Política

Haverá uma nova Europa após a invasão de hoje, afirma Otan





O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, afirmou hoje (24) que a aliança está "trabalhando com a União Europeia, impondo sanções econômicas severas para demonstrar que será um preço muito alto para a Rússia". Na madrugada de hoje (horário de Brasília), a Rússia invadiu a Ucrânia.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, ao lado de Stoltenberg, afirmou que a Otan e a União Europeia estão unidas em favor da Ucrânia e na aplicação de sanções contra a Rússia. "Vamos apresentar um pacote de novas sanções para que sejam aprovadas pelos líderes europeus. Esse pacote vai limitar fortemente o acesso da Rússia ao mercado financeiro. Já houve pressões contra a Rússia nas últimas semanas e essas pressões vão aumentar", afirmou Von Der Leyen.

Ela disse ainda que as sanções vão suprimir o crescimento econômico da Rússia, aumentar a inflação, propiciar uma fuga de capital, prejudicar a infraestrutura industrial e o acesso do país à tecnologia estratégica. "Nossas medidas vão enfraquecer a posição da Rússia e o presidente [Vladimir] Putin vai ter que explicar isso para os seus cidadãos", disse a presidente da Comissão Europeia.

A preocupação, tanto da Otan quanto da UE, é de que haja um transbordamento do conflito para outros países, o que ativaria o artigo 5º da Carta da Otan, que trata de defesa mútua. O artigo afirma que qualquer ataque a um dos membros será considerado um ataque a todos os membros.

A Ucrânia não faz parte da Otan, mas recebe apoio da aliança há anos. No entanto, vários países que fazem fronteira com a Ucrânia são aliados da Otan, entre eles, a Romênia, Hungria, Eslováquia e Polônia. Apenas Moldávia, Bielo-Rússia e Rússia, que também fazem fronteira com a Ucrânia, não participam da Otan.

"A Otan é a aliança mais forte da história e vamos proteger e defender cada um dos aliados. É por isso que aumentamos a presença de forças na parte leste da aliança, com mais soldados, navios e aviões nas últimas semanas, para dar uma resposta de toda a aliança", disse Stoltenberg, que reforçou que a Ucrânia tem hoje Forças Armadas muito mais bem preparadas do que em 2014, quando houve a anexação da Crimeia por parte da Rússia.

O secretário-geral disse ainda que a Otan não tem planos de colocar soldados na Ucrânia, mas sim no território da aliança. "A Ucrânia é um parceiro, nós ajudamos, fortalecemos as suas Forças Armadas mas não temos pessoal dentro da Ucrânia".

Stoltenberg explicou que os planos de defesa da Otan, desenvolvidos ao longo dos anos e iniciados hoje, permitem que a organização possa reagir a crises como essa. "Os planos dão para os nossos comandantes militares mais poderes e a estrutura para eles mobilizarem forças para garantir que tenhamos contingentes prontos para atuar nos lugares certos ao longo da Europa".

Inteligência

Stoltenberg disse que a invasão russa já havia sido prevista pelo serviço de inteligência da organização e que a aliança tentou, de várias maneiras, que a Rússia mudasse o rumo. "Mas a Rússia fechou as portas para uma solução política e diplomática. Nossa inteligência foi muito precisa, previu por meses essas intenções russas de atacar a Ucrânia e nós vamos continuar pedindo para a Rússia que mude o caminho".

Nos últimos meses, Putin reiteradas vezes afirmou que não tinha planos de invadir a Ucrânia. Stoltenberg afirmou que o mandatário russo mentia e que ele tinha planos de invadir. "Vemos invasões da Ucrânia por terra, ar e mar. Não temos todas as informações, mas é uma invasão de uma nação pacífica, livre e independente."

Stoltenberg disse ainda que amanhã (25) haverá uma cúpula virtual na qual a Otan consultará os aliados para definir os próximos passos. "Vamos continuar defendendo nossos aliados, defendemos nossos valores face a um regime autoritário que ameaça e usa a força. Vai haver uma nova realidade, um nova Europa depois da invasão de hoje."

 

-  Premiê britânico sugere reunião de emergência de líderes da Otan

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu hoje (24) reunião de emergência dos líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), "o mais breve possível", para discutir a invasão militar da Ucrânia pela Rússia.

Em mensagem no Twitter, Johnson disse que a invasão "é catástrofe para o continente".

O primeiro-ministro vai participar de reunião por videoconferência, prevista com líderes do G7.

A ministra dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, disse que convocou o embaixador russo para explicar "a invasão ilegal e não provocada da Ucrânia pela Rússia", prometendo impor "sanções severas e mobilizar países no apoio à Ucrânia".

O Reino Unido deverá impor ainda hoje novo pacote de sanções econômicas à Rússia.

O premiê britânico tinha se referido, nessa quarta-feira, à possibilidade de excluir a Rússia dos mercados de dívida soberana, do sistema internacional de pagamentos financeiros bancários e também de impedir empresas russas de obter financiamento internacional. A Rússia lançou, hoje de madrugada, ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeios de alvos em várias cidades. Autoridades ucranianas dizem que a operação deixou dezenas de mortos nas primeiras horas.

O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o ataque responde a um "pedido de ajuda das autoridades das repúblicas de Donetsk e Luhansk", no Leste da Ucrânia, cuja independência reconheceu na segunda-feira, e visa à "desmilitarização do país vizinho.

O ataque foi condenado imediatamente pela comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, além da Otan, União Europeia e Conselho de Segurança ds Nações Unidas.

 

- Putin inicia guerra contra a Ucrânia; Kiev e Otan falam em invasão total

Russo nega ocupação e diz mirar infraestrutura militar do vizinho, que pede ajuda ao Ocidente

Após quatro meses de crise com o Ocidente, a Rússia decidiu atacar a Ucrânia nesta quinta-feira (24), naquilo que Kiev e a Otan (aliança militar ocidental) chamaram de invasão total. É a mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, e a maior operação do gênero desde que os Estados Unidos invadiram o Iraque, em 2003.

presidente Vladimir Putin foi à TV para dizer que faria uma "operação militar especial" no Donbass, a área de maioria russa étnica no leste do vizinho. Seu comando militar, contudo, confirmou que "armas de precisão estão degradando a infraestrutura militar, bases aéreas e aviação das Forças Armadas ucranianas".

Além disso, o comando militar das repúblicas rebeldes afirma que está avançando com suporte russo rumo às fronteiras que consideram suas, violando assim território ucraniano que estava sob Kiev. O nome disso é guerra, invasão ainda que não total.

Há explosões ouvidas em diversos pontos do país e uma chuva de versões em redes sociais. Houve relatos de Kiev, negados depois pelo governo, de forças russas desembarcando em Odessa, importante porto no mar Negro. Na cidade, segundo o governo ucraniano, morreram ao menos seis pessoas em ataques com mísseis.

TVs mostraram tanques que estariam invadindo o norte do país a partir da Belarus, sem confirmação independente. Imagens ao vivo mostraram o bombardeamento de Kharkiv com mísseis disparados de Belgorod, na Rússia.

Por outro lado, Moscou falou que forças ucranianas "não estão resistindo a unidades russas", sem dizer onde. Também foi relatada a derrubada de cinco aviões e um helicóptero russos, além da morte de 50 soldados invasores, o que Moscou nega.

Tudo começou com um pronunciamento às 5h45 (23h45 da quarta, 23, em Brasília), no qual Putin anunciou uma "operação militar especial" para "proteger a população do Donbass", região do vizinho na qual ele reconheceu áreas rebeldes pró-Rússia na segunda (21).

Ele disse que quer trazer à justiça quem cometeu o que chamou de "genocídio" e "crimes" contra russos nas áreas, além de "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia.

Há sinais claros de um ataque amplo, mas não se sabe se é uma invasão total nos termos colocados por Kiev e pelo Ocidente. Putin disse estar cumprindo o que havia prometido: enviar tropas para apoiar as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, e negou que irá ocupar território.

O governo em Kiev pensa diferente. "A invasão da Ucrânia começou", afirmou por sua vez o ministro do Interior ucraniano, Denis Monastirski, citando ataques com artilharia e mísseis. "É uma invasão total", disse seu colega chanceler, Dmitro Kuleba, no Twitter. O país decretou lei marcial e fechou seu espaço aéreo.

O presidente Volodimir Zelenski divulgou vídeo afirmando que os russos atacaram pontos de fronteira e infraestrutura militar do país. "Fiquem calmos", disse, afirmando que o presidente Joe Biden prometeu apoio dos EUA. Mais tarde, ele fez um pronunciamento dizendo que as forças ucranianas estavam resistindo, pedindo doações de sangue para soldados e afirmando que os próximos passos da guerra dependiam de Putin —um truísmo, dada a desproporção de poderio militar de lado a lado.

"Por tudo o que estamos vendo até aqui, e é preciso mais clareza, parece mesmo ser uma invasão", disse por telefone um dos principais analistas militares russos, Ruslan Pukhov, diretor do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, de Moscou.

A Otan, por sua vez, chamou o ataque de "invasão por diversas frentes" e um "ato brutal de guerra". Segundo seu secretário-geral, Jens Stoltenberg, é uma "invasão planejada há muito tempo". Ele voltou a dizer que a aliança militar de 30 membros manterá alta vigilância no Leste Europeu —mas, também previsivelmente, não irá mexer uma palha militar para defender a Ucrânia.

Houve explosões em torno de Kiev e de Kharkiv, importante centro no leste do país. Sirenes antiaéreas começaram a soar na capital às 7h06 locais (2h06 em Brasília), mas até agora não houve relatos de bombardeio diretos da cidade. Moradores da capital se esconderam no sistema de metrô da capital, herança soviética profunda para servir de bunker.

O comando militar russo disse que não está mirando civis.

O governo em Kiev afirma que blindados russos chegaram perto da capital, e um aeroporto ao norte cidade foi tomado por forças aerotransportadas por helicópteros Mi-8 com apoio de modelos de ataque Ka-52, todos vindos de Belarus.

Segundo disse por telefone um morador de Rostov-do-Don à Folha, Mariupol ficou sob fogo também. A agência Reuters divulgou fotografia de tanques russos entrando na cidade, corroborando a ideia de invasão de território ucraniano.

A cidade portuária no mar Negro fica a 180 km da capital da região de Rostov e é um ponto importante perto da chamada linha de contato, a fronteira de 430 km entre os rebeldes pró-Rússia e as forças de Kiev. Segundo Kiev, morreram ao menos duas pessoas lá.

É incerto o que acontece lá: se os russos estão fazendo o que Putin anunciou,"desmilitarizar" a região em torno das ditas repúblicas rebeldes, ou se é o prenúncio de uma ocupação generalizada. Esta é a questão central que preocupa planejadores ocidentais desde a segunda.

Lá fora

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O cenário desenhado até aqui é o de incapacitação das Forças Armadas ucranianas, em um grau semelhante ao imposto à Geórgia pelo mesmo motivo de aproximação com o Ocidente em 2008, restando saber até onde o Kremlin pretende ir. Os sinais não são auspiciosos para Kiev.

"As repúblicas do Donbass nos procuraram e pediram ajuda. O objetivo [da "operação militar especial] é proteger o povo do abuso e do genocídio a que ele vem sido submetido pelo regime de Kiev. Para isso, vamos buscar desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, e levar à justiça aqueles que cometeram numerosos crimes sangrentos contra um povo pacífico, incluindo cidadãos russos", disse Putin.

É uma declaração que promete caçar membros do governo ucraniano. O Donbass é talvez 80% russófono e tem cerca de 4 milhões de pessoas nas áreas rebeldes. Desses, 800 mil têm passaporte de Moscou.

Nessa fala, o presidente russo delineou a justificativa da ação para seu público interno. A "desnazificação" a que ele se refere ressoa fortemente na Rússia, já que de fato há elementos nas Forças Armadas da Ucrânia com associações neonazistas —como o famoso Batalhão Azov, que usa insígnia da SS nazista. Os alemães lutaram contra os soviéticos pelo controle da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial.

O presidente Zelenski, contudo, é judeu e sempre que pode lembrar disso ao comentar as acusações russas. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que só Putin determinará o limite da operação. Ele só reafirmou que não há intenção de ocupar a Ucrânia. Sugeriu a derrubada do governo: "Idealmente, você liberta a Ucrânia e se livra dos nazistas. O futuro pertence ao povo ucraniano".

O presidente americano, Joe Biden, que desde janeiro fala em "invasão iminente" dos russos, afirmou que o país "será responsabilizado" pelos ataques. Até aqui, contudo, o líder do país que comanda a Otan, a aliança militar ocidental, só anunciou sanções econômicas e prometeu outras ainda mais duras em caso de ação armada de Putin, assim como a União Europeia já reafirmou.

A Ucrânia não é parte da Otan, então seus 30 membros não vão defendê-la, como ocorreria se fosse com qualquer um dos integrantes do clube. "Temos cem jatos em alerta máximo. Não pode haver erros de cálculo: o ataque a um [dos membros] é a todos", disse Stoltenberg. O desejo do governo pró-Ocidental que tomou o poder em 2014 era exatamente entrar na aliança, assim como na União Europeia.

Visando evitar a chegada do arcabouço ocidental à sua mais importante fronteira, assim como a da aliada ditadura da Belarus, Putin interveio na crise oito anos atrás anexando a Crimeia e fomentando a guerra civil que agora pretende resolver "manu militari" no leste do país.

Putin pediu para que a Ucrânia baixe as armas no leste e fez uma advertência sombria às potências estrangeiras. "Para qualquer um que considerar interferir de fora: se você o fizer, irá enfrentar consequências maiores do que qualquer uma que enfrentou na história. Todas as decisões relevantes foram tomadas, eu espero que você me ouça", afirmou.

São palavras de retórica incendiária, mas sempre é bom lembrar que no sábado passado (19), o autor dela comandou um grande exercício militardemonstrando capacidades de ataque nuclear por solo, ar e mar. Novamente: a Terceira Guerra Mundial não parece provável porque o próprio Biden já disse que na Otan não interviria militarmente, mas os riscos estão todos colocados.

A ação culmina quatro meses de tensão. Putin mobilizou cerca de 150 mil a 190 mil soldados em torno do país, segundo o Ocidente, e emitiu um ultimato para que a Otan pare de se expandir e que nunca absorva a Ucrânia, entre outros pontos. O russo reclama desde então que o Ocidente, que rejeitou as demandas, não ouviu ele falar sobre "linhas vermelhas".

Até aqui, as tropas mobilizadas davam credibilidade à ameaça russa. Nesta quinta, foram além disso. A Rússia fechou 12 aeroportos no sul do país e suspendeu operações com ativos de curto prazo.

O anúncio foi feito exatamente ao mesmo tempo que uma reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU debatia a crise.

Fonte: Agência Brasil - Folha