Cotidiano

Ômicron justifica novas restrições, dizem biomédicos





A variante ômicron do coronavírus desperta preocupação e justifica a adoção de precauções, segundo especialistas.. De acordo com 2 biomédicos, as festas presenciais de fim de ano podem ser um vetor de contaminação e, por isso, alguns cuidados devem ser observados.

Para a biomédica e pesquisadora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Mellanie Fontes-Dutra, o receio em relação à variante ômicron se justifica pelo “potencial de transmissão que ela tem e também do escape parcial das vacinas”. Já o virologista e coordenador do curso de biomedicina do IBMR (Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação) Raphael Rangel afirma que os cuidados devem ser tomados tendo-se em vista os limites de capacidade do sistema de saúde.

“Muitas pessoas morreram em meio à pandemia porque não tinha respirador, porque não tinha atendimento. Atualmente, o Brasil enfrenta uma epidemia de influenza em diversos Estados do Brasil e as pessoas passam horas na fila. […] Não tem problema nenhum em festejar, desde que com todo o cuidado e com o serviço público de saúde preparado.”

VACINAS E FLEXIBILIZAÇÃO

Mellanie Fontes-Dutra ressalta a importância de manter os cuidados, mesmo com os índices de vacinação registrados no país. “Existe sim um espaço para preocupação [com a ômicron] que é necessário. As pessoas não podem se descuidar agora e flexibilizar demais, porque aí corremos  risco de ter uma nova onda a partir dessa variante”, diz.

Segundo ela, a preocupação é justificada “pelos dados que estamos observando em outros países, e até mesmo com os dados iniciais no Brasil”.

Sobre as vacinas, Fontes-Dutra defendeu a eficácia dos imunizantes, mas destacou que as pessoas que não completaram seus regimes vacinais têm maior risco de se infectar.

“A gente ainda tem infelizmente um número considerável de pessoas que não se vacinaram ou não completaram o esquema de vacinação, então são mais suscetíveis de se infectar pela doença. Vacina sozinha não salva. Precisamos continuar com as medidas de proteção”.

A pesquisadora também comentou os dados da pesquisa PoderData mais recente, realizada de 6 a 8 de dezembro, que cruzaram o nível de preocupação com a variante ômicron com as faixas de avaliação de Jair Bolsonaro. O levantamento mostrou que a taxa dos que se dizem “muito preocupados” com a nova cepa é mais alta (57%) entre os que consideram que o presidente da República faz um trabalho “ruim” ou “péssimo”. Entre os que o consideram “bom” ou “ótimo”, o percentual cai para 37%.

“Eu posso falar pela questão científica. Acredito que algumas atitudes do governo podem não ter sido apreciadas por esse grupo de pessoas [que reprovam o trabalho do presidente] ou que esse estrato considera que essas tomadas de decisão foram insatisfatórias, comparadas à necessidade de resposta frente à pandemia”, analisou.

ÔMICRON E FESTIVIDADES 

A necessidade das medidas de proteção durante as festas presenciais de fim de ano, principalmente entre aqueles que pretendem viajar, foram reiteradas pelo virologista Raphael Rangel durante a entrevista.

“A gente tem que ter muito cuidado quando a gente fala de festas eaglomerações”, disse. “Tem que entender se esse local que as pessoas vão frequentar é um espaço que terá um controle de medidas sanitárias, como o passaporte de vacina. […] Para segurança sanitária, é preciso tomar todos os cuidados. As pessoas deveriam rever isso e, se forem festejar, ter o cartão de vacinação em dia, inclusive com a dose extra, se for possível”.

Rangel ainda questionou a atuação da administração pública para controle de turistas tanto no Réveillon como no Carnaval de 2022. O virologista tem receio do Brasil se tornar “paraíso dos não vacinados”. Como solução, sugeriu barreira sanitária nos aeroportos, medida que, segundo ele, já deveria ter sido tomada.

“A 1ª coisa que já deveria ter sido feita é a barreira sanitária nos aeroportos. Triagem daquelas pessoas que vêm de áreas de circulação da ômicron. Quem vem de Londres hoje, por exemplo, tem desembarque específico nos aeroportos internacionais? Não tem. Tem triagem clínica? Não tem. Tem acompanhamento? Não tem. Isso já deveria estar acontecendo, mas não está. A gente precisa o quanto antes implementar essas barreiras em aeroportos. E agora, no Réveillon, nos portos”, defende.

Ao comentar sobre como se proteger, Raphael listou 4 atitudes:

  • calendário vacinal atualizado – “Isso é importante. Não somente para covid, mas também para outras doenças, como influenza”; 
  • vacinação infantil – “É importante que crianças pequenas também se vacinem contra o sarampo”;
  • máscara de proteção – “Sempre utilizar”;
  • evitar aglomerações – “Quanto mais pessoas circulam, mais o vírus circula. E nesse momento é mais provável [que surjam] variantes”.

Fonte: Poder360