Política

Governo avalia segurar preços de combustíveis durante guerra





O governo de Jair Bolsonaro (PL) discute a criação de uma política de guerra” para a Petrobras diante do conflito na Europa. A ideia é suspender temporariamente os reajustes dos combustíveis, enquanto a guerra afeta a cotação internacional do petróleo.

O barril do tipo Brent subiu mais de 25% desde a invasão da Rússia à Ucrânia. O aumento pode chegar ao bolso dos brasileiros já que a Petrobras segue uma política de paridade internacional de preços. O presidente Bolsonaro dissenesta 2ª feira (7.mar.2022), no entanto, que “não é admissível” repassar tudo isso para os preços dos combustíveis.

Bolsonaro convocou os ministros Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Paulo Guedes (Economia) para buscar uma “alternativa” para o problema. O presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna, também foi chamado para o debate. O Poder360 apurou que Guedes já conversou com Bolsonaro e não deve se opor ao debate sobre a política de preços da Petrobras.

A ideia em discussão na equipe econômica, no entanto, não é fazer uma mudança radical, mas uma “política de guerra” que consistiria em segurar os preços dos combustíveis só enquanto durar a guerra na Europa.

A proposta é vista como uma forma de a Petrobras e os seus acionistas darem uma contribuição neste momento de conflito. A estatal teve lucro recorde em 2021. Além disso, o governo entende que um aumento de 25% dos preços dos combustíveis neste momento poderia minar os planos de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

Subsídios

O governo de Jair Bolsonaro ainda não chegou a um consenso sobre a concessão de subsídios para os combustíveis. A proposta é defendida pela ala política do Executivo, mas não tem apoio da equipe econômica.

A ideia de conceder subsídios aos combustíveis voltou à tona por causa da disparada dos preços do petróleo. A proposta levantada por integrantes da ala política do governo é fazer um fundo com dividendos e royalties da Petrobras para amenizar o impacto dessa alta nos preços dos combustíveis. O fundo poderia chegar a R$ 120 bilhões e o subsídio seria temporário.

A equipe econômica, no entanto, é contra a proposta. Para o Ministério da Economia, o melhor é avançar no projeto que reduz os impostos dos combustíveis –o PLP (projeto de lei complementar) 11/2020, que está na pauta desta semana do Senado Federal.

O projeto de lei determina que os estados adotem uma alíquota fixa para o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos combustíveis. O Senado também quer votar o PL (projeto de lei) 1.472/2021. Este projeto cria uma conta de estabilização para os preços dos combustíveis, estabelece diretrizes para a política de preços da Petrobras e criava um imposto de exportação para os combustíveis.

O governo é contra a conta de estabilização e o imposto de exportação, mas avalia que o artigo que trata das diretrizes da política de preços da Petrobras poderia trazer a “política de guerra” que começa a ganhar adeptos no Executivo.

 

- Ações da Petrobras caem após crítica de Bolsonaro a preço

Petróleo dispara em meio à guerra na Ucrânia e pressiona mercados

A disparada do preço do petróleo no mercado internacional provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia reaviva preocupações de investidores sobre o debate político quanto à paridade internacional de preços da Petrobras. As ações da companhia passaram a cair nesta segunda-feira (7) após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter criticado o sistema que equipara o valor dos combustíveis no Brasil à flutuação da cotação da matéria-prima e do dólar.

"Tem uma legislação errada feita lá atrás que você tem uma paridade com o preço internacional [dos combustíveis]. Ou seja, o petróleo —o que é tirado do petróleo— leva-se em conta o preço fora do Brasil. Isso não pode continuar acontecendo", disse Bolsonaro, durante entrevista a uma rádio de Roraima.

Após as declarações, ainda pela manhã, os papéis da companhia iniciaram um movimento de queda. Às 15h04, as ações preferenciais da companhia (que não dão direito a voto, mas têm preferência no recebimento de dividendos) cediam 4,21%, a R$ 32,79. Os papéis ordinários (com direito a voto) recuavam 5,71%, a R$ 34,86.

A queda da petroleira controlada pelo governo exercia a principal pressão negativa sobre a Bolsa de Valores brasileira. O Ibovespa, índice de referência do mercado de ações do país, caía 1,70%, a 112.527 pontos.

Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, diz que a Petrobras sofre os efeitos negativos da pressão gerada pela alta dos preços, mas avalia que o real impacto somente será conhecido caso o governo anuncie quais são seus planos sobre o tema.

"Se for algo momentâneo, as ações da Petrobras vão sofrer menos. Mas se for algo como antes de 2016 [quando a Petrobras passou a acompanhar os preços internacionais], prejudicará muito mais", comentou.

Preocupações sobre o petróleo afetavam também empresas privadas do ramo. A PetroRio recuava 2,41%, com um volume de negociações que a tornavam relevante para a baixa da Bolsa no dia.

Alexandre Wolwacz, fundador da Liberta Investimentos, conta que, a volatilidade que a disparada do petróleo traz para as ações já representaria um risco capaz de levar investidores a vender papéis do setor. A situação, porém, é agravada pelo temor de que Bolsonaro tente controlar os preços dos combustíveis, repetindo a prática do governo de Dilma Rousseff (PT). 

"O receito de intervenção do governo afasta o investidor desse setor. A gente já viu qual foi o resultado disso para a empresa e para o país", comentou Wolwacz.

Após resistir nas primeiras horas da sessão, o mercado de câmbio passou a refletir os efeitos da aversão ao risco que contagiou a Bolsa. O dólar subia 0,13%, a R$ 5,0850.

A moeda americana, porém, vem apresentando tendência de queda nos últimos meses devido à entrada de investidores estrangeiros no país. Eles são atraídos ao mercado financeiro doméstico por uma combinação de juros altos, real desvalorizado, ações baratas na Bolsa e commodities (petróleo, minério e grãos) com potencial de valorização em um cenário de possível escassez devido à guerra.

Nesta segunda, um possível embargo ocidental ao setor energético russo provocou a disparada dos preços do petróleo e do gás natural, assim como a queda das Bolsas ao redor do mundo.

O preço do barril de Brent, referência para o preço mundial da commodity, estava em US$ 124,26 (R$ 628,42) nesta tarde de segunda. No domingo (6) à noite, chegou perto dos US$ 140 (R$ 710), próximo do recorde de US$ 147,50 (R$ 748) de julho de 2008.

Ameaças trazidas pela alta do petróleo às tentativas de contenção da inflação global, que já vinha acelerada devido à desorganização da cadeia global de abastecimento durante a pandemia, também prejudicavam o desempenho dos setores de varejo e transporte, entre outros, do mercado de ações do Brasil.

No topo da lista de ações em quedas nesta segunda estavam companhias aéreas Azul e Gol, cujos papéis afundavam 13,51% e 12,18%.

Mercados globais de ações recuavam nesta segunda em meio às preocupações com a alta do petróleo.

Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuavam 1,70%, 2,09% e 2,06%, respectivamente.

Há no país a expectativa de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) comece neste mês a tirar do zero a taxa de referência para os juros.

Quanto maior a pressão inflacionária, mais agressiva poderá ser a alta dos juros –nos Estados Unidos e também em outras economias desenvolvidas –, reduzindo a disponibilidade de dinheiro e o interesse de investidores para aplicações arriscadas em bolsas de todo o mundo.

Na Europa, o índice que acompanha as 50 principais empresas de países que possuem o euro como moeda caiu 1,23%. A Bolsa de Londres fechou em queda de 0,40%. Paris e Frankfurt cederam 1,31% e 1,98%, respectivamente.

Mercados asiáticos afundaram nesta segunda. As Bolsas de Tóquio, Hong Kong e Xangai fecharam com perdas de 2,94%, 3,87% e 3,19%, nessa ordem.

Fonte: Poder360 - Folha