Política

Mourão diz que Brasil não está neutro e defende Ucrânia





Presidente Bolsonaro ainda não se pronunciou; está em motociata com apoiadores em São José do Rio Preto (SP)

O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta 5ª feira (24.fev.2022) que o Brasil não concorda com a invasão do território ucraniano pelas tropas russas. Deu a declaração a jornalistas no Palácio do Planalto.

“O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que respeita a sobernaia da Ucrânia. Então, o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano. É uma realidade”, disse o nº 2 do Executivo.

O vice completou: “O mundo ocidental está igual ficou em 1938 com o Hitler, na base do apaziguamento, e o Putin não respeita o apaziguamento”. 

O presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não se pronunciou sobre a operação militar da Rússia no país vizinho. Enquanto Mourão falava à imprensa, o chefe do Executivo participava de motociata com apoiadores em São José do Rio Preto (SP).

Autoridades da Ucrânia confirmaram no início da madrugada desta 5ª feira (24.fev) ataques em ao menos 10 regiões do país.

Já há relatos de explosões em Kiev, a capital ucraniana, e também nas cidades de Kharkiv, Dnipro e Odessa. De acordo com a Reuters, tropas russas foram vistas cruzando a fronteira ucraniana nas regiões de Chernihiv, Kharkiv e Luhansk.

“A gente tem que olhar sempre a história, né? A história ora se repete como farsa, ora como tragédia. Nesse caso ela está se repetindo como tragédia […] a Rússia, depois de um período vamos dizer aí de busca de equilíbrio, voltou a buscar esses seus interesses, aí encarnados na figura do Putin”, disse Mourão

O nº 2 de Bolsonaro não quis comentar a visita da comitiva brasileira ao presidente da Rússia neste mês. “Não comento as palavras do presidente”.

Intervenções

Hamilton Mourão disse na entrevista que o mundo ocidental precisa adotar ações significativas na contenção da ação russa.

“Na minha visão, meras sanções econômicas, que é uma forma intermediária de intervenção, não funcionam”, disse Mourão.

“Se o mundo ocidental simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo será a Moldávia, depois os Estados bálticos e assim sucessivamente, igual à Alemanha hitlerista no fim dos anos 30”.

ESCALADA DA TENSÃO

Há alguns meses, a Rússia começou a concentrar equipamentos militares e soldados na fronteira com a Ucrânia com a justificativa de que as tropas estariam participando de exercícios militares. Cerca de 150 mil soldados russos estavam na região

A movimentação chamou a atenção de países do Ocidente, como os Estados Unidos, Alemanha e França, e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). As nações buscaram a via diplomática para resolver o conflito, enquanto afirmavam que seriam impostas “sanções severas” contra a Rússia caso houvesse invasão

O presidente russo, Vladimir Putin, recebeu as visitas do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e do presidente da França, Emmanuel Macron, durante o mês de fevereiro a fim de discutirem possíveis soluções para o conflito. Na época, Macron disse que buscava “construir confiança” e “evitar a guerra”.

Enquanto isso, governo dos Estados Unidos indicou que a invasão do território poderia acontecer “a qualquer momento”. Joe Biden vinha dizendo nos últimos dias estar convencido de que Putin invadiria.

Na 2ª feira (21.fev.2022), Putin reconheceu as regiões separatistas de Donetsk e Luhansk como independentes. Obteve no dia seguinte a autorização do Parlamento para enviar tropas para fora do país.

Entenda o conflito

A disputa entre Rússia e Ucrânia começou oficialmente depois de uma invasão russa à península da Crimeia, em 2014. O território foi “transferido” à Ucrânia pelo líder soviético Nikita Khrushchev em 1954 como um “presente” para fortalecer os laços entre as duas nações. Ainda assim, nacionalistas russos aguardavam o retorno da península ao território da Rússia desde a queda da União Soviética, em 1991.

Já independente, a Ucrânia buscou alinhamento com a UE (União Europeia) e Otan enquanto profundas divisões internas separavam a população. De um lado, a maioria dos falantes da língua ucraniana apoiavam a integração com a Europa. De outro, a comunidade de língua russa, ao leste, favorecia o estreitamento de laços com a Rússia.

O conflito propriamente dito começa em 2014, quando Moscou anexou a Crimeia e passou a armar separatistas da região de Donbass, no sudeste. Há registro de mais de 14.000 mortos desde então.

 

- Lula critica ONU por ataque à Ucrânia: “Deveria ter agido”

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a ONU (Organização das Nações Unidas) pela situação no Leste Europeu. A Rússia atacou a Ucrânia nas primeiras horas da madrugada desta 5ª feira (24.fev.2022).

É importante a gente repudiar mais uma guerra no século 21, coisa desnecessária que poderia ter sido resolvida, inclusive, se a ONU tivesse mais representatividade, mais força, para evitar”, disse Lula em entrevista à Rádio Supra FM. “O que era importante é que a ONU tivesse agido sistematicamente, diuturnamente, para evitar que acontecesse essa guerra.”

Segundo Lula, o problema é como a ONU é organizada. Para o ex-presidente, as Nações Unidas não têm mais a representatividade que tinha quando foi criada. Ele criticou o fato do Conselho de Segurança não ter representantes da África, da América Latina ou de países importantes da Ásia e da própria Europa.

É preciso colocar mais países nas Nações Unidas, no Conselho de Segurança, não pode ser apenas 5 países que participaram da 2ª Guerra Mundial”, disse Lula.  “Ela poderia ter tomado decisão para evitar essa guerra.”

Lula disse ainda que a ONU poderia ter convocado, em caráter emergencial, uma Assembleia Geral. O organismo teve um bloco de discussões sobre a Ucrânia na Assembleia Geral na 4ª feira (24.fev). As principais discussões foram no Conselho de Segurança da ONU, incluindo os integrantes permanentes e não-permanentes, que se reuniu na 2ª feira (21.fev).

Por que fica entre 4 ou 5 pessoas que se acham donos do mundo, que são os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU?”, disse Lula. “Nos últimos dias dava a impressão que tinha mais gente instigando a invasão para justificar o seu discurso do que gente falando em paz.

Para o petista, o Brasil precisa ter uma atuação mais “dura” e pedir por mudanças para “tirar a ONU de ser uma coisa decorativa”.

O ex-presidente também criticou a decisão de ação militar por parte da Rússia. Lula afirmou que o conflito leva apenas a mais desespero.

“É lamentável que na 2ª década do século 21 a gente tenha países tentando resolver suas divergências territoriais, políticas, comerciais através de ataques, quando deveria ter sido resolvido em uma mesa de negociação”, disse Lula. “Eu acho que ninguém pode concordar com guerra, ninguém pode concordar com ataques militares de um país sobre outro.

O pettista ainda criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL). O chefe do Executivo visitou a Rússia recentemente. Em 16 de fevereiro, durante a viagem oficial, Bolsonaro afirmou que, “por coincidência ou não”, a Rússia anunciou que iria retirar tropas da fronteira com a Ucrânia.

Aliás, parece até uma piada, o Bolsonaro foi lá dizendo que ia resolver a paz e agora eu acho que é importante mandar ele lá para a Ucrânia, para ver se ele consegue resolver o problema lá”, disse Lula.

 

- Embaixada recomenda que brasileiros deixem a Ucrânia

Quem está na capital Kiev, no entanto, que deve permanecer em casa por conta de grandes engarrafamentos na saída da cidade

A Embaixada do Brasil na Ucrânia recomendou que os brasileiros deixem o país. A exceção é para quem está na capital, Kiev. Por conta de grandes engarrafamentos na saída da cidade, as autoridades ucranianas pedem que todos fiquem em casa.

Quem não puder deixar a Ucrânia deve procurar abrigo em um lugar seguro: “longe de bases militares, instalações responsáveis pelo fornecimento de energia e internet e áreas responsáveis pela produção de energia elétrica”.

A Rússia atacou, nesta 5ª feira (24.fev.2022), ao menos 10 regiões ucranianas. Através das redes sociais, a embaixada do Brasil disse que “após uma série de ataques a alvos militares e estratégicos por todo o país, a situação na maior parte das regiões ucranianas é no momento relativamente estável”.

Mas recomendou que “brasileiros que possam deslocar-se por meios próprios para outros países ao oeste da Ucrânia que o façam tão logo possível, após informarem-se sobre a situação de segurança local”.

Os brasileiros no leste do país que não puderem sair da Ucrânia devem deslocar-se para Kiev e contatar a embaixada.

UCRÂNIA

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu aos russos que “escutem à voz da razão” e parem a guerra. A declaração foi dada na madrugada desta 5ª feira (24.fev.2022), logo depois dos primeiros bombardeiros da Rússia em território ucraniano.

Zelensky disse que ligou para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, mas que “o resultado foi o silêncio”. Segundo o líder ucraniano, o seu homólogo russo não atendeu à ligação.

Líderes mundiais condenaram à invasão. O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que haverá resposta decisiva e conjunta de seu país e de aliados à Rússia. Os ucranianos, em sua avaliação, “sofrem um ataque sem provocação e injustificado das forças militares russas”.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que o bloco condena a “bárbara” invasão da Rússia à Ucrânia e avisou que a União Europeia apresentará novas sanções a “setores estratégicos” da economia russa.

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) condenou “nos termos mais fortes possíveis” o ataque russo à Ucrânia. Em comunicado, o órgão anunciou o envio de tropas “defensivas” para a região. Segundo o órgão, “as ações da Rússia representam uma séria ameaça à segurança euro-atlântica e terão consequências geoestratégicas”.

Fonte: Poder360