamente, se posicionando contra a guerra. Elas estão pensando na imagem institucional ou em uma eventual sanção de outros países, que podem proibir a comercialização de seus jatos.

Isso se deve ao fato de que, se a reputação for manchada e o valor delas cair, será um custo muito maior para se recuperar e refazer suas imagens. Essas empresas ainda podem enfrentar restrições para acessar mercados tradicionais, como a própria Europa, que foi que definiu o pacote de sanções à Rússia.

Há o risco de a aviação russa parar, de fato, com os aviões sendo mantidos no solo. Antes de algum avião cair, as companhias aéreas russas devem parar de voar, até mesmo para evitar problemas com imagem, financeiros ou tenham de pagar alguma indenização que possa quebrar a empresa em caso de acidenteSillas de Souza Cezar, professor da Faap

O especialista ainda diz que as empresas podem ter de sacrificar uma parcela significativa dos negócios para não ter de sacrificar o todo. "Nenhum dos fabricantes quer guerra, pois ela é ruim para os negócios. As empresas não estão saindo porque a Rússia não é interessante. Eles analisam que é melhor perder uma fração dos negócios do que perder todo ele. Preferem 'perder o anel a perder o dedo'", afirma o economista.

Dificuldade em cumprir as sanções

Os aviões das companhias aéreas, em sua maioria, pertencem a empresas de leasing (também chamado de arrendamento mercantil), que os "alugam" por um valor mensal. Dentro do pacote de sanções impostas pela União Europeia, foi dado um prazo para até o dia 28 de março para que essas aeronaves fossem devolvidas.

Entretanto, essa meta não deve ser cumprida facilmente, deixando dúvidas sobre os efeitos do boicote. De acordo com Ricardo Fenelon, advogado especialista em aviação e ex-diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), as sanções no setor são uma questão complexa e que ainda não estão com os termos muito claros sobre como irão ser efetivadas.

"Será muito difícil colocar em prática o cancelamento desses leasings se eles realmente ocorrerem", diz o especialista, que elenca os seguintes questionamentos para isso:

  • As companhias russas vão cumprir a devolução desses aviões?
  • Como é que vai ser feito o voo para fora da Rússia?
  • Como as tripulações das empresas de leasing conseguirão chegar na Rússia buscar esses aviões?

Fenelon destaca que os maiores problemas não estão ligados a um eventual ataque a essas aeronaves civis, mas a questões técnicas da devolução, tendo em vista que há diversas restrições de voos na região.

Ao mesmo tempo, as empresas russas terão de buscar alternativas para conseguirem voar caso as aeronaves sejam devolvidas.

Isso, com certeza, é ruim para a aviação do país. Em qualquer nação do mundo que tem um transporte aéreo relevante, perder os três principais fabricantes em um mercado onde, praticamente, não há outro do mesmo porte, causará um forte impacto negativo nesse segmento, como é no caso da Rússia Ricardo Fenelon, advogado especialista em direito aeronáutico

O especialista ainda faz uma comparação da situação daquele país com uma eventual saída da Boeing e da Airbus do Brasil. Embora ainda tenhamos a Embraer como fabricante nacional, ela não daria conta de suprir toda a demanda das empresas aéreas em um curto e médio prazo, diz Fenelon, lembrando que essa é uma situação hipotética.

Fonte: UOL