O presidente dos EUA, Joe Biden, aprovou o envio de forças adicionais para a Europa. O porta-voz do Pentágono, John Kirby, confirmou o envio em transmissão ao vivo.
Ao todo são 3.000 soldados extras para o Leste Europeu: 2.000 irão para a Polônia e Alemanha. Outros 1.000 já baseados na Alemanha vão para a Romênia.
O objetivo, segundo Biden, é proteger os aliados da Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte) de uma possível invasão russa. Não há intenção de enviar tropas para a Ucrânia, disse Washington.
Hoje os EUA mantêm 4.000 soldados norte-americanos na Polônia e 100 na Lituânia. Outros 60 estão na Letônia e Estônia, em missão temporária e rotativa.
O envio é a mais nova resposta dos EUA aos relatos de que a Rússia mantém mais de 100 mil soldados nas fronteiras com a Ucrânia. Moscou já teria construído hospitais de campanha e alojamentos para as tropas –um indício de preparação para invadir a ex-nação soviética.
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- Putin acusa Estados Unidos de tentarem atrair Rússia para guerra
O presidente russo, Vladimir Putin, acusou o Ocidente de, deliberadamente, criar cenário destinado a atraí-lo para a guerra e ignorar as preocupações de segurança da Rússia sobre a Ucrânia.
Em seus primeiros comentários públicos diretos sobre a crise em quase seis semanas, Putin não mostrou sinais de recuo das exigências de segurança que o Ocidente chamou de destinadas ao fracasso e uma possível desculpa para iniciar uma invasão, o que Moscou nega.
"Já está claro agora que as preocupações russas fundamentais foram ignoradas", disse Putin em entrevista, durante visita do primeiro-ministro da Hungria, um dos vários líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que tenta fazer interlocução à medida que a crise se intensifica.
Putin descreveu possível cenário futuro em que a Ucrânia seria admitida na Otan e depois tentaria recapturar a península da Crimeia, território que a Rússia tomou em 2014.
"Vamos imaginar que a Ucrânia seja membro da Otan e inicia essas operações militares. Devemos entrar em guerra com o bloco da Otan? Alguém já pensou nisso? Aparentemente não", disse ele.
A Rússia concentrou mais de 100 mil soldados na fronteira ucraniana, e os países ocidentais dizem temer que Putin possa estar planejando uma invasão.
A Rússia nega, mas afirmou que poderia haver ação militar não especificada, a menos que suas exigências de segurança sejam atendidas. Países ocidentais dizem que qualquer invasão traria sanções a Moscou.
O Kremlin quer que o Ocidente respeite o acordo de 1999, segundo o qual nenhum país pode fortalecer sua própria segurança às custas de outros, o que considera ponto central da crise, disse o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.
Ele levantou a carta assinada em Istambul por membros da Organização para Segurança e Cooperação na Europa, que inclui os Estados Unidos (EUA) e o Canadá, durante conversa telefônica com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.
Segundo Lavrov, Blinken reconheceu que é preciso discutir mais o assunto, enquanto relato dos EUA sobre a conversa afirma que ela se concentrou na necessidade de Moscou recuar.
"Se o presidente Putin realmente não pretende guerra ou mudança de regime, então este é o momento de retirar tropas e armamento pesado e de se envolver em uma discussão séria", disse autoridade graduada do Departamento de Estado.
Putin não falava publicamente sobre a crise na Ucrânia desde 23 de dezembro, enquanto diplomatas da Rússia e do Ocidente estão envolvidos em repetidas rodadas de negociações.
Suas declarações ontem refletiram visão de mundo na qual a Rússia precisa se defender de agressividade e hostilidade dos Estados Unidos. Para Putin, Washington não está preocupada essencialmente com a segurança da Ucrânia, mas com a contenção da Rússia.
"Nesse sentido, a própria Ucrânia é apenas um instrumento para atingir esse objetivo", disse.
"Isso pode ser feito de diferentes maneiras, atraindo-nos para algum tipo de conflito armado e, com a ajuda de seus aliados na Europa, forçando a introdução contra nós das duras sanções de que estão falando agora nos EUA".
- O que Bolsonaro fará na Rússia em momento de alta tensão com Ucrânia
O presidente Jair Bolsonaro deverá se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin, na segunda semana de fevereiro, em uma visita que o brasileiro fará a Moscou.
A visita vem chamando atenção por conta do momento em que ela está prevista. Nas últimas semanas, aumentaram as tensões na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia e a comunidade internacional teme uma invasão russa no que poderia se transformar em um conflito imprevisível.
É nesse contexto que Bolsonaro vai liderar a delegação brasileira à Rússia. Mas afinal: o que o presidente vai fazer no país comandado por Putin? Fontes diplomáticas ouvidas pela BBC News Brasil indicam que a agenda de Bolsonaro na Rússia será curta e deverá incluir um encontro formal com Putin, um evento empresarial e tentativas de manter aberto o fluxo de exportação de fertilizantes para o agronegócio brasileiro.
A visita de Bolsonaro à Rússia começou a ser construída no final do ano passado, quando o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, se reuniu com o chanceler russo, Sergei Lavrov, em Moscou. Durante a visita, o convite formal foi feito e o governo brasileiro aceitou.
Na semana passada, Bolsonaro confirmou sua ida ao país europeu durante uma conversa com apoiadores.
"Ele [Putin] é conservador sim. Eu vou estar mês que vem lá, atrás de melhores entendimentos, relações comerciais. O mundo todo é simpático com a gente", disse Bolsonaro a apoiadores na quinta-feira (27/1).
Fontes ouvidas pela BBC News Brasil indicam que Bolsonaro deverá chegar a Moscou no dia 14 de fevereiro. A expectativa é de que ele se encontre com Putin nesse mesmo dia, embora haja a possibilidade de que o encontro possa ficar para o dia seguinte.
Os diplomatas dos dois países avaliam a possibilidade de que seja divulgado um comunicado conjunto dos dois presidentes, mas o teor dele ainda não foi definido. Os temas discutidos até o momento são cooperação, multilateralismo e economia.
Além do encontro com Putin, há a previsão para que Bolsonaro faça uma visita à Duma, o equivalente à Câmara dos Deputados no Parlamento russo. Lá, Bolsonaro seria recebido por parlamentares locais.
Não há previsão de que acordos comerciais sejam assinados durante essa visita. A diplomacia dos dois países, no entanto, trabalha em acordos em áreas como cooperação acadêmica e cultural.
Um evento empresarial também está sendo organizado.
Do lado brasileiro, a expectativa é de que uma delegação de empresários do agronegócio participe do encontro.
Do lado russo, espera-se a participação de empresários do setor de infraestrutura e fertilizantes. O evento deverá durar algumas horas e ter a presença de Bolsonaro.
Diplomatas ouvidos pela reportagem afirmam que a crise na Ucrânia não deverá estar no foco das conversas entre Bolsonaro e Putin. O entendimento entre os brasileiros é de que o país não ganharia nada ao se intrometer no assunto.
A crise entre Rússia e Ucrânia vem se arrastando desde 2014, quando a Rússia anexou a península da Crimeia, região que antes era controlada pela Ucrânia. Nos últimos meses, os russos enviaram milhares de soldados para a fronteira entre os dois países.
O governo russo exige que a Ucrânia não seja incluída na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar criada durante a Guerra Fria para fazer frente ao então bloco soviético.
Putin vem afirmando que a inclusão da Ucrânia na entidade representa um perigo à segurança do país.
Nas últimas semanas, a situação se agravou e a comunidade internacional teme uma invasão russa à Ucrânia, o que poderia ter consequências em boa parte da Europa.
Enquanto a tensão na região aumenta, o anúncio da visita de Bolsonaro à Rússia gerou reações entre aliados.
Na semana passada, o Departamento de Estado norte-americano divulgou uma nota afirmando que o Brasil tinha "responsabilidade" em confrontar a Rússia sobre a situação da Ucrânia.
"O Brasil tem a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, e reforçar esta mensagem para a Rússia em todas as oportunidades", disse o Departamento de Estado ao responder um questionamento feito pela reportagem.
À BBC News Brasil, o encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatolyi Tkach, disse esperar que o Brasil se posicione de forma favorável ao país durante a visita a Putin.
"Nós gostaríamos que, durante esta viagem, o presidente do Brasil se manifestasse em favor da resolução pacífica do conflito [...] Nós estamos confiantes de que o Brasil vai apoiar a Ucrânia mesmo sem se pronunciar", afirmou.
Na segunda-feira (31/1), o Brasil votou com os Estados Unidos no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para a manutenção de uma reunião de emergência para discutir a tensão na fronteira ucraniana.
Ainda na segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista, esperar por uma solução diplomática para a crise.
"A gente espera que tudo se resolva no maior clima de tranquilidade e harmonia. O Brasil é um país pacífico. Obviamente, se esse assunto vier à pauta, será por parte do Putin. Não da nossa parte", afirmou o presidente em entrevista à TV Record.
Pessoas envolvidas na organização da viagem enfatizam que o contexto da viagem não será a discussão de temas de segurança, mas o fortalecimento dos laços bilaterais entre os dois países.
"O Brasil e a Rússia fazem parte dos BRICs (sigla para o grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e estão presentes em fóruns multilaterais com interesses convergentes. Essa visita terá um foco político muito importante", afirmou um diplomata ouvido pela BBC News Brasil sob condição de anonimato.
Para o Brasil, um dos focos é melhorar o saldo da balança comercial com os russos. Historicamente, o Brasil importa mais do que exporta para o país europeu, mas essa diferença se acentuou nos últimos anos.
De acordo com o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), do governo federal, entre 2017 e 2021, o volume de exportações do Brasil para a Rússia caiu 44%, saindo de US$ 2,7 bilhões para US$ 1,5 bilhão. No mesmo período, as importações de produtos russos aumentaram 119%, saindo de US$ 2,6 bilhões para US$ 5,7 bilhões.
O Brasil exporta commodities agrícolas para a Rússia como soja e outros produtos como carnes e couros. A Rússia, por sua vez, é uma das principais exportadoras de fertilizantes para o Brasil.
O acesso ao mercado russo de fertilizantes, aliás, é um dos principais focos da viagem da comitiva brasileira a Moscou.
Em novembro do ano passado, o governo russo impôs um sistema de cotas para a exportação desses produtos para o mundo todo.
O temor do governo brasileiro e de empresários do agronegócio é que essas cotas pudessem diminuir a quantidade de fertilizantes disponível no Brasil, uma vez que o país não é autossuficiente na produção desse item.
No final do ano, a ministra da Agricultura e Pecuária, Tereza Cristina, foi à Rússia tratar do assunto. Embora o sistema de cotas não tenha caído, o governo brasileiro afirmou que havia conseguido a garantia de fornecimento de fertilizantes para o país no médio prazo e que haveria, inclusive, a possibilidade de aumento no volume enviado ao país.
Apesar do aceno, a ministra voltará à Rússia junto com Bolsonaro e deverá tratar do assunto novamente com empresários e membros do governo russo.
Seu afastamento já foi, inclusive, autorizado pelo presidente.
A expectativa é de que, além da Rússia, Bolsonaro vá à Hungria, presidida pelo conservador Viktor Orbán. A viagem, no entanto, ainda não foi confirmada pelo Itamaraty.
Fonte: Agência Brasil - Poder360 - BBC News Brasil