Antonella Palermo/Mariangela Jaguraba – Vatican News
Foi um momento de encontro alegre que o Papa viveu na manhã deste domingo (19/12), na Sala Paulo VI, junto com aqueles que acompanham as atividades do Dispensário Pediátrico Santa Marta. Numa atmosfera pré-natalina festiva e íntima, Francesco interagiu com as crianças presentes. “Devemos ouvir as necessidades das pessoas”, repetiu e fez repetir em coro, no seu estilo paternalmente afetuoso.
"O amor pelo outro" diz uma menina. Eis, a síntese evangélica que o Papa sublinha como uma boa resposta. "Significa que devemos escutar as necessidades das pessoas. Se não encaramos as necessidades, nunca as entenderemos". Ele se detém na palavra "ouvir", uma palavra importante, disse. "Uma pessoa que não escuta os outros só escuta a si mesma. É uma coisa chata ouvir-se a si mesmo. É melhor ouvir os outros", explicou o Papa, "porque você pode entender suas necessidades e exigências". Mais uma vez ele convida a todos a repetir: "escutar para entender". Todas as crianças gritam em voz alta, enquanto o Papa finge não estar ouvindo para que o coro se torne mais forte e robusto e essas palavras se fixem na mente e no coração.
O Papa fez mais algumas perguntas. "Se estou na rua e encontro uma pessoa que não é boa, não má, mas sente frio, está com fome, o que devo fazer? Vou embora ou paro?". Há uma hesitação. Depois, alguém responde: "Paro para ajudar". E o Papa perguntou: "A todos? Mesmo aquele que não é uma pessoa boa?" "Sim", responderam juntos. Uma adesão que parte do menor sob a forma de uma catequese fulminante e ressoa como um eco que dá energia e coragem recíproca. "Estamos aqui hoje, amigos que querem ajudar uns aos outros. Coragem, vamos adiante e boa festa", concluiu o Papa em meio a aplausos e coros de felicitações.
O Dispensário Pediátrico de Santa Marta foi fundado em 8 de maio de 1922, com a bênção do Papa Pio XI. Confiada às Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo que trabalham na Santa Marta no Vaticano, contam com a colaboração de médicos voluntários do Hospital Menino Jesus, da Associação Santos Pedro e Paulo, de indivíduos particulares e outras estruturas de saúde romanas, e com voluntários leigos que ajudam a obra com seu compromisso e apoio.
Como um deles lembrou em sua saudação a Francisco, o Dispensário oferece escuta, assistência médica e psicológica, serviços de secretariado social e sustento às famílias de qualquer pertença religiosa em nome da máxima hospitalidade e generosidade. "Doamos afeto e proximidade sem nenhuma expectativa a não ser um sorriso", disse ele. E o estilo é aquele ensinado na Encíclica Fratelli tutti, que orienta a ação oculta e fecunda desta realidade pulsante de vida.
- O Papa à Universidade Católica: é necessário um pensamento novo para vencer as injustiças de hoje
Tiziana Campisi/Manoel Tavares - Vatican News
“Fogo, esperança e serviço” são as três palavras que, segundo o Papa Francisco, podem representar a mística da Universidade Católica do Sagrado Coração, que inaugura seu ano letivo 2021/22, no âmbito dos 100 anos de fundação.
A cerimônia inaugural, que contou com a participação da Presidente da Comissão Europeia, Úrsula Von der Leyen, foi precedida por uma Santa Missa, presidida, na Basílica de Santo Ambrósio de Milão, pelo arcebispo Dom Mário Delpini.
Para a ocasião, o Papa enviou uma vídeo-mensagem, transmitida na Aula Magna da Universidade, expressando suas felicitações à universidade pelo importante aniversário desta "grande instituição cultural", fundada pelo Padre Agostino Gemelli e seus colaboradores.
Referindo-se aos "cem anos de vida" da Universidade, o Pontífice “recordou sua importante tradição educativa, prosseguida por centenas de homens e mulheres e testemunhada por milhares de universitários”, mas refletiu também sobre a educação como “uma das formas mais eficazes para humanizar a história do mundo”. Trata-se de um ensinamento, diz Francisco, que a Universidade Católica do Sagrado Coração mantém, “graças à valorização - renovada de geração em geração - do patrimônio cultural e espiritual, que constitui a sua identidade”: uma identidade que a define “clara e inalterada”, que não rejeita as diferentes sensibilidades, mas as respeita e acolhe, ciente de que o “confronto franco e respeitoso com o outro faz florescer a condição humana”.
“Como diziam os antigos, – recorda o Pontífice - educar não é encher vasos, mas acender o fogo”. Assim, o Papa explica o significado de “fogo”, a primeira das três palavras, que representam a mística do Ateneu:
“A Universidade Católica mantém este fogo e o transmite, porque a única forma de o acender é o “contato”, ou seja, por meio do testemunho pessoal e comunitário. Antes de transmitir o que sabemos, devemos acender o fogo, que representa o que somos. Este contato dá-se graças ao encontro, ao fato de estarmos lado a lado e realizar algo juntos”.
A seguir, o Papa se concentra sobre a segunda palavra “esperança”, que se contrapõe ao que desafia a educação de hoje: a "cultura individualista, que exalta o “eu” ao invés do “nós", “promove a indiferença, que diminui o valor da solidariedade e suscita a cultura do descarte". Porém, afirma Francisco, quem educa, “olha para o futuro com confiança e realiza uma ação educativa, que envolve diversos agentes da sociedade, de modo a oferecer aos alunos uma formação integral”. Por isso, devemos abrir-nos aos conhecimentos e às interrogações, que, hoje, nos colocamos, sem medo:
“Eis o que significa esperança: apostar no futuro, superando o impulso natural, que surge dos nossos medos e pode nos imobilizar, nos fixar e fechar em um presente eterno e ilusório. A abertura e aceitação do outro, portanto, é particularmente importante, porque fomentam o vínculo de solidariedade entre as gerações e combatem as tendências individualistas, presentes na nossa cultura; e, sobretudo, desde as salas de aula, constroem uma cidadania inclusiva, contrária à cultura do descarte”.
Neste contexto, Francisco recorda o Pacto educativo global, que “sensibiliza todos a ouvir as grandes questões sensatas do nosso tempo, começando pelas das novas gerações, diante das injustiças sociais, violações dos direitos, migrações forçadas”, perante as quais “a universidade não pode ficar muda”.
Aqui, o Papa louva a Universidade Católica do Sagrado Coração pelos seus "projetos de cooperação internacional” aos diferentes povos do planeta; as numerosas “ajudas econômicas", que, anualmente, presta aos estudantes mais necessitados; a atenção aos menores e enfermos, que demonstram um compromisso e incentivo concretos para prosseguir neste caminho.
Por outro lado, o Santo Padre refletiu sobre o mundo de hoje, "totalmente interdependente", dizendo que isso levou a "tornar obsoletas as estruturas interpretativas do passado, não mais úteis para compreender o presente". Daí, a necessidade preciosa de "projetar novos modelos de pensamento, definir soluções para as urgências que somos chamados a enfrentar: das ambientais às econômicas, das sociais às demográficas”:
Não podemos ir adiante com a categoria do Iluminismo. Precisamos de um pensamento novo e criativo. A Universidade Católica do Sagrado Coração pode representar um lugar privilegiado para o desenvolvimento avançado de tal elaboração cultural. Aqui, voltamos à preciosa relação entre professor e aluno, uma relação dinâmica em tensão entre o presente e o futuro: juntos vocês são chamados a pensar, projetar e agir, tendo como perspectiva a nossa Casa comum de amanhã, partindo da realidade concreta de hoje”.
O Pontífice dirige-se, depois, de modo particular aos estudantes, “nestes tempos confusos, que se tornaram bem mais complexos pela pandemia”, exortando-os a não perder a esperança, a não se “contagiar pelo vírus do individualismo”. Por fim, recomendou-lhes a “não se tornar tradicionalistas das raízes”, mas a “partir delas para crescer, para seguir em frente, para pôr em jogo a vida”.
Por fim, o Papa convidou a Universidade Católica do Sagrado Coração a refletiu sobre a terceira e última palavra, que pode representar a mística do Ateneu: o “serviço”. Esta Universidade, disse Francisco, ao longo dos seus cem anos de atividades, “demonstrou, em várias ocasiões, que está, fielmente, a serviço da Igreja e da sociedade”. Por isso, expressou seu desejo de que o espírito de serviço seja sempre a marca de toda a comunidade universitária.
Francisco concluiu sua vídeo-mensagem exortando este Ateneu progredir na sua missão educacional, com “coragem e paciência”, suportando as contradições e as coisas erradas”. Mas, “a paciência e o ímpeto de coragem devem andar juntos. Interpretem esta coragem e paciência como um serviço apaixonado em prol de toda a sociedade, mas também da santa Igreja”.
Fonte: Vatican News