Cotidiano

Países doam menos de 20% das doses que prometeram à OMS





A meta inicial da OMS era vacinar 2 bilhões de pessoas por meio da iniciativa em 2021, mas o realizado foi menos da metade

Os países ricos doaram uma fração das doses que prometeram ao consórcio Covax Facility, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para acelerar a imunização contra a Covid-19 de forma igualitária.

As doações estão demorando mais que o esperado, porque os países têm aplicado doses de reforço na sua própria população e iniciado a imunização de crianças e adolescentes, o que cria um importante dilema ético para o mundo.

Os Estados Unidos, por exemplo, haviam se comprometido a doar 587,5 milhões de doses, mas só 193,4 milhões chegaram ao Covax até agora, conforme dados reunidos pela plataforma Ourworld in Data, da Universidade de Oxford. Desse total, apenas 140,3 milhões foram efetivamente entregues as nações que necessitam.

Já a União Europeia chegou a anunciar que disponibilizaria 451,5 milhões de doses. Desse total, chegaram ao sistema Covax 298,3 milhões de doses e apenas 57,8 milhões já foram distribuídas e aplicadas. No Reino Unido, a diferença é ainda maior. Das 100 milhões de doses prometidas, só 26,2 milhões foram entregues ao Covax e 8 chegaram ao seu destino.

As doses de reforço e a imunização de menores de 18 anos são recomendadas pelos especialistas, mas, enquanto isso, o vírus tem se disseminado em países com baixa vacinação, facilitando o surgimento de novas variantes, como a Ômicron. Nos países africanos, nem mesmo os profissionais de saúde estão completamente vacinados.

Mais de ano após o início da campanha global de vacinação, que começou em dezembro de 2020 no Reino Unido, a desigualdade na aplicação dos imunizantes é muito expressiva. Em média, 58,4% da população global recebeu pelo menos uma dose de vacina. Nos países mais pobres do mundo, esse percentual é de 8,5%.

O atraso nas doações dos países ricos é um dos motivos da frustração das metas do consórcio Covax Facility. A meta inicial da OMS era vacinar 2 bilhões de pessoas por meio da iniciativa em 2021, mas o concreto menos da metade: 907 milhões de imunizantes foram distribuídos até agora.

O consórcio também sofreu com falta de doses, por causa de dificuldades em uma fábrica de vacinas na Índia. Além disso, a logística é complicada nos países pobres, que não possuem sistemas públicos eficientes. Vale ressaltar que o Covax não funciona apenas com doações, já que alguns países efetivamente compraram vacinas a preços mais baixos.

 

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- Perspectivas para 2022 da única brasileira no grupo consultivo da OMS de Covid

Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marilda Siqueira acompanhou a emergência da Covid-19 desde os primeiros casos em 2019. Equipe trabalha no diagnóstico e estudo genético do vírus

No dia 31 de dezembro de 2019, o escritório da Organização Mundial da Saúde(OMS) na China foi informado sobre casos de pneumonia de causa desconhecida detectados na cidade de Wuhan.

Poucos dias depois, em 3 de janeiro de 2020, autoridades sanitárias da Chinanotificaram 44 pacientes com pneumonia de origem desconhecida à OMS. Pesquisadores chineses identificaram que os casos estavam associados a um novo tipo de coronavírus, isolado em laboratório no dia 7 de janeiro.

Em 12 de janeiro, a China compartilhou a sequência genética do novo coronavírus para que os países pudessem desenvolver kits de diagnóstico específicos.

No Brasil, a equipe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) se mobilizou desde as primeiras suspeitas de um novo vírus. Desde então, atuam no enfrentamento da maior pandemia dos últimos tempos.

A pesquisadora Marilda Siqueira, chefe do laboratório da Fiocruz, acompanhou a emergência da Covid-19 desde os primeiros relatos na China. Uma das principais cientistas em vírus respiratórios do país, Marilda é a única brasileira a integrar o Grupo Consultivo Técnico sobre Evolução do Vírus SARS-CoV-2 da OMS.

O comitê conta com a participação de 25 cientistas, de diversos países, com atuação em especialidades como virologia, bioinformática e epidemiologia. O Grupo Consultivo Técnico foi oficializado pela OMS em outubro. No entanto, desde junho de 2020, os pesquisadores já se reuniam para avaliar mutações no genoma e a emergência de novas variantes do coronavírus.

Com a formalização, os especialistas passaram a se reunir regularmente pelo menos duas vezes ao mês, além de atender chamados de urgência, como as discussões que levaram a OMS a classificar a linhagem Ômicron como uma variante de preocupação.

Em entrevista à CNN, a pesquisadora Marilda Siqueira traçou um panorama da pandemia de Covid-19 e as perspectivas do cenário epidemiológico da doença em 2022.

Antes, relembre como foi o ano de 2021 na perspectiva da saúde:CNN: Como foi a mobilização diante dos primeiros casos de infecção desconhecida identificados em dezembro de 2019?

Marilda Siqueira: As atividades que regularmente tínhamos no nosso laboratório de enfrentamento de várias epidemias, como influenza, anualmente, e sarampo, foram escalonadas exponencialmente.

Desde o início, nós participamos junto à Fundação Oswaldo Cruz colaborando com Bio-Manguinhos para que o Brasil tivesse um kit de diagnóstico molecular para detecção do coronavírus pela reação de PCR em tempo real.

Isso foi resultado de um trabalho intenso que fez com que, até meados de março de 2020, o Brasil tivesse um kit comercial que fosse distribuído para todos os laboratórios de saúde pública, chamados LACENs, um em cada estado do país. Todas as equipes desses laboratórios foram treinadas para utilizar essa metodologia.

Em fevereiro de 2020, nós capacitamos nove países da América Latina a pedido da Organização Pan-Americana da Saúde. Foram meses de trabalho intenso para que pudéssemos estabelecer junto com o Ministério da Saúde uma rede de laboratórios que apoiasse o diagnóstico dos casos suspeitos no Brasil.

CNN: Quais foram os principais impactos da pandemia de Covid-19?

MS: Todas as equipes das diferentes áreas que trabalham com Covid-19, a nível hospitalar, de produção de vacinas, diagnóstico e pesquisa, todo mundo está realmente bastante cansado. Mas é o que temos que fazer no momento, é a maneira de encarar esse desafio e enfrentamento esperando por dias melhores.

A nível pessoal, a pandemia também impactou bastante. O contato com vários familiares ficou bastante reduzido, durante esses meses todos da pandemia. Isso é um difícil também, pois ficamos com um cansaço muito grande e sem ver as pessoas que são parte importante da nossa vida da maneira e na frequência como gostaríamos de encontrá-los.

Infelizmente, o número de mortos na pandemia no Brasil está sendo muito grande e eu também perdi entes queridos, pessoas que foram absolutamente importantes na minha vida. Isso é um baque muito grande e causa de muita tristeza.

De certa maneira, é um fortalecimento para continuarmos nessa luta, cada um fazendo a sua parte para que a gente possa pelo menos melhorar ou diminuir um pouco todo esse impacto negativo que a pandemia tem causado na vida de cada um de nós.

CNN: Quais são os principais projetos em desenvolvimento neste momento?

MS: Estamos com muitos projetos de pesquisa em andamento, vários deles ligados à efetividade das vacinas que são utilizadas no nosso país. Nesses projetos, colaboramos com vários grupos de pesquisa e com a Organização Pan-Americana da Saúde.

Monitorar a efetividade das vacinas nas populações é uma questão absolutamente importante para que possamos ter perspectivas de mudanças de estratégias utilizadas para o controle da doença que sejam mais efetivas. No fundo, o que queremos é isso: continuar trabalhando muito para que as estratégias utilizadas sejam cada vez mais eficientes.

CNN: Como funciona o grupo consultivo da OMS para a evolução do novo coronavírus?

MS: Esse grupo consultivo de análise genômica é muito importante por que precisamos ter um acompanhamento em tempo real da situação do monitoramento dessas variantes nas diversas regiões do mundo. O grupo tem 25 pesquisadores, de vários países do mundo, de diferentes especialidades como bioinformatas, biologistas moleculares, epidemiologistas, clínicos, entre outras áreas.

A cada nova variante, esse grupo não somente designa qual o nome da nova variante como recentemente no caso da Ômicron, mas também acompanhamos em tempo real como essa linhagem se comporta em termos de mudança de transmissibilidade, casos mais graves, escape da resposta imune ou como a cepa afeta os testes de diagnóstico disponíveis atualmente.

Nas reuniões, participam também especialistas de várias universidades e centros de pesquisa como convidados, mostrando os dados encontrados nas pesquisas. Nesta semana, um grupo de especialistas de diferentes partes do mundo participou da reunião mostrando achados observados em relação à metodologia de PCR em tempo real, que é utilizada no mundo inteiro para a detecção do vírus.

É uma maneira de centralizar essa informação com um grupo que está pensando e discutindo com técnicos, pesquisadores e especialistas nessa área, divulgando esses resultados de uma maneira transparente pelo site da OMS e enviando informações às autoridades de saúde dos países.

Temos um grupo que trabalha bastante coeso discutindo e convidando especialistas externos para entender a evolução dessas variantes ao longo do tempo e os possíveis impactos delas em questões como vacina, diagnóstico e tratamento.

CNN: Qual a importância da participação do Brasil nesse grupo consultivo da OMS?

MS: A OMS escolheu esse grupo baseado na expertise dos membros e considerando diversas localidades do mundo para ter essa visão mais ampla da problemática e realidade de cada um. As realidade da Inglaterra e dos Estados Unidos, por exemplo, sçao muito diferentes da nossa no Brasil ou da África do Sul.

Uma grande discussão do grupo é sobre qual é seria o número de amostras sequenciadas para que possamos ter representatividade do que acontece em cada país. Essa é uma pergunta importante e difícil de ser respondida. Se ela for respondida por alguém da Inglaterra, que é o país que mais sequencia em relação à população no mundo, teremos uma visão distorcida da realidade de muitos países, inclusive do Brasil.

Os ingleses conseguiram se organizar e obtiveram financiamentos para sequenciar um número imenso de amostras por semana. Isso não se aplica à realidade brasileira, latino-americana, africana, assim como da maioria dos países da Ásia.

Precisamos ter grupos com especialistas de áreas diferentes e com visões dos países e da região onde vivem bastante claras para que as recomendações da OMS sejam mais próximas da realidade e daquilo que é factível de ser desenvolvido pelos países.

CNN: Qual a importância do compartilhamento de informações científicas neste momento da pandemia?

MS: O número de genomas do novo coronavírus disponibilizado atualmente é incrível. É a primeira vez na história da ciência que temos um número de genomas de um agente etiológico feitos de uma maneira tão expressiva e em curto espaço de tempo.

O compartilhamento da informação científica é absolutamente importante neste momento para o melhor entendimento das questões envolvendo as variantes do vírus. A partir de análises desse banco de dados, podemos ter um melhor entendimento das linhagens e recomendar ações concretas para os países.

A OMS classifica as variantes encontradas em três grupos: sob monitoramento, de interesse e de preocupação, para que os países quando receberem essa informação, já se preparem para uma possível entrada dessas variantes e tomem medidas estratégicas para evitar que o impacto seja muito grande.

Felizmente, a maioria dos grupos que trabalham com genômica está liberando seus dados praticamente em tempo real. Isso é fundamental para avançarmos em um melhor controle desse vírus.

CNN: O que se sabe sobre a variante Ômicron até o momento?

MS: Até o momento, sabemos que a variante Ômicron apresenta um perfil de maior transmissibilidade, associado às diversas mutações encontradas na região da proteína Spike do vírus. Estamos em sistema de alerta, fazendo reuniões frequentes para acompanhar de perto todos os indicadores relacionados a essa variante.

Até o momento, são conhecidas as mutações presentes no genoma da Ômicron, que sinalizam para o potencial de maior transmissibilidade, mas não sabemos o quanto isso vai impactar, principalmente, em hospitalizações e mortes. Outras questões estão sendo avaliadas. Nas próximas semanas, teremos informações mais robustas.

Temos que divulgar informações, mas temos que divulgar informações robustas. Como cientistas, não podemos trabalhar pensando em estar na primeira página dos jornais. Temos que trabalhar em cima de informações que cientificamente têm um embasamento bastante forte. Para isso, precisamos de um tempo, um pouco mais de conhecimento e de análises realizadas para que essas informações sejam divulgadas de maneira bastante precisa.

CNN: Quais são as suas expectativas para 2022?

MS: Para 2022, espero que o Brasil tenha uma cobertura vacinal bastante importante. Estamos neste momento com 65% da população vacinada com duas doses e com vários grupos prioritários já com a terceira dose. Espero que com essa elevada cobertura vacinal que conseguimos ter no nosso país seja possível voltar um pouco mais para a normalidade no próximo ano.

A volta à normalidade depende de uma série de fatores. Depende de nós, como humanidade, conseguirmos que a distribuição de vacinas em todos os países do mundo seja feita de uma maneira mais equitativa. Estamos com uma distribuição muito pouco uniforme, temos muitos países especialmente da África, em que a cobertura vacinal é muito pequena. Países onde a cobertura vacinal está em torno de 2%.

Espero que tanto a distribuição dos imunizantes como o acesso à saúde sejam mais uniformes para impactar todos os países de uma maneira mais positiva no controle da pandemia. Isso é algo que eu gostaria de ver e acredito que, como humanidade, vamos dar um passo melhor em relação a isso.

Não podemos pensar que o africano tem que tomar a vacina para que nós fiquemos protegidos contra novas variantes. O pensamento é: todos nós seres humanos merecemos ter acesso às vacinas, merecemos ter uma melhor qualidade de vida, uma redução de mortalidade e de impacto social e econômico que está sendo muito forte para todos os países

Marilda Siqueira, pesquisadora da Fiocruz

O retorno à normalidade é muito importante para que o impacto socioeconômico negativo seja diminuído em todos os países e para que consigamos, pessoal e coletivamente, ter uma qualidade de vida melhor.

CNN: O cenário epidemiológico da Covid-19 em 2022 poderá melhor que o dos últimos dois anos?

MS: Nós temos grandes chances de estarmos em momentos melhores da pandemia em 2022. Por várias razões, a começar pelo conhecimento que temos deste vírus, que é muito maior do que em janeiro e fevereiro de 2020, por exemplo.

Temos conhecimento em diversos aspectos clínicos de como esse vírus pode se comportar, e quais são os exames laboratoriais necessários para um bom acompanhamento clínico dos casos, por exemplo.

Hoje, contamos com medicações específicas para as diferentes manifestações clínicas que o vírus possa causar. O tratamento ao paciente melhorou muito. Nós precisamos ter mais antivirais direcionados a esse vírus, mas isso é uma questão que demora. Temos dois medicamentos bons, em fase de se tornar mais acessíveis para a população.

A questão do diagnóstico laboratorial está bem sedimentada em praticamente todos os países. Acesso a vacinas boas nós já temos, as instituições de pesquisa, assim como a indústria farmacêutica, trabalham arduamente para que, a cada nova variante, os dados em relação ao impacto às suas vacinas seja monitorado e disponibilizados o mais rápido possível.

Contamos com várias questões favoráveis para termos um ano de 2022 muito melhor que 2020 e 2021, mas podemos ter surpresas. O importante é não acharmos que está tudo bem.

Ainda temos desafios pela frente em questões importantes. Por mais cansados que estejamos de usar máscaras, manter o distanciamento, lavar as mãos com frequência, não podemos abrir mão disso agora. São medidas essenciais para o controle da doença. Não é hora neste momento de baixar a guarda.

Se fizermos um trabalho com apoio de cada um no controle do vírus e, além disso, mantermos altas coberturas vacinais, podemos ter um cenário bem mais favorável para 2022, tentando voltar a vida mais à normalidade.

 

- Número de casos de Covid-19 na Índia tem forte alta pelo quinto dia seguido

Ministro-chefe da capital, Nova Delhi, disse que não havia necessidade de pânico por conta das baixas taxas de hospitalização

A Índia relatou mais de 27 mil novos casos de Covid-19 neste domingo (2), com as infecções aumentando drasticamente pelo quinto dia consecutivo, mas o ministro-chefe da capital, Nova Delhi, disse que não havia necessidade de pânico, citando as baixas taxas de hospitalização.

As maiores cidades do país, incluindo Delhi e a capital financeira Mumbai, viram um aumento recente nos casos de Covid-19, incluindo os da variante Ômicron, que desencadeou uma nova onda de infecções em outras partes do mundo.

Embora o número de casos ativos em Delhi tenha triplicado nos últimos três dias, o ministro-chefe Arvind Kejriwal disse que as hospitalizações não aumentaram.

“Isso significa que a maioria das pessoas que estão pegando [COVID-19] não precisam de cuidados hospitalares. São casos leves”, disse Kejriwal em uma entrevista online. “Os casos estão aumentando, mas não há motivo para se preocupar. Não há necessidade de pânico”.

Delhi foi uma das cidades mais atingidas durante a segunda onda da pandemia na Índia no ano passado, com hospitais ficando sem leitos e oxigênio.

A Índia registrou um total de 34,88 milhões de infecções por Covid-19, com 27.553 novos casos nas últimas 24 horas, mostraram dados do ministério da saúde no domingo.

O número total de mortos no país é de 481.770. Autoridades do governo local na cidade de Mumbai disseram que milhares de pessoas estavam realizando testes rápidos de antígeno em casa.

“Estamos percebendo que as pessoas ficam em quarentena se o teste for positivo e, ao mesmo tempo, muitas também buscam o apoio dos centros de isolamento administrados pelo governo se não encontrarem espaço em casa para a quarentena”, disse Srikant Deshmukh, um oficial do órgão de saúde de Mumbai.

A Índia deve introduzir uma campanha de vacinação para crianças na faixa etária de 15 a 18 anos a partir de segunda-feira (3) e os governos estaduais estão se preparando para administrar doses em escolas, hospitais e em campos especiais.

Fonte: CNN Brasil