Fonte: Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Rezar juntos diariamente para pedir a Deus o dom da paz, escuta e compreensão recíproca para superar conflitos e dificuldades, converter-se do eu ao tu, nunca ir dormir sem ter feito as pazes. Afinal, é no dia a dia que se aprende a ser família, nela estão as nossas raízes e o que somos hoje como pessoa, é fruto do amor que dela recebemos.
É de conselhos práticos que se articula a reflexão do Papa antes de rezar o Angelus neste domingo, 26 de dezembro, em que a Igreja festeja a Sagrada família que, não é aquela dos santinhos, como observou Francisco, mas uma família que também enfrentou “problemas inesperados, angústias, sofrimentos”.
E o Papa mergulha precisamente naquele contexto familiar para sublinhar aos fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro em um domingo de tempo instável um primeiro aspecto concreto para nossa família: “a família é a história da qual viemos”:
“Cada um de nós tem sua própria história, ninguém nasceu magicamente, com uma varinha mágica, cada um de nós tem uma história e a família é a história de onde viemos.”
Jesus – começou explicando – “é filho de uma história familiar”. Viajou para Jerusalém com seus pais para a Páscoa e seu sumiço provocou grande preocupação em Maria e José:
É belo ver Jesus inserido no laço dos afetos familiares, que nasce e cresce no abraço e na preocupação dos pais. Isso também é importante para nós: viemos de uma história entrelaçada por laços de amor e a pessoa que somos hoje não nasce tanto dos bens materiais que desfrutamos, mas do amor que recebemos, do amor no seio da família. Talvez não tenhamos nascido em uma família excepcional e sem problemas, mas é a nossa história - cada um deve pensar: é a minha história -, são as nossas raízes: se as cortarmos, a vida torna-se árida. E devemos pensar nisso, na própria história!
Deus – disse o Santo Padre - não nos criou para sermos comandantes solitários, mas para caminharmos juntos, e devemos agradecer a Ele e rezar por nossas famílias:
“Deus pensa em nós e nos quer juntos: agradecidos, unidos, capazes de preservar as raízes.”
O Papa destaca então um segundo aspecto concreto para nossas famílias: “aprende-se a ser família a cada dia”. E volta seu olhar novamente à realidade da Sagrada Família onde nem tudo é perfeito, “existem problemas inesperados, angústias, sofrimentos”:
Não existe uma Sagrada Família dos santinhos. Maria e José perdem Jesus e angustiados o procuram, para encontrá-lo três dias mais tarde. E quando, sentado entre os mestres do Templo, ele responde que deve cuidar das coisas de seu Pai, eles não entendem. Eles têm necessidade de tempo para aprender a conhecer seu filho. O mesmo vale para nós: a cada dia, em família, é preciso aprender a ouvir e a compreender-se, a caminhar juntos, a enfrentar os conflitos e as dificuldades. É o desafio diário, que é superado com a atitude correta, com as pequenas atenções, com gestos simples, cuidando os detalhes das nossas relações. E isso também nos ajuda muito a conversar em família, conversar à mesa, o diálogo entre pais e filhos, o diálogo entre os irmãos, nos ajuda a viver essa raiz familiar que vem dos avós, o diálogo com os avós.
E como então se faz isto? - pergunta Francisco - convidando a olhar para Maria que no Evangelho de hoje diz a Jesus: «Teu pai e eu estávamos a tua procura»:
“Teu pai e eu, não diz eu e teu pai: antes do eu existe o tu (...). Na Sagrada Família, antes o tu e depois o eu. Para preservar a harmonia na família, é preciso combater a ditadura do eu. Quando o eu se infla. É perigoso quando, em vez de nos ouvirmos, jogamos os erros na cara; quando, em vez de termos gestos de cuidado para com os outros, nos fixamos em nossas necessidades; quando, em vez de dialogar, nos isolamos com o celular - é triste ver no almoço uma família, cada um com o seu celular, sem se falar, cada um fala com o celular -; quando nos acusamos mutuamente, sempre repetindo as mesmas frases, encenando uma comédia já vista onde cada um quer ter razão e no final impera um silêncio frio.”
Então, de Francisco, um conselho já dado em tantas outras oportunidades quer aos casais, como à vida em família: nunca ir dormir sem antes ter feito as pazes, caso contrário, no dia seguinte haverá uma “guerra fria”, e esta é perigosa porque dará início a uma história de repreensões, de ressentimentos:
“Quantas vezes, infelizmente, entre as paredes de casa, dos silêncios muito longos e de egoísmos não tratados, nascem e crescem conflitos! Às vezes, chega-se até mesmo a violências físicas e morais. Isso dilacera a harmonia e mata a família. Convertamo-nos do eu ao tu. O que deve ser mais importante na família é o tu. E a cada dia, por favor, rezem um pouco juntos, se puderem façam um esforço, para pedir a Deus o dom da paz em família. E vamos todos nos comprometer - pais, filhos, Igreja, sociedade civil - a apoiar, defender e proteger a família, que é o nosso tesouro!”
Que a Virgem Maria, esposa de José e mãe de Jesus – pediu ao concluir - proteja as nossas famílias.
- "Vai contra nosso futuro": a preocupação do Papa com o inverno demográfico na Itália
Francesca Sabatinelli - Cidade do Vaticano
Um encorajamento, um sinal de proximidade e também uma oportunidade para refletir. Este é o sentido da Carta do Papa aos Esposos publicada neste domingo, 26, e da qual Francisco falou nas saudações após o Angelus,definindo-a como um presente de Natal:
É importante refletir e fazer a experiência da bondade e da ternura de Deus que guia com mão paterna os passos dos esposos no caminho do bem. Que o Senhor dê a todos os esposos a força e a alegria para continuar o caminho empreendido.
Francisco também recordou o próximo Encontro Mundial das Famílias, a ser realizado em Roma em junho de 2022, convidando todos os fiéis a se preparar para o evento com a oração e a vivê-lo nas dioceses, todas as famílias juntas. Disto, a preocupação expressa pelo Pontífice:
Uma preocupação real, pelo menos aqui na Itália: o inverno demográfico. Parece que muitos perderam a aspiração de ter filhos e muitos casais preferem ficar sem ou com apenas um filho. Pensem nisso, é uma tragédia.
O Papa, assim, convida a todos a "recuperarem a consciência" para vencer o inverno demográfico "que vai contra nossas famílias, contra nossa pátria e também contra nosso futuro".
Na saudação final, dirigindo-se aos grupos de peregrinos presentes na Praça de São Pedro, Francisco renovou os seus votos “de que a contemplação do Menino Jesus, coração e centro das festas de Natal, suscite atitudes de fraternidade e de partilha nas famílias e nas comunidades”, convidando por fim a todos a festejar o Natal com uma visita ao Presépio da Praça São Pedro e aos 100 Presépios sob a Colunata.
- Papa confia preparação do Jubileu de 2025 ao arcebispo Rino Fisichella
“O Santo Padre Francisco confiou ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização a coordenação, da parte da Santa Sé, da preparação do Ano Santo de 2025”: é o que informa um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé divulgadp neste domingo, 26.
"Neste sentido - lê-se no texto - nos últimos dias o presidente do mesmo Conselho, arcebispo Rino Fisichella, encontrou-se com os superiores da Secretaria de Estado, da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica e da Secretaria para a Economia”.
Trata-se de um Jubileu ordinário O último Jubileu foi o Ano Santo extraordinário dedicado à Misericórdia. Francisco o havia convocado com a Bula Misericordiae Vultus, confiando sua coordenação, também nesse caso, a Dom Fisichella: durou de 29 de novembro de 2015, com a abertura antecipada da Porta Santa em Bangui, na República Centro-Africana - e 8 de dezembro em São Pedro - a 20 de novembro de 2016.
O Jubileu de 2025 será o 27º Jubileu ordinário da história da Igreja. O primeiro foi proclamado por Bonifácio VIII em 1300. Entre os peregrinos que chegaram a Roma para este primeiro Jubileu estavam Dante, Cimabue, Giotto, Carlo di Valois, irmão do rei da França, com sua esposa Catarina.
Pensados para serem celebrados a cada cem anos, Clemente VI determinou em 1350 realizá-los a cada 50 anos. Paulo II, com uma Bula de 1470, estabeleceu que o Jubileu deveria ser realizado a cada 25 anos.
Os acontecimentos do período napoleônico impediram Pio VII de convocar o Ano Santo de 1800. E assim, em 1850, as tensões que se seguiram à instauração da República Romana e ao exílio temporário de Pio IX, não permitiram a realização do Jubileu. Mas o próprio Papa Mastai Ferretti pode celebrar o Ano Santo de 1875, embora sem as cerimônias de abertura e fechamento da Porta Santa devido à presença de tropas italianas em Roma.
Leão XIII anunciou o primeiro Jubileu de 1900 e João Paulo II o primeiro de 2000. Entre os vários Jubileus extraordinários, além do Ano Santo da Misericórdia promovido pelo Papa Francisco, pode-se recordar o de 1423, anunciado por Martinho V para o retorno de o Papado de Roma após o exílio de Avinhão. O Jubileu anunciado por Pio XI em 1933 para o 1900º aniversário da Redenção, o Jubileu proclamado por Paulo VI em 1966 para a conclusão do Concílio Vaticano II e aquele anunciado por João Paulo II em 1983 pelo 1950º aniversário da Redenção.
O Jubileu oferece aos fiéis a possibilidade de lucrar a Indulgência Plenária para si ou para os falecidos, é um ano de reconciliação e conversão, de solidariedade e empenho pela justiça a serviço de Deus e dos irmãos.
- Pesar do Papa pela morte do arcebispo sul-africano Desmond Tutu
Com tristeza o Papa Francisco recebeu a notícia da morte neste domingo, aos 90 anos, do arcebispo anglicano Desmond Tutu. Sua morte foi anunciada pelo presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, que expressou "em nome de todos os sul-africanos, profunda tristeza pela morte de uma figura essencial na história do país".
O pesar do Pontífice foi expresso em telegrama assinado pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, e endereçado ao núncio apostólico na África do Sul, Dom Peter B. Wells, onde também ofereceu as condolências a sua família. Consciente de seu serviço aos Evangelho pela promoção da igualdade e reconciliação racial em sua África do Sul”, confia sua alma à misericórdia amorosa do Deus Todo Poderoso.
O Santo Padre também invocou as “bênçãos divinas da paz e consolação no Senhor Jesus” sobre todos os que choram a sua morte, na certeza da esperança da ressurreição.
Símbolo da resistência ao apartheid, promotor da reconciliação, consciência da África do Sul. Pela sua luta incansável e não violenta contra o regime racista, o arcebispo anglicano Desmond Tutu recebeu, em 1984, o Prêmio Nobel da Paz. Ele também apoiou o processo de reconciliação nacional no país e foi um enérgico defensor dos direitos humanos.
Desmond Tutu, nascido em 7 de outubro de 1931 na pequena cidade mineira de Klerksdorp, a sudoeste de Joanesburgo, organizou marchas pacíficas durante os períodos mais sombrios do regime segregacionista, pedindo sanções internacionais contra o regime branco de Pretória.
Com Nelson Mandela como presidente da África do Sul, deu vida à Comissão para a Verdade e Reconciliação na tentativa de promover a pacificação entre as duas almas de seu país, virando para sempre a página do ódio racial, destacando as atrocidades cometidas durante a repressão dos brancos e, ao mesmo tempo, tentando promover uma forma de perdão por um lado e uma reparação moral para os familiares das vítimas, por outro.
Francisco o recordou em sua Encíclica Fratelli tutti entre os "irmãos não católicos" que o motivaram "a refletir sobre a fraternidade universal".
Fonte: Vatican News