Cultura

Papa: uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise





Dignidade, discernimento e fé foram as três palavras refletidas durante o discurso do Papa Francisco aos participantes da Assembleia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé recebidos nesta manhã (21/02) no Vaticano

Jane Nogara - Vatican News

Na manhã desta sexta-feira (21/01) o Papa Francisco recebeu os participantes da Assembleia Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé. O Papa iniciou seu discurso comunicando que iria partilhar com os presentes algumas reflexões, agrupando-as em torno de três palavras: dignidadediscernimento e .

Dignidade

Ao refletir sobre a palavra dignidade o Papa recordou que em nossa época, “marcada por tantas tensões sociais, políticas e até mesmo relacionadas à saúde, há uma tentação crescente de considerar o outro como um estranho ou um inimigo, negando-lhe a verdadeira dignidade”. Advertindo que “especialmente neste momento, somos chamados a lembrar, ‘em todas as ocasiões oportunas e inoportunas’ e seguindo fielmente um ensinamento da Igreja de dois mil anos, que a dignidade de todo ser humano tem um caráter intrínseco e é válida desde o momento da concepção até a morte natural”.

“A afirmação da dignidade é o pré-requisito inalienável para a proteção de uma existência pessoal e social, e também a condição necessária para que a fraternidade e a amizade social sejam realizadas entre todos os povos da Terra”

“A Igreja – continuou o Pontífice - desde o início de sua missão sempre proclamou e promoveu o valor intangível da dignidade humana. O homem é de fato a obra-prima da criação: é querido e amado por Deus como parceiro em seus planos eternos, e por sua salvação Jesus deu sua vida ao ponto de morrer na cruz por cada homem, por cada um de nós".

Discernimento

Ao falar sobre o discernimento o Papa refletiu três aspectos, o primeiro referia-se sobre "a maior necessidade de espiritualidade em nossos tempos que, porém, nem sempre encontra seu ponto de referência no Evangelho. Assim, não é raro lidar com supostos fenômenos sobrenaturais, para os quais o povo de Deus deve receber indicações confiáveis e sólidas", aconselhou Francisco.

O segundo aspecto do discernimento “encontra uma aplicação necessária na luta contra abusos de todo tipo".

“A Igreja com a ajuda de Deus, leva adiante com determinação seu compromisso de fazer justiça às vítimas de abusos por parte de seus membros, aplicando com especial cuidado e rigor a legislação canônica prevista”

Recordando também que recentemente atualizou as “Normas sobre crimes reservados à Congregação para a Doutrina da Fé", com o desejo de tornar a ação judicial mais incisiva. "Isto por si só não pode ser suficiente para conter o fenômeno, mas é um passo necessário para restabelecer a justiça, reparar o escândalo e emendar o réu”.

E o terceiro aspecto do discernimento referia-se “a dissolução do vínculo matrimonial in favorem fidei”. “Quando – explicou Francisco - em virtude do poder petrino, a Igreja concede a dissolução de um vínculo matrimonial não-sacramental, não se trata apenas de pôr um fim canônico a um casamento, que já falhou de fato, mas, na realidade, através deste ato eminentemente pastoral, pretendo sempre favorecer a fé católica - in favorem fidei! - na nova união e na família, da qual este novo casamento será o núcleo”.

Francisco destaca ainda um outro importante aspecto: "E aqui também gostaria de focalizar a necessidade de discernimento no caminho sinodal

“Um caminho sinodal sem discernimento não é um caminho sinodal. É necessário discernir continuamente opiniões, pontos de vista e reflexões. Não se pode percorrer o caminho sinodal sem discernir”

Este discernimento é o que fará do Sínodo um verdadeiro Sínodo, no qual - digamos - o personagem mais importante é o Espírito Santo, e não um parlamento ou uma pesquisa de opiniões que a mídia possa realizar. É por isso que ressalto: o discernimento é importante no caminho sinodal"

A fé

Por fim o Papa refletiu sobre a palavra . Iniciou recordando o fundamento da Congregação que é o de “não apenas para defender, mas também para promover a fé. Sem fé, a presença de crentes no mundo seria reduzida à de uma agência humanitária”. “Nunca devemos esquecer - afirmou - que uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise; uma fé que não nos faz crescer é uma fé que deve crescer; uma fé que não nos questiona é uma fé sobre a qual nos devemos questionar; uma fé que não nos anima é uma fé que deve ser animada; uma fé que não nos sacode é uma fé que deve ser sacudida"

Concluindo disse aos presentes:

“Não nos contentemos com uma fé morna e habitual. Colaboremos com o Espírito Santo e uns aos outros para que o fogo que Jesus trouxe ao mundo possa continuar aceso e incendiar o coração de todos”

 

Confira outras notícias 

- Santo Irineu é Doutor da Igreja

A decisão consta do decreto do Papa Francisco assinado nesta sexta-feira, 21 de janeiro. O apóstolo dos povos celtas e germânicos e defensor da Doutrina recebe o título de "Doctor unitatis". Em seu nome e em sua vida está impresso o anseio de paz e diálogo.

"Que a doutrina de tão grande Mestre possa encorajar cada vez mais o caminho de todos os discípulos do Senhor rumo à plena comunhão". Estes são os votos com os quais o Papa assina o Decreto com a data de 21 de janeiro, que declara Santo Irineu de Lyon Doutor da Igreja, com o título de Doctor unitatis.

Nas motivações que antecedem o anúncio, Francisco destaca dois aspectos da vida e da obra do Santo que, "vindo do Oriente", "exerceu seu ministério episcopal no Ocidente":

Ele era uma ponte espiritual e teológica entre os cristãos orientais e ocidentais. Seu nome, Irineu, exprime aquela paz que vem do Senhor e que reconcilia, reintegrando na unidade.

Recordamos que na quinta-feira, 20, foi dado o último passo para este pleno reconhecimento do bispo de Lyon do século II, com a acolhida pelo Papa do parecer positivo da Congregação para as Causas dos Santos.

Francisco também já havia falado sobre isso em 7 de outubro do ano passado, no encontro com o Grupo Misto de Trabalho ortodoxo-católico Santo Irineu, oportunidade em que sublinhou, como fez também neste 21 de janeiro, o papel de "grande ponte espiritual e teológica entre cristãos orientais e ocidentais" e a missão de paz já impressa na raiz grega do seu nome - Ειρηναίος (Eirenaios) que significa "pacificador".

A paz do Senhor, disse o Papa naquela ocasião, "não é uma paz 'negociável', fruto de acordos para proteger interesses, mas uma paz que reconcilia, que reintegra na unidade. Esta é a paz de Jesus".

 

 

- Confirmada condenação de ex-diretores do IOR

O ex-diretor geral Cipriani e o vice-diretor Tulli terão que ressarcir o Instituto em cerca de 40 milhões de euros. "O julgamento - diz o IOR - segue um profundo trabalho de renovação e transformação do Instituto na implementação das importantes reformas do setor financeiro do Vaticano e da Santa Sé".

A Corte de Apelação reconheceu plenamente as razões apresentadas pelo IOR e condenou o ex-diretor geral Paolo Cipriani e o vice-diretor Massimo Tulli a um ressarcimento de cerca de 40 milhões de euros. A informação foi dada pelo próprio Instituto por meio de um comunicado de imprensa.

A sentença, proferida em 18 de janeiro, rejeita integralmente os apelos dos dois ex-executivos, confirmando a decisão em primeira instância, condenando-os a ressarcir o Instituto pelos danos a ele causados, que liquidou em 35.740.587 euros a título de danos emergentes, bem como € 4.799.445 a título de lucros cessantes (num total de € 40.540.032, acrescidos de desvalorização monetária e interesses legais). O Tribunal imputou aos recorrentes as despesas do processo, incluindo as relativas à primeira instância.

A sentença - afirma o comunicado do IOR - diz respeito “la mala gestio" com que Cipriani e Tulli dispuseram alguns investimentos do Instituto entre 2010 e 2013, e que "imediatamente se revelaram prejudiciais enquanto problemáticos e, em vários casos, também ilegítimos e objeto de procedimentos penal".

"O julgamento - continua o comunicado - segue um profundo trabalho de renovação e transformação do Instituto na implementação das importantes reformas do setor financeiro do Vaticano e da Santa Sé, graças às quais o Instituto pôde identificar os abusos cometidos em seu prejuízo e defender o próprio patrimônio, que é patrimônio da Igreja. Foi o primeiro do gênero dentro do Estado da Cidade do Vaticano, que serviu de precursor a outros casos semelhantes, ainda em andamento”.

 

Fonte: Vatican News