Cultura

O Papa: a humanidade é campeã em fazer guerra, uma vergonha para todos





Francisco recordou "os conflitos no Oriente Médio, Síria e Iraque, os da região etíope de Tigrai, e ventos ameaçadores ainda sopram nas estepes da Europa Oriental, acendendo estopins e fogos de armas, gelando os corações dos pobres e inocentes. Enquanto isso, continua o drama do Líbano, que já deixa muitas pessoas sem pão, jovens e adultos perderam a esperança e deixaram aquelas terras".

Fonte: Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (18/02), na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes da plenária da Congregação para as Igrejas Orientais.

Depois de agradecer ao prefeito do organismo vaticano, cardeal Leonardo Sandri, pela saudação e às pessoas que vieram de longe, o Papa recordou o Papa Bento XV, fundador da Congregação para as Igrejas Orientais e do Pontifício Instituto Oriental, no centenário de sua morte, ressaltando que ele afirmou na Encíclica Dei Providentis, que "na Igreja de Jesus Cristo, que não é nem latina, nem grega, nem eslava, mas católica, não há discriminação entre seus filhos e que todos, latinos, gregos , eslavos e outras nacionalidades têm a mesma importância". Francisco disse ainda que Bento XV "denunciou a incivilidade da guerra como 'massacre inútil'. A sua advertência foi ignorada pelos Chefes das Nações envolvidas na Primeira Guerra Mundial. Ignorado foi também o apelo de São João Paulo II para evitar o conflito no Iraque".

A humanidade retrocede ao tecer a paz

Como neste momento, há tantas guerras por toda parte, este apelo tanto dos Papas quanto dos homens e mulheres de boa vontade, não é ouvido. Parece que o maior prêmio da paz deve ser dado às guerras: uma contradição. Estamos apegados às guerras. E isso é trágico. A humanidade, que se orgulha de avançar na ciência, no pensamento, em tantas coisas bonitas, retrocede ao tecer a paz. É campeã em fazer guerra. Isto é uma vergonha para todos: devemos rezar e pedir perdão por este comportamento.

A seguir, Francisco recordou "os conflitos no Oriente Médio, na Síria e no Iraque; os da região etíope de Tigrai; e ventos ameaçadores que ainda sopram nas estepes da Europa Oriental, acendendo estopins e fogos de armas, gelando os corações dos pobres e inocentes. Enquanto isso, continua o drama do Líbano, que já deixa muitas pessoas sem pão; jovens e adultos perderam a esperança e deixaram aquelas terras. No entanto, eles são a pátria-mãe das Igrejas Católicas Orientais: ali se desenvolveram, preservando tradições milenares, e muitos de vocês, membros do Dicastério, são seus filhos e herdeiros".

O Papa lembrou que "os católicos orientais vivem em continentes distantes há décadas, cruzaram mares e oceanos e atravessaram planícies. Eparquias já foram estabelecidas no Canadá, Estados Unidos, América Latina, Europa, Oceania e muitas outras são confiadas, pelo menos por enquanto, aos Bispos latinos que coordenam a ação pastoral através dos sacerdotes enviados segundo os procedimentos dos respectivos Chefes das Igrejas, Patriarcas, Arcebispos Maiores ou Metropolitas sui iuris".

"É por isso que seus trabalhos trataram da evangelização, que constitui a identidade da Igreja em todas as suas partes, aliás, a vocação de cada batizado. E para a missão devemos escutar mais a riqueza das várias tradições", disse ainda o Papa.

O percurso sinodal é caminhar juntos

Ao falar da liturgia, Francisco recordou o percurso sinodal que "não é um parlamento, não é nos dizer opiniões diferentes e depois fazer uma síntese ou uma votação: não".

O percurso sinodal é caminhar juntos sob a orientação do Espírito Santo, e vocês, em suas Igrejas, que têm Sínodos, antigas tradições sinodais, são testemunhas disso. Há o Espírito, na sinodalidade, e quando não há o Espírito na sinodalidade, há apenas um parlamento ou uma pesquisa de opinião, mas não o Sínodo. Esta experiência é o céu na terra, na liturgia acontece isso, como o Oriente gosta especialmente de repetir. Mas a beleza dos ritos orientais está longe de ser um oásis de evasão ou conservação. A assembleia litúrgica se reconhece como tal não porque se convoca, mas porque escuta a voz de um Outro, permanecendo voltada para Ele, e por isso sente a urgência de ir ao irmão e irmã levando o anúncio de Cristo.

O Papa agradeceu aos presentes por seu trabalho nesses dias, "uma oportunidade para se conhecer dentro das comissões litúrgicas das diferentes Igrejas sui iuris" e um convite "para caminhar junto com o Dicastério e seus Consultores, segundo o caminho indicado pelo Concílio Ecumênico Vaticano II". "Podemos nos perguntar", disse ainda o Pontífice, "sobre a possível introdução de edições da liturgia nas línguas dos países onde os fiéis se difundiram, mas na forma da celebração é necessário viver a unidade de acordo com o que foi estabelecido pelo Sínodos e aprovado pela Sé Apostólica, evitando particularismos litúrgicos que, na realidade, manifestam divisões dentro das respectivas Igrejas".

O Papa concluiu, convidando os participantes da plenária a estarem atentos "às experiências que podem prejudicar o caminho rumo à unidade visível de todos os discípulos de Cristo. O mundo precisa do testemunho da comunhão: se escandalizarmos com as disputas litúrgicas, estamos no jogo daquele que é o mestre da divisão".