A Ucrânia pode abandonar a intenção de ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para evitar confronto militar com a Rússia, disse hoje (14) o embaixador ucraniano no Reino Unido, Vadym Prystaiko.
Em declaração à BBC, o embaixador afirmou que seu país seria "flexível" quanto ao objetivo de ingressar na Aliança Atlântica, acrescentando que a Ucrânia é um país "responsável", após o presidente russo, Vladimir Putin, ameaçar entrar em conflito armado.
"Podemos (não aderir), especialmente se ameaçados assim, intimidados assim", respondeu Prystaiko à pergunta se Kiev mudaria a posição de integrar a Otan.
A Ucrânia não é membro da Aliança Atlântica, mas manifestou interesse em entrar na organização militar ocidental, decisão vista como linha vermelha para o Kremlin.
A tensão entre Kiev e Moscou aumentou desde novembro passado, depois de a Rússia ter enviado mais de 100 mil soldados para região próxima à fronteira ucraniana, o que fez disparar alarmes na Ucrânia e no Ocidente, que denunciou preparativos para invasão da ex-república soviética.
Em dezembro, a Rússia exigiu garantias de segurança obrigatórias dos Estados Unidos e da Otan para impedir que a Aliança Atlântica se expandisse mais para o leste e implantasse armas ofensivas perto de suas fronteiras.
Moscou escreveu recentemente carta a todos os países-membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Osce), pedindo que se posicionassem sobre o que entendem por segurança indivisível na Europa.
Apesar dos esforços diplomáticos, a diminuição da escalada militar e da tensão não foi alcançada até agora.
A Rússia alega que tem o direito soberano de estacionar tropas em qualquer lugar de seu território e, por sua vez, denuncia o fornecimento massivo de armas à Ucrânia pelo Ocidente.
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- Rússia aceitaria uma recusa formal da Ucrânia em ingressar na Otan, diz porta-voz
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que se a Ucrânia recusar “a ideia de ingressar na Otan”, isso “contribuiria significativamente para a formulação de uma resposta mais significativa às preocupações russas”, declarou em resposta às declarações feitas pelo embaixador da Ucrânia em Londres no fim de semana.
Vadym Prystaiko, o embaixador ucraniano no Reino Unido, sugeriu que o país pode reconsiderar suas ambições de ingressar na Otan em um esforço para evitar a guerra.
Prystaiko esclareceu seus comentários na segunda-feira (14), dizendo que seu país está “pronto para muitas concessões”, mas acrescentou que essas concessões “não têm nada a ver com a Otan, que está consagrada na constituição [ucraniana]”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko, esclareceu ainda mais a posição de seu país nesta segunda-feira (14), dizendo: “Gostaria de repetir que essas palavras [de Prystaiko] são ruins. A perspectiva da adesão da Ucrânia à Otan está consagrada na Constituição e não há decisões podem ser tomadas ao contrário.”
Solicitado a responder às observações de Prystaiko, Peskov disse: “Você [o repórter] também chamou a atenção para o fato de que Kiev foi solicitada a esclarecer o embaixador. Isso dificilmente pode ser percebido como um fato consumado – uma mudança na mudança conceitual da política externa de Kiev”.
Questionado se tal passo hipotético satisfaria o Kremlin, Peskov disse: “Sem dúvida. Algo fixo, confirmando a recusa da Ucrânia à ideia de aderir à Otan. Este é certamente um passo que contribuiria significativamente para a formulação de uma resposta mais significativa às preocupações russas”.
A Rússia argumenta que o apoio da Otan à Ucrânia – incluindo o aumento do fornecimento de armas e treinamento militar – constitui uma ameaça crescente no flanco ocidental da Rússia.
Peskov também disse a jornalistas que o presidente russo, Vladimir Putin, se reunirá com o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e com o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, na segunda-feira.
Isso ocorre depois que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falar com Putin por cerca de uma hora no sábado, mas pouco fez para mudar a posição de Moscou sobre a Ucrânia.
Um alto funcionário do governo disse a repórteres após a ligação que a discussão era substantiva, mas os EUA temem que a Rússia ainda possa lançar um ataque militar de qualquer maneira.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia acusou na sexta-feira os países ocidentais e a imprensa de espalhar uma “campanha de desinformação em larga escala” sobre uma invasão russa supostamente iminente da Ucrânia “para desviar a atenção de suas próprias ações agressivas”.
O chanceler alemão Olaf Scholz está em uma nova tentativa de resolver as tensões entre a Rússia e a Ucrânia por meio da diplomacia. Ele está reunido com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no Palácio Mariinsky, em Kiev.
- G7 alerta Rússia para consequências econômicas “massivas” em caso de invasão
Os ministros da Economia dos países do G7, grupo de grandes economias ocidentais, alertaram a Rússia, nesta segunda-feira (14), sobre consequências econômicas “massivas” caso decida invadir a Ucrânia, a cuja economia também prometeram apoio rápido e decisivo.
“O aumento contínuo das forças armadas russas nas fronteiras da Ucrânia é motivo de grande preocupação”, escreveram em comunicado conjunto.
“Nós, os ministros das Finanças do G7, destacamos nossa prontidão para agir rápida e decisivamente para apoiar a economia ucraniana”, acrescentam.
“Qualquer outra agressão militar da Rússia contra a Ucrânia será recebida com uma resposta rápida, coordenada e vigorosa”, completa o texto.
“Estamos preparados para impor coletivamente sanções econômicas e financeiras que terão consequências massivas e imediatas na economia russa”, concluem.
Neste domingo (13), o chanceler alemão Olaf Scholz alertou a Rússia sobre sanções imediatas e “reações duras” se o país atacar a Ucrânia, mantendo um tom duro antes da reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, que será realizada nesta semana.
Scholz viaja para Kiev na segunda-feira (14) para se encontrar com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy e para Moscou na terça-feira (15) para se encontrar com Putin, como parte dos esforços diplomáticos para aliviar as tensões. Ambas as viagens serão para sondar como garantir a paz entre os países.
“Um acordo militar contra a Ucrânia que coloque em risco sua integridade territorial e soberania resultará em duras reações e sanções que preparamos cuidadosamente e que podemos colocar em vigor imediatamente, junto com nossos aliados na Europa e na Otan”, disse Scholz em breves comentários a repórteres.
Os Estados Unidos disseram que os militares russos, que têm mais de 100.000 soldados concentrados perto da Ucrânia, podem invadir a qualquer momento. A Rússia nega ter tais planos e diz que suas ações são uma resposta à agressão dos países da Otan.
Berlim não espera resultados concretos dos encontros, disse uma fonte do governo.
“O chanceler deixará claro que qualquer ataque à Ucrânia terá consequências pesadas. E que não se deve subestimar a unidade entre a União Europeia, Estados Unidos e Grã-Bretanha”, disse a fonte do governo alemão.
Fonte: Agência Brasil - CNN Brasil - Reuters