Política

Biden chama Trump de derrotado e mentiroso ao relembrar ataque ao Capitólio





O presidente americano, Joe Biden, atacou o ex-presidente Donald Trump no discurso que marcou um ano do ataque ao Capitólio, sede do Congresso dos Estados Unidos, e o acusou de espalhar uma "rede de mentiras sobre a eleição de 2020".

"O ex-presidente dos Estados Unidos criou e espalhou uma rede de mentiras sobre a eleição de 2020. Ele fez isso porque valoriza mais o poder do que os princípios, considera que seu ego ferido é mais importante que a Constituição. Ele não consegue aceitar que perdeu", disse. 

Ele não é só um ex-presidente, é um ex-presidente derrotado, derrotado por uma margem de mais de 7 milhões de votos, em uma eleição justa e livre. Não há nenhuma prova que o resultado das eleições foi impreciso.

Apesar de mencionar o ex-presidente diversas vezes, Biden não disse o nome de Donald Trump nenhuma vez. Depois da fala, ele disse a repórteres que não citou o republicano nominalmente por não querer criar uma "batalha política contemporânea", de acordo com a CNN.

No discurso, Biden disse também que o país deve se assegurar que um ataque semelhante jamais aconteça novamente. "Pela primeira vez na história, um presidente não só perdeu a eleição, mas tentou prevenir uma transferência pacífica de poder quando uma turba violenta invadiu o Capitólio", declarou. "Não foi um grupo de turistas. Foi uma insurreição armada".

A invasão da sede da Casa dos Representantes norte-americana em 6 de janeiro de 2021 deixou cinco mortos e dezenas de feridos. Até o momento, mais de 700 pessoas foram indiciadas —entre elas, Jacob Chansley, que se tornou um símbolo da invasão ao usar pintura facial e um capacete com chifres. Ele foi condenado a três anos e cinco meses de prisão.

Biden disse também que Trump construiu as mentiras dele ao longo de meses, lançando dúvida sobre as eleições. Ele também disse que os invasores são tudo, menos patriotas.

"Você não pode amar seu país apenas quando você vence", disse. "Aqueles que invadiram, os que instigaram e incitaram, e os que pediram a eles que fizessem isso seguraram uma adaga na garganta da democracia".

Discurso marca escalada retórica

A decisão de Biden de usar o discurso por ocasião do aniversário da invasão do Capitólio para culpar Trump e seus aliados republicanos diretamente por seu papel neste ataque sem precedentes à democracia americana marca uma forte escalada na estratégia do presidente em relação aos distúrbios.

Durante o primeiro ano de seu governo, Biden tem optado por ignorar Trump, que ainda se nega a admitir a derrota nas eleições presidenciais de 2020 e continua difundido teorias da conspiração entre seus milhões de seguidores, dizendo que ele foi o verdadeiro vencedor, apesar de ter perdido por mais de sete milhões de votos.

Mas em um discurso no Capitólio, onde há exatamente um ano uma multidão de seguidores de Trump agiu para tentar deter a certificação da vitória eleitoral de Biden, o presidente americano anunciará firmemente a responsabilidade de seu antecessor, disse ontem a secretária de imprensa, Jen Psaki.

"O presidente Biden tem sido claro sobre a ameaça que o ex-presidente representa para a democracia americana", insistiu.

Biden "vê o 6 de janeiro como uma trágica culminação do que quatro anos da presidência de Trump fizeram como este país", afirmou. Ele "denunciará energicamente a mentira propagada pelo ex-presidente", que diz, sem apresentar provas, ter vencido nas urnas.

Até agora o governo, inclusive o próprio Biden, costumava evitar nomear Trump, referindo-se a ele como "o outro cara" ou "o cara de antes".

Outro sinal de que o governo está elevando o tom foram as declarações do secretário de Justiça e procurador-geral, Merrick Garland, que afirmou ontem que todos os participantes da invasão serão processados "independentemente de seu status".

Mais de 725 partidários de Trump que entraram no Congresso já foram presos, como o famoso manifestante que ficou conhecido como "xamã do Capitólio" e que admitiu ter roubado uma cerveja do gabinete da líder democrata Nancy Pelosi. Outros receberam a visita do FBI em suas casas.

Ao mesmo tempo, uma comissão parlamentar investiga exatamente qual foi o papel de Trump e de seu entorno na invasão, e está convocando para depor pessoas próximas do ex-presidente. Com isso, o cerco vai se fechando.

Trump muda seus planos

O ex-presidente Trump decidiu finalmente cancelar a entrevista coletiva que estava prevista para hoje na Flórida, considerada uma provocação pelos democratas e que colocaria os republicanos em uma saia justa.

Contudo, o irascível magnata não suavizou em nada o seu discurso. Em um comunicado publicado na terça-feira, Trump classificou novamente a eleição presidencial de "fraude", mas sem apresentar provas. "O crime do século", escreveu ele sobre as eleições.

Apesar de Trump ter renunciado ao protagonismo no dia do aniversário da invasão, retomará o tema em um comício programado no Arizona em 15 de janeiro.

Essa afirmação é apenas o elemento mais incendiário de um discurso de ataque contra Biden em todos os aspectos, desde a sua política migratória até a forma de lutar contra a pandemia de covid-19, que parece ser uma aposta - ainda não declarada - para recuperar o poder em 2024.

Por sua vez, os republicanos, sobre os quais o ex-presidente continua tendo muita influência, parecem preferir ficar longe dos holofotes.

Mitch McConnell, líder dos republicanos no Senado, já adiantou que não estará presente no evento desta quinta-feira em Washington. Ele comparecerá ao funeral de um ex-senador em Atlanta, no sul do país, longe do Capitólio, onde os membros do Senado e da Câmara de Representantes são convidados a fazer um momento de recolhimento às 22h30 GMT (19h30 de Brasília) de hoje.

Muitos congressistas republicanos denunciam a invasão, mas acusam os democratas de utilizar o ocorrido em 6 de janeiro "como arma partidária para dividir o país".

Segundo uma pesquisa publicada nesta quarta no site informativo Axios, apenas 55% dos americanos acreditam que Biden é o vencedor legítimo das últimas eleições.

"O dia 6 de janeiro não foi a ação irracional e espontânea de uma multidão violenta. Foi uma tentativa de reverter violentamente o resultado de uma eleição livre e justa. Não nos deixemos enganar, as razões que provocaram o dia 6 de janeiro ainda existem", afirmou hoje o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer.

 

- Biden afirma que “teia de mentiras” representa ameaça à democracia

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou nesta quinta-feira (6) seu antecessor, Donald Trump, de representar uma ameaça contínua à democracia no aniversário do violento ataque à sede do Congresso dos EUA, por seguidores de Trump, que tentavam reverter sua derrota nas eleições de 2020. 

Em pronunciamento no Capitólio, palco do motim de 6 de janeiro de 2021, Biden alertou que as acusações falsas de Trump de que a eleição foi roubada dele por meio de uma fraude eleitoral generalizada poderia desafiar o Estado de Direito e minar futuras eleições.

"Precisamos ser absolutamente claros sobre o que é verdade e o que é mentira. Aqui está a verdade: um ex-presidente dos Estados Unidos da América criou e espalhou uma teia de mentiras sobre as eleições de 2020. Ele fez isso porque valoriza o poder mais do que princípios", disse Biden.

"Ele não consegue aceitar que perdeu", acrescentou Biden.

Lançar um ataque tão direto a Trump - embora Biden nunca tenha realmente dito o nome de seu antecessor durante o discurso - foi uma largada para o presidente, que passou a maior parte de seu primeiro ano no cargo focado em seguir sua própria agenda, em vez de olhar para trás.

Mas democratas, alguns republicanos e muitos observadores independentes têm alertado que o estrago causado por Trump para minar a fé na eleição que perdeu para Biden persiste.

De acordo com uma pesquisa Reuters/Ipsos, cerca de 55% dos eleitores republicanos acreditam na afirmação falsa de Trump, rejeitada por dezenas de tribunais, departamentos eleitorais estaduais e membros do próprio governo chefiado por ele.

Acusando Trump de tentar perpetuar uma "grande mentira", Biden disse que há uma "batalha pela alma da América" e uma luta interna e externa entre as forças da democracia e da autocracia.

Trump em comunicado divulgado após o discurso de Biden disse que o presidente norte-americano "usou meu nome hoje para tentar dividir ainda mais a América".

Quatro pessoas morreram nas horas de caos de um ano atrás, que ocorreu depois que Trump pediu aos apoiadores que marchassem até o Capitólio e "lutassem como o inferno". Um policial morreu no dia seguinte a uma batalha contra desordeiros e quatro morreram depois por suicídio. Cerca de 140 policiais ficaram feridos.

O líder da Maioria no Senado, Chuck Schumer, afirmou na quarta-feira que embora o edifício do Capitólio seja mais fortificado hoje do que um ano atrás, a democracia continua vulnerável. 

"A insurreição não será uma aberração. Ela pode bem se tornar a norma", a não ser que o Congresso aborde "as raízes" do 6 de janeiro através de reformas eleitorais, afirmou o democrata.

Fonte: Agência Brasil - UOL