Cotidiano

Queiroga: Saúde vai recomendar vacinação de crianças com prescrição médica





Mais cedo, o ministro da Saúde havia dito que "os óbitos em crianças estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais"

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, informou, que o governo federal irá recomendar autorização da vacinação contra a covid-19 de crianças de 5 a 11 anos de idade com a vacina da Pfizer desde que estas tenham prescrição médica para tomar o imunizante. A novidade veio no mesmo dia em que a pasta abriu uma consulta pública para avaliar a inclusão do grupo pediátrico na campanha de vacinação contra o novo coronavírus. 

“O documento que vai ao ar (na consulta pública) é um documento que recomenda o uso da vacina da Pfizer nessa versão aprovada pela Anvisa. A nossa recomendação é que essa vacina não seja aplicada de forma compulsória. Ou seja, depende da vontade dos pais. Os pais são livres para levar os seus filhos para receber essa vacina. E essa vacina estará vinculada a prescrição médica, e a recomendação obedece todas as orientações da Anvisa”, disse Queiroga. 

Em outro momento, o ministro indicou a necessidade da assinatura de um termo de consentimento para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. “Nós estamos aqui deixando as famílias tranquilas para que eles possam livremente optar por vacinar ou não seus filhos após a orientação do médico e a assinatura de um termo de consentimento livre esclarecido”, completou. 

A orientação do Ministério da Saúde será disponibilizada, ainda nesta quinta (23), para consulta pública da sociedade civil, que poderá opinar sobre a recomendação. Segundo Queiroga, uma vez aprovada a orientação da pasta em avaliação final, prevista para acontecer em 5 de janeiro, a aplicação de doses neste grupo acontecerá "em curto prazo”.

"Esperamos as contribuições da sociedade, mas de antemão deixar todos tranquilos que uma vez decidida pela aprovação dessa regra, que o grupo da Secovid trabalhou, nós já temos condições de começar essa vacinação dentro de uma prazo bastante curto", disse, sem indicar quando prevê o início da aplicação deste grupo. 

Segundo o ministro, o tempo entre a aprovação final da vacinação das crianças e o início da campanha "é tempo suficiente para que as salas de vacinação se preparem para a aplicação”.

Ao aprovar a vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou a necessidade da elaboração de material e treinamento para evitar erros na vacinação, já que a vacina da farmacêutica utilizada neste público pediátrico é diferente do imunizante já usado em adultos e adolescentes no país. 

Queiroga ainda informou que o novo contrato do Ministério da Saúde com a Pfizer, assinado em novembro, que prevê a entrega de 100 milhões de doses, inclui vacinas para todas as faixas etárias inseridas na campanha de vacinação contra a covid-19 do Plano Nacional de Imunizações (PNI).

Postura

Apesar de adotar uma postura para "tranquilizar" as famílias, hoje mais cedo o cardiologista indicou, mais uma vez, não ter pressa para começar a vacinação deste grupo já que "os óbitos em crianças estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais”. A fala foi duramente criticada por governadores e parlamentares.

"Os óbitos em crianças estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais. Ou seja, isso favorece que o ministério possa tomar uma decisão baseada na evidência científica de qualidade, na questão da segurança, na questão da eficácia e da efetividade", disse o ministro à jornalistas.

 

Confira outras notícias 

-“Apagão de dados” prejudica ações de combate à pandemia, diz Fiocruz

Boletim ressalta que instabilidade no sistema de dados, surgimento de novas variantes e “processo de politização” são os maiores desafios do combate à Covid-19

A instabilidade dos dados das plataformas da Saúde tem deixado a ciência às escuras e está impedindo a adoção de medidas adequadas no combate à pandemia. É o que alerta o novo Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgado, destacando que a falta de informações traz “imprecisões exponenciais” na tomada de decisões que, segundo os pesquisadores do boletim, são e devem ser tomadas com base em evidências.

Conforme trecho do estudo publicado, “a informação é fundamental para a soberania nacional e crucial para apontar diretrizes para combate da Covid-19”.

Para os pesquisadores, a vulnerabilidade dos sistemas de informação é um dos desafios no enfrentamento à pandemia este ano e no próximo. Segundo o boletim, os dados nestes sistemas “constituem um bem público e um patrimônio da sociedade brasileira, conforme preconizado pela Reforma Sanitária”. Para os cientistas da Fiocruz, as falhas ocorridas não são justificadas apenas pelo ataque hacker sofrido pelos sites do Ministério da Saúde, mas vão além.

“Essas falhas na divulgação de dados sobre a pandemia combinam vulnerabilidades e fragilidades em todo o processo, que se inicia com o preenchimento dos formulários nos estabelecimentos de saúde e municípios. Além disso, atrasos ou interrupções na divulgação de dados impedem a produção de informações que são vitais para tomadas de decisões”, escreveram os pesquisadores.

O Boletim alerta que essa instabilidade no sistema do Ministério da Saúde pode fazer com que os números sobre a doença não sejam reais.

“Nos últimos dois meses, de outubro a novembro, foram registrados uma média de 10.200 casos e 260 óbitos por dia. No entanto, nas duas últimas Semanas Epidemiológicas (SE) 49 e 50 (5 a 18 de dezembro), se observou uma maior oscilação no número de casos e de óbitos, o que se deve em parte a problemas no fluxo de dados por toda a rede de atenção e vigilância do SUS”, indicaram os pesquisadores no texto do boletim, destacando, ainda, que “a queda observada do número de casos registrados (5 % ao dia) é incompatível com a dinâmica de transmissão da doença”.

Os cientistas reforçaram o argumento apontando para o aumento abrupto da taxa de letalidade, que saltou de 2,5% para 4,2%. Segundo eles, isso indica que houve uma grande subnotificação de boa parte dos casos nas últimas semanas.

Para o pesquisador Christovam Barcellos, do Observatório Fiocruz Covid-19, apesar da melhora nos índices da pandemia, o país ainda está diante de uma ameaça real e esse “apagão” é algo muito grave.

“Precisamos lembrar que ainda estamos sob uma ameaça da disseminação desta variante Ômicron, em meio a um terrível apagão de dados, que nem os profissionais de saúde e nem o cidadão conseguem ter acesso aos números sobre incidência do vírus, vacinação, testes realizados… Isso não o coloca numa região escura. Nós precisamos decidir o que fazer no verão. Vai ter festa, não vai ter festa? Cada um tem que estar muito ciente de sua situação. Mas sem essas informações nós podemos ter um grave problema e, com isso, ter novo aumento dos indicadores da pandemia. É algo muito grave”, alertou.

Outros desafios apontados no boletim

Os pesquisadores também citam o surgimento de novas variantes que podem levar o país a “cenários inesperados e indesejáveis”. A maior preocupação, neste momento, é em relação à propagação e comportamento da Ômicron. Segundo os pesquisadores, com a chegada das festas de fim de ano, o consequente aumento de circulação pode resultar em novo aumento de casos, internações e óbitos, que podem ocasionar crises e colapso do sistema de saúde, a exemplo do que ocorreu no final do ano passado, quando a variante Gama foi identificada.

Por isso, Christovam Barcellos reforçou a necessidade de seguir avançando com a imunização, inclusive em crianças, e alertou para a circulação simultânea de diferentes vírus.

“Agora é um momento de transição. As vacinações estão aumentando, mas ainda é importante chegar a pelo menos 80% de toda a população vacinada. É preciso avançar com a vacinação em crianças e aplicar as doses de reforço especialmente nos idosos. Agora é também um momento em que há a circulação simultânea de Covid-19 e de gripes comuns, mas que têm sintomas muito graves. É preciso que haja uma maior testagem de quem está com sintomas”, comentou.

O pesquisador disse ainda que as perspectivas para 2022 são positivas, mas que o verão será um momento chave para a população saber o que de fato esperar para o decorrer do ano.

“O verão será um grande teste. Se conseguirmos passar bem nessa estação, acho que vamos dar uma grande lição de contenção da pandemia para o mundo e teremos boas notícias para 2022. Mas se não tiver aumento da cobertura vacinal, houver um maior relaxamento das medidas de contenção e o sistema de saúde não estiver preparado para fazer os testes necessários e receber pacientes, poderemos ter uma nova tragédia no ano que vem”, apontou Barcellos.

Por último, os pesquisadores do boletim apontaram os desafios referentes ao “processo de politização das medidas de enfrentamento da pandemia para a proteção da saúde e da vida da população brasileira”. Os pesquisadores entendem que esse processo é decorrente da desvalorização de medidas fundamentais de combate à Covid-19 e da disseminação de fake news, que levam à “criação de um clima de descrédito e desconfiança em relação às vacinas”.

Fonte: Correio Braziliense - CNN Brasil