Cotidiano

Conass reconhece nova onda de Covid-19 e pede ações ao Ministério da Saúde





Conselho de secretarias municipais afirma em ofício enviado ao ministro Marcelo Queiroga que o crescimento de casos com a Ômicron volta a impor desafios aos sistemas público e privado de saúde

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) reconheceu o estabelecimento de uma nova onda de casos de Covid-19 no Brasil com o avanço da variante Ômicron.

Em ofício enviado ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o Conass diz acreditar “que o crescimento de casos, impulsionado pela nova variante, volta a impor desafios aos sistemas de saúde público e privado do país. Destaca-se que, mesmo com a suspeita da menor gravidade, com a alta transmissão aumentam as chances de hospitalização, principalmente na população sem esquema vacinal completo.”

Segundo dados do Painel Conass, foram notificados 1.721 infecções pelo coronavírus em 2 de janeiro. Já no último domingo (9), o número saltou para 24.382 casos, representando um aumento superior a 300%.

Com o cenário, o Conass pede que o Ministério da Saúde autorize que toda a rede hospitalar seja voltada para atender casos de Covid-19; o aporte de recursos para testagem em massa, considerando o valor de R$ 4 para cada teste enviado aos estados e municípios.

O presidente do conselho, Carlos Lula, assina a nota que ainda solicita o posicionamento da Secretaria de Vigilância em Saúde sobre o cancelamento do Carnaval de rua ou de outros eventos em que não exista a possibilidade de controle com o passaporte vacinal ou teste negativo; e o monitoramento de um potencial desabastecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs) e de kits para entubação.

Com um terço da população elegível para a vacinação ainda sem o esquema completo, o conselho afirma que o país está vulnerável a uma grande onda de casos que irá impactar na lotação de hospitais.

“Sendo a Ômicron mais transmissível e responsável pelo aumento de pacientes com sintomas leves, os serviços ambulatoriais estarão pressionados por quadros clínicos que exigem testagem imediata, prescrição médica e emissão de atestados para o devido isolamento dos positivos. Em países onde a nova variante já impacta em recordes de casos leves, a rede hospitalar também já se encontra pressionada por casos graves, principalmente em pacientes não-vacinados, incluindo as crianças”, exemplifica.

Fórum

CNN solicitou ao ministério uma posição sobre o ofício do Conass e assim que receber uma resposta acrescenta na reportagem.

Mais cedo, o Ministério da Saúde realizou um fórum em que reuniu especialistas e técnicos da pasta “para intensificar o monitoramento e as ações de combate à variante Ômicron no país”, de acordo com uma nota.

“Hoje, nós vivemos em um momento no qual o Brasil mostrou a grande capacidade de promover a imunização em massa. Temos mais de 80% da nossa população acima de 12 anos com duas doses de vacinas aplicadas. Além disso, já avançamos em relação a dose de reforço. Já aplicamos mais de 15 milhões”, disse o ministro Queiroga no evento.

“Em função dessas políticas públicas e do apoio dos secretários estaduais e municipais de saúde, nós experimentamos uma queda expressiva de óbitos e vamos superar os novos desafios da pandemia de Covid-19”, completou.

 

Confira outras notícias 

- Duas doses da Coronavac neutralizam variante Ômicron, diz estudo

Capacidade é igual ou superior à da vacina da Pfizer para a mesma linhagem, de acordo com dados de pesquisas fornecidos pelo Butantan obtidos com exclusividade pela CNN Brasil

Duas doses da vacina Coronavac, contra a Covid-19, neutralizam a variante Ômicron. A capacidade é igual ou superior à da vacina da Pfizer para a mesma linhagem, de acordo com dados de pesquisas fornecidos pelo Instituto Butantan obtidos com exclusividade pela CNN.

Segundo o instituto, a efetividade da vacina foi comparada em quatro estudos científicos. A primeira pesquisa reúne resultados do ensaio de neutralização da Coronavac para a variante Ômicron. Os outros três trabalhos se referem a diferentes ensaios de neutralização da Pfizer contra a Ômicron.

O que dizem os estudos

O ensaio de neutralização da Ômicron pela Coronavac foi publicado na segunda-feira (10) no periódico científico Emerging Microbes & Infections. O estudo foi conduzido por pesquisadores chineses da Universidade Fudan e da Universidade de Medicina Tracional Chinesa, em Xangai, da Universidade Jinan, em Guangdong, e da Universidade de Hong Kong.

Para a análise, os pesquisadores geraram partículas semelhantes ao vírus (pseudovírus) contendo a proteína Spike de sete cepas do novo coronavírus: as variantes de preocupação Ômicron, Alfa, Beta, Gama e Delta, além das variantes de interesse Lambda e Mu.

As partículas parecidas com o vírus podem ser produzidas naturalmente durante uma infecção ou artificialmente em laboratório. Em comparação com o vírus, o pseudovírus contém fragmentos de DNA da célula humana infectada pelo SARS-CoV-2, sem os componentes genéticos do vírus – o que torna a manipulação em laboratório mais segura.

A partir dos pseudovírus das sete variantes, os cientistas avaliaram a resposta viral à exposição aos anticorpos neutralizantes contidos nas amostras de soro de 16 pacientes convalescentes de Covid-19, que contraíram a cepa original do vírus, entre janeiro e março de 2020.

O ensaio de neutralização revelou que 16 amostras mostraram reduções médias de 10,5 vezes da neutralização contra a variante Ômicron, 2,2 vezes contra a Alfa, 5,4 vezes contra a Beta, 4,8 vezes contra a Gama, 2,6 vezes contra a Delta, 1,9 vez contra a Lambda e 7,5 vezes contra a variante Mu.

A mesma análise foi realizada novamente, desta vez com os anticorpos neutralizantes presentes no soro de 20 pessoas que completaram o esquema de duas doses da Coronavac, administradas entre maio e junho de 2021.

Nessa etapa, os cientistas verificaram que o plasma dos vacinados com duas doses da Coronavac mostraram uma redução de neutralização média de 12,5 vezes frente à variante Ômicron, de 2,9 vezes contra a Alfa, 5,5 vezes contra a Beta, 4,3 vezes contra a Gama, 3,4 vezes contra a Delta, 3,2 vezes contra a Lambda e 6,4 vezes contra a variante Mu.

“Os testes indicam que a neutralização pela Ômicron é 12,5 vezes pior do que a neutralização da cepa original de Wuhan, para qual a vacina foi desenvolvida. Essa diferença de 1 para 12 é pouca, isso é considerado um índice pequeno de perda de efetividade”, explica o pesquisador José Eduardo Levi, da Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com o especialista, a Ômicron tem apresentado uma maior capacidade de escape da resposta imunológica induzida pelas vacinas, que se reflete em um maior percentual de infectados que foram imunizados. No entanto, os imunizantes permanecem eficazes na prevenção de casos graves, hospitalizações e mortes pela doença.

De acordo com os autores do trabalho, a redução de neutralização média de 12,5 vezes da Coronavac diante da variante Ômicron, é “melhor do que os trabalhos publicados sobre duas doses de vacinas de RNA mensageiro, nas quais foi observada uma diminuição de 22 vezes e de 30 até 180 vezes da neutralização em imunizados com a Pfizer”.

Entenda como funcionam os ensaios de neutralização

O estudo da neutralização de anticorpos é um dos principais métodos utilizados para avaliar o impacto de uma variante na eficácia de uma vacina contra a Covid-19. As análises são realizadas in vitro, termo técnico que indica os ensaios realizados em ambiente controlado de laboratório.

Nos testes, os pesquisadores verificam a capacidade que os anticorpos de pessoas vacinadas têm de neutralizar a variante Ômicron. Para medir esse impacto, eles utilizam amostras do plasma sanguíneo dos indivíduos imunizados, onde podem ser encontrados os anticorpos, e amostras do novo coronavírus ou fragmentos das principais estruturas de ligação do vírus com as células humanas, como a proteína Spike.

Os resultados identificados são comparados com a capacidade de neutralização dos anticorpos contra linhagens do vírus que circulavam no início da pandemia e não apresentam tantas mutações.

Formação da imunidade é um fenômeno complexo

As vacinas contra a Covid-19 são desenvolvidas a partir de diferentes tecnologias. Os imunizantes considerados clássicos, como a Coronavac, utilizam o vírus inativado ou atenuado, incapaz de se replicar.

As vacinas também podem ser produzidas a partir de adenovírus enfraquecido, microrganismo que causa resfriado em chimpanzés, que transportam os genes virais do coronavírus para dentro das células humanas, como as vacinas da AstraZeneca, da Janssen e a Sputnik V.

Um terceiro tipo de tecnologia são as vacinas genéticas, como a da Pfizer e da Moderna, que utilizam o material genético do novo coronavírus (RNA mensageiro ou mRNA).

Embora cada tecnologia adote uma metodologia diferente, o objetivo é o mesmo: estimular a produção de anticorpos neutralizantes que vão reconhecer e eliminar o SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19.

O pesquisador José Eduardo Levi explica que a resposta do sistema imunológico é complexa e vai além da ação de anticorpos. Por isso, os testes de neutralização conseguem avaliar apenas parte da efetividade das vacinas.

Quando os imunizantes são inoculadas no organismo, eles também contam com uma função essencial de ativação de outras células de defesa do organismo, os chamados linfócitos T.

A resposta celular gerada pelos imunizantes também envolve células de memória do sistema imunológico que permanecem no organismo. Assim, quando o indivíduo entra em contato com o novo coronavírus por meio de uma infecção natural, elas ativam a produção de anticorpos que respondem contra a infecção, evitando principalmente os casos graves, hospitalizações e mortes pela doença.

Fonte: CNN Brasil