Cotidiano

Sintomas por Ômicron são mais leves, mas imunidade também é menor, sugere estudo





 

Gravidade da doença ocasionada pela Delta pode estar associada ao maior nível nos títulos de anticorpos verificado em pesquisa norte-americana

A infecção natural pela Covid-19 confere certa imunidade contra o novo coronavírus, que tende a diminuir com o passar do tempo. Pesquisadores dos Estados Unidos encontraram evidências de que pessoas infectadas pela variante Ômicron apresentam índices mais baixos de anticorpos em comparação com os contaminados pela variante Delta.

De acordo com o estudo, publicado em formato preprint (o que significa que ainda não foi revisado por pares), a diferença na imunidade pode estar associada à gravidade dos quadros clínicos distintos da Covid-19 provocados pelas duas cepas do vírus.

Infecções moderadas a graves, causadas principalmente pela variante Delta, levariam a uma imunidade mais robusta em comparação com a infecção pela Ômicron, que tem sido relacionada a sintomas mais brandos.

“A Ômicron, aparentemente, gera uma resposta imune menor quando comparada com pessoas infectadas pela Delta. Nesse estudo, pessoas que desenvolveram a doença severa tiveram uma resposta imune muito melhor do que aquelas que pegaram a Ômicron ou a Delta com uma severidade menor da doença”, explica o microbiologista Luiz Almeida, pesquisador do Instituto Questão de Ciência.

Entenda a formação da imunidade

O estudo da neutralização de anticorpos é um dos principais métodos utilizados para avaliar a indução da imunidade no organismo de pessoas vacinadas ou que tiveram infecção prévia. As análises, realizadas in vitro, ou seja, em ambiente controlado de laboratório, também permitem mensurar o impacto de uma variante do novo coronavírus para a eficácia das vacinas.

Nos testes, os pesquisadores verificam a capacidade que os anticorpos de pessoas vacinadas ou infectadas naturalmente têm de neutralizar uma variante.

Para medir esse impacto, eles utilizam amostras do plasma sanguíneo dos indivíduos, onde podem ser encontrados os anticorpos, e o material contendo o novo coronavírus inteiro ou fragmentos das principais estruturas de ligação do vírus com as células humanas, como a proteína Spike.

Os resultados identificados são comparados com a capacidade de neutralização dos anticorpos contra linhagens do vírus que circulavam no início da pandemia e não apresentam tantas mutações.

De forma geral, os anticorpos – induzidos tanto pela vacinação quanto pela infecção natural, tendem a apresentar algum tipo de redução na capacidade de neutralização quando expostos às novas variantes. No entanto, a diminuição não pode ser compreendida como perda completa na capacidade de proteção, uma vez que a resposta do sistema imunológico é complexa e vai além da ação de anticorpos.

Quando as vacinas são inoculadas no organismo, por exemplo, elas também contam com uma função essencial de ativação de outras células de defesa, os chamados linfócitos T.

A resposta celular gerada pelos imunizantes também envolve células de memória do sistema imunológico que permanecem no corpo.

Assim, quando o indivíduo entra em contato com o novo coronavírus por meio de uma infecção natural, essas células de memória ativam a produção de anticorpos que respondem contra a infecção, evitando principalmente os casos graves, hospitalizações e mortes pela doença.

Ensaios de neutralização

Os níveis de anticorpos em pessoas vacinadas diminuem com o tempo e apresentam redução na capacidade de neutralização contra as variantes Delta e Ômicron.

Neste estudo, a imunidade foi mensurada a partir de ensaios de neutralização com dois métodos: partículas semelhantes ao vírus e o coronavírus inteiro. Para chegar ao resultado, os pesquisadores analisaram 239 amostras de 125 pessoas com o esquema vacinal completo.

Em um primeiro momento, os cientistas testaram as amostras dos indivíduos vacinados (sem a dose de reforço) e que não foram infectados. Nessa etapa, Nessa etapa, a quantidade de anticorpos neutralizantes foi reduzida 2,7 vezes quando expostos à Delta e 15,4 vezes diante da Ômicron. Os índices de redução têm como parâmetro os resultados verificados após a exposição das mesmas amostras ao vírus “selvagem”, como é chamado tecnicamente o coronavírus circulante no início da pandemia.

Os indivíduos que receberam o reforço vacinal, por sua vez, tiveram títulos de anticorpos aumentados em 18 vezes. Quando os anticorpos dessas pessoas foram expostos à Delta e à Ômicron, a diminuição na neutralização também foi menor, sendo de 3,3 vezes e de 7,4 vezes, respectivamente. Os achados sugerem uma maior proteção contra as variantes após a aplicaçãoda dose de reforço.

Para o pesquisador do Instituto Questão de Ciência, os resultados do estudo apontam na direção contrária à ideia de que a variante Ômicron, altamente contagiosa, possa positiva para a “imunidade coletiva”.

“Pessoas não vacinadas que pegaram infecção leve pela Ômicron não vão gerar uma resposta imune boa e isso derruba mais uma vez aquela ideia de imunidade de rebanho por infecção natural. Não adianta a Ômicron espalhar melhor e causar menos doença se ela não vai gerar respostas de anticorpos e celular adequadas”, afirma Almeida.

Os pesquisadores também verificaram que as pessoas vacinadas que se contaminaram após a imunização, a chamada infecção disruptiva, também tiveram um aumento nos níveis de anticorpos.

Para chegar ao resultado, eles analisaram amostras de plasma de 53 pacientes com infecções confirmadas pelo SARS-CoV-2. Dos 53 casos, 28 foram causados pela Delta e 14 pela Ômicron. A identificação foi realizada por sequenciamento do genoma viral. Para 11 das amostras não foi possível detectar a linhagem devido à falta de material genético suficiente.

“O ponto dos autores é que tanto a infecção, por Delta ou Ômicron, quanto a dose de reforço da vacina elevam a produção de anticorpos neutralizantes. Entretanto a infecção depende do quadro clínico mais severo para ter um aumento mais significante, mas isso coloca em risco o paciente”, comenta o presidente do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), João Viola.

 

Confira outras notícias 

- OMS: volumes de lixo hospitalar gerados pela covid-19 ameaçam saúde

Seringas, kits de teste usados ​​e frascos de vacina descartados durante a pandemia de covid-19 se acumularam para criar dezenas de milhares de toneladas de resíduos médicos, ameaçando a saúde humana e o meio ambiente, alerta relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira (1º).

O material, que pode ter parte infecciosa, já que o novo coronavírus pode sobreviver em superfícies, expõe os profissionais de saúde a queimaduras, ferimentos com agulhas e germes causadores de doenças, segundo o estudo.

As comunidades próximas a aterros mal administrados também podem ser afetadas pelo ar contaminado da queima de resíduos, má qualidade da água ou pragas transmissoras de doenças, acrescentou.

O relatório pede reforma e investimento, inclusive por meio da redução do uso de embalagens que têm causado uma corrida pelo plástico, e o uso de equipamentos de proteção feitos de materiais reutilizáveis ​​e recicláveis.

Estima-se que cerca de 87 mil toneladas de equipamentos de proteção individual (EPI), ou o equivalente ao peso de várias centenas de baleias azuis, foram encomendadas por meio de um portal da Organização das Nações Unidas (ONU) até novembro de 2021 - a maioria deve ter acabado no lixo.

O relatório também menciona cerca de 140 milhões de kits de teste com potencial para gerar 2,6 mil toneladas de lixo, principalmente plástico e resíduos químicos, suficientes para encher um terço de uma piscina olímpica.

Além disso, estima-se que cerca de 8 bilhões de doses de vacinas administradas globalmente produziram 144 mil toneladas adicionais de resíduos na forma de frascos de vidro, seringas, agulhas e caixas de segurança.

O relatório da OMS não citou exemplos específicos de onde ocorreram os acúmulos mais notórios, mas se referiu a desafios como o limitado tratamento e descarte oficial de resíduos na Índia rural, bem como grandes volumes de lodo fecal de instalações de quarentena em Madagascar.

Fonte: Agência Brasil - CNN Brasil